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Alec ficou inerte, sem saber e o que dizer. Nem em seus maiores pesadelos aquela cena ocorria. Nada lhe passava pela cabeça. Sua mente estava em branco, enquanto Nicole o encarava com os olhos raivosos e decepcionados. Em um lampejo, algo lhe passou pela mente.

-Nicole... do que esta falando? – Alec tornou tentando aparentar frieza – não sabia que viria hoje. Porque não se senta?

-Como pode agir assim? Eu escutei tudo, Anthony? É esse o seu nome? – perguntou com lagrimas nos olhos – porque... porque me enganou? O que eu lhe fiz? Foi pelo meu irmão? Pelo dinheiro? Mas não tenho nada. PORQUE FEZ ISSO?

-Nicole, se acalme..

-Me acalmar? Fui enganada pela segunda vez em minha vida. Como deseja que eu fique calma?  Por favor, não volte a me procurar. Não adianta quantas mentiras diga... não vou acreditar mais. – virou de costas indo em direção a porta, mas não demorou em sentir os braços de Alec a abraçando por trás – me solte. Não quero gritar.

-Nicole.. deixe-me explicar.

-Explicar o motivo de ter me enganado? Não é pelo dinheiro? Porque sempre é.

-Eu..

-Deixe-me ir, Anthony ou Alec, seja lá quem for. Não precisa me enganar mais, apenas.. lhe peço para me deixar fora de seus planos. Quer dinheiro? Eu conseguirei, mas fique longe de mim agora – com um movimento brusco, afastou Alec de si saindo da sala dele o mais rápido que conseguia. As lagrimas caiam pelo seu rosto, enquanto sentia o seu coração despedaçar-se mais uma vez. – Sou sempre uma tola – murmurou em meio as lagrimas dentro do elevador vazio.

Alec passou a mão pelos cabelos de forma brusca. O seu plano iria falha sem a presença de Nicole. Pela primeira vez estava perdido. Sentou-se em sua cadeira, enquanto pensava no que faria a seguir, entretanto nada eficaz surgia. Em meio a questionamentos, chamou Peter, o qual surgiu em seguida preocupado.

-O que houve? Vi Nicole sair daqui chorando.

-Ela descobriu que sou Anthony, ou melhor, que estou mentindo para ela e que conheço Elena – respondeu frio ao observar as reações de seu amigo – como posso usá-la agora se sabe que minto sobre mim?

-Deveria parar tudo agora então. Não seria aconselhável que Alexander Piatti descobrisse sobre o plano e nem sobre o seu passado.

-Se ele descobrisse agora, não seria interessante? – indagou com um sorriso nefasto – mas antes preciso trazer Nicole de volta.

-Não acho que seja necessário.

-É. Ela é mais importante para este plano do que imagina, Peter, afinal.. Ser casado com a futura dona das industrias Piattis será um prestigio e tanto, meu amigo.

-Chegará assim tão longe?

-Talvez. Tudo ira depender de Elena, pois quanto mais ela se deixar levar por mim, menos teria o que fazer, entretanto há certas pendências que devem ser resolvidas entre elas esta a prisão de Alexander Piatti. – sorriu friamente ao olhar para o homem parado a sua frente – Preciso que mande alguém seguir os passos de Nicole e me traga os últimos relatórios da empresa Piatti. Esta na hora de começar o plano. Estou ficando cansado de jogar esses jogos infantis.

-Muito bem. Farei como deseja, mas..

-Eu sei. Para você estou apenas perdendo tempo.

-Sim.

-Não se preocupe. Depois que acabar com a vida dos Piattis irei gozar plenamente de minha vida.

Peter assentiu contrariado ao dar as costas e sair da sala de Alec o mais rápido que conseguia, pois temia dizer algo que já havia percebido há  algum tempo.

“A verdade é que Nicole representa um troféu que deseja erguer em frente a Elena, mas parece-me que esta começando a se encantar com ela sem que perceba” Peter pensou ao ir em direção ao elevador.

