2012 escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 77
Partidas e chegadas




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No capítulo anterior, Cascuda tentou tirar a própria vida e D. Morte só a salvou por causa de Carmen.

Zé Luis tinha feito várias tentativas e nenhuma delas foi bem sucedida. Há dias ele não conseguia entrar em contato com a Terra.

– Algum progresso, alferes? – Astronauta perguntou entrando na sala seguido por Xabéu.
– Não senhor. Todas as tentativas fracassaram e eu não consigo entrar em contato com a Terra.
– Isso é estranho.
– Será que aconteceu alguma coisa? – Xabéu perguntou já ficando preocupada.
– Nunca se sabe. Alferes, continue tentando.

A nave seguia seu rumo em direção a Terra. Como não estavam conseguindo nenhuma resposta, Astronauta decidiu encerrar a missão mais cedo e voltar logo para a Terra. As coisas já estavam bem acertadas no planeta de Usagi Mimi e não havia por que prolongar ainda mais a missão.

Xabéu não demonstrava, mas estava muito preocupada com sua família, especialmente seu irmão. Será que algo de grave tinha acontecido com a Terra? Por mais longe que a nave Hoshi estivesse, nunca aconteceu de não conseguirem entrar em contato com a Terra, aquela era a primeira vez.

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Era com tristeza que eles viram a família de Cascuda indo embora do abrigo. Depois de tudo o que aconteceu, seus pais tomaram a decisão de tentarem a sorte em outra cidade. Apesar da insistência de Licurgo para que eles ficassem e apesar de toda a turma ter dito que não havia ressentimentos contra Cascuda, eles se desencantaram totalmente e resolveram que o melhor era partir.

Eles aproveitaram a carona de um caminhão que estava indo para a cidade mais próxima e embarcaram levando toda sua bagagem. Cascuda foi com eles sentindo o coração se despedaçando. Ela queria ir, mas também queria ficar. Era um conflito doloroso de sentimentos que ela não conseguia resolver.

Quando voltaram para o abrigo, ela viu o desespero dos seus pais e sentiu-se a pior filha do mundo. Mônica estava certa, se tivesse feito aquela loucura, seus pais teriam sofrido muito. Então eles decidiram que o melhor era irem embora. Em outro lugar, eles poderiam recomeçar a vida.

O motorista do caminhão disse que em outros estados, a calamidade foi total.

– Nunca vi tanta gente morrendo em toda minha vida, cruzes! Nem sei dizer quantos morreram, foi horrível demais!
– Acha que eles vão ter chance em outro lugar? – Licurgo perguntou preocupado com a família de Cascuda.
– Do jeito que anda faltando gente, acho que podem até conseguir algum trabalho. Eu heim, parece que morreu todo mundo!

Após uma breve despedida, Cascuda subiu no caminhão junto com seus pais. A turma ficou na estrada dando adeus até perdê-los de vista. Apesar do que ela tinha feito, eles não puderam evitar sentir uma coisa ruim no peito ao vê-la partir. Mais um membro estava indo embora, apesar de daquela vez a separação não ser definitiva. Ainda assim era doloroso ver a turma se desfazendo daquela forma.

Primeiro Toni, depois Aninha. Em seguida, eles perderam Felipe e Luisa e agora Cascuda se foi.

– Puxa, eu me sinto tão culpada! – Magali falou voltando para o abrigo de mãos dadas com Cascão. – Será que a gente fez bem, Cascão? Eu não queria magoar a Cascuda.
– De qualquer forma, eu não ia voltar. Não desejo nenhum mal pra ela, mas depois de tanta coisa, sei lá... acabou mesmo.
(Mônica) – Ainda assim é triste. Poxa, eu fiquei morrendo de pena dela! – lá no fundo ela sentia um pouco de peso na consciência, uma vez que Cascuda tinha dito a verdade, ainda que de forma exagerada. Houve mesmo um beijo entre ela e DC e Cascuda acabou saindo como mentirosa. Paciência, mesmo triste pela partida da amiga, ela não pretendia falar a verdade. Não ia beneficiar ninguém mesmo.

