Decline escrita por Yumi Saito


Capítulo 25
XX — Pesadelo. |Parte III|.


Notas iniciais do capítulo

Capítulo editado. [10/04/2014].



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P.O.V CASTIEL.

Abri lentamento meus olhos e vi que não estava em minha cama. Eu estava sentado no sofá da casa de Íris. Jane estava dormindo em minhas pernas. Agora sei porque elas estão pesadas. Ajeitei minha coluna de uma forma para não acordar ela. Tentei olhar para o relógio, mas era impossível. Afaguei seus cabelos e puxei meu celular. Seis e vinte da manhã. Mil vezes merda.

Era cedo pra caramba, e eu não queria ficar sentado sem sentir minhas pernas. Decidi apelar:

— Acorda — falei, descabelando-a: — É sério, eu não sinto minhas pernas!

Consegui ver ela mexer a cabeça. Abriu os olhos e fitou o teto por uns dois segundos. Após isso, olhou para mim e assustou-se, levantando de imediato.

— Foi mal... — ela disse. — Eu... Dane-se. Estou com frio.

Olhei bem para ela, tentando lembrar de alguma coisa, pois eu sabia que estava esquecendo de algo... Então me dei conta que hoje é o aniversário dela. Abri um singelo sorriso e me aproximei vagarosamente.

— Antes de pegar um casaco — comecei: — Eu poderia te dar um abraço de feliz aniversário?

— Você lembrou — ela sorriu largamente, indo me abraçar. — Obrigada, Castiel.

Fiquei em silêncio, apenas curtindo o abraço dela... Era uma menina tão pequenina e com braços delicados. Jane era uma criança.

E eu odeio crianças.

Ela é uma criança de dezoito anos que reprovou no segundo ano do ensino médio. Olha que maravilha. É... mas eu também reprovei.

Arrumamos nossas coisas para irmos ao colégio. Íris estava dormindo no quarto dela, então tratamos de sermos cautelosos, mas a idiota acordou do mesmo jeito. Pediu que a esperássemos, para que fossemos juntos ao colégio. Eu nunca gostei da Íris, não sei como o Lysandre suporta aquela criatura.

Quando chegamos, Alexy veio correndo abraçá-la. Foi tão forte que acabou caindo e levando Jane junto. Não gostei daquilo, mas fiquei quieto. Até Alexy resmungar... aquilo foi hilário.

— Isso não tem graça! — falaram os dois, em coro.

— Pra vocês, né — a essa hora eu já estava sério novamente.

Alexy juntou as sobrancelhas e puxou Jane pelo pulso. Consegui ouvir que ele iria levá-la até Armin.

Jane e Armin tem uma aproximação muito... sei lá. Às vezes ela deixa de ficar comigo pra ir jogar com aquele menino. Isso é inadmissível, por isso eu estou tentando achar um jeito de cortar as asinhas dela com ele.

Até onde eu sei, eu sou o namorado dela. E Armin não.

* * *

P.O.V JANE SLANDER.

Alexy me puxou pelo pulso e eu nem pude me despedir dele. Ele me puxava tão rápido que eu batia nas pessoas pelo caminho, e também não tinha tempo para dizer-lhes desculpe-me! E finalmente chegamos na sala de biologia, onde Armin estava sentado, sem ninguém por perto, concentrado em um jogo. Meu garoto.

Alexy pigarreou, Armin olhou na hora para a gente. Sorriu de orelha a orelha e saiu da carteira. Veio em minha direção e me abraçou como se eu fosse algo fofo... como se eu fosse um urso. Me senti sufocada.

— Socorro, cacete! — murmurei.

— Parabéns, sua fedorenta! Muitos anos de vida, ou não... você que escolhe. Muitos jogos e muito rock na sua vida.

— É... tá — respondi.

Meu Deus, Slander! Fiquei uns quinze minutos pensando no que dizer, e você me diz "tá."? Vai se catar, nunca mais fale comigo.

Eu dei risada, e agradeci cordialmente.

Depois disto, ficamos conversando sobre coisas aleatórias. Alexy disse que Leigh havia conseguido ceder o porão da loja dele para fazermos a festa lá. No princípio, eu não achei necessário... pensei que amigos, pizza e filmes já estava de bom tamanho. Mas Alexy acabou me dizendo que planejavam essa festa há algumas semanas.

Decidi não quebrar a barra e permitir a festa.

Ela vai ser hoje à noite. Alexy e Íris irão me arrumar, não sei por quê... Eu não vou fazer quinze anos!

As aulas se passaram rapidamente, o que me surpreendeu até certo ponto. Quando o sinal tocou para todos irem embora, arrumei o pessoal para almoçar na casa de Íris. Armin, Alexy e Castiel foram junto. Percebi que o ruivão não curtia muito o Alexy... mas tentei manter uma boa relação entre eles dois.

De almoço, pedimos uma pizza gigante com três sabores. Ela chegou trinta e quatro minutos depois. Tomamos um refrigerante e fizemos competição de arroto, Castiel ganhou. Armin em segundo e eu em terceiro. Eu sou uma profissional nisso.

Íris e Alexy: "uui, que nojento!"

