My Happy Pill escrita por Gabby


Capítulo 23
Nós Somos Infinitos


Notas iniciais do capítulo

Olá! Eu não demorei dessa vez, o que é, tipo assim, incrível. Lendo uma fanfic muito boa, em que a autora colocava os nomes dos leitores nas notas iniciais, eu fiquei pensando em quanto tempo eu mesma não fazia isso e como isso era bom para os leitores. Acabei de me lembrar de uma ex-leitora, que tinha levado um susto quando eu mencionei o nome dela aqui. Isso era muito bom. Então, aqui vai:

Rachel Nelliel- amei aquele seu último comentário.
Alessandra Silva- obrigada, você é querida.
Matsumoto Narumy- Muito divaa!!

Ainda tem mais outros leitores, todos que eu amo, mas ainda não deixaram review no último capítulo. (Neves-san, querido, não precisa se preocupar. Sei como é ocupado) Tem os fantasminhas, que eu prometo que se deixarem reviews eu perdôo e coloco o nome aqui!
Esse capítulo é, tipo, o MAIOR e mais intenso que já escrevi. Falo mais disso nas notas finais. Capítulo narrado em primeira pessoa por Ulquiorra Shiffer. Só UlquiHime.



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Nós somos Infinitos

.

“Esses dias parece que todo mundo perdeu o caminho

Há batalhas para serem ganhas-Há ilhas no sol

E eu não sou melhor- eu sou um garotinho que está perdido

Perguntando quanto é que custa

Viver a vida ao pé da letra”

.

Já passavam das onze e meia e eu ainda estava assistindo televisão. Não tinha um

mísero pingo de sono;muito provavelmente porque eu estava perdendo meu horário habitual de sono, dormindo a tarde inteira; mas cedo ou tarde, eu deveria abandonar esse hábito. E eu, como um amante de sono, iria esperar até tarde.

Eu gosto mais de dormir á tarde do que de noite, de qualquer jeito. Quando eu chego da escola, estou cansado - não fisicamente, mas emocionalmente. – e dormir meio que me descansa e até alegra um pouco. Quando eu estava acordado de tarde, tinha que ouvir horas e horas de minha irmã reclamando ou falando apaixonadamente de algo (aquele algo que eu não me interesso nem um pouco), ou o Grimmjow falando de algum esporte cujo eu acho absurdamente bárbaro. Agora, quando eu durmo á tarde e fico acordado á noite, só preciso ouvir Nell e Grimmjow um pouquinho; e, a Loly, bom, ela precisa dormir cedo por causa de seu sono de beleza –que não adianta muita coisa, porque quando ela acorda parece uma górgona –e não tem quase nenhum tempo para me assediar. Á noite, tenho o silêncio para aproveitar o meu livro e a TV apenas para mim. Eu absolutamente adoro excluir o fator humano da situação –mesmo eu sendo um humano.

Na televisão está passando um filme horrivelmente clichê, com um cara que era muito parecido com o 007 (não do tipo inspirado, do tipo plágio descarado), sem nenhuma história original, com uma mulher que era para ser absolutamente sexy (mas que não é, já que parece uma prostituta) e umas explosões que não fazem sentido algum.

Eu troco de canal para um que estava passando um jornal, que eu rapidamente troco assim que ouço o primeiro morto (estou tentando evitar a desgraça em geral, e jornal só tem isso). E assim vai, desde jornalzinhos de celebridades (como se eu já não soubesse que o Justin Bieber era um drogado ou como se eu me interessasse que aquele casal bonitinho de J-pop estivesse namorando) á uma novela horrível mexicana (daquelas do tipo que o Grimmjow ama, mas nunca admite que vê).

Então, eu decido que vou ir ler um livro (eu realmente não gosto muito de mangás, mesmo sendo japonês), Percy Jackson e o Mar de Monstros. Eu comecei a ler a série há pouco tempo, porque achei que ela seria muito infantil ou até clichê, mas ela realmente é uma história bem interessante, cheia de ação e aventura. Eu, na realidade, não tenho um gênero literário favorito. Na verdade, meu gênero favorito é: livro bom.

