Jesse

Fiquei encarando o celular em minhas mãos de forma constante, provavelmente sem piscar. Havia acabado de desligar após Sam contar sobre o estado de Melanie, aquilo havia me deixado confusa e pode apostar, extremamente raivosa com a velha na sala ao lado. Roman me encarou confuso tentando entender minha expressão, porém, sem nem ao menos responde-lo, levantei do banco onde estávamos e fui até Liliam.

Ela permanecia no lugar, sentada com o corpo grudado na parede gélida do local olhando estranhamente na minha direção. Arranquei a mordaça que forçava seus lábios fechados e forcei um tapa com toda a força que ainda me restava em seu rosto. Ela tombou para o lado, caindo no chão com tudo.

- Isso é tudo sua culpa! – berrei. Roman estava em algum lugar atrás de mim, mas nem se colocou para me parar, apenas me deixou extravasar a raiva. Segurei Liliam pelo colarinho da blusa, erguendo-a do chão. – Se não fosse por você ninguém estaria machucado! Droga, por que você tem que ser tão gananciosa, só por causa daquele maldito dinheiro?!

Ela riu. Exatamente, ela riu. Sua gargalhada ecoou pelos meus ouvidos e se espalhou por toda a sala, daquele tipo de gargalhada do mal de filmes de terror. Eu não sabia se me sentia ameaçada com aquilo ou se apenas dava outro tapa em Liliam.

Eu me sentia confusa.

- Garota, acha mesmo que consegue me assustar? – ela era como uma... uma doente. Assustava-me muito, e agora entendi o que Mel sempre dizia: Liliam desperta o pior que há em você. – Eu ainda vou ter aquele dinheiro e não vão ser vocês dois que irão me impedir!

- Não, você não vai! – berrei. – A polícia está chegando e a única coisa que você vai ganhar é um passeio para o resto da sua vida numa cela de prisão!

Não tive tempo de pensar, apenas a soltei deixando-a ali, rindo como uma doente, achando que havia nos vencido. Eu e Roman nos entreolhamos, estávamos perturbados com aquela cena, mas não tanto quanto Mel estaria se estivesse ali.

Lilian era doente, não havia como ter dúvidas daquilo ainda, era óbvio demais.

Mas ela ainda vai ver essa louca na cadeia.

Ou melhor, no hospício.

Sam

Sem expressão alguma, eu estava sentado, praticamente largado sobre a cadeira do hospital. As pessoas que passavam ao meu lado me encaravam de uma forma quase que por pena, eles tinham dó de mim.

Mas eu não merecia essa pena, apenas Mel merecia.

Ela merecia viver mais do que qualquer um ali.

- Quer um café, Sam? – ouvi uma voz dizendo.

 Eu estava de cabeça baixa, com as mãos cobrindo os olhos. Sim, estava quase dormindo, porém pesadelos e imagens ruins se passavam por minha mente, não me deixando nem sequer em paz. Olhei para cima dando de cara com Raphael, ele esperava por uma resposta minha e por isso tive que repassar a pergunta várias vezes mentalmente.

- Sim, obrigado. – murmurei finalmente conseguindo algo convincente saindo de meus lábios.

Raphael desapareceu pelo corredor durante alguns minutos, até que voltou logo depois com duas xícaras de café nas mãos. Entregou uma a mim e se sentou ao meu lado na cadeira de hospital.

- Sabe, Sam, tem uma coisa em você que eu desconheço. – olhei-o confuso, tentando entender o sentido de suas palavras. – Esse seu jeito com a Srta. Overton é... diferente do que eu já vi em toda a minha vida. Passei por muitas coisas, devo dizer, fui casado três vezes e... bom, amei muito minha última esposa. Mas ela morreu há seis anos. – ele abaixou os olhos e torceu os lábios. – Nunca vi alguém amar alguém como você ama Melanie.

- Não como Bella e Edward. – eu ri de minha própria piada a tempo de ver o quão idiota ela fora.

Raphael me olhou confuso por alguns instantes, mas depois riu parecendo ter entendido depois.

- Bom, por esse caso ser fictício, não conta. – ele riu, despertando uma risada minha que não achei que sairia agora. – Mas parece uma coisa parecida, porém... não sei, mais forte. É diferente do que jamais vi.

Confuso, franzi o cenho em sua direção.

- E você quer dizer que...?

- Que isso que você sente por Melanie Overton, - ele me olhou fixo nos olhos. – é amor verdadeiro.

Jonah

Depois que Sam ligara para Jesse, ela entrara em desespero muitas vezes e nem mesmo Roman conseguia impedir os ataques de fúria e a vontade de matar Lilian. Ela tentou atacar a velha pelo menos cinco vezes quando entrei no galpão, mas por sorte, consegui impedi-la de tentar.

Por conta disso, Jesse achou melhor eu voltar para o internato. Claro, fiquei morrendo de ódio por causa disso.

Quando cheguei, os olhares curiosos dos seguranças ficaram sobre mim por muito tempo, provavelmente sabiam sobre o fato de eu estar ajudando a prender a chefe de todos eles.

Ah, foda-se.

Não acredito que os... ah, tanto faz, os desgraçados me mandaram voltar para o internato. Juro que vi um dos seguranças da velha louca me perseguir com os olhos e senti uma pontada forte de vontade de perguntar “quer uma foto?”, mas me forcei a ficar quieto. Continuei caminhando pelo corredor e chutando qualquer coisa que fosse que estivesse na minha frente. Sam estava com Mel no hospital e Jes e Roman com a própria velha louca no galpão. Então o que eu estava fazendo naquele lugar? Eu deveria estar ajudando.

Ah, e quem disse que minha opinião importa?

Continuei caminhando por ali evitando os olhares também dos alunos, quem pareciam preocupados pelo fato de eu estar ali e não lutando para colocar Lilian na cadeia. Sinceramente, eu já havia desistido de tentar vencer a velha louca, desde o momento que vi Melanie naquele estado deplorável.

A verdade era que Melanie sempre fora a mais forte entre nós, a mais determinada. Se ela não poderia vencer, ninguém mais poderia.

Dois garotos do primeiro ano estavam sentados na porta de uma das salas de aula e pareciam irritados com alguma coisa, na verdade, aprontando era uma palavra melhor.

- E ai, galera. – falei ao me aproximar. – O. que estão fazendo?

- Cara, você não tem noção. – disse Noan, o loiro. – Matt e Rick são muito loucos

- Preciso perguntar o que os gêmeos vão aprontar? – Noan riu. Matt e Rick eram gêmeos, por isso eu os chamava assim.

- Temos uma idéia de como mandar esses seguranças direto para o espaço! – disse Matt... ou será Rick? – Vai ser um estouro! Eles não vão nem mesmo ter tempo de pensar!

- Já que a velha louca não está por aqui, vamos expulsá-los do North England. – disse o outro gêmeo. – Se você for como o Sam vai achar que é loucura.

Arqueei as sobrancelhas.

- E quem disse que eu sou Sam Bower? –eu ri enquanto me sentava ao lado deles. – Nem ouvi ainda, mas já acho uma ótima idéia.