A Fabulosa Mooresville escrita por Luma


Capítulo 6
Capítulo 6 - Azul, Família e Assombração.


Notas iniciais do capítulo

Feliz Natal pra todo mundo já que não poderei desejar no dia!!
Espero que gostem do capítulo, não foi meu favorito.



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O mercado não ficava muito longe do restaurante. Era uma pequena casa simpática, com paredes brancas sujas pelo tempo. A porta de vidro igual a do restaurante encontrava-se aberta. Parecia que eles estavam tentando trazer a modernização para a cidade, mas não tinham certeza de como aplica-la corretamente. Parecia um velho senhor usando óculos muito modernos. Ridículo, porém tinha uma certa graça.


Entrei primeiro, me deparando com o cheiro de pão fresco que saia da parte de trás do pequeno mercado. Várias prateleiras se estendiam pelo comprimento da loja, e elas estavam repletas de vários artigos. Havia um pequeno balcão no canto esquerdo do mercado. Atrás dele estava uma garota muito bonita de cabelos castanhos e olhos grandes azuis, os quais estavam ainda mais intensificados pelo uso de delineador preto. Ela lia um livro de capa grossa e dura que não tinha nome. Parecia completamente interessada nele, franzindo os lábios enquanto seus olhos examinavam cada linha.



Joanne passou pela porta com um sorriso gigante no rosto, examinando o local. Todos seus dentes eram perfeitos. Ao avistar a garota dos olhos azuis seu sorriso se abriu mais ainda. E como se fosse possível ficou ainda mais linda. Ela era intimidante.



–Jessica. Achei que você só trabalhava aqui aos sábados. –A voz de Joanne saiu calma, quase sedosa. Andou até o balcão e se debruçou sobre ele, seus cabelos loiros caíram sobre o livro da atendente. A garota a olhou séria. Pude perceber brilhar um pequeno piercing no nariz. Uma pequena argola de prata.



–Férias são férias, não? Gosto de ocupar meu tempo. –Falou abaixando o livro e sorriu para a garota. Ela era tão linda quanto Joanne, porém era uma beleza diferente. Clássica, quase antiga. Era só colocar o vestido de minha avó nela que ela virava uma personagem de contos de fadas.



–Claro, faço a mesma coisa no restaurante. –Joanne falou. –Jessy, quero te apresentar a alguém. Essa é Sofia Ducce, neta do Nicolau. –Ela veio correndo até mim e me puxou pelo braço. –Sofia essa é Jessica Ridgeway. –Jessica sorriu levemente para mim e estendeu a mão.



–Prazer. –Apertei a mão dela delicadamente. Suas unhas eram enormes e estavam pintadas de vermelho.



–E aquela é Mary, a amiga que veio acompanhá-la. –Joanne falou um pouco debochada e Jessica olhou para a minha amiga sem esboçar nenhuma reação.



–Prazer em te conhecer, Mary. Espero que tenham feito uma boa viagem. –Falou enquanto guardava o livro em algum lugar atrás do balcão. –Como está a casa? Da última vez que a vi já estava mal cuidada. Posso saber se o balanço ainda existe? –Seus lábios extremamente vermelhos se curvaram num sorriso. Então ela conhecia a casa. Talvez fosse outra amiga de infância minha. Talvez fosse a lembrança que faltava.



–D-desculpe-me perguntar, mas você conhece a casa? –Gaguejei levemente.



–Sim, e quem dessa cidade não conhece? A casa mal-assombrada de Mooresville. –Sua voz adquiriu um tom sinistro e Joanne abriu um sorriso de lado uma tanto quanto maléfico. Engoli em seco.



Mal-assombrada?



Seria difícil passar mais uma noite naquele lugar sabendo que espíritos a rondavam. A casa era o mais belo cenário para o mais horroroso filme de terror e para a pior carnificina.



–Assombrada? – Sussurrei. Mary parou do meu lado, sua face estava igual a quando entramos pela primeira vez no segundo andar da casa. E eu não deveria estar diferente.



Joanne e Jessica se olharam sérias e depois viraram para nós. Seus olhos adquiriram um brilho peculiar, quase sinistro. Vagarosamente, as duas foram abrindo um enorme sorriso. Arrepios correram a minha espinha, jamais tinha visto algo tão belo. Nem tão assustador. Aqueles sorrisos eram mais assustadores que tudo que eu tinha visto até agora. Terceiro andar, casa estalando, banheiro repugnante e quarto parado no tempo. Nada se comparava ao que eu estava vendo ali.



Afastei-me inconscientemente, dando pequenos passos para trás. As duas garotas se olharam novamente. Fiquei com medo do que estava por vir. Será que eu realmente merecia ter meu fim num pequeno e antigo mercado durante uma tarde ensolarada na cidade onde meu pai nascera?



A resposta era não.



Logo após se entreolharem novamente, as duas soltaram uma estrondosa e longa gargalhada que me fez sorrir também. Olhei aliviada para Mary, que ainda não tinha saído do transe.



–Vocês deviam ter visto as caras de vocês! –Joanne falou por entre as gargalhadas. –Por favor, não contem que eu fiz isso para o meu avô. Ele me mata. –Apoiou-se no balcão tentando tomar fôlego. Passei as mãos pelo me cabelo preso suspirando. Era apenas uma brincadeira.



–Vocês realmente me assustaram. Depois da noite que eu passei ali essa foi a pior brincadeira que vocês podiam fazer. –Falei um pouco rude. –Mas como você conhece a casa? –Perguntei a Jessica. Ela já estava totalmente recuperada e de volta ao balcão.



