Decline escrita por Yumi Saito


Capítulo 33
XXVIII — Confusão sentimental.


Notas iniciais do capítulo

Capítulo editado. [26/06/2014].



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P.O.V JANE SLANDER.

Três meses.

Três meses se passaram. E nesses malditos três meses eu saí toda semana. Toda semana naquela chuva desgraçada, naquele vento que jogava meu cabelo na cara, naquele céu nublado que eu tanto amei.

Mas por quê eu saí? E qual a necessidade de eu pensar nisso?

Porque eu fui visitar Castiel. E não havia sinais de ele acordar. O médico deixou a entender que seria pouco provável Castiel acordar, mas não impossível. E... de certa forma, eu me senti muito culpada. Se eu tivesse evitado aquela briga, ele não teria sido atropelado. Ele não teria se machucado e entrado em coma.

Merda!

É claro que eu fiquei naquela tristeza de: "O que vai ser de mim? E se Castiel não conseguir sobreviver?" Eu chorei, desidratei, hidratei de novo. Foi um inferno! E quem estava lá para me ajudar?

A resposta não é ninguém.

A resposta é Armin.

Eu não posso negar que passei uma boa parcela de dias na casa dele. Alexy me tratou como se eu fosse da família. Ele até disse que se eu quisesse me casar com Armin e morar na casa dele, eu seria mais do que bem vinda.

É claro que eu corei.

Armin começou a gaguejar que nem um idiota. Então eu me lembrei da tal Jéssica. Ele gostava dela, tava explicado.

Mas eu não deixei de morar com a Íris. Vez ou outra eu ia na casa do Castiel, me deitava no travesseiro seco e limpo e simplesmente molhava-o todo. Às vezes eu mexia em seu guarda-roupa... Não sei se era coisa da minha cabeça, mas eu jurava sentir o perfume dele lá.


E tudo o que eu fazia era pedir socorro para Armin.

Brigamos uma vez por causa disso. Ele não aguentava me ver mais assim, queria me ajudar, mas eu não queria a ajuda dele. "Você vai incomodá-lo, Jane" E no final tudo ficou bem.

Sem falar naquela vez que quase nos beijamos.

Não gosto de lembrar disso...

* * *

Na sala de aula, ninguém prestava a atenção no Faraize, muito menos eu. Eu odiava biologia e fazia questão em não aprender o conteúdo. Ia sempre mal nas provas, mas recuperava a nota nos trabalhos e no comportamento. Eu não fazia nada na sala de aula, não incomodava, não gritava, não conversava... sempre tirei a nota máxima em comportamento.

Exceto em um dia.

— Jane — Íris me chamou. Cocei meus olhos e olhei para ela: — Lysandre e eu estávamos pensando em fazer uma festa de boas vindas para o Castiel. O que você acha?

— Tanto faz.

— Estamos falando sério — ela disse. — Lysandre foi no hospital ante-ontem. E o médico...

— O médico falou que Castiel reagiu e pode acordar — completei a frase. — Já me falou isso, Íris.

— Que mau humor é esse, Jane Slander? — ela perguntou, incrédula.

Armin... Você não consegue perceber.

— Até parece que não me conhece — respondi, simplesmente.

Ele suspirou e deu um sorriso pequenino:

— Tá sendo a maior barra aguentar isso, né?

E ela errou de novo...! Sequer pensou no Armin e nos ataques dele em me beijar!

Espera.

Calma.

Espera.

Não pode ser.

— Jane? — sabe aquela hora em que você escuta a pessoa, mas não consegue respondê-la... entra em um estado totalmente fora dos seus comandos, onde você não tem mais poder sob si mesma? — Jane? Você está aí?

Meus olhos vacilaram e minha respiração aumentou, acelerando mais do que eu poderia controlar.

Como ele pôde fazer isso? Aquele...! Filho da puta!

Ele quer acabar com a minha vida!

— Jane! — ela gritou.