Mas, sabe, não tenho a mínima vontade de ler aquele livro no sofá, ou mesmo na cama, então eu decido ir para a rua. Abro a janela rapidamente, apenas para sentir o vento no rosto. Uma brisa gelada, porém revigorante, salta em mim, balançando meus cabelos e trazendo algumas folhas secas, o último sinal de que o outono realmente esteve lá. Eu decido então ir lá para a rua, com o livro na mão e a calça de pijama mesmo. Dane-se se alguém ver.

Eu sento no meio fio e olho um pouco para o céu: escuro, sem nuvens e com uns pontinhos brancos. Hoje o céu estava mais estrelado que o normal, as estrelas espalhavam-se pelo céu inteiro, diferente de outros dias, em que a poluição da luz feita pelo homem atrapalhava completamente o brilho natural das estrelas.A lua me proporcionava uma linda e prateada luz, iluminando os meus pés. O vento refrescava minha mente e me fazia sentir a pessoa mais clara do mundo. Tentei achar alguma constelação, mas não encontrei nada. Nunca fui muito bom nisso e também nunca enxerguei as figuras que as pessoas diziam que as estrelas formavam.

Eu me encostei em um poste iluminado, porque embora a luz da lua seja linda, ela não me proporciona o bastante dela para conseguir ler. ( e depois de um enorme poema, Ulquiorra Shiffer dá uma vacilada dessa). Eu abri o livro, mas não consegui ler. Não consegui ler porque ela estava lá.

Inoue Orihime.

“Bem, é a forma como ela sorri que eu me lembro

E a maneira como ela levantou o meu dia triste

Eu me esqueci de quando ou onde

E a cor do seu cabelo”

Ela estava usando um roupão lilás, mas eu podia ver sua calça de pijama de bichinhos. Os cabelos alaranjados estavam soltos, balançando á brisa, e ela sorria. Aquele sorriso caloroso, que enchia meu ser de um calor aconchegante, como uma lareira. Não, na verdade não como uma lareira, mas como o Sol. O cabelo laranja, o sorriso caloroso... é, ela era o Sol, não qualquer Sol, mas o meu Sol.

Eu meio que fiz um movimento com a mão, mas aquilo definitivamente não foi o melhor aceno do mundo.

Ela avançou pela calçada, abraçando-se. Acho que estava com frio.

–Oi. – Inoue Orihime disse, meio sem jeito. Ela estava em pé, bem ao meu lado, olhando para mim.

–Sente-se –Eu ofereci, olhando para a calçada.Ela aceitou e, meio sem jeito, sentou-se ao meu lado. –Filme de terror de novo?

–Não –ela me respondeu e mordeu o lábio inferior. Abraçou-se mais ainda e, dessa vez, acho que não tinha nada a ver com o frio – Um pesadelo.

–Hm.

Eu poderia perguntar como era o pesadelo, falar mais alguma coisa, ou confortá-la. Mas eu sabia, pois não gostava que fizessem isso comigo, que não se deve perguntar algo que a pessoa não quer falar. Se Inoue Orihime quiser conversar sobre isso, ela irá me contar por livre e espontânea vontade.

Por isso, eu virei minha cabeça para a rua e fiquei vendo o movimento dos carros. Não havia muito movimento á essa hora, mas não deu 2 segundos e um carro preto passou bem á nossa frente. Tinha alguns estacionados perto da casa dos visinhos e, exceto por uma moto que passou do outro lado da rua, mais nenhum veículo passou nesses cinco segundos em que a Mulher não falou nada.

–Sonhei com o meu irmão. –Ela disse,enfim. Não foi preciso mais nada para mim saber que ele estava morto, só o tom de voz dela já era mais que necessário. Veja bem, eu sou órfão. Quantas vezes já vi e ouvi crianças chegando por causa da morte de seus pais? –O aniversário de morte dele está próximo. –Ela disse, a voz tão baixa quanto um sussurro, mas que foi mais que necessária para mim ouvir –Eu fico horrível nesses dias. –ela fungou, e só aí eu percebi que ela estava chorando. (Me desculpe, mas eu REALMENTE gosto de olhar o movimento dos carros). Então, eu virei para ela, apenas para vê-la enxugar os olhos brilhantes e cinzentos com a manga da camisa. –Desculpe.

