Um toque francês escrita por lufelton


Capítulo 6
Capítulo 6- Primeiro grande desastre de dia.




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No dia seguinte, a dor de cabeça me vencia, novamente. Acordei com a sensação de abrir os olhos e sentir que eu explodiria em poucos segundos. Minhas depressões irão acabar com a minha saúde se eu pelo menos não me esforçar, pensei. Afinal, é uma nova vida e um novo dia em Paris. Sendo assim, levantei-me e abri a sacada para apreciar a paisagem lá fora, mas nem isso despertou interesse em mim, pois estava nublado e chuvoso. Ótimo.

Mudei de ideia: decidi tomar banho e colocar uma roupa bem confortável para passar o dia e, quem sabe, mais tarde, tentar conhecer alguém. Ao terminar de pentear meus cabelos ao espelho do banheiro, escutei uma batida vinda da porta. Pensei quem poderia ser, pois ainda não conheço ninguém ao ponto de vir me fazer visitas. Quando abri a porta, reparei que era um homem magro e que usava um uniforme padrão de funcionários de algum prédio comercial. Ele usava um crachá como a mulher que me trouxe até o quarto ontem. Pelas formas descritas, concluí que fosse um faxineiro.

– Vocês franceses são realmente muito gentis. - disse sorrindo para o homem que me olhava não muito contente. – Mas, cheguei ontem de viagem, ainda não tenho nenhuma roupa suja para lhe dar para lavar. Sinto muito.

Ele soltou uma risada forte e logo disse:

– Senhorita Drew Kimberley, muito comovente da sua parte! Mas lamento lhe informar que aqui quem lava as suas roupas é... Deixe-me pensar... Você mesma! Londres parece não ter sido tão dura com você durante 17 anos, não é mesmo senhorita Kimberley?- disse, sorrindo sarcasticamente. E além do mais, gostaria de saber o que a senhorita faz aqui a essa hora? Já era para estar lá embaixo com os outros estudantes. - Agora parecia mais sério.

Não me apareceram palavras para responder. Simplesmente, fiquei parada pensando do que ele estava falando e como ele me conhece. Percebendo minha expressão de choque, ele deu de ombros e logo disse:

–Não importa! Eu estou aqui para lhe dizer que em 5 minutos começará uma palestra de apresentação de Strangers Place na sala 5, informando seus horários de aula e de outras atividades que queira fazer. - disse impaciente.

–O quê? 5 minutos? Mas achei que fossemos ter café antes!- disse desesperada.

–Senhorita Kimberley, creio que além de não conhecer as regras, não sabe que horas são. Estou encantado! Mas deixe-me explicar pela primeira e última vez: o café da manhã é um serviço disponibilizado para todos os hóspedes de Strangers Place, concedendo aos alunos 1h30 de café, no caso, das 9h às 10h30 e, nesse exato momento, são 11h36. Ou seja, impossibilita qualquer indivíduo comer na confeitaria e, mais uma coisa, resta apenas 4 minutos para você ir até o salão principal. - disse parecendo contente por ser tão bom com as palavras, principalmente, quando são usadas para mim.

–Merda!- foi tudo o que pude dizer. Afinal, tinha lido alguma coisa no mapa em que a mulher me dera sobre o primeiro encontro de todos os alunos, mas não havia dado muita atenção à noticia lida.

– O QUE DISSE?- ele parecia espantado.

– Eu disse... Eu disse Merci! Isso! Eu disse Merci! Agora eu tenho que ir! Até logo. - disse fechando a porta do quarto e saindo por baixo de um de seus braços e correndo pelos corredores até chegar ao encontro dos elevadores.

O salão principal estava completamente vazio e nenhuma sala 5 parecia estar à vista. Estava começando a me desesperar, eu tinha apenas 2 minutos. Não havia circunstâncias de eu chegar a tempo. Até que passos vindos das escadas me chamaram atenção. Virei- me em um só movimento para encarar a minha última esperança e percebi que essa não era, nem mais nem menos, que:

–Drew?- Ele lembrava meu nome. Nicolas Morin sabe o meu nome. Ele estava maravilhoso de novo, usava uma camiseta preta em gola V que se desatacava em sua pele branca e mostrava seus músculos em seu peito. Usava também uma calça de moletom cinza que parecia estar desgastada, mas que nele ficava perfeita.

– Nicolas? O que está fazendo aqui?- apesar de estar um pouco feliz por ele ter se lembrado do meu nome, não deixava de ficar preocupada com a minha falta de responsabilidade no primeiro dia.

– Bem... Eu estou a caminho da sala 5. Já está quase na hora da palestra, sabe?- ele parecia um pouco nervoso. Enquanto falava, passava as mãos pelos seus lindos cabelos cacheados.

– Eu estou à procura dessa sala, mas obviamente não a encontrei. Assim como nunca vou encontrar nenhuma sala nesse lugar. - disse zangada.

– Você ainda vai se acostumar- ele sorriu. – E já que estamos definitivamente atrasados, acho melhor me acompanhar até lá se não quiser faltar seu primeiro dia de aula e levar uma expulsão como resposta.

