Death Note: Ressurreição escrita por Goldfield
A marola da revolução morre na praia do marasmo
E eu ainda espero a ressurreição
Eu ainda aguardo, aguardo a cada manhã
Pois sem a Justiça, com ela morta
Quem me protegerá nas noites mais frias?
Pois só a Justiça trará meu futuro
Sem que eu me renda às maçãs verdes
A Justiça não me trairá
E eu ainda espero a ressurreição
Porque a Justiça não pode morrer
E é nisso que irei acreditar
Pois ela mais uma vez se fará sentir
Abalará o mundo como nunca abalou
A Justiça ressuscitará
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Capítulo V
“Cautela”
Quartel-General da Interpol, Lyon, França.
Representantes da organização provenientes de inúmeros países do mundo, todos membros da mesma, encontravam-se acomodados atrás de bancadas com microfones e pequenas placas contendo seus nomes e a bandeira da nação da qual eram originários. Mesmo com todas as suas diferenças, todos tinham algo em comum: além da agitação que os dominava, o assunto referente ao possível retorno de Kira predominava nas conversas e cochichos. Reunidos em assembléia extraordinária, suas posições circundavam uma bancada central até então vazia, de frente para a parede contendo a grande representação do emblema da Interpol, com uma imagem da Terra, espada e balança douradas, e as iniciais da organização.
Apesar da língua mais usada no recinto ser o inglês, os enviados para a reunião também falavam usando seus dialetos naturais, o que tornava o local uma quase completa babel. Coube ao secretário-geral, depois de entrar apressadamente ajeitando a gravata, assumir seu posto no centro do lugar e tentar impor ordem através do microfone:
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O pedido não surtiu grande efeito no início, sendo necessário ao interlocutor dar um suspiro e insistir:
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Aos poucos os representantes se deram conta da situação um tanto embaraçosa que perpetuavam e foram se calando. Os mais exaltados, que haviam até levantado de suas cadeiras, tornaram a sentar entre resmungos. Dentro de alguns instantes o silêncio dominou a assembléia, e o secretário-geral pôde finalmente transmitir o que tinha para dizer:
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Uma nova onda de agitação tomou o recinto, o péssimo hábito de todos ali falarem ao mesmo tempo se repetindo. O burburinho indistinguível voltou a predominar, até alguns gritos acalorados surgindo de tempos em tempos, e o secretário-geral bateu com uma das mãos na testa de tanta frustração. Por fim pediu de novo que os enviados se calassem e depois de cinco minutos conseguiu novamente falar:
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Nisso, na bancada em que os três representantes do Japão presenciavam a discussão, um deles, convidado pessoalmente pelo capitão Matsuda e também pelo atual diretor da Agência Nacional de Polícia, Honshu Nikemura, para acompanhá-los até a França, perguntava a si mesmo se estava diante de uma assembléia de pessoas civilizadas ou um ringue de luta livre. Era Hideo Hoshi, o atirador que Touta tanto valorizava. O marido de Sayu considerara uma boa experiência para o rapaz participar de uma reunião como aquela, assim como Soichiro Yagami lhe dera a mesma oportunidade no passado, mas o jovem agora se encontrava confuso e decepcionado, tanto que resolveu perguntar a Matsuda:
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E, percebendo que o agressivo debate dos colegas ainda tinha “L” como foco, o capitão decidiu se manifestar:
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Matsuda fez sua colocação com tamanha certeza que todos no recinto imaginaram se ele não saberia algo mais do que aparentava... A verdade era que sim: Raito Yagami era Kira, o que mostrara que “L” seguira a pista certa ao investigar as famílias dos policiais. Mesmo sendo um argumento forte, Touta no entanto não podia revelá-lo. Jurara que a real identidade de Kira jamais viria a público.