Eu apenas balancei a cabeça em resposta, os olhos a acompanhando. Eu não ia dizer algo como: “Está tudo bem”, ou “Sinto muito”, porque sei como isso é falso e sei como é odioso quando as pessoas falam isso. Tipo: “Não, você não sente. A família e a dor são minhas, você não as conhece.” era o que dava vontade de dizer, mas não falávamos, porque todos estávamos ocupados se lamentando. E eu também não ia abraçá-la, ou algo assim, já que isso só serve para chorar mais, e chorar melhor. Aquelas lágrimas eram o efeito colateral, o ato principal ela já havia superado.

“Mas é a forma como ela sorri que eu me lembro

E o tempo corre, como uma estrada que nunca termina

Com todos os seus solavancos e todas as suas curvas”

–Mulher –eu disse –O que está achando de Romeu e Julieta?

Eu não tinha mais nada para falar sobre o irmão dela, não tinha intimidade o suficiente para falar de uma pessoa que eu nem conhecia, então eu fiz algo de útil e mudei de assunto. Aquele assunto que é só para mudar o rumo da conversa, ou criar uma, como: “Dia bonito, não?”

–Bom,- ela disse, retirando um pouco do peso dos ombros e relaxando o corpo, como se aquele pesadelo fosse um saco de 20 quilos que eu tinha retirado momentaneamente das suas costas. –A leitura é meio difícil e a Julieta é jovem demais...

–É por causa da época de Shakespeare, mulher, as coisas não eram iguais as nossas há séculos atrás.

–... Mas a estória é bastante bonita. –Ela continuou -O amor vence barreiras...

Eu não queria que ela começasse a recitar esse troço de “o amor vence barreiras”, que é mais chato do que: “Deus escreve certo por linhas tortas.”, por isso eu falei logo:

–Mulher, já que você com certeza não terminou o livro, por que não lê comigo....? Ela ficou me olhando com uma cara que eu não consegui identificar, não sabia se ela estava surpresa, confusa ou assustada –aqui...?

Não, eu não tenho nenhuma esperança com ela. Mas eu quis convidar, pelo simples motivo de que quis.

–Hum... –ela pensou por uns segundos –Tá bom. –Então ela olhou para as próprias roupas, depois olhou para trás, para a sua casa. Levantou-se. –Só espera um pouco. –E saiu correndo, os cabelos alaranjados balançando atrás.

Eu peguei meu livro e também me levantei. Olhei para a Inoue Orihime entrando em casa e fiz o mesmo, só que na minha.

Subi as escadas até o meu quarto,branco e uniforme. Lá só tinha uma cama de solteiro com um cobertor de uma cor escura, um guarda roupa e uma escrivaninha, onde eu fazia as coisas da escola e guardava os meus papéis. Tinha umas duas caixas de papelão no chão, onde estavam os meus livros. E só. Eu tinha desistido do “toque pessoal” há anos.

Do guarda-roupa, peguei um sobretudo bege e um chapéu da mesma cor, da época em que eu tinha insistido na minha carreira de jornalismo. E sim, eu ainda tenho a câmera e a máquina de escrever, e eu ainda tenho bastante carinho por elas. Eu também ainda quero trabalhar de jornalista e pretendo seguir este sonho, até que ele dê lugar para outro.

Tá, então eu desci, e fui pra rua. Vesti o sobretudo e fiquei com o chapéu na mão.A mulher ainda não estava lá, mas eu sabia que ela estava chegando. Não muito depois, a porta se abriu e eu tive a brilhante visão de uma menina bonita com um livro na mão. Eu coloquei o chapéu sobre a cabeça e senti os fios negros se bagunçando por debaixo dele, alguns escapando para perto dos meus olhos.

Então ela veio correndo.

–Oi –ela me disse –Eu adorei o chapéu. –e daí ela me mostrou o livro de capa dura, com um marca-página na metade, que era a edição de Romeu e Julieta que eu tinha dado para ela. –Viu? –ela me perguntou, como se eu tivesse algum problema de visão ou fosse retardado –Estou na metade.

–Hm. –eu disse, só para ela saber que eu estava ouvindo ela. Fiquei a olhando, com as mãos no bolso, o chapéu quase caindo da cabeça.

