Um toque francês escrita por lufelton


Capítulo 5
Capítulo 5- Merci




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Quando me dei conta, estava rindo sozinha. Recuperando o fôlego, com as mãos ainda um pouco trêmulas e meus pensamentos estabilizando.

–Alô? Terra chamando Drew! Como foi a sensação?- ele riu

– Isso, definitivamente, não se faz seu desgraçado!- Ele caiu na gargalhada e eu o acompanhei. Fazia tempo que não me sentia assim. Tudo bem que a minha vida em Londres sempre foi excepcional, mas não me lembrava do momento em que ela havia me deixado nesse estado de espírito, sentindo-me livre e prazerosa ao mesmo tempo. O taxista afastou meus pensamentos com seus murmúrios.

–Juro que não queria atrapalhar esse momento. Apesar de eu fazer sempre o mesmo desafio a todos que me acompanham, nunca perdeu a graça. Acredita que todos fazem os mesmos gestos?- ele sorriu orgulhoso de si mesmo. Mas, indo direto ao assunto, você sabe qual é o número do local?- Perfeito. Esqueci o número do lugar. Fiquei vasculhando na minha bolsa para ver se tinha algum endereço, mas para o meu desespero, não havia encontrado nada. Então, lembrei-me que papai havia posto o endereço do lugar no mapa que me dera. Ufa!

–Número 12!- respondi.

– Já estamos bem perto! Número 14, 13... 12! Aqui estamos! Avenué La- Motte Picquet Grenelle, Rua Place de Joffre, número 12.

– Muito obrigada, senhor... ?- Depois de uma viagem tão longa, pensei que eu deveria ser um pouco mais educada e, pelo menos, perguntar o seu nome.

–Pierre Dumont! O prazer foi meu, Drew! E você fica me devendo 40 euros, mas como gostei de você, faço por 30. - ele disse exalando um sorriso.

–Ah obrigada Pierre!- disse retribuindo o sorriso e abrindo a porta do carro.

– Espere, eu ajudo você com as malas. - disse saindo do carro e pegando as 2 únicas e mais pesadas.- Uau, o que você trouxe? Pedras?

– Muito engraçado, Pierre! Mas, não. Não trouxe pedras! Eu vim morar aqui. – respondi.

–Morar? Nossa, deve ser uma grande mudança pra você. – disse, notando a minha cara que começava a se entristecer.

– E tanto- disse desanimada

–Tome! – disse ele, entregando-me um cartão. Esse é meu cartão! Quando precisar de ajuda ou se perder é só ligar para esse número. Mas tente não ligar muito tarde, meu filho nasceu não faz muito tempo e não vai ser bom acordá-lo. Eles ainda têm sonos muito leves. - disse ele, alertando-me.

– Ah, claro! Obrigada da mesma forma. Prazer em te conhecer, Pierre. - disse, tentando parecer simpática.

Ele sorriu, esperou que eu entrasse no hotel em segurança e partiu.

Era um condomínio enorme. Antigo, mas ao mesmo tempo moderno. Havia muitas pessoas naquele saguão, mas todas aparentando ter a mesma idade que a minha. Localizei os elevadores, mas como não sabia o número do quarto, não adiantava subir. Por isso, fui em direção à senhora que, coincidentemente, estava ao lado dos elevadores. Ela continha um crachá em seu peito, fazendo-me concluir que trabalhava aqui.

Porém, lembrei-me que não sabia uma palavra em francês, ou seja, não poderia me comunicar com ela. Entretanto, antes que eu pudesse pensar em qualquer meio de comunicação, ela já havia me notado.

Bonjour, mademoiselle!- Não entendi absolutamente nada do que ela havia dito, mas parecia ser algo simpático. Pelo menos, seu rosto estava coberto com um sorriso.

– Hã... Oi! Eu não falo francês. Você, por acaso, sabe falar inglês?- arrisquei.

–Claro, mademoiselle! Todos nós funcionários falamos em inglês, afinal, isso não é uma escola para franceses e sim, estrangeiros. Mas, por acaso, você está procurando alguma coisa?- ela perguntou olhando para as minhas malas.

–Estrangeiros? Nossa, eu não sabia... Que sorte a minha!- respondi aliviada. Bem, sim! Eu não sei qual é o meu quarto.

– Qual é seu nome?- disse me olhando e avaliando a lista que surgiu em suas mãos.

– Drew. Drew Kimberley!- ela fitou a lista novamente e logo abriu um sorriso.

– Aqui está! Quarto número 422, no 4º andar. Vou pegar a sua chave e já volto para lhe acompanhar. - ela disse saindo onde estava, perdendo-se de minha vista.

Quando voltou, entramos no elevador e fomos até o meu novo quarto. Ela me ajudou a arrastar as malas até a porta e disse, com a mão na maçaneta:

–Espero que goste!- e abriu o quarto. Na realidade, ele era bem pequeno, mas suficiente para mim. Precisava apenas de alguns retoques, mas fora isso, era bem bonito. Tinha uma pequena sacada logo à frente e um mini banheiro.

–É perfeito, obrigado!- disse sorrindo.

