O Retorno de Kira escrita por Perola, Hunter-nin


Capítulo 17
Ostensivo




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Ostensivo

(By Pérola e x Hunter-Nin)

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- Eu não agüento mais!

Yukiko adentrava a sala usando um blusão grande demais para seu corpo. As mãos apoiadas no quadril e a pose altiva contrastavam com a imagem infantil devido à vestimenta que quase lhe alcançava a metade das coxas.

- Por que o tempo não pode estabilizar um pouquinho? Esse esfria, esquenta, esfria vai me deixar resfriada.

- Você não deveria estar mais preocupada com a redução no número de mortos por ataques cardíacos por dia do que com os efeitos do aquecimento global? – Aizawa perguntou sem parar de analisar alguns gráficos.

A loira somente soltou um muxoxo reconhecendo a relevância do fato exposto. Não adoecia com facilidade para se preocupar com o fim do estranho verão em pleno mês de dezembro. Mogi alcançou alguns documentos para a loira, que se sentou ao seu lado pronta para tentar entender a lógica do usuário do caderno.

- É uma queda muito acentuada. O que será que D-Kira está planejando? – Linda questionou deixando os relatórios na mesa de centro da sala.

- Eu não sei. – Near comentou adentrando o aposento. – Eu só posso chegar a duas conclusões...

A voz do detetive sumia após cada palavra proferida enquanto ele analisava Yukiko sem tentar disfarçar. A adolescente ficou com as bochechas rubras e enrolava o dedo na barra do blusão sem desviar os olhos dos do detetive.

- Por isso eu não achava meu moletom. – Near comentou do nada. A loira somente alargou o sorriso constrangida, contudo não fez menção de que retiraria a peça. – Mas voltando às conclusões. Há a possibilidade de D-Kira estar tentando nos despistar. – Começou sentando-se ao lado de Yukiko e ocupando o último lugar no sofá.

- Isso quer dizer que estamos perto de pegá-lo, não é? Por que outro motivo ele iria querer nos distrair?

- Há várias hipóteses para isso. Estamos perto e ele quer escapar. Estamos longe e ele quer que acreditemos que estamos perto para que invistamos com mais vigor em um alvo falso. Ele também pode gostar de desafios e quer nos levar ao limite. Ou pode estar querendo ganhar tempo enquanto planeja algo grande. Mas também pode estar entediado e cansou de ser D-Kira, abdicando do caderno. – A cada nova teoria Near aumentava a torre de dominós.

- Isso quer dizer que não muda em nada nosso trabalho? – Yukiko perguntou depositando a última peça no topo da torre.

- Muda sim.

- Como? Você destruiu todas as possibilidades para uma nova tática. A melhor solução seria continuar com o plano atual.

- Não temos um plano forte o suficiente e D-Kira poderia ser Yushiro Watanabe.

- Mas ele morreu há 8 dias. Como poderia ser o responsável pelas mortes que aconteceram há 2 dias?

- Esqueci que você não conhece as regras do Death Note.

- Já não basta ser um caderno sobrenatural, a coisa ainda tem regras?

- 39.

- Um belo número de regras hein. Você sabe todas de cor?

- Sim. Mas somente 4 nos importam neste momento. Número 1: O humano que tiver seu nome escrito no Death Note morrerá. Número 3: Se a causa da morte for escrita 40 segundos após o nome ser escrito, assim acontecerá desde que a causa não seja impossível. Número 5: Após especificar a causa da morte, detalhes dessa podem ser escritos nos 6 minutos e 40 segundos seguintes. Número 10: Se a data e hora da morte forem especificadas como parte da causa, assim será, desde que não seja superior à expectativa de vida da vítima.

Yukiko abaixou o rosto refletindo sobre o que ouviu.

- Então essas mortes podem ter sido escritas há dias.

- Número 38: Uma causa de morte só pode se estender em um período de até 23 dias.

- Certo. Então essas mortes podem ter sido escritas há 23 dias. O que você pretende fazer agora?

- Considerando-se que você estivesse certa ao suspeitar do grupo de Naomi e julgando pela redução em larga escala de mortos, o mais óbvio é que Watanabe fosse D-Kira. Se for esse o caso o caderno deve ter sido destruído no acidente.

- E se ele não tiver sido destruído?