–Eu teria colocado algo melhor, -ela me disse, batendo com as palmas da mão no roupão lilás – se você tivesse me dito que iria colocar um sobretudo e um chapéu. –e eu pude ouvir, apenas um pouco e desta vez, uma pontinha de irritação em sua voz. E então eu fiquei olhando pra ela, dando o melhor dos meus olhares profundos, para que ela me dissesse o porquê de estar irritada. Então ela disse. – É que sempre quando eu encontro você, estou de pijama.

–E na escola? –eu perguntei, porque estava á fim de perguntar e não porquê eu não tinha entendido.

–Bom, na escola... –ela ficou sem jeito por um momento, com as bochechas rubras –Na escola, eu não te encontrava sozinha. –ela disse e então ficou ainda mais corada. –Mas você sempre está mais bem-vestido do que eu.

Bom, eu não tinha ideia de meu bom-gosto para moda, eu só coloquei um sobretudo por cima do pijama, mas bom saber, obrigada.

–Eu só coloquei um sobretudo por cima do pijama, mulher.

–É, é, e eu to de roupão. -Eu só suspirei, virando a cabeça para o lado. –Mas, sabe –ela me disse e mesmo não a olhando diretamente eu sabia que ela estava olhando o “Percy Jackson” –Acho que a gente podia ler em outro lugar.

–Eu não quero ir para aquela praça do poço dos desejos. –Eu lhe disse, porque simplesmente eu não queria ir.

–Não, não. –ela negou com a cabeça, agitada –Eu digo a praça da cidade. Perto do teatro. –ela parou bruscamente, porque pensara que tinha falado algo errado. Mas não, ela não tinha falado. Tá certo que eu fiquei um pouco decepcionado por ela não ter ido comigo, mas aquilo não tinha almadiçoado o nome do teatro, ou algo assim. Eu não ia começar a chorar só porque ela tocou no assunto. –Desculpe.

Eu comecei a andar em direção ao teatro, ou melhor, á pracinha, e a mulher ficou lá parada que nem uma anta. Então eu virei para ela, os olhos semi-cerrados de tédio.

–Vai vir ou vai ficar aí pedindo desculpas?

“Venha um dia, eu estarei chegando

E quando eu chegar, eu espero que você se lembre de mim

E a maneira como costumávamos ser

Naquele momento que estávamos voando”

Então a Inoue Orihime saiu correndo até mim, quase tropeçando nos próprios pés. Eu arrumei meu chapéu na cabeça, que já estava quase caindo, virei para a frente e continuei a andar. Senti que a mulher tinha me alcançado,então acelerei o passo para que ela se esforçasse para ficar á meu lado. Essa era umas das minhas técnicas para não conversar, que consistia em: uma pessoa só pode se concentrar em uma coisa de cada vez. Já que Inoue Orihime estava se concentrando em me alcançar, não teria tempo para se concentrar em nenhum assunto de conversa, que era o que eu não estava querendo agora. O motivo de eu não querer conversar agora: eu só não estou á fim.

O clima não estava muito bom. Acabara de chover, por isso havia poças de água em cada canto. Também tinha aquele cheiro de chuva, que eu não sabia descrever, mas adorava. As luzes dos postes tinham um brilho amarelado entranho, enquanto eu e Inoue Orihime íamos até a pracinha.

Eu já tinha enfiado o Percy Jackson e o Mar de Monstros no bolso, pois tinha cansado do movimento do livro, quando nós finalmente chegamos na praça.

Era algo bem simples, com árvores e bancos de mármore, nem de longe tão bela quando á praça daquela fonte dos desejos. Bom, mas aquela praça, junto com as árvores, eram fortes. Elas tinham sobrevivido ao tempo.

–Chegamos –anunciou a mulher, arfando um pouco. Pensei que ela iria pedir para diminuir o ritmo alguma hora, mas ela permaneceu persistente o caminho inteiro. –Vamos escolher algum lugar para ler.