Marina e Denise também estavam tristes e Denise estava quase arrependida por ter espalhado aquela fofoca. Talvez se tivesse ficado calada... não havia como saber.

Eles foram se dispersando aos poucos e Denise viu que Carmen estava muito abatida.

– Cacá, você ficou tão triste assim por causa da Cascuda?
– É o Fabinho. Ele anda tendo muitas crises de asma e eu tô preocupada com ele! As bombinhas não fazem efeito como antes!
(Cebola) – Ele devia ser levado ao hospital, só que não tem nada disso aqui perto. E nem na cidade tem direito, lá tá faltando tudo!
– Ele não pára de perguntar pelos pais e eu não sei o que fazer!
(Mônica) – Fala a verdade, ué!
– Tá doida? Ele só tem cinco anos.
– Você disse que ele vai fazer seis.
– Mesmo assim ele é muito pequeno pra entender essas coisas! Ai, droga, o que eu faço?

Ninguém sabia como ajudar e estavam preocupados com a idéiad que em breve teria mais uma morte entre eles.

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As cidades estavam um grande caos. Prédios destruídos, crateras enormes por todas as partes e raramente se via alguém perambulando entre os destroços. A grande maioria estava morta. Ela observava os emissários levando as almas pelo portal. De acordo com seus cálculos, era um dos últimos grupos de almas. Dentro de alguns dias, a crosta da terra estaria totalmente estabilizada, diminuindo os terremotos aos níveis normais.

– Foram tempos difíceis. – Serafim falou aparecendo do lado dela.
– Sim, foram. Mas está acabando, felizmente. Agora só resta aos humanos juntarem os cacos e seguir em frente.
– Com o tempo eles farão isso. Fiquei sabendo agora a pouco que as arcas estão a caminho do cabo da boa esperança. Eles vão aportar na África.
– Bom pra eles. – ela falou com um olhar distante e Serafim percebeu que algo estava errado.
– Algum problema?
– Sim. Eu ainda não entendi por que diabos você colocou aquela pirralha no meu caminho.

Suas asas se arrepiaram e ele tossiu várias vezes tentando arrumar um jeito de se esquivar. Se ela soubesse dos seus reais motivos, ia ficar furiosa e não era nada bonito vê-la assim.

– O-olha, e-eu entendo que você não gosta muito dela e... e...

D. Morte virou a cara para o outro lado e falou.

– Apenas me diga o por que.
– Esse é o problema.
– Que problema?
– Se eu falar, tudo perderá o sentido. Você terá que descobrir por si mesma.
– Sabe que eu detesto isso.
– Ora, você não vive falando a mesma coisa para os humanos?
– Mas eu não estou no nível dos humanos! Já tenho plenas condições de entender coisas mais complexas.
– Sei que tem. De qualquer forma, o tempo de vocês duas está acabando.

Sem que ele percebesse, ela apertou o cabo da foice com força e perguntou procurando manter a voz serena.

– O que quer dizer com isso? A hora dela ainda não chegou.
– Mas o efeito do ectoplasma está passando.
– E daí?
– E você também terá que fazer um trabalho que envolve essa moça.
– Um trabalho? Qual?
– O seu trabalho de sempre.

À medida que ele foi explicando sua próxima tarefa, ela teve que fazer um grande esforço para conter a grande tristeza. Aquilo era mesmo necessário? Não havia outro jeito? Por que tinha que ser daquele jeito? Seu trabalho tinha muitas coisas tristes e aquela era uma delas.

– Tem certeza?
– Absoluta. Do jeito que as coisas estão, você não terá outra alternativa a não ser fazer o seu trabalho. A não ser que prefira mandar um emissário...

Ela cortou logo.

– Não! Eu mesma farei esse trabalho pessoalmente.

O anjo saiu dali ainda preocupado em imaginar como ela ia reagir caso descobrisse o real motivo do seu plano. Mesmo sabendo que no fundo D. Morte gostava da Carmen, ele sabia que ela estava com problemas para aceitar sua missão a ponto de não querer nomear um sucessor.

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Jeremias ficou surpreso ao ver Titi carregando grandes feixes de lenha sobre os ombros.

