Os lobos marchavam em direção ao castelo dos humanos, com o Rei e seu cavalo atrás das linhas de frente, lideradas por Selen:

–Realmente, é incrível o que você conseguiu fazer com o meu filho... –o Rei fala para Endair –ele finalmente se tornou quem eu queria que ele se tornasse.

–Quanta gentileza Vossa Majestade. –Endair ri –mas até meus feitiços tem falhas. O jovem Selen ainda pode recobrar seu verdadeiro eu, por isso eu tenho que reforçar meus feitiços nele a cada dois dias.

–Hum... –o Rei o olha –não é de seu fetiche falar que seus feitiços tem falhas, mesmo havendo...

–Depende do feitiço, mas quando se fala da mente de alguém, aí é mais complicado. -Endair dá de ombros –agora sobre o colar e o feitiço de proteção, ele não deveria ter falhas, mas quem o pegou não desativou o feitiço de proteção, deve estar inconsciente até agora...

–A não ser que tenha sido aquela humana e o traidor... –o Rei fala com desgosto:

–É um problema.

–Vossa Majestade! –um soldado se posta a frente do cavalo –estamos perto da cidade humana!

–Destruam-na! –ele ordena e o soldado vira um lobo e uiva, fazendo todos os soldados gritarem e se transformarem em lobos, iniciando uma corrida desenfreada a cidade.

–---

–Que droga! –Kurayami chuta uma pedra –porque não podemos ir atrás do exército? Porque devemos ir por outro caminho?

–Ah claro, três criaturas seguindo um exército inteiro! Você só pode estar querendo morrer mesmo! –Rendel grita com ela –sabemos onde eles querem chegar, então vamos pelo outro lado!

–Mas até chegar ao castelo já vai ter se iniciado a guerra e o meu Rei pode estar morto! –ela rebate:

–Ele aguenta uns minutinhos! –Rendel bufa e estanca, fazendo ela e Darten se chocarem contra ele:

–Porque parou criatura?!

–Cheiro de sangue... Sangue humano... –Rendel sai correndo em direção ao rastro, com Darten junto, deixando Kurayami para trás:

–Seu idiota! –ela reclama e vai atrás.

Quando consegue alcança-los, eles já haviam parado:

–Que ideia foi essa de me deixar para... –ela vê onde estavam –trás...

–Que casa é essa? –Darten olha Rendel e Kurayami:

–É a casa da minha avó... –ela explica:

–O cheiro de sangue vem dali de dentro... –Rendel aponta para a casa:

–Não pode ser, já faz um tempo que não venho aqui, meu cheiro já deveria ter saído.

–O cheiro é recente. Alguém morreu lá dentro. –Rendel caminha até a varanda, sendo seguido pelos dois:

–Sinto cheiro de magia negra... –Althair aparece ao lado de Kurayami –mas não um mago... Mas uma pessoa que foi enfeitiçada por magia negra, porém o traço é muito fraco...

–Althair disse que alguém enfeitiçado esteve aqui. –Kurayami fala:

–Então a coisa deve estar feia lá dentro. –Rendel abre a porta e cobre nariz por causa do cheiro horrível que surge, até mesmo Kurayami teve que cobrir o seu:

–Que cheiro é esse?

–De um defunto. –Darten fala entrando.

Os três olham o local. Kurayami arregala os olhos ao ver a macabra cena:

–Pera, esse não é aquele... –Rendel a olha:

–O lenhador... –ela destampa o nariz –ele... morreu? Quem fez isso?

–Esse cheiro... –Darten fala –o príncipe reclamão...

–Selen...

–O que?! Foi ele que fez isso?! Ele não faria isso! –ao ver o rosto de Rendel, ela hesita –faria?

–Vamos para fora. –os três saem da casa:

–Me responda Rendel! –ela grita:

–Como Selen foi levado até o Rei... –ele começa –não duvido que aquele velho tenha feito algo com a mente dele...

–Que velho?

–Endair... –ele olha nos olhos dela:

–Não... –Althair fala –Endair ainda está vivo?!