A gente então andou, procurando um bom lugar. Tentamos ler nos bancos de mármore, mas estavam molhados. Tentamos também no chão, mas ele também estava molhado (acho que caía gotas de chuva das árvores, por isso ele não secou como a minha calçada.). Enfim, achamos uma mesinha de pedra, onde os velhos jogavam xadrez á tarde, com dois lugares, e sentamos lá.

Sacamos nossos livros, como se fossem armas (e as palavras realmente são as armas mais poderosas dos homens.) e começamos á ler, eu Percy Jackson e Os Olimpianos –Mar de Monstros, do Rick Riordan, e ela Romeu e Julieta, de William Shakespeare.

É a forma como ela sorri que eu me lembro

E a maneira como ela levantou o meu dia triste

Eu me esqueci de quando ou onde

E a cor do seu cabelo

Mas é a forma como ela sorri que eu me lembro”

Então, a mulher, que estava com os olhos cinzentos concentrados no livro, me disse, tentando puxar assunto:

–Sobre o que é o livro?

Eu não queria começar a conversar, mas infelizmente não podia deixá-la no vácuo. Então, sem tirar os olhos do livro, que eu tinha levantado na altura do nariz, eu lhe disse:

–Aventura. Nunca ouviu falar de Percy Jackson?

–Acho que sim... –ela franziu a testa e juntou as sobrancelhas da cor do cabelo. –Mas não era o Mar de Monstros...

–Ladrão de Raios? –eu perguntei, colocando o livro na mesa.

–Isso! –ela disse –Tinha um filme de um menino bonito com olhos claros...

Ai, meu deus! O filme!

O filme não tem NADA Á VER com o livro, é sério. NADA. A Annabeth nem é loira! Deram uma arrumadinha no segundo filme, pelo que eu ouvi e vi nas fotos (tingiram o cabelo da atriz da Annabeth,por exemplo, incluíram os personagens que faltavam...), não que eu ainda tenha visto o filme (eu não quero spoiller, principalmente spoiller errado).

–O filme não tem nada a ver com o livro, mulher. –eu disse, mais controlado do que estava na minha mente. –O livro é bem melhor.

Mas ela nem prestava mais atenção em mim, porque tinha corrido... para um parque?

Eu sinto você...sobre mim

E eu estou sorrindo dos dias que eu recordo”

Ah, sim! Havia um parque lá, que eu nem tinha notado. Era um pequeno playground, um pequeno e enferrujado playground, com três balanços, um escorregador com a tinta descascando e uma gangorra. Deveria ter sido usado muito antes, mas com a ascensão da internet e dos videogames, as crianças não brincavam mais nas ruas como antigamente.

Inoue Orihime tinha entrado lá, sujando as pantufas na lama. Fiquei pensando em apenas observar o que a “grande criança” iria fazer, mas quando ela tropeçou em um galho seco e caiu de cara na lama, eu decidi interferir.

Eu me esqueci de quando ou onde

E o estado que eu estava

É a forma como ela sorri que eu vou lembrar

(É a forma como ela sorri)”

Suspirei e deixei o livro lá na mesa, junto ao dela. Parti para o parquinho, e a ajudei a levantar. Ela tinha se sujado toda, desde as calças ao cabelo. Ela tentou se limpar, tirando a maioria do rosto, e batendo com as mãos na roupa, assim retirando o maior.

Inoue Orihime se sentou no balanço e eu sentei ao lado dela no outro. Ela começou a se balançar com os pés.

–Estou muito suja? –ela perguntou, a lama sujando suas bochechas de um jeito que me deu vontade de sorrir.

–Sim. –eu respondi.

Ela começou a rir e se balançar mais alto.

–Meu irmão me levava aqui quando eu era pequena. –ela disse e dessa vez não tinha aquele misto de melancolia com nostalgia que você tem quando fala de alguém morto. Ela sorriu, sorriu forte e verdadeiramente, não um sorriso fraco de lembrança. –Eu adorava. –ela disse, com a mente sonhadora no passado. –Era bastante divertido –ela suspirou. –E o meu irmão...

–Ele parecia ser alguém bastante decente –eu disse, porque era a única coisa que eu sabia dele. Eu sabia que os pais da mulher tinham morrido,(Nell me contou) e sabia que ele tinha criado ela, mesmo sendo muito novo para essa responsabilidade. Ele tinha se esforçado ao máximo, trabalhava e amava muito a Orihime. Se isso não é ser uma pessoa decente, eu não sei o que é.