– Rapaz, o que deu em você? Largou a preguiça de lado?
– Pois é... – ele tentou disfarçar. – Meus músculos tavam atrofiando, então tinha que fazer alguma coisa. Agora vou ficar saradão de novo!
– Ah, sei! E virar o terror da mulherada!

Titi deu uma risada sem graça e continuou carregando a lenha. Embora quisesse mesmo recuperar o belo corpo que tinha, não estava em seus planos voltar a ser o conquistador de antes. Fora exatamente por causa dessa postura que ele perdeu Aninha. Várias vezes ele se perguntava se os dois ainda estivessem namorando, ela teria morrido. Ele relembrava aquele dia várias e várias vezes, imaginando como teria sido se ele tivesse pedido para ela ficar com ele ao invés de ir com a Carmen.

Ele não podia deixar de imaginar que tudo teria sido resolvido com um “eu te amo” e um “me perdoa” ditos com sinceridade. Sua vida de galinhagem não lhe deu nada de bom, só o vazio e a solidão.

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Os três olhavam para a tela se perguntando se aquele era mesmo o planeta certo. Será que não tinham errado o caminho? O planeta era azul, com pólos brancos nas suas extremidades, nuvens brancas aqui e ali e continentes com várias cores variando entre o marrom e o verde.

– Comandante... será que estamos no lugar certo?
– Você conferiu as coordenadas?
– Espere um pouco... sim! As coordenadas estão corretas!

Não havia como errar. Eles estavam no sistema planetário certo e dentro daquele sistema só havia um planeta azul, que era o terceiro em distancia do sol. Se não fossem as coordenadas, eles iam pensar facilmente que tinham descoberto outro planeta. A configuração dos continentes estava mudada e até o campo magnético não era o mesmo, com os pólos sul e norte magnéticos em locais diferentes.

– Comandante, os equipamentos estão registrando uma emissão anormal de neutrinos vindos do sol. Creio que se a nave aproximar mais, poderemos ter problemas com os equipamentos.
– O que você acha que ocorreu com a terra? – Xabéu perguntou olhando para a tela.

Zé Luis fez alguns cálculos, estudou os neutrinos emitidos pelo sol e lançou uma teoria.

– Esses neutrinos estão modificados e parecem que interagem com a matéria.
– Impossível! Essas partículas sempre atravessam a matéria que afetá-la!
– No seu estado normal sim, mas dessa vez elas sofreram uma mutação. Isso deve ter afetado a terra de alguma forma.
– A ponto de mudar a configuração dos continentes? O que poderia ter causado isso?

O alferes ficou pensativo, limpando os óculos com um pequeno lenço e falou com a voz pesada.

– O único fenômeno capaz de alterar a aparência da Terra desse jeito, comandante, são os terremotos.

Os outros dois ficaram em silêncio, imaginando em suas cabeças o quão intensos devem ter sido os terremotos para terem causado aquela mudança na Terra. Xabéu voltou a falar com a voz tremula.

– Você está dizendo que a Terra foi assolada por terremotos?
– É a única coisa que explica essa mudança tão brusca em poucos meses.
– Mas para tais mudanças, seriam preciso terremotos muito intensos!
– Para ser mais preciso, terremotos acima de nove na escala Richter. Talvez tenham chegado a mais de dez.

Outro silêncio enquanto eles processavam as informações. Xabéu engoliu ruidosamente, tentando segurar o choro. Se a terra foi mesma assolada por terremotos, então o que teria acontecido com sua família? Astronauta percebeu a preocupação dela e procurou tranqüilizá-la.

– Tenente, por enquanto vamos evitar conclusões precipitadas. Só teremos condições de saber o que realmente aconteceu quando pudermos chegar a Terra. Alferes, quando poderemos retornar?
– Dentro de cinco dias, senhor. Até lá, a emissão de neutrinos estará normalizada e os equipamentos da nave não correrão perigo. Enquanto isso, tentarei entrar em contato com o satélite da nave para ver se consigo encontrar alguma resposta.
– Certo, faça isso.

O alferes voltou a trabalhar em silêncio e Xabéu retornou aos seus afazeres com o coração apertado por causa do seu irmão. O que teria acontecido com eles?


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