–Quem é ele? –ela olha Althair, não entendendo sua reação:

–Endair nos traiu, ele se aliou as artes das trevas... Ele me forçou a unir minha alma ao colar!

–Não...

–Ele deve ter feito algo a mente de Selen, fazendo dele o peão do Rei.

–Fazer isso com o próprio filho... Que pai é esse? –ela se senta no chão:

–O Selen que você conheceu não existe mais Kurayami. –Rendel se aproxima dela –eu já vi o que esse velho faz as pessoas, Selen já se per-...

–Cale a boca! –ela grita –ele não pode ter se tornado do mal! Eu vou dar um jeito dele voltar ao normal!

–Isso é impossível, ninguém conseguiu isso...

–Então eu vou ser a primeira! –ela rebate:

–Kurayami, magia que mexe com a mente da pessoa, pode parecer impossível de se quebrar, porém como toda magia, ela deve ter falhas que permitam quebra-la –Althair a olha:

–Sério? –ela se levanta:

–Se dessa vez você não ser burra e me escutar, talvez consigamos desfazer o feitiço. Porem só vou saber como quebra-lo no momento em que nos depararmos com Selen.

–Sem problemas! –ela sorri:

–O que o fantasma falou? –Darten pergunta:

–Que há um modo de quebrar o feitiço, porem só quando estivermos cara a cara que saberemos como. –ela se vira –o que estamos esperando? Vamos logo libertar o Selen e acabar essa guerra!

–---

A cidade estava em chamas, pessoas corriam por todos os lados, muitos corpos estavam no chão, mortos.

Selen, em sua forma humana, ria enquanto cortava um homem com suas garras:

–Filho, está na hora de irmos até o castelo. –o Rei fala:

–Que pena, estava me divertindo muito aqui... –Selen mostra suas presas –vou chamar os outros.

–Conto com você. –o Rei faz seu cavalo trotar pela rua. Selen puxa um dos soldados:

–Comece a chamar os outros, o assalto ao castelo já vai começar. –ele ordena. O soldado se transforma em lobo e uiva longamente.

Selen decide esperar um pouco e caminha pela rua enquanto os lobos corriam para longe:

–Selen?! –a voz de uma mulher surge. Ele olha a portadora da voz:

–Ora, uma humana imunda aqui! –ele sorri indo até a mulher:

–Você é um dos lobos? Porque está fazendo isso? O QUE FEZ A KURAYAMI?! –era a mãe dela que grita:

–De novo esse nome! –ele resmunga –não sei do que você está falando sua humana imunda! –ele pula para cima da mulher, se transformando em lobo, mas antes que se choque com o corpo da mesma, é acertado por boleadeiras e cai no chão:

–Olha só! Até que não me atrasei tanto assim! –Zendal ri:

–Seu... –Selen se remexia, tirando as boleadeiras:

–Senhora Lins, tenho que te tirar daqui, ordens do general. –Zendal pega a mulher no colo –até mais protótipo de cão!

–Volte aqui humano imundo! –Selen grita, tentando ir atrás dos dois, mas um uivo o faz parar –vocês tem sorte... –e corre ate os portões do castelo.

–---

Kurayami e companhia chegaram à cidade e se deparam com a chacina:

–Não... –ela fala –será que a mamãe se salvou? Den? Cadê eles? –ela faz questão de procura-los, mas Rendel a segura:

–Kurayami, sei que está preocupada, mas não temos tempo para isso agora, temos que ir até o castelo. –ele fala –não faça que o sacrifício desses humanos seja em vão.

–Mas minha mãe...

–Vai desistir de salvar todos? –Rendel a encara. Ela engole as lágrimas que queriam surgir e se levanta:

–Tem razão. –ela retira seu chapéu –precisamos acabar com isso. –e larga o chapéu, que é levado pelo vento:

–Seu chapéu...

–Não preciso mais dele. –ela sorri –ele era como um lembrete do que me aconteceu, de meu passado, do meu medo. –ela olha para o castelo –mas agora eu não tenho mais medo...