–Mais uma coisa, você terá que ir até a sala de comunicações para informar a sua chegada em Strangers Place, feito isso aproveitaremos a oportunidade para comunicar os seus pais sobre sua presença garantida. Tome aqui o mapa do lugar, vai precisar!- ela disse, dando-me um mapa mais ou menos do mesmo tamanho do que o de papai.

–Obrigada!- disse, examinando o mapa.

–Você não é mais uma estrangeira, mademoiselle! Obrigada significa “merci” em francês- ela sorriu. Tenha um bom dia!- e saiu.

Merci. - disse sorrindo para mim mesma.

Botei minha bolsa em cima de minha cama, tirei o casaco e fui atrás da tal sala de comunicações. Entretanto, não havia muita coisa no mapa que me levasse até o lugar. Estava explícito apenas algumas informações sobre o local, sobre a importância de falar francês, sobre a importância de conhecer pessoas novas de outros países e blá, blá, blá... Caminhava apenas prestando atenção ao mapa, sem me dar conta de que estava prestes a me esbarrar com alguém.

Quando menos esperei, dava de cabeça com a tal pessoa. Doeu tanto que cheguei a ficar tonta.

–Ai!- eu disse, passando a mão em minha testa com os olhos direcionados para o chão.

–Puxa, desculpe-me! Eu lhe machuquei muito?- era uma voz masculina com um sotaque diferente: nem britânico, nem americano, mas sim desconhecido. Elegante. Forte. Marcante.

As mãos do garoto foram em direção ao meu mapa caído no chão.

Então, eu o olhei. Meus olhos encontraram os seus. Ele era absurdamente bonito. Tinha cabelos pretos cacheados que se destacavam com seus olhos azuis. Era alto e bastante magro. Usava uma camiseta branca embaixo de um suéter vermelho, com uma calça jeans azul apertada. Eu o avaliava de cima a baixo e parecia que tudo nele ficava perfeito, o que me deixava mais tonta ainda. Quando me dei conta, ainda estava olhando para ele de boca aberta sem dizer uma palavra, então raciocinei e finalmente lhe respondi:

–Hã... Não!-gaguejei. Está tudo bem! Eu não estava prestando atenção no caminho e... Nossa, sinto muito!- disse realmente arrependida.

– Nós dois não estávamos- ele sorriu. Que sorriso lindo! Os dentes pequenos e brancos, sem nenhum espaço a ser mostrado, apenas com os buracos que enfeitavam as suas bochechas.

–Meu nome é Drew Kimberley, sou nova aqui. - disse sem pensar, como se ele estivesse interessado em saber o meu nome.

– O meu é Nicolas Morin. - ele sorriu novamente- E acho que isso é seu- disse ele, entregando-me o mapa.

– Ah, obrigada!-peguei-o de suas mãos- Bom, eu não quero lhe atrapalhar de novo, mas você poderia me informar onde fica a sala de comunicações? Esse mapa não explica nada. - disse revirando as páginas novamente.

– Ah... Claro! Desça as escadas, vá até ao primeiro andar e entre na segunda porta à direita.

– Obrigada e desculpa novamente!- e fui embora, sem olhar para trás. Como eu fui idiota. Ele deve ter me achado uma babaca, pensei.

Fui até a sala e assinei o meu nome em uma lista colada na parede. Ao passar pelos corredores novamente fiquei imaginando o quanto aquele sorriso era maravilhoso, sem falar dos olhos, que eram fantásticos... NÃO! Pare de pensar nele, você nem o conhece, pensei. Voltei para o meu quarto e me dei por conta que não havia avisado Vagance sobre minha chegada. Então decidi lhe escrever um e-mail simples e rápido.

De: Drew Kimberley (drewkim_262@gmail.com)
Para: Amber Osment (amb_vagance.ment@hotmail.com)
Assunto: Aqui estou!

Vagance,
Perdoe-me por não ter mandado o e-mail mais cedo, aqui está uma correria. Demorei 40 minutos para ir da estação até o hotel, dá pra acreditar? Aliás, isso não é um hotel! Isso é um lugar só para estrangeiros, sem franceses (descobri isso hoje). Talvez seja a única notícia até hoje que me alegrou um pouquinho. Peguei um táxi para vir para cá e conheci um taxista muito doido (ele falava inglês)! Ele me mostrou a torre Eiffel e ela é realmente muito linda, amiga... Isso eu não tenho como discordar! Apesar de que nunca vou me acostumar com Paris, você não faz ideia da falta que Londres e vocês me fazem... Mandem notícias sempre!

Beijos

Com muitas saudades,

Drew.

Estava com os olhos cheios de lágrimas. Aquilo tudo doía muito. Lembrar daquela mudança repentina me deixava fraca e o fato de estar sozinha em um país imenso e desconhecido, onde a língua nem tenho em meus conhecimentos, me levava, definitivamente, ao abismo. Eu chorava muito, alto e escandalosamente. Deitei em minha cama, com a cabeça tapada pelo travesseiro e prestes a esgotar todo líquido de meu corpo pelos olhos até adormecer.



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