–Eu sou sua prima. –Ela falou dando de ombros. Meus olhos se arregalaram e minha mão foi para minha boca. Não havia nenhuma semelhança entre a gente. Nada.



–Prima? –Falei sem assimilar a informação.



–Quase isso. Meu avô é irmão do seu. –Estranho. Tinham muitos parentes que eu sequer sabia que existia. Mas era bom ter alguém da minha idade na família. –Eles não se falam muito, mas eu costumava a ficar na sua casa quando era pequena. Meu nome todo é Jessica Ridgeway Ducce, mas não uso esse sobrenome. Moro na mesma rua que você. Estrada Hamilton, número 6.



–Por que eles não se falam? –Perguntei. Eu conseguia me lembrar vagamente dela, apenas algumas lembranças.



–Isso você vai ter que perguntar para seu avô. –Ela sorriu e mexeu em alguma coisa atrás do balcão. –Bem, já interrompi vocês por muito tempo. Não creio que vieram aqui para falar comigo. Continuem com as compras, qualquer empecilho é só me chamar. –Sentou-se na cadeira alta e voltou a pegar o livro, levantando-o para a linha do olhar.



Eu e Mary fomos direto ao lugar onde estavam dispostos os materiais de limpeza. Peguei água sanitária, vários panos de chão, sacos de lixo e produtos para polir madeira e limpar vidro. Mary pegou sabão em pó, detergente e alguns artigos de banheiro como shampoo e sabonete. Levamos tudo até o balcão. Jessica passou os produtos pela máquina que registrava os preços e depois colocou tudo em sacolas, não tinha sido nem um pouco caro.



–Aqui está. –Ela falou entregando-me as sacolas. Se ela mexesse demais a mão, ela ia rasgar a sacola com as unhas. –Vão limpar a casa? –Ergueu a sobrancelha e apoiou os cotovelos na superfície do balcão, logo depois apoiou a cabeça entre as mãos.



–É o que a gente estava pretendendo. –Guardei o troco no bolso interno da jaqueta.



–Se quiserem ajuda eu estou aqui. Não tenho feito muitas coisas durante esses dias, e faz muito tempo que não entro naquela casa. –Ela se ofereceu me olhando com aqueles enormes olhos azuis. Seria uma boa ideia ter um pouco de ajuda, e seria interessante conhecer um pouco mais da história da minha família. Ela parecia saber mais do que queria demonstrar.



–Ah, seria ótimo se não for incomodar. –Sorri para ela, mas ela continuou séria.



–Combinando coisas sem mim? –Joanne jogou o lábio inferior para frente. –Eu também quero. Posso até chamar algumas amigas, quanto mais ajuda melhor, certo? –Sorri abertamente para ela. Pessoas de cidade pequena eram muito gentis. Ou pelo menos fingiam ser.



–Certo. Seria realmente ótimo, Joanne. E é muito gentil de sua parte. –Falei e vi Mary fazer uma careta.



–Sem problemas. Vai ser divertido. –Ela sorriu e pulou sem sair do lugar.



–Então, que tal nos encontrar mos no restaurante do avô da Joanne para almoçarmos e depois vamos? –Jessica propôs arrumando o dinheiro dentro da gaveta. –Faltam poucas horas para o almoço, eu tenho que terminar meu turno aqui.



–Tudo bem para a gente, não é meninas? Eu as levo para conhecer o resto da cidade enquanto você termina. –Joanne falou animada e eu assenti. Olhei para Mary, que estava muito calada. Ela não parecia gostar da ideia, mas se ela não queria estragar as unhas dela era necessário aceitar toda ajuda possível. E andar um pouco por aquela cidade tão linda era um ótimo programa.



–Combinado então. Meio-dia em ponto no restaurante. Não se atrasem.



Saímos do mercado. Tudo o que era de mais belo na cidade voltou a me atingir. O cheiro delicioso e os maravilhosos raios de sol. Joanne voltou a brilhar, chamando atenção de todos que passavam. No canto da boca ela conservava um leve sorriso. O sorriso de quem sabe que é maravilhosa. E infelizmente eu havia de concordar.



–Impressão minha ou ela não gostou nada de mim? –Mary se pronunciou, prendendo os cabelos negros no alto da cabeça.



–Impressão sua, Mary. –Falei dando um pequeno empurrãozinho no ombro dela. Ela se desequilibrou minimamente e depois me empurrou de volta. Joanne acelerou o passo e depois se virou, ficando de frente para nós e andando de costas.



–Pior que não foi. Ela não gosta muito de gente que não conhece. Principalmente quando não é da cidade. –Ela deu uma pequena risadinha e se virou novamente. –Não se preocupe, Sofia. Você é prima dela, e além do mais, vocês já se conheciam antes.



Continuamos andando pelo asfalto da rua interditada. A cada minuto novos personagens chegavam naquele maravilhoso conto de fadas. Todos dispostos a contar histórias maravilhosas de glória e sangue. Isso se você estivesse disposto a ouvi-las.



Leiam as notas finais!



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Notas finais do capítulo

Para ajudar vocês a não se confundirem, vou falar (apenas algumas) palavra-chaves que tem em alguns capítulos, isso vai ajudar no futuro, então mantenham na cabeça:
-Rachadura.
-Janela.
-Magdalena.
-Maçaneta.
Guardem o que aconteceu aonde essas palavras apareceram na memória, mas tem muitas coisas importantes por aí, então prestem muita atenção!