Os seis dias depois do Natal que antecediam o ano novo passaram muito rápido. Trabalhei durante todos os dias  e estudei nos minutos que me sobravam, faltavam menos de 15 dias para o vestibular e as abelhas em meu estômago estavam voando e ferroando-me mais do que antes.

Finalmente era o último dia do ano, eu queria que essas últimas horas passassem logo, queria que algumas mudanças ocorressem na minha vida e para mim, ano novo é igual a vida nova. Mas eu não podia evitar que meu coração disparasse toda a vez que eu lembrava que dentro de algumas horas estaria jantando com a família de Felipe. Tudo bem que não seria apenas eu, meus pais e ele com a família, teriam outras pessoas...mas mesmo assim...aquilo era muito para meu cérebro absorver.

Felipe mandara-me uma sms no dia anterior avisando que deveríamos chegar as 22h, eu respondera com um simples: ''ok''. Já eram 19:30 e eu nem banho tomara ainda. Estava esperando minha irmã sair do banho enquanto tentava escolher uma roupa bacana para vestir. Não adiantava, nada me parecia apropriado para a noite.

Quando Mirella entrou no quarto desisti de procurar uma roupa e decidi tomar meu banho. Em últimos casos colocaria minha regata branca e uma calça jeans.

Pela primeira vez em dias, tomei um banho morno. O dia hoje estava lindo, mas estava fresquinho o suficiente para não usar shorts nem regatas sozinhas. Na verdade, estava bem agradável a temperatura.

Quando sai do banho, minha mãe estava me esperando na porta do quarto.

- Comprei algo para você. - Disse ela, estendendo-me uma sacola. - Comprei um dia depois do Natal, mas guardei até hoje. Espero que goste. 

- Obrigada mãe. - Falei, já abrindo a sacola. Havia uma caixa de sapatos dentro. Abri ela e meus olhos devem ter se iluminado.  O par de sapatos que havia dentro eram de salto, bem alto na verdade, eles eram brancos e o bico, redondo, era preto. Aquilo era exatamente o que eu estava precisando para ir na festa. - Mãe, é lindo. - Falei dando um abraço nela. - Eu amei.

- Fico feliz que tenha gostado. - Disse ela, sorrindo. - Agora vá se arrumar, tem que estar linda perto dos seus sogros. Corei.

- Tudo bem. - Falei entrando no quarto e fechando a porta atrás de mim.

Agora que eu tinha aquele par de sapatos tudo estava perfeito. Escolhi uma camisa branco com um detalhe em preto na gola que eu havia ganhado de Roberta no meu último aniversário, ela era de meia manga, excelente para o dia de hoje. Coloquei uma calça preta com leves rasgados na perna. Alisei bem meu cabelo e deixei onduladas as pontas. Passei um pouco de pó facial, rímel e um batom nude. Preferi não passar mais nada de maquiagem, apenas isso mesmo, o básico do básico. Para terminar coloquei um pouco de perfume e calcei os meus novos sapatos. Olhei-me no espelho. Eu estava linda. Mesmo que eu estivesse usando preto na noite de ano novo. Peguei minha bolsinha preta e sai do quarto.(http://www.polyvore.com/new_black_white/set?id=76457534)

Tive de esperar um pouco até minha mãe terminar de se arrumar. Mas não demorou mais que 15 minutos, enquanto eu esperava, assisti um pedaço de ''o diário da Barbie'' com Mirella, ela amava esses filmes.

Assim como nas bodas de seu Luciano e dona Denise, minha mãe estava linda. Usava uma saia lápis não muito justa branca, uma blusa branca com flores laranjas e uma sandália laranja. Aqueles tons ficavam lindos nela.

- Vamos gente? - Perguntou minha mãe, ao entrar na sala. 

- Vamos sim, ou vamos acabar nos atrasando. - Respondeu meu pai.

O caminho até a casa de Felipe foi tranquilo e rápido. Havia um leve movimento nas ruas de pessoas que iam visitar seus parentes próximos ou jovens que estavam indo para festas, mas a maioria das pessoas já haviam ido para o litoral durante a manhã.

A casa estava linda, como sempre, bem decorada com flores brancas e super iluminada. Luciano e Denise estavam recebendo os convidados na porta, ambos vestidos de branco e bem sorridentes. Percebi que ele estava completamente recuperado e fiquei feliz, ele era um ótimo homem. Cumprimentamos eles que ficaram super felizes em nos ver ali e disseram que Mirella podia ir para os fundos da casa que eles haviam instalado alguns brinquedos infláveis. Nem preciso dizer que ela foi correndo.

Meus pais ficaram à porta conversando com os pais de Felipe e eu adentrei na casa a procura de Roberta e Niel. Ou melhor, eu disse a mim mesma que estava a procura deles. Era uma mentira. Eu queria ver Felipe, sabia que ele não ia me obrigar a passar a noite ao lado dele, mas eu, involuntariamente, queria.

Caminhei pela casa e não vi Roberta, Niel nem Felipe em lugar algum. Provavelmente meus amigos não tinham chegado ainda e Felipe...bem...provavelmente ele estava no quarto terminando de arrumar-se para a festa. Parei ao pé da escada e olhei para cima. Não havia ninguém lá. Todos respeitavam o ambiente e ficavam apenas no primeiro andar. Exitei por um momento, mas por fim decidi me arriscar.

