O Garoto Da Camisa 9 escrita por Gi Carlesso


Capítulo 2
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Com prólogo tudo fica melhor né? UHSUHSUSHUSH



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Internato North England, Londres, Inglaterra. Dias de hoje.

Sabe aquela sensação que temos ao acordar em algum lugar que não queremos estar e de repente, começa-se a sentir uma vontade incontrolável de chorar? Ou talvez aquela sensação de acordar e já sentir as lágrimas lhe encharcando o rosto.

Essa era exatamente assim que eu me sentia naquele momento – sentada em minha cama tentando recuperar o fôlego ao pensar que enfrentaria pela primeira vez um internato. Aquela era a última vez que eu dormiria em minha cama de verdade, depois, teria que enfrentar alguma cama dura de lençóis frios e cinza. Olhei em volta para os móveis branquinhos, as cores vivas e meu cachorro dormindo no tapete de meu quarto – era aquela imagem que eu guardaria de minha antiga vida.

- Já acordou? – minha mãe colocou sua cabeça para dentro de meu quarto, fitando-me com olhos preocupados. – Temos que terminar de arrumar suas coisas.

- Não existe mais “Bom dia” nessa casa? – arqueei as sobrancelhas tentando passar uma impressão séria, porém a voz estremecida que saíra de meus lábios impossibilitou isso.

- Por favor, Melanie, não comece a me mandar mensagens de ódio logo pela manhã. – ela suspirou. – Estou fazendo o possível, sabe disso. Seu pai também não gostaria que você fosse para esse internato, mas temos que fazer isso, vai ser bom para você.

- Só porque minha prima estuda lá? – levantei da cama jogando os cobertores para o lado sem medo do que ela falaria, eu simplesmente não queria ouvir.

- Não. – ela arrumou os cobertores. – É porque você conhecerá alguém lá e porque ela disse que é um bom lugar para estudar e passar o ano.

Revirei os olhos para ela e terminei de colocar algumas roupas na última mala e fui para o banheiro. Fiquei algum tempo ali olhando para meu reflexo no espelho imaginando as coisas que poderiam dizer sobre mim no internato – feia, sem graça, estranha – é, poderiam ser coisas diversas.

Terminei de escovar meus longos cabelos escuros e fui para fora do banheiro quase dando de cara com minha mãe. Sério, qual era o problema dela? Desviei, e fui pegar minhas coisas, se era para ir, era bom ser logo, pois quanto mais cedo eu chegasse lá, mais cedo sairia também.

Sei o que está pensando, não passo exatamente a impressão mais bem humorada e gentil que qualquer pessoa esperava de minha “carinha de anjo”. Pode até ser um esforço meu, eu estava em plena adolescência, perdi meu pai cedo e quando esperava que minha vida mudasse para melhor, minha adorada mãe resolve me jogar em um internato. Não é minha culpa, certo? Às vezes penso que esse é o único jeito de me sentir melhor, mostrando uma imagem forte, revoltada. Porém, por dentro, havia um grande buraco em meu peito que nada poderia cobrir, nem mesmo uma palavra boa de algum ser vivo na Terra.

Alguns dias atrás, eu havia pesquisado algumas coisas sobre o tal internato e não havia tido uma boa impressão logo de cara – primeiramente, o internato North England fora uma casa de uma família com uma representação social muito boa e anos depois, uma das descendentes resolveu transformar o casarão no internato onde eu estudaria.

Certo, como histórias de terror, provavelmente muitas pessoas morreram ali, quem sabe não dou sorte e encontro um fantasma.

Peguei minhas coisas e segui meu caminho na direção do carro, jogando minhas malas dentro do porta malas e depois, me jogando no banco da frente. Eu não queria pensar em mais nada além do som do vento contra a janela e da música que tocava no rádio, coisas sem significado nenhum, mas que me acalmavam num momento como aquele. Até mesmo o som dos trovões indicando que choveria mais tarde tiravam minha atenção aos pensamentos ruins que passavam por minha mente.

