Decline escrita por Yumi Saito


Capítulo 39
XXXIV — Atitudes estranhas.


Notas iniciais do capítulo

Capítulo editado. [01/08/2014].



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/273792/chapter/39

P.O.V JANE SLANDER.

Dia da prova final.

Nem preciso dizer que eu estou quase morrendo de tanto nervosismo. Se eu não passar, vou voltar pra Paris com uma baita cara de tacho pra a minha mãe me colocar novamente em um colégio. Repetir o último ano do ensino médio é dose. Eeee, isso não vai acontecer comigo. Porque eu vou passar nesse negócio.

Mentira.

Eu vou repetir.

Tô sentindo.

Se eu ficar mais nervosa que isso, pode ser capaz de eu esquecer de tudo. É melhor eu me acalmar... sair da cama, me vestir, comer e ir ao colégio. Fácil... Tudo bem, eu vou conseguir. Eu vou fazer isso. Eu vou levantar da cama.

E eu o fiz.

Tomei um café reforçado hoje, para não passar fome na metade da prova. Eu sou daquelas pessoas que come e meia hora depois tá chorando de fome. Engordar que é bom, nunca. Como dizem: "Aaaai, você é magra de ruim!".

Fiz o mesmo trajeto de sempre para chegar ao colégio. E cheguei com vinte minutos de antecedência. O corredor estava cheio, saía pessoas pelas paredes, e então eu penso: esses são os indivíduos que matam aula o ano inteiro e só aparecem para fazer a prova final? A resposta certa é sim. Garanto que esses demônios conseguem passar de ano.

Falando em demônio... a Debrah apareceu:

— Estudou bastante?

Aaah, as táticas para matar você? Terminei ontem!

— O suficiente — respondi. — E você?

— Também... — ela sorriu, divertida: — Eu vi como serão as provas.

— Grande coisa.

Eu respondi aquilo, mas quase tive um ataque. Se ela chegar a falar para a diretora que eu "sei" sobre a prova, eu vou reprovar antes mesmo de ter feito a prova.

— Você não vai se prejudicar.

Soltei um riso pelo nariz e a encarei:

— Eu não vou passar de ano trapaceando, Debrah.

— Quem sai perdendo é você.

Ela arqueou a sobrancelha direita, arrumou o cabelo e saiu. Acho que ela tentou rebolar enquanto caminhava, mas parecia estar em um bambolê enquanto caminhava. Quão escrota ela é...

Ela é louca. Bisbilhotar as provas é falta de vergonha na cara. Eu deveria dedurar ela, mas não vou fazer isso porque... eu acho que acabaria me dando mal com ela, então... né.

Quando percebi, restavam dez minutos para o sinal bater. E a diretora havia aparecido. Usava aquele vestido rosa meio estranho, os cabelos estavam um pouco bagunçados, mas ajeitados ao mesmo tempo. Eu acho que ela começou a fazer academia, parece mais magra... E mudou a armação do óculos.

— Pessoal! — ela gritou. Quase morri: — Eu vou chamar todo mundo em ordem! Quero que me obedeçam e se dirijam às suas respectivas salas quando eu falar, tudo bem?

Ninguém deu atenção.

Ela começou a gritar o nome de cada aluno e a turma também. Me aproximei dela e prestei atenção, para que conseguisse o mais rápido possível os dados sobre onde faria minha prova.

Quando ela chamou meu nome, disse que eu teria de ir até a Sala B e me sentar na penúltima carteira perto da janela. Até parece que a velhota lê pensamentos. Gostei do lugar.

Fui até o local.

Sentei-me na carteira apressadamente e entrelacei minhas mãos em cima da mesa. Olhei para o lado procurando por Armin, mas pelo jeito ele não estava na mesma sala que eu. Só...:

— Ei, parece que dei sorte em sentar atrás de você — a voz era de Castiel. Rouca, grossa, melancólica e com um puta hálito de menta no pé do meu ouvido: — Faz a cola pra mim, Slander.

Tô morta.

Se eu não estivesse tão magoada, eu juro que agarrava ele ali mesmo.

— Não — olhei para trás e sorri, aproximando meu rosto dele: — Você não estudou, Tissot?

Ele balançou a cabeça negativamente e cruzou os braços, estufando o peito e endireitando a coluna para trás. Não movi um músculo e controlei a vontade de beijar ele, que era grande demais.

No fim, virei pra frente.