- Alguém deve tê-lo encontrado e talvez essas mortes sejam uma tentativa de seguir com o objetivo de D-Kira.

- Nesse caso...

- Começamos da estaca zero.

- Em resumo: ou temos um novo usuário do caderno ou a batalha terminou sem que precisássemos agir?

- Sim.

- Sem mais rodeio Near, o que vamos fazer agora? – Linda perguntou já cansada da falta de informações objetivas.

- Esperar.

- Por quanto tempo? – Aizawa perguntou desolado.

- O tempo que for necessário.

- Bem... Se tentarmos analisar pelo lado positivo, ganhamos uma trégua para as festas de fim de ano. – Matsuda alegava suspirando.

Aizawa suspirou extremamente cansado. – Isso me lembra que ainda faltam muitos presentes a comprar.

Surpreendendo a todos, o policial não reclamou pelos dias ganhos.

- Como assim Aizawa? O natal é em três dias e você sabe a confusão que as lojas se tornam.

- É, eu sei Mogi. Mas com o caso D-Kira em andamento, além dos outros menores, eu acabei me distraindo.

- Você sabe que vai entrar numa luta praticamente perdida, não é? – Ide comentou recostando-se no sofá com os braços cruzados.

- Tenho esse pressentimento.

- Eu estou de consciência limpa. Encomendei meus presentes há algumas semanas e vou buscá-los amanhã. – Matsuda estufou o peito orgulhoso.

- Entrar nesse debate seria uma loucura na desvantagem em que me encontro. Como não sabia se iríamos estar no país ou não, só comprei um presentinho para Akane. – Linda confessou apertando o bebê nos braços.

- Falando nisso, vocês vão ficar na cidade ou vão voltar para os EUA?

Yukiko se percebeu mais ansiosa do que gostaria de admitir pela resposta à pergunta de Ide para Near.

- Ainda não pensei nisso. – O detetive confessou.

- Por favor, Near. – Matsuda exclamou quase indignado. - Comprei um peru imenso já contando com a sua presença. Sua e das meninas. – Completou acenando para Linda e Akane e surpreendendo a mãe. – Pelo menos para a ceia de Natal vocês vão ficar, não é?

Linda mirou o amigo tentando decifrar o olhar do mesmo, entretanto há dias ela percebera que não era mais capaz de tal façanha. Yukiko abandonou a torre iniciada por Near e observou o homem ao seu lado. Os olhos da adolescente a policial foi capaz de entender, por mais que se surpreendesse com o que lia neles.

- Não há nada nos esperando nos EUA, Near. Acho que merecemos umas férias, o que me diz?

- Linda está certa. Se você trabalha lá com a mesma intensidade com a que te vi aqui, eles nem devem estar sentindo sua falta. – Yukiko o provocou mais uma vez, recebendo em troca somente um olhar que falava por si só.

- Esse foi o jeitinho dela dizer que adoraria ter vocês conosco. Só falta a sua resposta Near. – Matsuda reafirmou o convite.

O homem suspirou. – Dizer não seria loucura, Matsuda. Só de saber que eu teria de agüentar sua filha perturbando meus ouvidos até aceitar já é motivo mais que suficiente, por mais que eu ache que conseguiria resistir. Entretanto, ela conseguiu influenciar Linda mais do que eu seria capaz de prever e duas falando eu não suportaria.

Matsuda riu alto. – Realmente, sua vida seria um inferno. Se elas assim quisessem, é claro. – Ele completou rapidamente após o olhar recebido das garotas.

- Eu se fosse um de vocês, ficaria bem quietinho para não piorar a situação. – Mogi ria da cena.

- Não sei o motivo para esse conselho. - Yukiko comentou erguendo-se do sofá. – Somos duas garotas calmas e muito tranqüilas, não é Linda.

- Mas é claro minha querida. Eu nos definiria como adoráveis.

Raiya observava pela janela as risadas e a serenidade que tomavam conta da garota que ele tanto prezava. A certeza de que somente agora ela realmente mentia machucava-lhe de uma maneira que ele jamais poderia explicar. A vontade de devolver-lhe o caderno e livrá-la de todos que a atrapalhavam de agir sempre o confundindo sobre seus motivos. Contudo, entre tantas sensações inexplicáveis, um desejo ele aceitava e jurava não descansar até saciá-lo:

- “Um dia Yukiko, um dia eu a farei livre novamente.”

