Os dois meses se passaram, tão rápidos quanto um raio. Felizmente isso não fora um problema. Após um longo interrogatório da parte de Sarah e uma apresentação de documentos para Mike, eles concluíram que Dhiren era aparentemente seguro e a permissão de meus tutores era a única coisa que restava antes da preparação dos documentos, e havíamos passado desta fase. Obviamente não tínhamos contado-lhes sobre o sonho, mas inventamos uma história sobre Dhiren ser um velho-melhor amigo. A partir daí foi fácil convencê-los.

Durante este período, o tigre havia praticamente se curado: seu ânimo estava totalmente restaurado e os olhos retornaram ao antigo e vivo azul cobalto. Minha relação com Dhiren - o homem (meu Deus! Ainda irei enlouquecer.) - estava bastante agradável; ainda não havíamos recuperado toda a intimidade que uma vez tivemos, mas aos poucos ela voltava, porém na medida certa... Afinal de contas, não faria sentido apressar as coisas. Nos beijávamos algumas vezes, mas nunca passava disso - e ele também não me forçava a nada. Isso era bom, mas quando ele me beijava eu sentia algo florescer dentro de mim, como se implorasse por mais. O pior de tudo era que eu sabia exatamente o que era aquilo, porém me recusava a acreditar/aceitar. Talvez isso se devesse a minha personalidade no sonho - que não era tão diferente da realidade, mas não acho que eu tomaria grande parte das atitudes que fizera em minha mente na vida real.

Estava pensando sobre isso quando Dhiren apareceu na porta de meu quarto na casa de Mike e Sarah. Eu havia acabado de arrumar minhas malas, e com toda a documentação feita, a única coisa que faltava era ir - e eu conseguir perder meu medo por altura em cerca de uma hora. O tigre não iria com a gente; Dhiren achou melhor me levar primeiro para eu poder me habituar com o país, facilitando meu trabalho.

Dhiren estudava meu rosto com a testa ligeiramente franzida.

– Qual é o problema, Kells? - ele perguntou. - Está com medo?

Assenti e só percebi que o fizera quando Dhiren sorriu e se aproximou, sentando-se ao meu lado. Ele esticou o braço e puxou lentamente meu ombro, abraçando-me enquanto minha cabeça descansava na curva de seu pescoço.

– Estou preocupada - murmurei baixinho. - Meus pais morreram em um acidente de carro, você sabe. Não é tão diferente.

Ele inclinou o rosto para depositar um suave beijo em minha testa.

– Não há com o que se preocupar, strimani. O piloto e o restante dos empregados são amigos da família e de extrema confiança. Além disso, hoje mesmo verificaram tudo no avião, e provavelmente iremos fazer algum pouso para uma segunda verificação. Está tudo certo, iadala.

Assenti mais uma vez. Ainda não estava completamente segura, mas me sentia melhor do que antes. Dhiren levantou-se e pegou duas de minhas malas e eu peguei a terceira. Descemos as escadas e eu olhei para trás uma única vez, perguntando-me quando voltaria a ver aquele lugar.

***

A viagem foi rápida e tranquila. Não havia notado que o avião havia pousado até sentir que não estávamos mais em uma altura tão elevada quanto antes e eu olhei rapidamente pela janela a tempo de ver uma construção esbranquiçada e alta sobre uma colina. Grécia?, eu pensei. Não pode ser.

A velocidade na qual havíamos chegado na Europa era quase incontestável. Saímos do avião e fomos até um hotel onde passaríamos a noite e o dia seguinte, até podermos prosseguir com a viagem. Assim que entrei no quarto, joguei-me sobre a cama e olhei a minha volta. Dhiren ainda não havia chegado; estava conversando com uma recepcionista, provavelmente pedindo algo. Assustei-me ao constatar que havia apenas uma cama de casal em todo o quarto (a que eu estava no momento). Fechei os olhos e bufei. Ele com certeza sabia disso.

Abri minha bagagem e peguei um pijama simples. Dirigi-me ao banheiro e tomei um banho rápido, vestindo-me ali mesmo. Quando saí encontrei Dhiren sentado na beira da cama assistindo algo na televisão. Ele virou o rosto quando me viu e sorriu. Sorri de volta e me sentei na cama também, puxando o cabelo para um lado para trançá-lo. Fiz uma careta ao ver que alguns fios haviam se soltado e decidi desfazer a trança. Olhei para o relógio e me assustei ao ver que já passava das dez da noite. Eu teria de me acostumar com a diferença dos horários.

Retornei ao banheiro e escovei os dentes, voltando ao quarto e deitando na cama assim que acabei. Puxei minha mala para perto e peguei um dos livros que havia trazido: O Morro dos Ventos Uivantes. Era um de meus favoritos, então decidi lê-lo até adormecer.

Porém eu não sentia vontade de ler por mais que tentasse sair dos primeiros capítulos do livro. Suspirei e guardei-o novamente, virando-me na cama. Depois de um tempo Dhiren se deitou também, e eu o senti soltar um beijo em minha nuca. Senti todo o meu corpo se arrepiar, mas não me movi. Vendo que eu não fizera nenhuma objeção, ele continuou a roçar os lábios até meu ombro, baixando a manga de minha camiseta. Ele voltou, soltando os lábios em meu pescoço e eu soltei um gemido involuntário. Percebendo, Dhiren se movimentou ao meu lado e eu me virei, querendo saber o motivo da movimentação. No mesmo instante ele surgiu sobre mim, me beijando de forma possessiva. Retribuí com o mesmo ardor, passando minhas mãos por suas costas e colocando-as, enfim, sobre seu cabelo, aprofundando ainda mais o contato. Eu queria. Eu precisava.

(continua...)