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E eis que logo em seguida um homem de sobretudo marrom, cabelo curto e inseparáveis óculos escuros adentrou o local. Trazia algo como uma maleta numa das mãos, mas boa parte dos participantes da reunião já sabia do que se tratava. Parou de pé diante da bancada central e olhou primeiro para o secretário, logo depois se voltando para os demais membros da Interpol. Foi com uma voz calma e sem maiores pretensões que se apresentou:
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Diante de resposta tão seca, ninguém mais indagou a respeito do assunto. Porém, antes que o federal estadunidense pudesse realizar a tarefa para a qual viera até ali, o representante da Alemanha falou:
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A sábia réplica bastou para calar de vez todos os presentes. Adams então pôde colocar sua aparente maleta sobre a bancada do secretário-geral e abri-la de frente para a assembléia. Era um notebook, o qual foi imediatamente ligado. Um “L” estilizado logo dominou a tela branca, simultaneamente a voz irreconhecível do detetive se fazendo ouvir por todos:
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A estupefação foi geral. Dois Kiras? “L” não estaria se precipitando demais com uma teoria tão aterradora? Quem conhecia bem o detetive sabia que não, e Matsuda era um deles. Inclusive talvez fosse essa a hipótese que fazia mais sentido. Hoshi se sobressaltou, cutucando o capitão e falando palavras desconexas, mas este pediu que se aquietasse. A explicação da suspeita estava por vir.
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Silêncio. Era uma proposta difícil, mesmo a maioria ali sendo dotada de um senso de justiça bastante admirável. Teriam de abrir mão de seus amigos, famílias... Suas próprias existências estariam em jogo se resolvessem integrar o time de “L”, e era um jogo sem dúvida alguma delicado. Um jogo mortal contra Kira.
Aos poucos, em vários pontos do grande salão de reuniões, alguns membros foram se levantando... Diferentes nacionalidades, diversas culturas, mas um único propósito. Entre eles estavam o capitão Matsuda e seu comandado Hoshi, dispostos a irem até o fim.
A justiça mais uma vez prevaleceria.
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Death Note – Como usar:
9 – A data e a hora da morte podem ser manipulados dentro dos 40 segundos após se ter escrito o nome.
10 – O humano que tocar o Death Note pode reconhecer a imagem e a voz de seu proprietário original, um deus da morte, mesmo se esse humano não for o dono do caderno.
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Paris. Uma nova manhã.
Justine caminha despreocupada na direção da Sorbonne como de costume, suas botas desmanchando os flocos de neve na calçada caídos na noite anterior. A diferença é que agora a estudante é acompanhada por alguém invisível às demais pessoas, o Shinigami Masuku, que, alguns metros acima do chão, bate suas asas negras contra o ar frio do inverno.
Carregando sua mochila e seus livros, a loira tem o semblante erguido e os olhos fixos em algum ponto desconhecido no horizonte, como se estivesse presa num estado de profundo transe. Parece totalmente alheia aos outros seres humanos ao redor de si e ao próprio mundo em que habita, a única coisa dominando seus pensamentos sendo sua missão, a tarefa pela frente... Purificar o mundo; ser, através do Death Note, o fogo de justiça que acabaria com todo o mal.
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Logo Clare chega à frente da Sorbonne, onde, como em todos os dias de aula, Paule a aguarda sorridente entre os vários estudantes.
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Delacroix se aproxima da amiga com visível ansiedade, e esta agradece às regras do Death Note por não ter de apresentar Masuku a ela, dado o frenesi que geralmente a tomava ao conhecer pessoas novas. Imagine só se ainda por cima essa pessoa não fosse humana...
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O quê?
A súbita revelação contribuiu para fazer o corpo da órfã gelar ainda mais, já que o clima também contribuía para isso. Sentiu-se zonza por um instante, acreditou até que ia desmaiar, e num relance ainda mais breve reprovou-se por não ter tomado café da manhã antes de sair de casa, o que a deixara mais fraca. Lutou como nunca para manter a firmeza das pernas e a naturalidade da situação, porém não conseguiu controlar totalmente a reação de seu organismo. A pele embranqueceu, os dedos tremiam de forma perceptível. Notando o abalo causado pela informação, Paule preocupou-se e já ia avançar para amparar a amiga com os braços, evitando que caísse, quando ela lhe falou:
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Que fazer? Ela deveria disfarçar? Se sim, como? Era difícil enganar Paule, pois ela a conhecia como ninguém!
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Deu então um risinho cínico, mas foi o bastante para a amiga tornar a sorrir, mais aliviada. Ela acreditara. Felizmente.