Dessa vez, eu tomei algo semelhante a um choque. Balancei minha cabeça em negativo. Respirei fundo, tentando recuperar o fôlego e, então, olhei para ela. Um pouco impacientemente, digamos:

— O que raios você quer?!

— Eu estou preocupada! — ela gritou de volta. — Droga, Jane! Parecia que você iria morrer. De uma hora pra outra virou mais pálida do que já é. Sua pupila dilatou totalmente e respirava como se o ar dessa sala fosse escasso!

Mordi meu lábio:

— Foi mal... Você sabe como é... a glicose.

— Glicose? — ela debochou. — Tem certeza?

— Sim — menti. — Chocolate, biscoito, achocolatado. Tudo isso de café da manhã. Vai duvidar ainda?

Ela assentiu negativamente. Abriu a palma da mão e sussurrou que já virava para trás novamente. Dei de ombros e continuei quieta no meu canto. Sorte da turma estar fazendo a maior bagunça, assim, o professor não deu muita bola para os meus surtos.

* * *

Última aula.

Durante o intervalo, fiquei fazendo a lista da festa de boas vindas do Castiel. Achei que seria melhor eu tirar Armin da minha cabeça por alguns segundos, ou até minutos. E, eu acabei me rendendo à ideia, que não poderia ser tão estúpida assim.

Mas esse negócio de comemoração porque o cara saiu do hospital é idiota. Na minha opinião.

Não posso fazer nada.

Não tínhamos convite. O convite era mesmo: "Tem festa tal dia, tal hora. Quer ir? Queremos você lá."

No final, a maioria do colégio estava convidado. Íris se encarregou disso. Diz ela que convidou boa parte das pessoas e os mais importantes.

— Ei.

Estreitei meus olhos, olhando pra cima.

Ele.

— Oi — falei, um pouco seca.

— Já terminou a aula — ele riu. Olhei para frente e o professor já se dirigia para a porta: — Não sei se você quer... mas eu consegui um jogo novo... tá afim de ir lá em casa agora?

Balancei a cabeça negativamente.

— Não dá — menti. — Tenho que ajudar a Íris no preparamento da festa que a gente vai fazer pro Castiel. Fica pra outra hora.

— Festa?

Ponderei com o que Armin disse. Após isso, pensei: "Será que a Íris não convidou ele?" Porque... Por que raios ela não convidaria ele? Deve ter esquecido.

— Sim... — respondi. — Vai rolar uma festa quando ele sair do hospital. Se tu quiser ir, vai em frente. Te passo as informações outra hora — peguei minha mochila e levantei: — Eu realmente estou atrasada. Tchau.

Dito isso, eu saí.

Nem preciso falar que eu fiquei mal pra caramba por quase ter passado por cima de Armin.

Se ele não tivesse feito aquelas coisas, nossa amizade não teria ido por água abaixo. Eu continuaria indo para a casa dele. Continuaria abraçando-o sem segundas intenções. Beijando-lhe a bochecha sem indicar que gostava dele. E...

Droga.

Parei totalmente de caminhar. Girei meus calcanhares e corri para o corredor do colégio novamente.

Armin não se encontrava no corredor. Então eu decidi voltar para a sala, onde acertei em cheio. Ele estava sentado numa carteira, cabisbaixo, em silêncio.

Eu senti um aperto ao ver aquela cena. Entrei sorrateiramente na sala de aula. Ele me escutou, então, tratou de logo tirar a mão do rosto e me encarar. Ajeitou a coluna na cadeira e fingiu que nada tinha acontecido com ele.

— Ei, cara... — o chamei. — Você poderia se levantar por alguns segundos?

Ele arqueou a sobrancelha direita, mas não protestou. Levantou e ficou parado.

Aproximei-me rapidamente e o abracei forte. Como se nunca mais pudesse soltá-lo:

— Me desculpa...

Eu simplesmente não posso fazer com que Armin arranque esse sentimento que tem por mim. Infelizmente não posso.


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