- Qual o problema Raiya? Preocupado com ela?

- Essa não é ela. – Alegou o Shinigami pouco antes de se virar e voltar para perto do novo dono do Death Note.

oOo

Dias podem passar tão rápido quanto um simples piscar de olhos, pelo menos era assim que Near se sentia. Quando em sua vida ajudou a montar uma árvore de Natal? Mesmo quando estava na Wammy House, nunca participou das festividades; pelo menos era do que se recordava.

- Me alcança aquele anjinho. – Yukiko pedia enquanto ajeitava uma bela bola vermelha na árvore que era erguida as pressas.

- Eu não sei como fui deixar isso para hoje. – Matsuda passava correndo pela sala carregando alguns enfeites.

- Deixe disso. Estávamos ocupados e muito concentrados no caso. Tenho certeza de que Aizawa deve estar tão atrapalhado quanto nós.

- Na verdade... – Near iniciou, mesmo não querendo desanimar o anfitrião, ao mesmo tempo em que entregava o anjo para Yukiko. – Encontrei com ele no centro hoje e ele estava bem tranqüilo. Aparentemente, ele conseguiu deixar tudo pronto a tempo.

 - E aquele infeliz é o que mais reclama da idade. – O policial confessou desenrolando um dos pisca-piscas que deveriam ser colocados do lado de fora da casa.

- Vai mesmo pendurar isso do lado de fora? Essa frente fria veio com tudo para cima de nós.

- Claro que sim. Não é um friozinho que vai nos deter, não é Near?

- Quando fui metido nessa?

- Deixe disso homem e venha ajudar um velho amigo. – Completou Touta já saindo da casa.

- Às vezes eu me sinto mais velho que ele.

- Quantos anos você tem para falar assim? – Yukiko perguntou na inocência mal escondida.

- Menos que seu pai, isso eu garanto.

- Ele age como se 36 fosse o fim do mundo. – Linda confessou para desgosto do amigo, fazendo a caçula rir do gracejo. Ciente do estranho clima que existia entre o casal, a policial estava determinada a descobrir o que exatamente estava acontecendo entre os dois.

- Mas até que ele está bem conservado para um quarentão, não acha?

- Sem dúvidas minha pequena.

- E olha que eu achava que ele era mais velho, a julgar pelo cabelo branco.

- Ele sempre teve essa cor de cabelo. Acho que isso contribui para o charme dele, não concorda?

- Sem dúvidas. Somado a esse jeitão anti-social...

- Irresistível.

- Vocês não se esqueceram de que ainda estou na sala, não é? – Near chamou a atenção das garotas que somente o olharam e analisaram. Tal ato lhes garantiu um prêmio único e que dificilmente seria vislumbrado novamente: o famoso L com as bochechas levemente rubras. Algo quase imperceptível se elas não o estivessem fiscalizando minuciosa e descaradamente.

- Near! – Matsuda gritava do lado de fora da casa. – Preciso de uma ajudinha aqui... E nem pense em sair de dentro de casa Yukiko!

A garota que começava a ir em socorro do padrasto parou no mesmo lugar.

- Bem... Foi ele quem mandou. Vamos terminar a ceia Linda?

- Ótima idéia.

Sozinho na sala, o detetive suspirou antes de sair e ajudar Matsuda, após ouvir mais uma vez o pedido do mesmo. Near queria negar, contudo era óbvio que estava apreciando a noite. A sensação de uma família e de um lar era nova para o homem que sempre viveu para a lógica.

- Vai ficar sonhando por quanto tempo Near? Kira está sem agir e temos um jantar na companhia de três belíssimas mulheres nos esperando.

Despertando com a voz de Matsuda, o detetive seguiu o policial para dentro da casa e analisou todos os detalhes. O anfitrião subindo para pegar os presentes e acomodá-los ao redor da árvore, a amiga que saia da cozinha em busca da filha para arrumá-la, o cheiro da janta já preenchendo o local...

- Não vai trocar de roupa Near? – Yukiko perguntou entrando na sala, já devidamente trocada. A calça jeans realçando as pernas longas, a básica no tom cinza contrastando com a pele clara e o cabelo ainda sendo enxugado na toalha rosada. – Que cara é essa? – Ela perguntou estranhando a expressão do outro.

- Estou só fazendo os cálculos.

- Que cálculos?