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Diante de tal resposta Delacroix de início fez uma careta, mas, lembrando-se do temperamento difícil da loira, logo acabou por rir descontraída. As duas caminhavam na direção do interior do campus, moças e rapazes ao redor conversando enquanto as aulas não começavam. Justine pôde ouvir a palavra “Kira” uma ou duas vezes no meio das rodinhas. Realmente a população já estava ciente do misterioso fato e este parecia ter se tornado o assunto principal.
Droga, droga!
Clare não se conformava. Como seria possível? Olhou de soslaio para Masuku, e ele mantinha completo silêncio desde que Paule falara sobre a morte no Japão. Tinha um quê de perplexidade, de assombro, talvez até maior que a própria estudante de Direito. Pelo visto ele também não esperava isso, mas Justine não tinha certeza. Necessitava de respostas, e teria de obtê-las o quanto antes.
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Ótima sugestão. A loira nem precisara inventar uma desculpa para se ausentar.
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Delacroix deu mais uma risada de divertimento e observou a amiga se afastar por um dos corredores da universidade, por pouco não trombando com outras duas garotas. Justine parecia estranhamente atordoada aquela manhã...
O banheiro feminino por sorte se encontrava vazio. Primeiramente a jovem seguiu o conselho de Paule e andou até a pia, abrindo a torneira e usando as mãos pálidas para banhar a face com água fria. Precisava daquilo. Despertar para os riscos, perigos... os imprevistos. Aquele que encarava agora com certeza não seria o último a ameaçar seus planos.
Em seguida virou-se para Masuku, que pousara sobre o piso com a mesma expressão perplexa notada antes por Justine. Não parecia pronto para elucidar dúvidas naquele momento, mas mesmo assim a estudante as lançou, logo depois de certificar-se que estava mesmo sozinha no local:
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Clare bufou. Como era irritante a névoa da imprecisão! Haveria outro Kira na ativa, provavelmente no Japão? Ele teria tido acesso a um Death Note antes ou depois da francesa? De qualquer forma, isso ameaçava expor seus intentos antes mesmo de efetivamente iniciá-los. Tinha de descobrir mais coisas!
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Masuku ia dizer algo, porém deteve-se de repente. Isso não passou despercebido a Justine:
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Sentando-se junto a uma das paredes do banheiro, Clare, já mais calma e com um estado de nervos menos suspeito, retirou sua mochila e, enquanto a abria, afirmou ao aliado:
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Justine então retirou alguns livros que carregava de dentro da bolsa, e entre eles via-se um volume de capa preta, fino, que logo deslizou para as hábeis mãos da garota... Tratava-se do Death Note.
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Ela tinha mesmo razão. Sorrindo, o Shinigami ergueu-se do solo e agitou as asas, pairando ao lado de Clare. Quaisquer dúvidas que ainda tivesse sobre a capacidade da jovem utilizar o Death Note de forma sagaz se dissiparam após aquele último diálogo. Ele realmente escolhera bem... E sabia que não se arrependeria. Acompanhar a loira em sua cruzada contra o mal do mundo seria bastante realizador... e incrivelmente divertido!
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Assim se retiraram do banheiro, os humanos que o usariam em seguida no decorrer daquele dia sequer imaginando que fora palco de uma conversa entre um deus da morte e uma mulher que poderia decidir em questão de instantes a respeito de todas as suas vidas...
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Aguardando a Justiça
Eu quero quebrar com o marasmo deste mundo
Com a inércia das pessoas
Com a preguiça das maçãs verdes
Eu me tornarei luz
O sol da humanidade cega e tola
Eu me tornarei luz
E irei guilhotinar os maus
Eu posso conduzir a Justiça em minhas mãos, eu sei
Eu sei que posso trazer a luz a este mundo
Eu sei que posso amadurecer estas maçãs
Eu sei que posso fazer a ressurreição
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Prévia:
Não posso deixar escapar esta oportunidade... Vamos ver até que ponto as propriedades deste caderno são verdadeiras!
É incrível... Simplesmente incrível.
E ninguém suspeita de mim. Agora estou pronta para agir verdadeiramente!
Próximo capítulo: Confiança
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