Snow sai da tela e a TV volta a passar o programa de costume. Prim desliga a TV depois de soltar um pequeno grito de susto. Ouço Prim e minha mãe chamarem por mim, não lhes dou atenção.

Ainda estou parada, imóvel, pálida e antônima com a noticia. Terei que voltar a arena. Sou a unica vitoriosa feminina viva. Peeta certamente irá comigo, não me deixaria sozinha na arena.

Não posso, não consigo, não aguentarei encarar novamente a arena com Peeta. Dessa vez não teremos outra alternativa, um de nós terá que morrer lá dentro.

Tento compreender o que minha mãe e minha irmã estão dizendo mas é impossível, apenas consigo decifrar as palavras “estado de choque” saindo da boca de minha mãe.

Consigo ver Peeta com as mãos nos cabelos andando de um lado para o outro da sala. Penso que dentro de um mês, não estaremos mais juntos. Isso não pode estar acontecendo conosco. Não agora. Agora que estamos noivos, caminhando para uma vida feliz e calma, nós voltamos a ser o casal desafortunado do 12.

Não. Não podemos voltar a isso, não posso, não consigo, não aguentarei. Repito a frase em minha cabeça até que ela realmente penetra em minha mente. Nesse momento dou alguns passos para traz saindo de meu estado de choque, bato as costas com força contra a parede. Não ligo para a dor, na verdade quase não a sinto, deixo meu corpo escorregar pela parede até que me vejo sentada no chão, com a cabeça entre as pernas e chorando descontroladamente. 

Minha visão continua embaçada e não consigo prestar atenção no que se passa a minha volta. Posso estar tendo um ataque de panico, talvez, mas não importa. Não sei quando tempo passou mas sinto Peeta sentar-se ao meu lado, escorregando pela parede como eu fiz.

Eu o abraço, provavelmente não terei muitas chances de fazer isso. Olho para meu dedo e o anel de noivado entra em foco, vejo Prim e minha mãe completamente assustadas e inconformadas, totalmente em pânico, como nós.

Nosso casamento jamais irá acontecer. Não pretendo contar a ninguem sobre o pedido de Peeta, todos já estão desesperados demais, contar sobre o casamento só pioraria mais as coisas, só deixaria todos em mais pânico e mais olhres piedosos sobre nós. Não precisamos de pena, precisamos de paz. Paz que já havíamos conquistado, e nos foi tirada bruscamente.

Alguns minutos ou horas atrás, não sei bem ao certo, eu e Peeta estávamos ansiosos pra contar a nossas famílias sobre o casamento, casamento que não irá mais acontecer.

As imagens voltam a ter um pouco de nitides, vejo que Peeta também esta chorando junto a mim. Minha mãe a Prim também choram, mas parecem não ousar se entrometerem em nosso momento de desespero e angustia, parecem não querem se entrometer em um momento só nosso.

As palavras que antes se perdiam em minha mente sem fazer sentido algum, voltam aos poucos a normalidade. Mas meu choro não para.

–Vamos para seu quarto, filha. –ouço minha mãe pedir, eu mal sabia que ela falava comigo até agora. Mesmo assim não respondo. Tenho certeza que minha voz também não sairá.

Toda vez que tento abrir a boca para respirar fundo e me acalmar uma nova crise de soluços começa. Não tenho controle algum sobre eles. Logo eu, Katniss Everdeen, a garota forte da costura que nunca se permitiu chorar, que nunca permitiu que ninguém soubesse o que ela estava pensando ,que nunca deixou suas emoções aparentes para ninguém. Mas essa garota não existe mais. A Capital a destruiu, e agora, decidiu que não foi o bastante.

Sinto Peeta me pegar no colo e me levar para meu quarto. Nem minha mãe ou Prim o seguem. Fico aliviada por isso, preciso de um momento a sós com Peeta. Quem sabe não o convenço a voltar vivo para casa? Tenho que tentar.

Peeta me deita com cuidado em minha cama, ele hesita em se juntar a mim, eu seguro sua mão me recusando a solta-la, e ele se deita a meu lado.

Agora de perto, Peeta tem olhos inchados e sua mandíbula inferior treme fortemente, ele está pálido. meu estado deve ser deplorável.

Inicialmente não falamos nada, Peeta tem seus braços em volta de mim. Meus soluços param de vagar a medida que Peeta acaricia meus cabelos.

–Ah Peeta, isso não pode estar acontecendo... –digo fracamente. –não agora...

–Eu sei Kat, eu sei. –ele está roco.

–Nem ao menos tivemos a chance de falar no noivado... –lembro me e meus olhos se enchem novamente d’água, mas Peeta as seca assim que começam a cair, mas não são tão intenças quando antes. Ele suspira infeliz

–Não pretende falar para elas não é? –isso é mais uma afirmativa do que uma pergunta. Eu nego com a cabeça.

–Não faz sentido contar, só vai deixa-las mais tristes por nós. Como se a nossa própria infelicidade já não bastasse. –digo –além do mais, nem chegaremos a nos casar.

–Você tem razão, só deixaram a todos ainda mais infelizes. –ele diz, de repente um brilho volta ao seu olhar. Ele segura minhas mãos com as suas. –Katniss ainda podemos fazer isso. -ele diz sorrindo entre as lagrimas.

–Fazer o que Peeta? – digo confusa, ele está sorrindo, algo que para mim parece simplesmente impossível para mim agora.

–O casamento. -ele diz – sei que não será oficial, mas pelo menos entraremos na arena casados.

–Vocâ está com as alianças aí? –pergunto, se não posso ter uma vida casada com Peeta, mas a Capital não poderia nos tirar esse momento, não poderia nos impedir de nos casarmos, mesmo sem ser oficial.

–Estou. –ele pega uma caixinha no criado mudo, ele a abre e vejo duas aliaças.

–São lindas Peeta. –estou chorando novamente, dessa vez, choro de alegria e tristeza ao mesmo tempo.

–Então vamos lá. –ele diz sorrindo. Ele limpa sua garganta e começa. – Katniss Everdeen, você me aceita como seu marido para te amar e respeitar na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza ou na pobreza, até que a morte nos separe? –sua voz treme na última parte.

–Eu aceito. –respondo e ele sorri, tira o anel de noivado de meu dedo, que eu não tirei nem uma vez se quer. Então ele coloca a aliança. -e Peeta Mellark, você me aceita como sua esposa para te amar e respeitar na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza ou na pobreza, até que a morte nos separe? –digo deixando mais lagrimas rolarem por meu rosto, Peeta as seca, mas ele também chora.

–Eu aceito –ele diz. –então eu nos declaro marido e mulher. –ele ri. Entao me aproximo dele e sussurro em seu ouvido.

–Acho que você já pode beijar a noiva. -digo sorrindo.

Ele sorri também, então, finalmente, me beija.