Decline escrita por Yumi Saito


Capítulo 31
XXVI — Tormento.


Notas iniciais do capítulo

Capítulo editado, depois de anos. [05/05/2014].



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P.O.V JANE SLANDER.

Ontem à noite, fiquei com Íris, conversando sobre muitas coisas. Fizemos uma maratona de filmes de terror e caímos no sono no sofá, abraçadas. Acordamos às seis da manhã, com dores nas costas. Eu não aguentei, voltei a dormir, só que na cama.

Uma hora depois, a Íris saiu para o parque caminhar com o Lysandre. E eu fiquei dormindo. Não tem nada melhor do que dormir em pleno sábado.

Algumas horas depois, alguém tocou freneticamente a campainha. Eu olhei para o relógio e vi que era dez horas da manhã. Arrastei-me da cama e fui cambaleando até a porta para abrir.

— Quem é? — perguntei.

Correção: quem é o infeliz?

— Armin! — ele gritou, do outro lado da porta. — Não consigo mais dormir.

Revirei os olhos, rindo.

— Já vai! — gritei.

Antes de abrir, dei meia volta e corri para o banheiro. Me olhei no espelho, estava parecendo um zumbi, ou qualquer idiotice como essa. Não sabia que algumas horas de sono me deixavam assim.

Penteei meus cabelos e escovei meus dentes.

Corri novamente para a porta, abrindo ela em seguida:

— Oi — bocejei.

— Bom dia! — ele disse, animado. — Desculpa te acordar. Posso vir mais tarde.

— Agora que você veio, fica. Esperto! — ironizei.

— Essas mulheres — ele riu, entrando. — Tudo cavala.

— O que você disse, projeto de travesti? Nunca mais diga isso novamente — bradei. — Agora eu quero comer alguma coisa, melhor me acompanhar, se não quiser ser perfurado pela minha hidden blade.

— Você não tem uma hidden blade.

— Ah — falei, coçando o queixo. — Mas eu tenho uma faca.

— Ok — ele estreitou os olhos.

Armin entrou. Caminhei ao seu lado e fomos até a cozinha. De lá, peguei minha caixa de cereal radical e coloquei na mesa. Joguei uma tigela também e leite. Fiz meu café da manhã super caprichado, enquanto Armin ria do meu mau humor e do meu sono.

— Vai querer esse diabo também ou não? — perguntei.

— Não, eu já comi — ele riu.

Dei de ombros e guardei o leite na geladeira.

Sentei na minha cadeira e comecei a comer meu cereal. Eu estava me sentindo bem, mas a risada de Armin não me deixava bem. Engoli todo o cereal, ele desceu arrastando pela minha garganta, feito um uísque. O encarei com uma cara mais podre do que não sei o quê:

— O que é agora?

— Porquinha — ele disse para mim. — Não sabe comer direito?

— Ah, vai se catar — falei, mastigando: — Tu deve comer que nem um boiola. Seu chato.

— Amo você também, Slander.

— Fale por você — cortei-o.

Depois disso um silêncio foi feito. Ele não mostrou emoção, mas eu sabia que deveria estar bravo comigo. Eu não queria me render tão fácil e pedir desculpas... Mas quando se trata de Armin, eu me obrigo a desculpar-me com ele. É algo mais forte que eu. Armin é um cara gente boa, meu melhor amigo. E eu não consigo ficar nem cinco minutos brigada com ele.

— Armin... — chamei-o. Ele me ignorou. — Te amo, sua prostituta.

— Agora sim — ele sorriu, feito um safado. — Vamos jogar!

— Eu estou comendo, cara!

— Ah, mas...

— Eu estou comendo, cara!

— Tá — ele colocou a mão no queixo e me esperou. Enquanto isso, batucava algumas vezes o dedo indicador na mesa. — Britney Spears arrasa!

— Vou arrasar sua cara no asfalto, se repetir isso — sorri, com a boca cheia de cereal. — Ai, que vontade de arrotar.

— Mas mastiga direito antes de falar!

Fiquei quieta e continuei comendo meu cereal.