–Para falar a verdade, a segunda opção é bem tentativa, mas não quero ser expulsa. Então... Vamos?-Ele sorriu como resposta e fui caminhando ao seu lado para, juntos, irmos até a sala.

Passamos por um corredor com paredes repletas de quadros. Todos eles continham uma pintura diferente. Alguns com pinturas que continham cores claras, outros esfumados, com pessoas dentro, paisagens, comidas. O outro corredor continha mensagens escritas nas paredes. Ainda sobravam alguns espaços em branco, mas grande parte já estava lotada. Nicolas parecia atento em querer encontrar o caminho, mas nem por isso deixou de notar no meu interesse nos corredores. Antes que pudesse lhe perguntar se faltava muito para chegarmos a sala 5, ela já estava diante de nós dois.

– Escute: agora a única coisa que temos de fazer é entrar em silêncio e sentar nas últimas cadeiras da sala. Assim a professora nem irá notar a nossa presença. - ele disse, olhando para mim enquanto tocava de leve a maçaneta da porta.

–Bem convincente... Já trabalhou na CIA, Senhor Morin?- eu disse sorrindo sarcasticamente.

–Eles não me aceitaram, eu era muito bom em bolar planos. - disse sorrindo enquanto gesticulava com as mãos.

–E muito modesto também- e soltei uma leve risada.

– Faz parte! Ele riu também. – Bom... Pronta?

– Só estou esperando por você!- notei que ele havia exalado um sorriso de lado, mas foi tão rápido que por um momento pensei que fosse algum reflexo.

Ele abriu a porta, entrei logo atrás dele. Tudo parecia bem enquanto nos dirigíamos para as últimas cadeiras, até porque a professora estava de costas para a porta. Todavia, nada pode ser perfeito, não é?

– A dedicação e o comprometimento são características valorizadas aqui em Strangers Place... Mas principalmente a pontualidade, uma atitude que parece estar em falta para o monsieur Morin e mademoiselle Kimberley.- e se virou para encarar as suas vítimas, e todos seguiram seu olhar.

Quando ameacei levantar e protestar, Nicolas segurou minha mão, impedindo com que eu me levantasse, não permitindo que eu tivesse forças para tirar seus dedos dos meus. O seu toque era leve, suave, quente. Fazia-me arrepiar até os pelos de minha nuca. Desejava que ele deixasse sua mão ali e nunca mais tirasse. Por um momento, pensei que ele quisesse o mesmo, mas logo ele tirou a mão e disse quase num sussurro:

–Não vale a pena. - disse, olhando para o chão após ter juntado as duas mãos como se estivesse constrangido.

–Saiam de minha sala devido às suas atitudes e esperem seus horários de aula lá fora. Com um castigo talvez entendam que não aceitamos atrasos. - disse secamente e se virou para encarar o quadro a sua frente.

Eu e Nicolas nos levantamos ao mesmo tempo e fomos até a porta em silêncio. Fiquei indignada por ela ter nos mandado embora, afinal era um atraso de menos de 2 minutos. Nada demais.

– Isso foi ridículo! Ela não pode nos retirar da sala no primeiro dia e por um motivo tão bobo... Mulher idiota, francesa nojenta- disse com desdém.

– Concordo com você que foi um tremendo exagero, mas a nacionalidade dela não é a culpa do que ocorreu. - ele disse sério.

Dei de ombros, eu estava muito irritada. Não havia tomado café, levei 2 advertências hoje e mais um sermão de Nicolas, mas até que ele tem razão. A razão de ela ser estúpida não se relaciona com o fato dela ser francesa e, por isso, não devo julgar sua nacionalidade. Nicolas percebeu minha irritação e preferiu cortar o silêncio que se formava entre nós.

–Eu nem tomei café hoje, estou morrendo de fome. - disse passando a mão pela barriga.

– Eu também não. Que droga! O dia não poderia ser pior. - disse desanimada, encostando-me na parede.- Será que sobrou comida na confeitaria?

– Na confeitaria eu acho que não, mas tem um supermercado aqui do lado. O monoprix. - disse passando as mãos pelos cabelos, novamente.

– O que adianta se não podemos sair?

–Eu tenho 18 anos, posso ir aonde eu quiser. Além do mais, não tem ninguém aqui para ver e a palestra acaba só daqui a 1 hora. Não sei você, mas eu vou comer. - e saiu em direção à porta.

Eu o avaliei caminhando até o final do corredor. Por um momento, lembrei-me da cena de Michael indo embora quando me acompanhou até em casa no meu penúltimo dia em Londres. Ir embora. Eu odiava ir embora. Odiava ver as pessoas irem embora da minha vida. Eu estava com medo de ser pega e ser expulsa, mas por um lado dentro de mim não queria ficar aqui, queria ir com Nicolas, por mais perigoso que fosse. Então, eu havia decidido. Saí correndo atrás dele até ficar ao seu lado.

– Olha quem está aqui!- ele disse sorrindo. - A medrosa!

– Você é muito mau, Morin.- disse, derrotada.

Ele riu e disse:

–Vamos, é por aqui... - apontando-me o lugar.



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