***
As lagrimas teimavam em descer pelo rosto de Nicole sem que ela pudesse controlar. Apesar de suas duvidas, seus pensamentos ainda estavam na cena que havia visto e no modo com que Alec havia a olhado quando dissera que descobrira tudo. O clima encontrava-se agradável para uma caminhada, o que influenciou em sua decisão de parar o carro em um parque e sentar-se em um banco, mais afastado das pessoas. Passou a mão pelos seus cabelos deixando o desespero tomar conta de si, o mesmo desespero que sentira anos atrás quando descobrira que o homem que amava havia se casado com ela pelo seu dinheiro. Os segundos se transformaram em minutos. Os minutos em horas e Nicole apenas chorava, solitária, no banco ate que suas lagrimas pararam. Não por não ter mais motivos de chorar e sim por elas terem secado. Por mais que ela pensasse não conseguia chegar a uma conclusão sensata ate que se levantou, abruptamente e foi em direção ao seu carro.

-Já fugi uma vez. Não irei fazer isso novamente. – disse decidida a si mesma ao dirigir em direção ao local que não desejava retornar tão cedo. A secretaria de Alec olhou com curiosidade para a mulher com olhos avermelhados a sua frente – Preciso falar com Alec – Nicole disse com a voz segura, olhando altiva para a mulher a sua frente.

-Irei avisar – respondeu ao pegar o telefone e em questão de segundos viu Nicole sumir de sua frente – devem ter brigado – concluiu ao retornar ao seu trabalho.

Alec ergueu-se da cadeira e esperou pela entrada de Nicole sem saber como ela poderia reagir. Retirou o paletó e afrouxou a gravata para lhe dar a sensação de desgaste. A encarou ao passar pela porta com a expressão fria.

-Nicole.. – ele disse em um sussurro ao vê-la caminhar em sua direção – você..

-Cale-se – disse fria ao segurar o choro – me diga.. quem é você e porque se aproximou de mim? Isso tudo era um plano? Estava me enganando durante esse tempo todo?

-Me parece que não veio escutar mentiras – Alec disse ao ajeitar a sua camisa exibindo o seu olhar mais frio possível – pois bem.. irei lhe contar a verdade, mas terá duas opções após o meu relato: poderá ficar ao meu lado ou eu irei lhe destruir.

-Me destruir? Quem acha que é?

-Sou Alec Lorrenzi, o homem que não tem medo de nada. – anunciou com um sorriso frio na face – apesar do aviso ainda deseja ir adiante?

Nicole hesitou ao ver a expressão em sua face desconhecendo o homem a sua frente. E pela primeira vez percebeu que o conhecia. Aos poucos seus encontros, suas conversas passaram pela sua mente e riu de sua própria ingenuidade ao perceber o inevitável. Ele estava a enganando desde o principio.

-Muito bem Sr Lorrenzi, farei do seu jeito. Supondo que sua historia seja comovente e verdadeira, ficarei ao seu lado, se não sairei daqui e irei relatar a policia e em seguida poderá me destruir, me matar, ou que tenha em mente.

-És realmente divertida – sorriu ao indicar a poltrona mais próxima para ela se sentar – Deseja um café, suco ou água?

-Quero apenas escutar a sua próxima mentira – tornou dura ao sentar-se – comece logo, por favor.

-Muito bem, como queira. Meu verdadeiro nome é Anthony. Anthony Obrien. Sou o antigo namorado de Elena Piatti, a esposa de seu irmão Alexander. Nos conhecemos desde pequenos. Éramos vizinhos e não demorou para que nos relacionássemos. Poderia dizer que vivíamos um amor perfeito, pelo menos ate ela descobrir outro lado de sua personalidade: a ambição.

-Um momento – o interrompeu – esta me dizendo que se aproximou de mim para ficar ao lado dela?