Antes de irmos jogar, tivemos que passar num bazar. Eu precisava comprar um despertador, porque quebrei o meu "acidentalmente" jogando-o na parede. Sério mesmo, ninguém merece acordar todo dia para ir no colégio.

E eu canso!

Aquele despertador é o maior filho da mãe!

"Você é dramática"

Cala a boca, consciência.

Eu paguei quinze euros no meu novo despertador. Ele era azul e, por dentro, branco com os números romanos. Era um despertador bem antigo. Os ponteiros eram dois palitos com uma flecha na ponta. E na portinha de colocar as pilhas, tinha o desenho do Mickey Mouse nele.

Era um despertador muito legal, eu gostei.

Mickey é muito lindinho.

Mentira.

E como a vida não é rosas, eu e Armin passamos em frente a delegacia. Eu simplesmente prendi meus olhos naquele lugar. Só de imaginar que Ambre e Vicktor estavam presos, e que poderiam, quando saíssem, fazer o demônio comigo. Bom, eu tenho tempo para sair e construir minha vida em outro lugar, ao lado de alguma pessoa...

Tipo o Castiel.

Merda!

Eu sinto muita falta dele, embora não demonstre isso. Toda a noite, eu me lembro dele, e a vontade de chorar vem mil vezes pior.

Eu odeio minha vida.

Voltamos para a casa em silêncio. Enquanto Armin instalava o videogame, eu fazia um brigadeiro de panela para a gente. Eu sou magra de ruim, porque não paro um segundo de comer. Depois disso, eu voltei para a sala, onde ele já estava ligando o aparelho.

A delegacia não saiu da minha cabeça por um segundo sequer. Eu cheguei a conseguir morrer jogando Assassin's Creed II. Na verdade, eu tinha empurrado um guarda e ele começou a correr atrás de mim. Beleza, eu me distraí com meus pensamentos e nem percebi que o cara estava metendo a espada em mim.

Não foi legal.

Depois disso eu dessincronizei.

— Cara... — falei. Armin olhou para mim na hora, esperando que eu falasse. Vi a burrada que fiz, e que não teria coragem de continuar: — Nada.

— Aconteceu alguma coisa, Slander?

— Não, nada... Sério.

— Você deixou um guarda te matar... Tem algo de errado contigo. O que é?

— Eu... — apertei meu lábio. — Só sinto falta do Castiel. É isso.

— Se você quiser, podemos ir visitá-lo.

Ponderei.

Balancei minha cabeça negativamente e joguei o controle para meu lado esquerdo. Coloquei minhas mãos em meu rosto e suspirei fundo. Eu não queria visitar Castiel... A delegacia só me chamava para que eu fosse lá.

Mas eu não quero ir a lugar algum!

Olhei para a televisão. Encarei o aparelho por uns trinta segundos, até formar algo concreto na minha mente. Então, decidi que iríamos ao hospital, para ver se eu tirava a ideia maluca de pisar naquele lugar.

— Vamos visitar ele... faz alguns dias que não vejo Castiel.

— Por quê?

— Isso se chama medo, Armin.

Ele entreabriu a boca e piscou lentamente. Se levantou rapidamente e me estendeu a mão. Aceitei, com um impulso, já estava de pé.

A ida para o hospital rendeu dez minutos silenciosos. Entramos no hospital e eu logo pedi para ir visitar Castiel, mesmo que não estava no horário de visitas dele. A mulher me liberou, mas disse que isso não poderia se repetir novamente.

O quadro de Castiel continuava o mesmo. Não havia mudado nada, e nem pistas sobre ele acordar em um futuro próximo.

— Ei, cara — falei, acariciando seus cabelos ruivos: — Você vai sair dessa... eu prometo. Castiel, eu vou te esperar, independendo do tempo que passar aí. Não esquece de mim, cara... Eu te amo muito.

E foi aí que eu percebi estar soltando algumas lágrimas que se formaram em um choro barulhento. Senti os braços de Armin me envolverem e me levarem para o final do quarto. Em rumo para longe do hospital.

"Você vai ficar bem" ele sussurrou para mim.

Mas eu não tinha certeza daquilo.


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