A volta para casa foi diferente. O clima dentro do carro era de um silencio sepulcral. Janina tinha uma expressão um tanto preocupada e Andrews parecia sem emoções. Derek dirigia tranquilamente, apenas lançando alguns olhares para o amigo de tempos em tempos.

A visita ao médico havia rendido a eles uma bela bronca. O homem disse que Janina precisava de repouso e descanso, o completo oposto do que estava tendo. A recomendou manter a alimentação saudável e nem pensar em fazer esforço e emoções fortes. Pela careta de ambos, o médico provavelmente pensou que o casal fosse fã de grandes aventuras e talvez Janina houvesse acabado de pular de para-quedas.

-O que houve com meu pai?_A moça preguntou timidamente quebrando o silencio no carro.

Andrews encarou Derek e esse o devolveu um olhar sem emoções, dando de ombros em seguida.

-Deve ter ido para casa._Ele respondeu sem dar muita atenção._Por acaso tenho cara de babá de velho agora, para saber para onde ele foi?

Janina revirou os olhos diante do costumeiro mal humor do rapaz, mas ficou feliz em saber que seu pai estava bem.

-Na verdade And, acho que você tem cara de babá sim._Derek disse encarando o amigo com um sorriso de canto._Quando eu tiver um filho, vou contratar você._Ele disse e sorriu desviando de um soco que veio de Andrews e logo ambos estavam rindo abertamente. Assim que olharam para trás notaram Janina de olhos arregalados e a boca formando um perfeito "O".

-Ok, e eu que pensei que não podia ter fortes emoções._Ela resmungou e Derek a olhou ´pelo retrovisor.

-Do que está falando?_Ele perguntou e ela devolveu o olhar a ele.

-Encontrar meu pai e desmaiar em seguida, é uma grande emoção. Ver vocês dois gargalhando é demais para minha mente._Ela disse e Andrews passou a encara-lá também._E nem sabia que vocês sabiam sorrir.

-Viu And._Derek falou encarando o amigo._Agora ela acha que já pode até fazer piadinhas.

-É isso que dá esquecer as seringas com sedativos em casa._Andrews respondeu e Janina fingiu uma cara de medo enquanto escondia um sorriso.

Depois do pequeno dialogo no carro, a volta para casa não demorou tanto. 

-Vá para o quarto Janina, e agora eu preciso resolver outras coisas ainda mais importante._Andrews disse assim que pisou dentro de casa e deu as costas para todos logo em seguida.

Derek trancou a porta da frente e observou por alguns minutos até que notou que a moça ainda permanecia no mesmo lugar onde seu amigo a havia deixado.

-Não entendeu o que ele disse, ou ficou paralisada só de ouvir a voz do cara?_Ele disse se aproximando dela._Você mulheres deveriam pelo menos tentar disfarçar um pouco.

-Não é nada disso._Ela falou e ele a encarou sarcástico.

-A não, não é?_Ele devolveu uma pergunta cheia de significados._Não é isso o que? Que você é meio surdinha, nem adianta negar._Ele falou e ela revirou os olhos._E se você quer um outro fato que está mais do que na cara, eu posso lhe dizer um.

Janina o encarava incrédula sem entender ainda o motivo daquela conversa absurda toda. Derek não era de falar; ao menos não na sua presença. Ms algo dizia aquela garota que quando ele abria a boca para confrontar algo, havia perigo eminente em qualquer uma de suas mais simples palavras.

-Pela cara de boboca, eu acho que quer mesmo ouvir a resposta._ele disse e riu baixinho ainda com um olhar de puro sarcasmo sobre ela._Pensa que eu não sei que a senhorita está toda radiante desde que o And te deu uns amassos lá no quarto?_Ele falou e riu com uma gargalhada sonora._Estocolmo._Ele falou vagamente assim que parou de rir e a encarou seriamente.

-O que?_Janina indagou sem saber do que se tratava a palavra.

-Síndrome de Estocolmo._Ele falou e ela continuou o encarando sem entender realmente._É conhecida por atingir os reféns de sequestradores. E pare de me olhar com essa cara de peixe morto, por que eu sei que você entendeu muito bem. Tão bem quanto eu. Eu só queria saber mais uma coisa. Na verdade é a única coisa que eu não entendo. Como você pode se apaixonar por alguém que só te fez e ainda faz mal? Como você se apaixona por alguém que te machucou tanto? Como no meio de tanto  lixo você ainda consegui encontrar um resquício de esperança para fazer o amor brotar? Como?

-Eu me faço essas mesmas pergunta todos os dias._ A voz que respondeu veio do topo da escada. Layane o encarava sorrindo._E eu vejo a reposta dela e todos as outras assim que olho bem no fundo dos seus olhos.

-O amor não precisa de lugar certo para nascer._Foi a vez de Janina se pronunciar trazendo os olhares de Derek sobre si._Existe uma flor da qual eu gosto muito. São os Lírios. Eles são tão fortes que são capazes de nascer em meio ao lodo e tomar para si apenas o que há de bom naquilo tudo. E no fim das contas é umas das flores com o melhor aroma que se pode sentir no mundo. Assim também é o amor Derek. Ele continua sendo puro independente do lugar onde ele esteja condicionado. É o mais forte dos sentimentos, e mesmo em meio ao ódio ele se sobressai. Ele é maior que isso. Maior que o lixo que o rodeia. Maior que o ódio. Como os Lírios.

No fim da frase de Janina encarava Derek com um sorriso tímido brincando nos lábios enquanto o rapaz a encarava com uma expressão indescifravel, e Layane sorria bobamente parada ao lado dele.

-Mas a propósito, eu não estou apaixonada por ele._Janina disse subindo rapidamente as escadas em seguida. Enquanto ainda tentava esconder um sorriso sentiu esbarrar em alguém. Um perfume forte invadiu o lugar e logo sem nem mesmo olhar para o individuo, ela já sabia de quem se tratava. Ela reconhecia aquele perfume.

-Como os Lírios._Foi o que ela disse antes de passar rapidamente por ele e entrar no quarto, deixando Andrews completamente sem entender parado no corredor.

Ele continuou seu caminho e assim que chegou ao topo das escadas viu Derek e Layane subindo juntos. Logo ele viu ambos se aproximarem de si, e assim que Layane se aproximou mais, ela soltou da mão de Derek e colou o nariz próximo ao seu pescoço. Antes que ele pudesse questionar qualquer coisa, Layane sorriu para Derek e falou?

-Lírios.

-Mas que..._Andrews começou, mas foi interrompido pela voz de Derek.

-Você está ferrado meu amigo._Ele falou e Andrews o encarou descrente._Completamente ferrado.

E logo todos sumiram dos corredores, deixando apenas um Andrews confuso, imerso em confusão, curiosidade e seu característico perfume com cheiro de Lírios frescos.