–Sim, sim, ele era –ela me disse, parando de se balançar e olhando para mim –Sora era o melhor irmão que alguém poderia querer.

“ E a maneira como ela levantou o meu dia triste

Eu me esqueci de quando ou onde

E a cor do seu cabelo”

Eu me levantei do balanço e comecei a balançá-la, empurrando-a pelas costas. Inoue Orihime ficou surpresa no começo, mas depois se deixou levar. Eu a balançava cada vez mais forte e mais alto, enquanto ela gritava de felicidade. E eu tinha um sentimento prazeroso no peito e me sentia infinito. Estava absolutamente extasiado. Na verdade, eu não sei o que era exatamente aquilo, mas não me sentia tão bem assim há anos.

Daí você meio que pensa: ”Nossa, Ulquiorra, mas por quê você começou a balançá-la do nada?” Eu vou começar dizendo que não sei exatamente o que foi aquilo. Acho que foi tipo um...extinto. Eu queria faze-la feliz, então, como o irmão dela fazia..., eu me diverti no parque com ela. Não foi uma atitude pensada, foi um impulso, mas eu posso dizer que não me arrependo de nada.

“ É a forma como ela sorri que eu vou lembrar”

E não paramos por aí. Quando nós cansamos do balanço, brincamos no escorregador. Ela descia e até eu descia várias vezes. Eu sorri. E berrei. Como uma criança se divertindo... em um playground. Acho que eu precisava de mais um pouco de infância na minha vida. Então, nós brincamos na gangorra, um deixando outro no alto. Às vezes, tínhamos um ritmo constante. Ele era guiado pelas risadas da Inoue Orihime.

A gente então foi para o balanço de novo e dessa vez foi ela que me balançou. Não, a gente não conversava durante isso. Só berrava e gargalhava. Apenas brincávamos e qualquer outra coisa estragaria isso.

“Eu vou lembrar

Então, a gente cansou. Cada um sentou em um balanço, extasiado. Não nos balançamos nem falamos nada e por um segundo tudo que se ouvia era o vento e a nossa respiração. Mas, dessa vez, fui eu que puxei assunto.

–Me sinto tão infinito. –eu falei.

–Eu também. –ela disse, arfando um pouco –Nós somos infinitos.

Daí eu gargalhei. Eu nem sei porque eu o fiz, e nunca tinha feito algo assim antes na minha vida.

–É, somos mesmo. –eu concordei.

–Poderíamos repetir isso. –ela disse, com um ar de proposta –Toda semana, talvez todo dia.

–Repetimos na hora que quisermos –eu disse, me sentindo o melhor possível –Afinal, somos infinitos.

Eu vou lembrar”


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Notas finais do capítulo

Oi de novo. Não, gente, eu não copiei esse de “nós somos infinitos” de As Vantagens de Ser Invisível. É que essa era a melhor frase de todas para expressar o sentimento. Cara, eu nunca me senti tão bem escrevendo, tipo, na MINHA VIDA. Eu já tenho mais ou menos 1 ano de escritora e essa é a primeira vez que me senti assim. Uma sensação ótima na barriga, de realização. Eu realmente usei muito o coração pra esse capítulo. Eu nunca tinha mergulhado tanto em algo, como mergulhei nisso. Acho que eu retratei um pouco no Ulquiorra, ou eu peguei esse sentimento dele mesmo enquanto escrevia.
.Capítulo escrito na minha casa de praia. Os melhores UlquiHimes são escritos todos lá.
.Primeiro capítulo narrado na visão do Ulquiorra. Todos eram do ponto de vista da Inoue. Hoje, a gente deixou ele muito mais humano. Ele não é totalmente frio, mas é controlado.
.Reviews e recomendações muito bem-vindos.
.Música do capítulo: Way She smiles (Forma como ela sorri) do The Rembrandts (a banda da música de abertura do seriado Friends)
. Percy Jackson e Os Olimpianos. Quem já leu? É muito bom, de qualquer jeito. Aconselho a leitura para uma vida melhor.
Bom, por hoje é tudo, pessoal!