Decline escrita por Yumi Saito


Capítulo 12
X — Ferimentos.


Notas iniciais do capítulo

Capítulo editado. [17/03/2014].



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Passou-se alguns dias, e minha mãe estava em viagem ainda. Me ligou todos os dias, preocupada, perguntando como eu estava. Perguntando se eu estava lavando a louça, a minha roupa, se eu estava me alimentando bem. Respondi a todas as suas perguntas, que eram sempre as mesmas e exigiam das mesmas respostas.

Quando cheguei ao colégio, deparei-me com um bolo de gente formando uma roda. Ambas gritavam "briga, briga!". E como eu adoro um barraco, fui até lá ver o que estava acontecendo.

Empurrei algumas pessoas para poder entrar na roda, fiquei espremida, mas consegui ver boa porção... Da imagem de Castiel brigando com um outro aluno que eu não conhecia. Era loiro e tinha pele morena, tinha algumas tatuagens pelo braço.

Era preciso dizer quem estava ganhando a briga? O carinha que eu não conheço. Ele desferia cada soco em Castiel que eu tinha pena de vê-lo naquele estado deplorável. Sua boca estava sangrando e boa parte do rosto roxo. Não conseguiria aguentar por muito tempo.

E então, a diretora apareceu, desfazendo toda a roda e mandando todo mundo circular. Ela pegou o tal menino pelo braço e o chamou de doente e mais algumas coisas. Gritou até perder a voz com ele. Deixou Castiel atirado no chão, sem chamá-lo também.

— Cara, 'cê tá horrível. — falei.

— Cala a. Porra. Da sua. Boca — ele vociferou, passando as costas da mão no sangue. — Inferno.

— Ui, não fica exaltadinho, não! — ironizei, maais um pouquinho: — Vem comigo, vou dar um trato nesse seu rosto.

— Não preciso da sua ajuda.

— Ih, não vem bancar o infantil pra cima de mim — estendi minha mão. — Vamos, vou te levar pra o ginásio.

Ele bufou alto e assentiu positivamente, meio relutante. Puxou sua mão na minha, pisei em seu pé para que eu não escorregasse e caísse em cima dele. Castiel não reclamou, cambaleou para cima de mim e, com um braço, se apoiava em mim. E com o outro, limpava o sangue dos ferimentos.

Chegamos até o ginásio. Tirei meu casaco e dobrei ele uma vez, passei de leve no rosto de Castiel:

— Ai.

Shh — falei, enquanto tirava o sangue. — Vai me dizer o porquê de ter apanhado feio?

— Quando você parar de debochar de mim, eu posso até pensar no seu caso.

Fiquei quieta por um tempo, tentando arranjar forças para não zombar dele. Cara, o Castiel tava zoado demais com aquele rosto colorido. Roxo, vermelho e um pouco de verde. Era maravilhoso ver aquilo, quando se está com raiva da pessoa, é claro!

— Pode falar...

— Não foi nada demais, na verdade... — Castiel murmurou, observando o casaco. — Eu e Dake nunca nos demos bem, então, quando aparece qualquer coisinha que nos irrita... A gente explode. Só que dessa vez... né.

— Entendi.

Ficamos minutos infernais em silêncio. Continuei estancando, mas o fluxo pequeno continuava saindo. Tentei arrastar o casaco na pele, mas Castiel soltou um gemido de desaprovação. Segurei o riso e continuei:

— Vamos para a aula.

— Nem ferrando! — ele recuou. — Vão tirar muito com a minha cara, já que nas outras vezes eu batia no Dake.

Então é esse o nome dele... Dake... Essa gente tem mau gosto pra nome. Só tô observando isso. Também alego porque odeio o meu nome.

— Tudo bem, eu vou entrar então.

— Não.

— Por quê? — indaguei.

— Alguém tem que cuidar desses ferimentos no meu rosto...

Eu jurava que ele ia dizer: "sim, vá! Eu me viro sozinha". Mas me surpreendi com a atitude dele, embora tenha ficado super feliz também. Eu, sinceramente, não esperava isso dele. Essa pequena atitude está me fazendo sorrir que nem uma retardada. Controle-se, Slander!!

— Cuidarei de você então, Tissot.

Ele ficou quieto. Rolou os olhos de um lado para o outro e bufou. Deveria estar entediado. Não dei bola, continuei meu trabalho até parar o fluxo de sangue. Na verdade, ainda saíam algumas pinceladinhas. Decidimos deixar assim.

— Ô, almoça comigo... — ele disse. — Pra eu não passar vergonha com essa coisa no meu rosto.

— Que gentileza! Eu vou aceitar sim.

Decidimos ir para uma confeitaria. Almoçamos doce, não era algo saudável e apropriado para o almoço... mas dane-se. Eu estava almoçando com Castiel Tissot, e Ambre deveria estar quase tendo um AVC de inveja.

Ficamos lá por uma hora, conversando, rindo, falando coisas banais e por aí vai. Era agradável ficar com ele, e tínhamos sorte de sermos os únicos no estabelecimento a essa hora.

— Droga! — larguei o garfo bruscamente. — Me esqueci da Íris!

— Mora com ela?

— Por pouco tempo... Mas, eu esqueci de dar a chave de casa pra ela. Caramba, mais burra que eu não tem!

— Manda uma mensagem...

Assenti positivamente e peguei o celular. Digitei rapidamente:

"Íris, onde tu tá??? Eu tô aqui na confeitaria Candy Love, se tu estiver fora de casa, vem aqui!!!"

Larguei o celular na mesa e comecei a comer novamente, meio apreensiva. Olhava para o celular a cada cinco segundos. Íris não demorou em me responder.

"Fica tranqs. Tô aki na Kim, vou demorar um pouco p/ ir aí. Bjuu."

Suspirei aliviada e guardei o celular no meu bolso. Ficamos um tempo em silêncio, mas eu havia o avisado que ela estava na Kim. Não conhecia a garota, mas contando que Íris estivesse bem...

— Mora aonde?

— Eu? — indaguei. Não, o papa! — Condomínio Solaris.

— Ah! — ele exclamou. — Bem perto da minha casa. Eu moro também em um apartamento. No Ascr.

Assenti positivamente, fingindo que sabia onde era. Depois de cinco minutos, começamos a caminhar em direção de nossas casas. Como a minha era mais perto, ele me acompanhou até a portaria. Agradeci, é claro. Ele estava sendo, de longe, muito legal.

Castiel precisa ficar machucado mais vezes.

— Até mais, novata.

— Até mais, veterano!

Ele acenou, recuando alguns passos:

— A gente se esbarra por aí... — ele sorriu. — Tchau.

— Ah, aparece qualquer dia aqui pra a gente fazer um som. O número é 302 — falei. — Tchau.

Ele assentiu positivamente e colocou as mãos no bolso. Fiquei observando-o até sair de meu campo de visão. Entrei em casa com um sorriso bobo estampado nos lábios... Mas era por uma boa causa.

A cada momento que passava, minha esperança aumentava e, eu sentia aquela barreira de gelo entre nós, decair aos poucos.


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