Uma hora depois, Castiel foi pra casa. Antes de ir, Armin perguntou se eles iriam começar a me arrumar agora, assentiram positivamente... assim, o moreno também foi. Me abraçou e disse que me veria de noite. Falei o mesmo.

— Vamos começar a arrumar esse seu cabelo! — Alexy disse.

— Não está muito cedo ainda?

— Ah, claro que não!

Olhei para o relógio, ele indicava três da tarde. Era óbvio! Estava cedo, muito cedo! Mas como discutir com dois contra mim? É.

— Sério... Nós podemos assistir um filme, e depois começar a me arrumar!

— Ahh, tá! — Íris disse. — O que podemos assistir?

— Não sei... Vamos ver o que tem de bom na Netflix. — Alexy sugeriu.

— O que diabos é Netflix? — perguntei.

Não sei por quê, mas eles começaram a rir da minha cara. Agora eu pergunto: eu tenho obrigação de saber o que é isso? Sério, vão se ferrar.

— Vem aqui, vou te mostrar.

Segui Alexy.

Sentamos no sofá e ele colocou no tal negócio. Acabei entendendo que era um espaço para assistir filmes e séries de televisão, pagando um preço bem generoso por mês. Se eu soubesse disto antes, já teria assinado.

— Cara... para!

Ele parou na hora, me perguntando o que foi.

— Olha ali... Twin Peaks! Pelo amor de sei lá quem, coloca nessa série. Eu estava fazendo macumba pra conseguir assistir ela em algum lugar. Vamos assistir ela, por favor!

— Tudo bem... Não seria sobre a tal da Laura Palmer que virou uma drogada viciada em sexo?

— É.

Ele soltou uma risadinha. Eu já tinha assistido o episódio um, mas assisti mais uma vez porque Alexy se sentiria perdido sem esse episódio. Realmente é verdade.

Ele se prendeu em poucos minutos na série, quase vomitou quando viu a Laura Palmer embalada em um saco... Não vou dar spoiler aqui. Mas foi fantástico! E depois o Cooper, agente do FBI, enfiou uma pinça na carne da unha dela. Aquilo foi fantástico também, menos pra Alexy.

Íris apareceu na sala, um pouco atormentada.

— O que aconteceu?

— Eu esqueci de buscar o bolo na confeitaria! — ela disse.

— Não precisa ter bolo — falei. — Ou você já pagou ele?

— Já paguei... Temos que ir buscá-lo agora.

— Ah, Íris — Alexy disse. — Não dá agora. Quando estivermos indo para a festa, buscamos ele... o bolo vai estar mais bonitinho.

Ela ponderou, mas no fim assentiu positivamente, se juntando a nós no sofá.

Depois de duas horas começamos a nos arrumar. Era para ter ido uma hora antes, mas a série era realmente boa.

Sabe o que é boa? Boa pra caramba?

Então.

Fomos para o quarto e começamos a jornada extremamente chata para mim: ficar sentada, sem poder se mexer, porque tem gente pintando a sua unha e a sua cara. Depois vem o cabelo... Nããão!

* * *

P.O.V AMBRE TURNER.

Estava tudo pronto. Tinha conseguido uma aliança com Vicktor, ele me ajudaria a colocar Jane no lugar dela. Eu fiquei sabendo que ela vai fazer uma festa hoje, iria ser legal aparecer... Mas eu vou arrastar ela pra a floresta. E o resto eu improviso. Eu quero que Castiel presencie tudo, e se ele chegar a me fazer alguma coisa, eu boto aquele garoto no inferno.

Literalmente.

No.

Inferno.

Tudo bem, eu preciso da minha amiga branca para me acalmar... eu preciso de três carreiras. Preciso sentir a droga correndo pelas minhas veias. Eu estou no fundo do poço.

P.O.V JANE SLANDER.

Saí do banheiro e corri para o quarto colocar um vestido largo, para que fosse fácil tirar depois... então, eu iria colocar o vestido da festa. Ele era bonitinho... azul-marinho que ia até o final de minhas coxas. Era rodado e tinha alcinhas como apoio. Havia um laço na cintura... bem meigo.

Alexy começou a dar os últimos retoques no meu cabelo. Eu poderia dormir enquanto ele fazia isso.

Depois de uma hora tudo estava pronto. Estava simples, mas lindo.

— Cara, ficou demais — falei. — Valeu.

— Que bom que gostou — ele sorriu. — Agora temos que ir!

Tivemos que acelerar um pouquinho, porque já era sete horas da noite. Saímos da casa de Íris e fomos apé mesmo. Já estava escuro, na primavera sempre escurece mais cedo, como o inverno também. Andamos rápido, porque as luzes da cidade não eram boas o bastante.

Alexy começou a brincar conosco, para distrairmos a tensão que havia entre nós. Acho que não era o forte de ninguém sair à noite e ter a impressão que estamos sendo seguidas. Então, Alexy fez uma cara estranha, caminhou mais rápido que a gente.

— Alexy!

— O quê? — ele sussurrou.

— O que está acontecendo?

— Apenas me responda: — ele disse. — temos chances de sermos assaltados ou sequestrados dentro de uma confeitaria?