-Escute toda a historia antes de me interromper novamente. – falou de forma cruel, o que a fez hesitar – continuando: Eu me apaixonava cada vez mais por ela. Ela me dizia que ela era a lua que me guiava de volta para casa. Romântico, não é? Mas não se preocupe, pois logo ficara mais dramático – disse ao ver a expressão de Nicole – na época eu não tinha dinheiro. Era tão pobre quanto qualquer um, e ela sempre quis mais, apenas eu que fui um tolo por não perceber. Elena sempre foi uma mulher bonita e isso atraia a atenção dos homens e vejo hoje que ela sempre gostou disso – sorriu amargo ao recordar-se da primeira vez em que a viu com Alexander Piatti – o engraçado é que assim que começou a trabalhar na empresa de seu irmão, ela mudou. Não demorou para que eu percebesse o motivo..Seu irmão Alexander Piatti estava interessado nela e ela, retribuiu é claro. A historia poderia terminar ai, não é? – falou com um leve sorriso nos lábios.

-Patético – Nicole disse ao se levantar – voltou para se vingar porque ela se trocou por outro? Esperava mais de alguém como você, mas és tão estúpido quanto qualquer outro.

-Ela me colocou na prisão – confessou abruptamente e observou a reação de Nicole ficando satisfeito com a sua expressão incrédula – é a verdade – tornou calmo – assim que começou a trabalhar na empresa de seu irmão, aprendeu a desviar dinheiro, pequenas somas em um intervalo de tempo que juntas... era um bom dinheiro. Já investiguei isso, é a verdade. Para não ser presa após ser descoberta, ela em incriminou. Colocou todo o dinheiro em minha conta e afirmou que eu havia roubado suas senhas e a coagido. Fiquei preso por anos em uma prisão por culpa de Elena Piatti. Passei anos de minha vida esperando por esse momento.. esperando pelo momento em que a faria sofrer por todos esses anos que roubou de mim. E isso, você não irá tirar de mim. Cheguei longe demais para ser parado por você.

Nicole fitou o homem a sua frente sem acreditar ate onde as pessoas iam para conseguir o que tanto desejava. Sem saber se acreditava ou não em suas palavras, ela caminhou ate ele e o abraçou, surpreendendo. Ficaram daquela forma escutando o coração um do outro. Alec tinha receio de afastá-la, enquanto ela não desejava sair de perto dele. Ela sentia que poderia ajudá-lo a parar com aquilo.

-Eu.. desejo ver essa investigação – Nicole disse ainda abraçada a ele – quero acreditar em suas palavras, mas...

-Esta tudo na pasta azul em cima de minha mesa. Logo atrás de mim. Poderá ler o que quiser, mas saiba que isso significa que ficara ao meu lado.

-Se não fizer nada contra o meu irmão... eu posso pensar, seriamente, em lhe ajudar – confessou ao se afastar dele – mas.. se estiver mentindo..

-Eu não estou – falou sério – esta é a primeira vez em que estou sendo sincero desde que nos conhecemos.

-Então tudo não passou de uma mentira?

-A maior parte – assentiu ao vê-la virar de costas para ele.

-Entendo – murmurou ao se voltar e encará-lo – posso levar a pasta comigo? – o viu assentir, passou por ele, pegou a pasta e saiu em silencio. Alec ficou parado olhando para a porta, talvez, esperando pelo seu retorno, o que não aconteceu.

-O jogo acaba de mudar – murmurou ao pegar o celular e discar para um numero – a ordem mudou. Vamos começar a atacar no lugar onde tudo começou – sorriu friamente – sim, comece a reunir os investidores e espalhe sobre a prisão de Jacob. Sim, amanhã eu mesmo irei visitá-lo. – falou antes de desligar.

***
Assim que chegou em casa, Nicole, desligou todos os aparelhos telefônicos e se pôs a chorar na sala com a pasta ao seu lado. Ela ainda estava destroçada por descobrir que tudo o que sentira havia sido fruto de uma ilusão.  Uma ilusão criada com o intuito de vingança. Em meio ao desabafo, pegou a pasta, a abriu e a primeira coisa que viu foi a foto de Elena e Jacob se beijando.

