O céu escureceu até que os pontos de estrelas brilhantes e solitárias pudesse ser vistos por mim, assim como a lua que iluminava quietamente alguns cantos da rua. Liguei minha lanterna assim que sombras negras começaram a se arrastar à minha volta, segurei o aparelho firme em minhas mãos, dançando sua luz pelas paredes das casas e pelo asfalto, mais apreensiva do que já estivera em qualquer outra noite.

Ouvi uma risada seca atrás de mim, seguida por passos lentos que arrastavam as pedras soltas da rua, virei-me no mesmo momento, deparando-me com uma boneca extremamente maltratada. Seus olhos vidrados me encaravam enquanto o sorriso petrificado em sua boca de plástico abria-se a ponto de revelar seus dentes irregulares e sujos de sangue.

Iluminei-a e ela desviou-se no mesmo momento, cobrindo os olhos mortos com as mãos pálidas e afastando-se dali. Instantes depois senti uma mão dura e fria puxar meu ombro, joguei o braço para trás e me desvencilhei do Nightwalker, que percebi que se tratava de um esqueleto acinzentado parecido com os que decoravam as casas dali, suas mãos e sua boca estavam marcados de vermelho, seu sorriso escancarado esperava por fazer mais uma vítima. Lancei a lanterna em sua direção e ele fugiu dali rapidamente com um grito aterrorizado.

No mesmo local em que ele estivera começaram a surgir ainda mais pesadelos, todos eles observando-me com as órbitas prateadas enquanto tentavam se aproximar, senti uma respiração pesada perto de meu pescoço e senti a dor aguda de dentes começando a rasgar minha pele, lancei a lanterna naquela direção, sem me preocupar em olhar meu assassino, e no mesmo momento ouvi um grunhido enquanto o ser afastava-se de meu corpo.

Peguei a outra lanterna que havia achado perdida por um dos esqueletos esbranquiçados da vizinhança, e iluminei os dois monstros corcundas que tentavam se aproximar de mim, logo depois direcionando o flash às minhas costas onde ouvia a respiração ofegante de outro Nightwalker.

Eles estão aumentando. Uma voz assustada ecoava em minha cabeça, fazendo com que meu pânico crescesse e eu quase perdesse o controle do que estava fazendo. Minhas mãos suavam e as lanternas ficavam escorregadias, em vários momentos eu quase deixara uma delas cair, e se isso acontecesse, eu duvidava que os Nightwalkers fossem educados a ponto de me devolver a lanterna ou permitir que eu a pegasse.

Minha respiração era entrecortada enquanto tentava afastar os pesadelos que apareciam por todos os lados, seus rostos desfigurados dançavam em minha frente até muito depois que eles já tinham fugido, e eu já não conseguia mais pensar em nada.

Foi quando de repente os Nightwalkers pararam em seus lugares. Se eu não estivesse no estado deplorável em que estava, eu até poderia dizer que suas faces sangrentas havia adquirido alguma expressão, como se eles entendesse o que deviam fazer. Tudo se silenciou, e eu me vi cercada por monstros que me observavam impacientemente, como a platéia de alguma peça que eu não sabia as falas.

Eu jogava a luminosidade sobre alguns deles, e só com o fache de luz em seus corpos eles se afastavam dali, fugindo rápido o bastante para eu não perceber seus caminhos. Mais Nightwalkers se aproximavam, todos parando perto de mim, formando um círculo tenebroso a minha volta.

Foi quando ouvi passos distanciando-se dali, olhei a minha frente e percebi que os monstros que tinham se instalado ali estavam se afastando, como se estivessem dando passagem para algo maior, sem tirar os olhos vazios de cima de mim em nenhum momento. Percebi uma silhueta alta que se aproximava pelo vão que eles haviam feito, ela chegava até mim em passos decididos e quase humanos.

Lancei a lanterna para a figura, porém ela não se moveu, nem mesmo hesitou diante daquilo, e continuou andando ao meu encontro. Alguns Nightwalkers que estavam perto da figura silvaram diante da luz que acabou os atingindo e fugiram, sendo substituídos por novos pesadelos no mesmo momento. Aquilo era assustador.

A figura estava perto o suficiente agora para que eu percebesse seu rosto na luminosidade branca da lanterna. Os cabelos castanhos estavam bagunçados e alguns fios caíam em sua face, ocultando parcialmente os estranhos olhos prateados que denunciavam seu divertimento. Olhei em suas mãos sujas de sangue seco, em uma delas um exemplar surrado e avermelhado de Fraksteein se escondia.

–M-Mikael? - eu disse, tirando a luz de seu rosto por um instante.

Seus lábios se abriram em um sorriso escarlate, e no mesmo momento eu percebi que aquele não era o garoto que eu conhecia.