Durante o caminho, minha mãe não me dirigiu uma palavra sequer, parecia que ela preferia o silêncio a tentar falar comigo e receber uma resposta nada agradável. Tudo bem, eu concordava com ela, era bem melhor assim.

Ela dirigiu por uma sucessão de ruas desconhecidas por mim, até finalmente virar a que poderia ser onde estaria o terrível internato. Na minha mente, deveria ser um prédio caindo aos pedaços, com aparência sombria, assustadora, mas que não me meteria medo nenhum. Posso ser pequena, indefesa e com certa aparência vulnerável, mas um prédio assustador é uma coisa que jamais me deixaria com as pernas bambas.

Ela parou o carro bem em frente ao prédio e como se tivessem lido minha mente, tive a reação totalmente contrária ao meu primeiro pensamento. O lugar era sombrio, grande e com uma pintura escura, deixando-o com uma aparência demoníaca. Senti como se meu coração parasse por alguns segundos, absorvendo a imagem do local. Não havia como não sentir um arrepio na espinha, o local era medonho, me metia medo só de olhar para as grandes janelas da época em que ainda era um casarão.

Droga, não era essa a reação que eu deveria ter sobre o North England.

- Chegamos. – disse minha mãe soltando um longo suspiro antes de continuar. - Olhe, nada de suas loucuras, ouviu? Apenas seja uma aluna normal daqui e... se divirta.

- Grande conselho, mãe. – revirei os olhos tentando esconder o medo que refletia em meus olhos. – Quem sabe não saio daqui com tatuagens e cabelo roxo? Não parece nada impossível para mim.

Ok, talvez eu estivesse sendo má com minha mãe, porém jamais fora minha intenção mudar para aquela droga de lugar, e muito menos, a morte de meu pai. Fechei os olhos antes de descer do carro e ir buscar minhas coisas no porta malas, claro que eu ia sem dizer uma  palavra sequer, mas quem disse que Evelyn – minha mãe – deixaria.

Ela insistia em manter uma comunicação constante comigo, tentando arrancar-me palavras mesmo que elas fossem más e sem emoção alguma. Minhas atitudes só pioravam, talvez fosse porque eu não queria aceitar o fato de que me mudaria para aquele lugar, coisa que não era nada impossível. Porém, havia algo a mais, provavelmente o buraco em meu peito.

- Olhe as roupas que os alunos usam, viu? Parecem normais...

Respirei fundo e não olhei para os alunos, eu já estava com coisas demais na cabeça para pensar sobre as roupas daquelas pessoas. Arranquei tudo que era meu de lá de dentro e a acompanhei para o portão do tal internato. As roupas dos alunos realmente eram normais, quase nada diferente do comum visto em colégios normais onde estudei. Muitos deles estavam me encarando, como se achassem estranha a minha presença ali, coisa que achei pouco não só estranho, mas muito perturbador.

A entrada era grande, um enorme campo de grama onde já estivera coberto de flores, mas agora só haviam plantas secas e alguns restos de flores que um dia já foram coloridas. No centro do campo na direção da porta principal do internato, haviam sido colocados bancos acinzentados em fila até perto do prédio. Pelo campo, alunos andavam livremente, conversavam, riam e desviavam seu olhar na minha direção, encarando-me com uma curiosidade assustadora.

Uma menina pequena com grandes olhos azuis e um cabelo pintado de vermelho me olhou com sobrancelhas franzidas, checando-me de cima a baixo. Engoli um seco e voltei a andar como se não tivesse a visto ali me encarando como uma psicopata. Nós duas entramos pela porta da frente e juro que me senti a menor coisa do mundo – era um grande salão estendido até uma escadaria velha de madeira, com seus degraus cobertos por um carpete vermelho sangue, seguindo até o outro andar em que era possível ver um enorme corredor até uma entrada de portas duplas.