Engoli em seco. Íris e eu olhamos para trás como se fosse uma necessidade. E lá vimos dois homens andando sem importância de serem percebidos. Não demoramos muito a caminhar praticamente correndo.

Entramos na confeitaria e ficamos um tempo lá, esperando que eles aparecessem. Quando apareceram, bem em frente a porta, Íris se abaixou e começou a murmurar que não queria morrer. Revirei os olhos e fui para a bancada buscar o bolo, como se nada estivesse acontecendo.

E eles continuavam lá...

— Como a gente vai sair daqui? — Alexy perguntou.

— Não sei... — ele disse, tremendo. — V-Vou ligar para o Castiel.

Assenti positivamente.

Subitamente, os homens desapareceram. Alexy já tinha ligado para Castiel e ele já estava chegando.

— Talvez não fosse nada...

Os dois deram de ombros.

Esperamos Castiel chegar, para que pudéssemos ir à festa.

Quando ele chegou, Alexy pegou o bolo e nós saímos da confeitaria. Não havia sinal de homem nenhum. A rua estava deserta, não passava nenhum carro lá. Então, começamos a caminhar em direção a festa, que não era muito longo o período. A caminhada era de dez minutos.

Tinha um porém, naquela história.

A última coisa que vi foi Castiel gritar alguma coisa.

* * *

Abri lentamente meus olhos e senti algo segurar minhas mãos. Olhei para os lados e era uma corda. Eu estava amarrada em uma árvore. Qual o sentido disto? Minha cabeça latejava pra caramba e eu não sabia o que fazer.

— Socorro! — gritei. Parecia uma retardada.

— Ei! — alguém me chamou, reconheci a voz. — Na sua direita!

Olhei para a minha direita e me deparei com Íris e Castiel também presos. Senti falta de Alexy, pois ele não estava ali. Perguntei onde ele estava, me falaram que Alexy conseguiu fugir...

Agora como, ninguém sabe.

Em seguida, uma garota aparentemente toda estragada, com olheiras, roupas sujas e fedendo à maconha veio ao nosso encontro. Apenas dois minutos depois de ela nos encarar eu pude perceber que aquela menina era Ambre. Eu fiquei tão chocada com o estado dela, que tive de receber um tapa dela para acordar.

— Como se sente presa? — perguntou ela. — Eu fiquei mais ou menos assim... por causa de você, Slander.

Engoli em seco.

— Largue-me! Eu vou chamar a polícia e você vai voltar pro ligar de onde nunca deveria ter saído!

Ela riu.

— Vai ligar como? Não sei se você tem um terceiro braço para isso.

— Solta a gente, Ambre! — Castiel gritou. — Para de ser infantil, sua idiota!

— Eu espero que essas sejam suas últimas palavras, Castiel... — ela disse. — Você me tratou tanto tempo como um lixo, que a minha única vontade é matar você aqui. Na frente de todos.

Ele ficou em silêncio. Íris, então, começou a chorar e dizer que não tinha nada a ver com aquilo. Ambre caminhou até ela, apertou-lhe o queixo e mandou-a parar de chorar, senão iria sofrer por alguma coisa.

Tentei ficar calma, tentei usar meu sarcasmo, mas tudo o que eu recebia era uma chuva de remorso e de tapas na cara. Até eu ser solta...

Ambre me desamarrou, sem me dizer o porquê daquilo. Ela disse para que eu lhe entregasse todos os meus pertences. Eu tinha apenas meu celular comigo. Então pensei.

Neguei que havia algo comigo, ela não revidou, me colocou ao seu lado. Com isso, coloquei meu celular atrás das minhas costas e disquei o número da polícia. Eu ouvi um "alô?" bem baixinho... então provoquei Ambre.

— Você é muito idiota mesmo... Me sequestrou para que pudesse me largar depois. E se eu correr?

— Se você correr, morre! — ela gritou. — Pega a merda dessa pistola, agora! E se você não pegar, quem mete bala em você sou eu.

Desliguei o telefone.

Ambre parou, subitamente. Viu que eu segurava um sorriso zombeteiro e Castiel também. Ela olhou para trás, nas minhas costas e viu que eu segurava o celular. Ambre arregalou os olhos, pegou-me pelos cabelos e tomou o celular de mim.

— A guerra está perdida... A polícia vai rastrear o número e nos achar aqui. É melhor se render — zombei.

— Se acha muito esperta, não é? — ela falou. — Mas não cogitou a possibilidade que eu posso atirar em você e fugir aqui mesmo com seus amiguinhos presos.

Merda.

Quando me dei conta, Ambre sacou um revólver. Apontou para mim, mas não atirou. Recuei alguns passos para trás. Castiel gritou meu nome, arregalei meus olhos. Então era aquilo.

Então, eu fui atingida.

Caí de joelhos no chão, até minhas costas se baterem contra a grama. Puxava o ar pela boca, como se fosse sobreviver. Escutei alguns passos, minha visão estava se embaçando. Escutava alguns zunidos pelo meu ouvido.

— Ela está fugindo!


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Notas finais do capítulo

No céu tem pão?????????