- Seu pai e eu não demoramos tanto assim lá fora.

- E?

- Como você lavou o cabelo e se arrumou tão rápido?

- Engraçadinho.

Near somente ergueu o canto do lábio em resposta ao sorriso aberto da loira e saiu para trocar de roupa. Uma noite feliz, com risadas e conversa agradável. Kira era uma palavra proibida durante a comemoração. Até mesmo o frio detetive se permitia rir abertamente, espantando um pouco os outros a principio.

Ninguém se importou em deixar a sobremesa para mais tarde só para ver a pequena Akane abrir seu primeiro presente de Natal. A felicidade do bebê que mais brincava com o papel rasgado ao invés de querer abrir a caixa com o brinquedo era contagiante. Yukiko sentou-se ao lado de Linda e da criança para tentar mostrar a pequena o presente. Sem sucesso, o embrulho ainda era mais interessante.

Para a tristeza geral, antes que a foto pudesse ser batida, o celular de Matsuda tocava junto com a campainha. Habituado com a residência, Near não pensou duas vezes antes de atender a porta, enquanto o outro falava ao telefone.

- Olá Near.

- Aizawa? Aconteceu alguma coisa?

 - É isso que vamos descobrir. – Touta avisou desligando o celular e guardando no bolso.

- Mogi lhe explicou alguma coisa? – Questionou o outro policial.

- Não muito.

- Tome cuidado papai. – Yukiko pedia chegando apressada e entregando o revólver ao seu tutor.

- Não se preocupe. Só lamento perder a abertura dos outros presentes.

- Eu escondo dela até você voltar. – Near afirmava para o amigo.

- Vai e volta cedo hein! – Linda pedia quase ordenando com a pequena Akane no colo.

- Você ouviu Aizawa. Temos de ser rápidos.

- Principalmente depois de um pedido tão carinhoso.

Com um sorriso conformado, o policial acompanhava o colega até o carro e rumava para descobrir a grandiosidade da situação. O carro se afastava pela rua escura e a família retornava para a casa agora silenciosa. Antes mesmo de alcançar a sala, o bebê já reclamou do cansaço.

- Já volto. – Linda despediu-se da dupla carregando Akane até o quarto de Yukiko.

Sem dizer uma palavra, a loira apoiou-se no batente do arco que levava a sala enquanto a outra subia pelas escadas. O olhar castanho perdia-se na árvore decorada, nos presentes organizados e no único embrulho aberto ainda largado no chão.

- Decepcionada com o final da festa?

- Só estou estranhando um pouco.

- O quê?

- Ele nunca se envolveu em tantos casos ao mesmo tempo e não faz sentido ele começar justamente quando estamos investigando Kira.

- D-Kira.

- Você é muito teimoso.

- Não acho. É você que se recusa a chamá-lo pelo nome certo.

- Mas eu sou D-Kira! – Ela rebateu com um sorriso nada inocente e surpreendendo o detetive. – Você escolheu esse nome quando achava que era eu a usuária do caderno, então vai ter de escolher outro para quem estamos perseguindo.

- Quer mesmo ser chamada de Donkey-Kira? – Ele questionou sem levá-la a sério.

- Donkey não, mas aceito ser Darling-Kira.

- D-Kira nasceu de Donkey-Kira.

- Acho que podemos fazer algumas correções. – Ela completou já mais próxima ao detetive.

- Acho desnecessário.

 - Você me acha burra?

- Não.

- Então por que não podemos mudar o significado do D?

- Porque você não é Kira.

- Mas você não pensava assim no começo.

- Ainda não mudei meu pensamento. D-Kira é alguém estúpido demais para achar que é tão esperto quanto Yagami. Passei a suspeitar de você após definir como chamaríamos o usuário do caderno. – Near começava a se afastar acreditando que o assunto estava encerrado quando foi chamado novamente pela garota.

- Só mais uma coisinha. – Ele parou há poucos passos de distância da garota e olhou por sobre o ombro, esperando que a mesma continuasse. – Quando vai me beijar?

Near não conseguiu evitar que sua sobrancelha se erguesse. A expressão do mesmo tornava seus pensamentos óbvios demais.

- Não me olhe como se eu fosse uma tarada. A tradição é bem clara: quando um casal se encontra sob um visgo eles devem se beijar. E caso não tenha notado, estamos há um bom tempo abaixo de um. – Ela completou apontando para cima onde o pequeno galinho estava preso.