- Você deve ser a Sra. Overton, não é? – uma mulher com cabelos brancos, uma posição um pouco dominante e óculos na ponta do nariz vinha em nossa direção com um grande sorriso no rosto. – Olá, meu nome é Liliam, sou a diretora do internato North England. 

Minha mãe me cutucou ao ver que eu estava entretida demais na visão do grande salão do internato, deixando-me fora da conversa.

- Muito prazer, Lilian. – minha mãe apertou as mãos de Liliam. – Essa é minha filha Melanie.

O olhar da tal Lilian sobre mim foi como um grande balde de água fria – seus olhos eram cinzas, encaravam-me como se algo em mim fosse desafiador e ameaçador para ela. Por um momento, senti medo daquela velha, tanto que senti meus pés indo levemente para trás para que eu ficasse distante dela. Lilian era assustadora como aquele lugar.

- Olá, Melanie. – ela apertou minhas mãos forçando-me a me aproximar dela. – Espero que aprecie sua estadia no North England, vou leva-la até o quarto, é provável que sua colega de quarto já tenha chegado.

- Colega de quarto? – gaguejei. Ótimo, tudo que eu menos queria.

- Sim, o dormitório feminino está extremamente cheio esse ano, então tivemos que colocar duas alunas em cada quarto.

Eu não queria companhia, muito menos de alguém que nunca vi em toda minha vida. Sei bem que era má educação da minha parte, porém, se eu tivesse uma colega de quarto seria obrigada a ser amiga dessa pessoa, e eu não queria amizades. Se eu tivesse, acabaria sentindo afeição por aquele lugar.

Evelyn tinha uma lágrima tentando escapar de seus olhos, ela queria chorar por estar me deixando para trás. Eu deveria sentir remorso por isso, certo?

Errado.

Quem me colocara naquele lugar foi ela, então eu não deveria sentir remorso e sim, ela. Por um momento, me senti uma pessoa ruim, talvez aquela atitude não fosse uma das minhas melhores, por mais que minha mãe estivesse fazendo algo que eu não concordava, eu ainda era filha dela.

- Tudo bem, já estou indo. – murmurei vendo que Lilian observou-me por longos segundos antes que fosse em direção a escadaria para me esperar.

Forcei um sorriso no rosto e sem pensar duas vezes, coloquei meus braços ao redor de minha mãe, desfrutando o primeiro abraço que dividimos desde o enterro de meu pai. Surpresa, senti ela hesitar por alguns instantes antes e me apertar e uma lágrima fugir de seus olhos.

- Eu venho visitar você, Mel. – disse ela me afastando por um segundo para me olhar o rosto. – Por favor, não fique brava comigo, eu só quero ver você feliz, filha.

- Eu sei. – sussurrei.

- Não se esqueça de me ligar de vez em quando, tudo bem?

Assenti rapidamente vendo que Lilian nos encarava de forma impaciente, esperando que eu a seguisse na direção dos quartos. Um medo estranho tomou conta de mim ao perceber a forma que ela me encarava ameaçadora, sentindo um arrepio em minha espinha.

Sem reclamar ou dizer qualquer coisa, deixei que minha mãe fossa embora de maneira um pouco fria e segui Liliam pelas escadarias até o dormitório feminino tendo que engolir o que enfrentaria pela frente. Afinal, não poderia ser tão ruim assim.

- Desculpe a demora. – resmunguei ao pegar minhas malas e ir na direção de Lilian, quem esperava segurando as portas. – Estava me despedindo.

- Não há problema, Srta. Overton. – ela fechou a porta atrás de si enquanto me levava pelo extenso corredor, desviando de uma série de alunos que passavam por nós. Lilian andava rápido, quase que correndo como se quisesse se livrar rápido de mim. – Algo me diz que eu e a senhorita vamos nos ver muitas vezes.






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Notas finais do capítulo

#medinho



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