Ainda não estava com os olhos abertos, mas sua mente já estava desperta. Sabia que, como em toda manhã, assim que abrisse os olhos sentiria pontadas nas têmporas e tudo estaria como um borrão denso, então optou por esperar sua mente sonolenta se adaptar. Sabia o que viria a seguire não gostava nem um pouco disso. Quis esquecer, quis fugir, quis voltar a dormir, mas um turbilhão de pensamentos já a ocupava.

  E, como sempre, todos sobre ele. Sobre Raito e sua pose arrogante inatingível. Sobre Kira e seu senso distorcido de justiça. Sobre Raito e seu sorriso forçado. Sobre Kira e suas opiniões. Eram um só, eram dois e agora eram nenhum, e Misa não tinha certeza de qual amava mais. Seria Raito e seu fingimento impecável? Ou seria Kira e seu poder ilimitado? Não importava porque nenhum dos dois vivia mais e se recordar disso fez o peito de Misa se apertar, queimando e a agonizando enquanto ela implorava mentalmente que tudo fosse mentira. Era uma loucura, uma tortura, fazia-a se contorcer na cama e ainda não eram nem oito da manhã.

  Então chorou. Chorou sem medo, soluçando sem temer que alguém ouvisse, gritou, esperneou, rezou para que dormisse logo e, por fim, caiu no sono novamente. Estava cansada daquela rotina e sabia que, quando acordasse de novo, tudo aquilo aconteceria mais uma vez. Ela sabia que o único momento no qual era verdadeiramente feliz no meio de toda a bagunça que sua vida virou era quando dormia. Porque ela ainda conseguia sonhar e ele estava sempre presente nos sonhos dela. Tanto Raito e seu toque frio quanto Kira e sua raiva incontrolável. Ela ainda o tinha vivo, de certa forma.

  Ela ainda podia sonhar e tudo com que sonhava era ele, e isso era tudo que importava.