- Tradições são para crianças como você Yukiko. Não para adultos responsáveis como eu.

- Não acredito que você está com vergonha. Ainda se fosse o primeiro haveria alguma lógica, mas depois do que aconteceu na fes...

Antes que a loira pudesse concluir a frase, estava presa entre os braços do detetive, sendo beijada exatamente como da primeira vez. Não era o que a tradição pregava, todavia ele não se importava com tradições. Bem menos tímidas, as mãos de Yukiko não hesitaram a ir de encontro os cabelos brancos no exato momento em que os lábios se juntaram.

Near continuava preferindo sabores doces, contudo o gosto amargo que reinava na boca feminina o encantava. A forma como suas mãos se encaixavam em cada curva do pequeno corpo e de como o beijo seguia uma dança perfeita desde o começo o fascinavam e lhe faziam acreditar que era certo ser abraçado contra a delicada forma.

Em pequenos beijos, o detetive rompia o contato sem se afastar. Com as frontes encostadas ele a via sorrir enquanto mexia em sua camisa branca. Os dedos longos descansavam sobre o tecido e sentiam seu coração acelerado. As respirações descompassadas se mesclavam e a cada novo toque do ar quente a adolescente sorria mais.

- Eu juro a você dessa vez, Yukiko...

- O quê? – Ela perguntou ainda absorta.

- Nunca mais vou tocá-la. – Ele completou se afastando por completo da garota.

- O quê?! – A expressão da garota era de abandono e incredibilidade, contudo ele estava determinado a não abdicar de sua decisão.

- Já me fiz essa promessa diversas vezes e sempre a quebrava quando pensava em você. Agora que ela foi feita a você, sei que a manterei.

- Mas por que você está me prometendo algo que nem quero?

- Porque é o certo. Gostar de você é algo ilegal e imoral para alguém da minha idade.

- Você nunca quis agir insanamente uma vez na vida?

- Eu sou L e não posso me dar ao luxo de perder a razão.

- Está me acusando de distraí-lo?

- Em todos os sentidos da palavra, mesmo que seja involuntariamente.

- Você é um idiota! Vai destruir algo que poderia ser maravilhoso por medo?! – Yukiko usava toda sua força de vontade para não gritar.

- E você é esperta o suficiente para um dia perceber que estou certo e vir me agradecer por  colocar um ponto final nessa loucura.

- Ou um dia você verá que sou eu a certa e que essa foi a atitude mais estúpida que você já tomou. Só espero que não seja tarde...

A garota virou as costas e começava a sair da sala terrivelmente decepcionada. Ao alcançar as escadas, descansou uma mão no corrimão e parou sem, entretanto, virar-se.

- Estou saindo do caso Kira.

Near a olhou confuso. Queria se afastar da garota, todavia não queria cortar todo e qualquer contato com a mesma.

- Não quero distraí-lo mais. A julgar pelo que me disse hoje, minha presença por si só deve estar atrapalhando-o. Boa noite Near.

Ele a olhou se afastar e não fez nada para impedir. As mãos ainda sentiam a maciez da pele pela ousadia de invadir a blusa da garota e acariciar cintura e costas da mesma. O gosto ainda amargo na boca com certeza não o deixaria dormir tão cedo. Near deixou-se cair no sofá e repassou cada dia desde que começou a investigar D-Kira.

- Você está certo do que está fazendo?

- Sim.

- Ainda não acredito que você terminou com ela no Natal. – A mulher completou após soltar suspirar.

- Não havia nada para terminar.

Linda cruzou os braços indignada pela teimosia do amigo.

- Como não?

- O que você ouviu?

- Eu vi e ouvi tudo. Vocês estavam tão compenetrados no beijo que nem me viram nas escadas. Eu só estava esperando ela se afastar para lhe aconselhar a ser mais discreto, pois Matsuda demoraria a aceitar.

- Não há nada acontecendo, então não há nada para ele aprovar.

- Preciso concordar com Yukiko. Você esta agindo feito um idiota covarde. Por que quer tanto fugir disso?

- Se ouviu tudo já sabe a resposta.

- Não se esconda atrás de L, Near. Ele é você agora, não o posto. Ele precisa se adaptar a sua vida, não o contrário.