-Como... como... isso é possível? – se perguntou assustada ao começar a ler o relatório. A cada palavra que lia, sentia o seu sangue congelar em seu corpo. Ela nunca imaginara encontrar alguém como ela, mas o que mais lhe deixou perplexa foi ler que seu irmão sabia das traições de Elena. – O que esta acontecendo com Alex? – se perguntou, mas logo algo lhe veio a mente – Então.. Alec... estava  falando a verdade – murmurou ao levar a mão aos lábios – eu... deveria ver isso como uma desculpa e ajudá-lo ou deveria ficar ao lado de meu irmão?

***
A prisão havia transformado Jacob da pior maneira possível. Por mais que não fizesse nada, seus dias eram regidos a brigas que os presidiários arrumavam com ele, sem motivo aparente. Os guardas apenas riam do que viam. Seus machucados não curavam e sua esperança por sair da prisão apenas diminuía. Em um dia de visita comum, fora avisado que alguém esperava por ele. Caminhou ao imaginar ver o seu pai, mas o homem que sorriu para ele era o seu pesadelo. O homem que o atormentava todas as noites.

-O que faz aqui? NÃO BASTOU ME COLOCAR AQUI DENTRO? – Jacob gritou furioso ao ficar em frente a Alec.

-Eu não fiz nada. O único que fez foi você, não é? Afinal... eu lhe avisei, mas não me escutou. O que posso fazer se foi desobediente?

-Cretino. O que veio fazer aqui? Veio me matar? Se for isso.. faça de uma vez.

-Não – negou sorridente – apanhar todos os dias não esta sendo um castigo interessante?

-Então..foi você?

-Claro – sorriu bem humorado diante do olhar de descrença – parece que fez um acordo com um diabo sem ao menos reconhece-lo.

-O que.. eu não fiz nada.. eu...

-Todos dizem isso – tornou amargurado – vim lhe dar outro aviso, querido Jacob, a sua amada tia esta bem e por isso.. se resolver ficar quieto e ser fiel a mim, poderei lhe soltar mais cedo do que imagina.

-Esta me propondo outro acordo?

-É claro – sorriu – um acordo benéfico a ambas as partes, ou seja, a mim.

-O que irá querer desta vez? Isso tudo não foi o bastante?

-Não, isso não chegou a metade do que pretendo fazer.

-Mas...

-Jacob desejo saber apenas uma coisa: quer sair da prisão ou não?

-Sim – respondeu segundos após pensar – eu quero sair daqui.

-Então basta me jurar lealdade – sorriu – fácil, não é?

Jacob sabia que deveria recusar, mas o desespero estava falando mais alto. Ele não queria se render, mas percebeu tarde demais que estava em frente a um louco. Um louco desejando vingança.

-Sim – murmurou humilhado – eu..lhe serei fiel.

-Bom garoto – Alec disse ao colocar em frente a ele alguns documentos – assine isso e passe todas as suas ações da Piattis para mim. Sua lealdade será posta a prova, o que irá fazer?

-Minhas... ações?

-Sim. Todas. Não se preocupe, depositarei uma soma considerável em sua conta assim que sair daqui – disse ao olhar para o seu relógio – o que irá fazer? Assinar ou apodrecer aqui?

-Como posso confiar em você?

-Confiando. Afinal sou a sua única esperança.

-O que fará com as minhas ações? – indagou ao segurar a caneta que lhe era estendida.

-Irei tornar a vingança divertida. Não precisa se preocupar.

-Não confio em você – Jacob falou sério ao assinar os papeis a sua frente – mas desejo a minha liberdade acima de tudo.

Alec não conseguia conter o seu sorriso vitorioso diante do que acontecia a sua frente, pois tudo havia se tornando mais fácil do que imaginara. Agora ele poderia seguir em frente. Ele iria enfrentar Alexander e tornar Elena a sua amante.