Esperei a diretora chegar, não demorou muito e ela veio, carregando uma pulha de provas. Era uma pilha enorme para apenas trinta alunos... E foi aí que eu percebi que a prova tinha umas mil folhas. Ela deu os avisos breves e disse que não aceitaria a prova um minuto depois do chamado dela.

Ou seja...

Tá todo mundo lascado.

— Parem de me olhar dessa maneira! — ela bradou. — Comecem essa prova logo!

Deu. Todo mundo abaixou a cara na prova e começou a fazer ela em silêncio. E, pelo que eu estudei, não seria tão difícil fazê-la, mas também não seria fácil. Eu só preciso de atenção e concentração.

[...]

Quatros horas depois, eu havia terminado a prova.

Revisei ela pelo menos duas vezes. Depois deixei ela embaixo dos meus cotovelos, enquanto encarava a diretora. Ela piscava lentamente e às vezes matinha seus olhos fechados por alguns segundos. Acho que alguém está com sono...

Então, ela endireitou a coluna rapidamente e limpou a garganta:

— Tempo esgotado — disse. — Entreguem-me imediatamente a prova. Sem minutos de acréscimo. Rápido!

Todo mundo levantou junto, até ela pedir ordem. Então, cada um levantou de uma vez e entregou a prova para ela, enquanto ela desejava boas férias para cada aluno. No fundo ela tava mandando todo mundo pro inferno, eu sei.

Saí da sala satisfeita. Acho que consegui atingir o necessário da prova. Finalmente eu estou livre do colégio, só que... tem vestibular. E eu quero ser médica, pra a infelicidade de todo mundo e a minha também.

Deixando claro que só vou fazer isso porque não tenho outra opção.

Eu vou sentir falta de algumas pessoas. Espero não perder o contato com elas quando eu voltar a morar com a minha mãe. Isso se ela não me matar quando eu chegar lá.

— Menina bonita!

Era Armin. Sorri:

— E aí, gostoso.

— Como foi na prova?

Ele sorriu. Eu morri.

Eu ando muito mente poluída ultimamente... Eu não era assim!

— Acho que consigo passar. E você?

— Tava easy pra mim.

Estreitei meus olhos. Não acreditei:

— Tem certeza?

— Deixei de jogar pra estudar em casa. Sente o orgulho!

Eu ri muito da cara dele.

Em seguida a Íris veio falar com a gente. Ficamos nos falando um pouco, não por muito tempo. Eu já estava cansada, e não era a única. Então decidimos nos despedir e cada um seguir seu caminho... de casa.

Quando estava saindo do colégio, fui repreendida. Armin tinha ido pra casa antes de mim, então só me restou uma opção para suspeitas. Essa mesmo. Quem você está pensando me repreendeu. E eu odeio tanto isso, mas tanto...!

Castiel.

Como eu odeio esse cara.

— O que diabos você quer comigo? — falei.

— Calma, Slander — ele disse, debochado. Castiel estava olhando pra baixo, vulgo pra mim: — Não vai se despedir de mim?

— Quem sabe quando eu estiver prestes a morrer. Quase indo encontrar o querido Satã.

Ele deu um sorriso zombeteiro. Eu odiava esse sorriso, cara, era horrível.

— Por que tanto ódio? — sussurrou.

Estreitei meus olhos, encarando-o:

— Para de sarcasmo, cara. Já passou, e não tem mais graça. Vê se arranja outra pessoa pra enganar, tá?!

Me desviei do seu corpo, que mais parecia um paredão, e saí. Não fui feliz na minha tentativa, porque ele agarrou meu braço fortemente. Castiel e suas manias chatas... Isso me lembra o passado, a maior merda que eu necessito esquecer.

— Fiquei sabendo que vai voltar pra Paris.

Olhei para ele:

— Quem te disse?

— Lysandre — respondeu, soltando meu braço. — Então, almoça comigo?

Eu não acredito que ele tá fazendo joguinho.

— Me sinto física e mentalmente cansada, Castiel. Fica pra a próxima.

Que próxima? Nunca, né! Não ilude o cara!

Ele assentiu positivamente e acenou um tchau. Fiquei observando ele. Castiel parou na calçada e inclinou o rosto pra baixo, juntando os dois braços na direção na boca. Estava acendendo um cigarro.

Antes de atravessar a rua, ele olhou para trás.

Jogou a fumaça na minha direção, um pouco ofuscada pela neblina da manhã.

Girou os calcanhares.

E sumiu.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Tô tentando achar o dia que eu vou terminar de editar isso aqui...