Decline escrita por Yumi Saito


Capítulo 17
XV — Ódio.


Notas iniciais do capítulo

Capítulo editado. [24/03/2014].



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Acordei exatamente às seis horas da manhã. Fiz minha higiene, tentando poupar o barulho que a água causava, e de quebra, ela estava terrivelmente gelada. Voltei para o quarto e fitei Castiel por um tempo... Parecia um cara tão ingênuo dormindo.

— Veterano... — sussurrei, afagando-lhe os cabelos. — Acorda.

Ele abriu lentamente os olhos, bocejou e rolou as orbes acizentadas em minha direção.

— Que horas são...? — perguntou, em um fio de voz.

— Seis e dez da manhã.

Tá louco! — ele quase gritou. — Tá de madrugada. Tchau.

Castiel se virou para o outro lado, cobrindo a cabeça com o cobertor. Não demorou muito e eu consegui acompanhar a sua respiração pesada, deveria ter dormido como uma pedra. Suspirei fundo e entrei na cama, cobrindo-me também.

Eu nunca deveria ter saído dessa cama.

Acabei pegando no sono, por cansaço. Acordei novamente quando era seis e meia, pura sorte não ter dormido tanto. Levantei-me e coloquei uma roupa demasiado quente.

Caminhei sorrateiramente até a cama e puxei as cobertas da cama de Castiel, jogando-as no chão.

— Agora tu acorda, ruivo.

— Vai se ferrar — ele murmurou, levantando. — Bom dia.

Minha mãe, a bipolaridade pega fogo nesse cara.

Soltei um sorriso meio falso e saí do quarto, dando liberdade para que ele se vestisse. Caminhei até a cozinha e coloquei algumas coisas na mesa, para tomar café. Eu sempre me alimentei apressadamente nesse horário da manhã, mas meu estômago, hoje, implorou para que eu engolisse meio quilo de comida.

Tomei um café quente pra caramba, esperando que a donzela aparecesse.

E apareceu, com os cabelos mais bagunçados que a minha vida.

Após dez minutos, fomos para a sala e esperamos até as sete da manhã. Quando deu esse horário, caminhamos em direção ao colégio. Estava muito frio, e a minha roupa não bastou para eu me esquentar.

Quando cheguei, consegui enxergar Ambre no final do corredor. Eu mal me lembrava dela... E aquela bruxa já voltou da suspensão...

Tentei passar reto, mas a desgraça se enfiou na nossa frente:

— A novata não tinha ido embora, Castiel?

— Conjugou bem o verbo. Tinha. Passado. — ele respondeu. — Agora saia, está no meu caminho.

Ela ficou séria. Me encarou por um tempo e soltou um sorriso... malicioso. Eu censuraria aquela merda se formando em seus lábios.

— O que vocês dois tem juntos?

Ah. Vai. Se. Foder.

Não respondi. Abaixei a cabeça e esperei que Castiel carregasse o problema dele e o meu. Senti uma pontada de culpa, mas eu não tinha cara pra falar aquilo. Eu não tinha a cara de pau em dizer o que eu tinha com Castiel.

Afinal, tínhamos alguma coisa?

Ele não respondeu, me puxou fortemente pelo braço, levando-me para o pátio. Não havia nada para fazer ali, e então eu lembrei da diretora. Não disse nada para ele, corri para a sala dela.

— Srta. Slander? — ela se surpreendeu, quando abri a porta. Não tinha saído do colégio?

— Eu voltei, para saber quem sumiu com meus arquivos. E se me permitir, eu posso continuar estudando aqui, até eu voltar para Paris.

— Correto! — ela disse. — Você ainda pertence ao nosso colégio. Já contratamos pessoas para descobrirem o paradeiro de seus arquivos. Creio que não demore muito.

Que vacilo. Vou eu esconder bem meus arquivos.

Quando saí da porta, Castiel estava lá, escorado na parede. Acreditava eu, ele estar me esperando. Não errei, ele sorriu quando olhou para mim. Retribuí, um pouco triste... Eu não sei se deveria ter ficado feliz pela atitude dele com Ambre, ou não.

Ele ficou quieto, saiu de lá como se estivesse fugindo.

* * *

P.O.V AMBRE.

Tudo bem, eu estava literalmente quebrada.

Eu não admitia o fato da novata ter chegado e conseguido um lugar na vida de Castiel. E eu... Eu dava a minha vida por ele, cresci com ele... E o que eu ganho? Nada. Absolutamente nada. Como pode ser justo um intruso conseguir ganhar o jogo antes de mim? Que estava há anos tentando ter um espaço na vida dele.

E que as brincadeiras de mau gosto comecem. Jane não vai muito longe. Não vai mesmo.

— Li.

— Sim, Ambre. Me chamou?

— Não! — ironizei. — Diga-me um garoto que gosta da Jane.

— Nenhum. Ou o Castiel...