- L é anterior a mim. Não posso permitir que um sentimento tolo e infantil prejudique meu julgamento, senão as pessoas não confiaram mais em L.

- Não acredito no que estou ouvindo.

-Além do mais, não preciso de uma criança ditando regras na minha vida.

- Você não a beijaria se a considerasse uma criança... Já estava pensando muito a frente mesmo hein? – Linda completou sorridente e gostando de seu raciocínio. – Por que não dá uma chance a essa criança de nascer? É só esperar pelo ano que vem para não ferir essa sua moral.

- Não diga bobagens. Estaremos voltando amanhã para a América. Sendo assim essa conversa não tem razão para existir.

- Nunca imaginei que um dia o veria fugindo. Mas bem... Você vai voltar. Matsuda nos convidou para ficar as festividades de fim de ano aqui e quero passar minha virada de ano com pessoas alegres. Lá seriamos somente eu e Akane, já que você provavelmente vai se enclausurar novamente.

- Então acho que é aqui que nos separamos. Foi bom revê-la.

- Digo o mesmo. Boa noite. – A mulher completou deixando o detetive sozinho na sala.

As horas passavam e Near permanecia sentado no sofá, observando a parede e compenetrado em esquecer a adolescente. Qualquer relacionamento entre os dois não poderia passar de um sonho e ele não poderia se permitir sonhar quando tinha trabalho a fazer. Como L sempre tem trabalho a fazer, Yukiko deveria se tornar uma lembrança agradável e nada mais.

- Que bom que está acordado Near. – Matsuda retornava tão perturbado que nem reparou que o detetive ainda usava a mesma roupa da noite anterior, atrás de si, Ide, Aizawa e Mogi entravam na sala com expressões idênticas a do anfitrião.

- Realmente, é bom que possamos conversar em paz. Quero informar a vocês que estarei retornando está tarde para os EUA.

- O quê Yukiko fez? – Aizawa perguntou sem se impressionar.

- Por que você está colocando a culpa na minha filha? – Touta questionou indignado, mas já imaginando o mesmo.

- Só estavam ele, Linda e Akane na casa. Qual das três teria mais chances de incomodar o Near a ponto dele querer ir embora?

Matsuda suspirou derrota e L detestou ver o quanto a influencia de Yukiko sobre si estava visível.

- Ela não fez nada. – O detetive respondeu sem alterar seu tom de voz. – Simplesmente não há motivos para que eu permaneça aqui.

- Acho que então você terá de modificar seus planos. – Matsuda começou, surpreendendo a todos pelo jeito que falava com o famoso detetive. – 1315 mortos Near. Todos de ataque cardíaco e todos perto da meia-noite. As prisões atingidas estão praticamente vazias e em todas as celas estava escrito que Kira ressuscitou e que a humanidade conhecerá uma nova era de paz seguindo as regras de seu novo Deus.

- E isso só no Japão. Não sabemos ainda o que aconteceu aos outros países. – Ide ressaltou a gravidade da situação.

- Mas aqui está o verdadeiro pandemônio entre os presos que sobreviveram. É motim em todos os lugares e os corpos a serem recolhidos atrapalham tudo. – Aizawa concluiu.

- Esse novo Kira é bem exibido não acham? – Mogi questionou.

Near suspirou e sorriu logo em seguida, assustando aos outros presentes na sala.

- Ainda bem que ele é assim. É óbvio que o caderno trocou de mãos e que a estratégia do novo usuário é se mostrar. Ele planejou o seu primeiro movimento para impressionar e conseguiu. Mas alguém que está tão preocupado em conquistar espaço não deve ter tempo para limpar as pistas. Será fácil descobrir quem é. Começaremos pelo acidente que matou Watanabe. Precisarei de todas as câmeras que estiverem ao arredor, mesmo que não peguem o momento em si. A-Kira vai cair rápido demais.


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Notas finais do capítulo

Pérola sem nenhuma coragem de mirar os leitores nos olhos.
— Eu poderia dizer que a demora em postar a fic foi só para dar mais impacto ao titulo, mas não teria essa audácia... Bem... Vou responder as reviews e espero não ter perdido meus leitores nesse mês desgastante.
Para encerrar: Por Kami-sama, me perdoem pela demora.
14 de Novembro.
Somente no Fanfiction e no Nyah
O Retorno de Kira
Capítulo 17:
“FEARLESS”



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