Subi a escada lentamente, pé por pé, não queria ser flagrada por ninguém. Se eu não encontrasse Felipe no quarto dele, tornaria a descer as escadas e ninguém jamais saberia que subi até lá. Não queria que Luciano e Denise pensassem que sou o tipo de pessoa bisbilhoteira.

Parei na porta que eu sabia que ''escondia'' o quarto de Felipe, respirei fundo e por um momento pensei em voltar atrás, mas decidi que não seria criança a esse ponto, eu realmente queria vê-lo, queria falar com ele. Não sabia sobre o que, mas eu queria. Bati a porta, cuidando para fazer o mínimo de barulho possível.

- Já vou descer mãe. Só vou terminar de me vestir. - Ouvi a voz dele vinda de dentro do quarto e senti meu rosto esquentar. Mas eu tinha que seguir em frente.

- Não é a sua mãe. - Falei, com a voz alta o bastante para ele ouvir, mas baixa o suficiente para ninguém ouvir do andar de baixo. Recebi alguns segundos de silêncio, até que ele falou, mais próximo da porta:

- Sophia? 

- Sim, sou eu. - Ouvi o barulho da porta sendo destrancada e um segundo depois ele abriu ela. Felipe vestia uma calça jeans clara e...apenas a calça jeans clara. Seus cabelos estavam molhados, sinalizando que ele acabara de tomar um banho.

- Você...quer entrar? - Ele parecia exitante ao falar.

- Não estaria incomodando? - Perguntei.

- De forma alguma. Só fiquei surpreso. - Ele se afastou o suficiente para que eu pudesse entrar. Assim que nós dois estávamos dentro do quarto ele chaveou a porta. Olhei a minha volta. O quarto tava exatamente igual a última vez.

- Eu queria falar com você. - falei, sentando-me na cama, ele sentou- se ao meu lado, mas antes vestiu uma camisa social branca com listras verdes que estava em cima da cama. - Nem eu sei sobre o que quero falar. Acho que só quero jogar conversa fora. - Falei e ri um pouco, ele me acompanhou.

- Ou, talvez, você estivesse com saudades de mim. -Disse ele.

- É, acho que isso também é possível. - Respondi, e meu rosto aqueceu-se de novo. - Não tem que descer para a festa? - Perguntei.

- A festa pode esperar. - Ele respondeu, sorrindo para mim. Retribui o sorriso. Era inevitável não fazer isso. - Já sabe quais serão as suas resoluções de ano novo? 

- Não. - Respondi rindo pela pergunta boba dele. - Na verdade não tenho costume de fazer isso. E as suas? 

- Ser alguém melhor. - Falou ele, abaixando a cabeça. Fiquei em silêncio por alguns segundos esperando ele falar algo a mais, como ele não falou, segurei em sua mão e disse:

- Vai conseguir. - Ele olhou-me e sorriu fracamente.

- Será que algum dia você vai me perdoar de verdade? Tenho alguma chance de fazer você me amar de novo? - Aquelas perguntas me pegaram de surpresa. Nunca que eu iria esperar aquele tipo de coisa vinda dele. Não sei dizer se foi o espírito de fim de ano ou se foi o olhar dele, ou se foi outra coisa qualquer, nunca saberei dizer, só sei que a única coisa que consegui dizer naquele momento foi o seguinte:

- Eu já te perdoei. E eu nunca deixei de te amar. - Meus olhos embaçaram-se levemente ao sentir a verdade que havia em minhas palavras, percebi que os olhos de Felipe iluminaram-se e um grande sorriso inundou sua bela face. Seus braços enrolaram-se a minha volta e ele deu-me um apertado e reconfortante abraço. Ah, como eu sentia falta daquilo.

- Impossível existir alguém melhor que você no mundo, meu amor. - Falou ele, antes de beijar-me profundamente. A sensação que eu tinha era de que meu peito iria explodir de felicidade. Os beijos de Felipe estavam em toda parte, Felipe estava em toda parte, tudo que eu conseguia ver e sentir era Felipe. Seu beijo suave e excitante em meus lábios, em meu pescoço. Ele dizendo o quanto me amava. O auge da minha noite de ano novo foram aqueles momentos com ele. Entreguei-me de corpo e alma a Felipe, sem arrependimentos, sem nenhum sentimento ruim. Apenas amor.

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Depois de fazer amor com Felipe, arrumamo-nos em seu quarto e descemos para a festa de mãos dadas e com sorrisos estampados no rosto. Roberta e Nathaniel estavam parados, abraçados, ao pé da escada. Aproximamo-nos deles.

- Boa noite. - Falei e eles se sobressaltaram.

- Boa noite. - Falaram os dois juntos e Rô lançou-me um olhar malicioso, apenas dei um sorriso para ela. O que pareceu ser o suficiente para confirmar qualquer suspeita que ela tivesse.

Continuamos conversando até darem 23:58h, então fomos para o jardim, onde avistei meus pais ainda conversando com os pais de Felipe. Parecia que estavam se dando muito bem.

Parecia que aqueles dois minutos nunca terminariam, mas então começamo a contar:

- 10, 9, 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2, 1. Feliz ano novo. - Todos gritaram e ouvi o abrulho de diversos espumantes sendo estourados. A única coisa que fiz foi virar-me para Felipe e beijá-lo apaixonadamente, enquanto, acima das nossas cabeças, fogos de artifício de diversas cores explodiam, sinalizando um novo ano, uma nova vida...novas oportunidades.