— Tudo bem... — sussurrei. — Vai ser mais difícil do que pensei. Arranje alguém, Li. Faça essa pessoa agarrar Jane na frente de Castiel, sei lá. Eu só quero vê-lo com raiva.

— Ehm, tudo bem.

— Agora vai.

Li foi procurando algumas pessoas que achassem a garota interessante. E, para a minha infelicidade — e felicidade também —, não havia ninguém. Afinal, quem iria se importar com uma anã de jardim loira, de olhos perfeitamente azuis e... e que toca muito bem piano e guitarra? Ela também desenha.

Talvez Castiel tenha motivos em gostar dela.

Eu observei a oriental procurando por alguém, até ela prender os olhos em um garoto de cabelos pretos. Usava um piercing na orelha. Trajava uma camiseta amarela e um casaco preto social por cima. Usava um jeans e um all star. Era bonitinho...

Aproximei-me para escutar a conversa.

— Olá — disse a oriental. — Chamo-me Li, e você?

— Vicktor.

Prazer, Vicktor! Creio nunca ter te visto por aqui...

— Sou do turno da noite — respondeu, desinteressado nela. — Vim apenas para fazer uma prova e recuperar a matéria perdida.

— Poderia me ajudar com uma coisinha? Te dou uma boa grana em agradecimento.

O cara, de repente, se desencostou da parede e sorriu:

— Fala aí qual é.

Ah, esse é dos meus.

Preciso que agarre uma menina... Normal, coisa rápida. Só isso.

— Que idiotice — ele zombou. — Quanto tu paga?

— Cinquenta euros... Isso, ou nada.

Ele ponderou um pouco, ainda com um sorriso malicioso estampado nos lábios. Eu, por dentro, estava torcendo para que ele aceitasse. Seria apenas uma maneira de me consolar.. Ver a desgraça dos outros, de certa forma, me acalmava. Talvez porque eu tenha nascido para praticar o mal.

— Diz aonde tá a garota.

Sorri largamente. Li puxou ele pelo pulso e foi para o pátio. Antes de tudo, ela o parou e, singelamente, entregou o dinheiro para o menino. Ele pegou e enfiou no bolso. Segui os passos dos dois, camuflei-me em um bolo de gente e comecei a observá-los.

A oriental indicou Jane e ele caminhou até ela.

Vicktor chegou calmamente, analisou Castiel com uma cara de deboche. Feito isso, foi para trás de Jane, pôs suas mãos na cintura dela e a puxou para perto de seu corpo. Beijou o pescoço da menina, sem muito êxito, pois ela se debatia feito uma louca.

Eu amei esse cara.

Castiel foi para cima, xingando-o de todos os nomes possíveis.

— Cara! — Vicktor gritou, debochando. Esquivava-se facilmente dos ataques de Castiel. — Não se estressa com vadia!

O pátio ficou silencioso de uma hora para a outra. Todos os olhos se voltavam para Vicktor, que estava tranquilo. E também para Castiel, que soltava fumaças pelo alto da cabeça. Sorri novamente.

— O que quer dizer com isso, filho da mãe? — gritou o ruivo.

— Eu te esclareci, cara... — Vicktor respondeu, calmo. — Parte pra outra. Essa daí não vale nada.

Alguns murmúrios foram feitos ao redor deles. Castiel recuou para trás, olhando duramente para a novata:

— O que ele quer dizer com isso, Slander?

— Eu não sei! — ela respondeu. Pobre coitada. — Eu não conheço esse cara... Nunca o vi antes.

— Não vale nada e é mentirosa — Vicktor deu a cartada final. — Eu me retiro. Se entendam vocês aí.

Ele andou formalmente para fora do pátio. Atravessou o corredor, atraindo muitos olhares. Pôs suas mãos no bolso e saiu, definitivamente, do colégio. Voltei a mirar Castiel, que estava com as mãos no rosto, sentado no banco. Jane estava calada, ao lado dele.

E o público já fingia que os dois não existiam. Saí da roda e me infiltrei em outra, agora perto deles:

— Você acha mesmo verdade aquilo? — ela sussurrou, mas queria gritar: — Primeiro ele vem me agarrando, depois diz que eu não presto! Para de ser ingênuo! Eu nunca vi aquele cara na minha vida. Eu nunca morei aqui!

Soltei uma singela risada, colocando uma madeixa de meu cabelo atrás da orelha. Olhei para o lado e concentrei minha audição neles:

— Eu preciso pensar.

Castiel saiu de lá, deixando a novata sozinha. Lembrei-me de quando ele descobriu que Debrah havia traído ele com Nathaniel. Eu amei aquele dia... Amei demais.

Saí da roda e segui Castiel. Fiquei em uma distância generosa dele... Observei o garoto encostar as costas na parede e pegar seu fone de ouvido. Esperei que ele ficasse cabisbaixo, então, passei por ele. De cabeça erguida, sem fitá-lo:

— Corno.


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