Só Mais Uma Vez escrita por Anna Liberatori


Capítulo 2
Capítulo 2- Novos rumos.




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Andamos juntas até onde dava, nosso caminho de casa era em direções opostas. O resto do caminho passei chorando. Ao chegar em casa fui direto para meu quarto, me olhei no espelho e vi aquela imagem. Aquela maldita imagem, eu sentia nojo de mim mesma! Depois de alguns momentos me encarando abri meu armário e peguei uma lâmina. Comecei nos pulsos, vendo que não ia parar me tranquei no banheiro. Eu estava em prantos. Eu havia feito cortes no meu corpo todo! Eu estava quase concordando com Bárbara, eu era louca. No banheiro o cheiro de sangue estava marcante e o chão estava um pouco sujo. Eu fiquei de frente com o espelho do banheiro, minha imagem me perseguia. Olhei para meus cortes e mais uma vez desabei em lágrimas. No que eu havia me tornado? Eu era um monstro.

Sai daquele banheiro. Fiquei sem saber o que fazer por alguns minutos, logo fui a cozinha. Eu estava com fome, ainda não havia almoçado. Olhei para a comida e meus estômago embrulhou: Arroz, feião e carne moída. Eu estava enjoada disso. Peguei um miojo e fiz. Sentei na mesa e comi, comi com vontade de vomitar, eu estava acabada, não tinha forças para nada. Ao terminar de almoçar fui me deitar, não havia nada melhor para fazer. Dormi durante 4 horas, até que meu celular toca e me acorda:

–Alô?

–Que voz é essa?

–Tava dormindo, sua puta.

–Nossa é assim que você me trata.

–Fala logo, o que você quer?

–Só liguei pra saber como você esta.

–Como você acha que estou?

–Com uma cara toda babada.

–Eu mereço. Que horas são? Perdi a noção do tempo e não quero me levantar da cama.

– 19 horas.

–19 horas?! Fudeu!

–O que, porque?

–O banheiro, esta todo sujo, daqui a pouco minha mãe chega! Beijos, tenho que ir.- Ai meus Deus, minha mãe não podia saber que eu tinha feito isso. Não naquela intensidade.

–Sujo de que?

–Sangue!

Peguei um pano, passei desinfetante nele e limpei o chão. O cheiro passou. Agora eu tinha que cuidar de mim: Peguei maquiagem e passei em alguns pequenos cortes. Meu Deus, como aquilo ardia. Não parava, parecia que meu corpo estava pegando fogo. Merda. Ouvi o portão se abrindo. Peguei um calça e uma blusa comprida. Coloquei correndo, meu corpo continuava ardendo, estava quase chorando de tanta dor.

–Oi filha.

–Oi mãe.

–Como foi seu dia hoje?

–Normal, e o seu?

–Ah, totalmente estressante! Aquelas crianças me deixam louca!- Minha mãe trabalhava em uma creche. Ela sempre voltava cansada do trabalho, não tinha tempo para mim. Há tempos estávamos afastadas. Nossas conversas eram superficiais. Minha mãe sempre quis ser minha melhor amiga, mas nunca conseguimos nos aproximar. Não podia falar o que sentia, ela me julgava. Eu sentia falta de um colo de mãe, do carinho materno e de alguém para me guiar.

–Estudou?

–Estudei.- Obviamente menti, passei a tarde toda dormindo.

–Ok. Seu pai já deve estar chegando.

–Tá bom.

Fui para meu quarto. Mas não demorou muito para eu sair dele:

–Aliceeeee!

–Que foi?!

–Porque você não comeu a comida?

–Estava enjoada, então fiz um miojo.

–E miojo alimenta, Alice?!

–Ah, sem drama mãe. Um dia não mata ninguém.

–Olha Alice, eu vou proibir miojo nessa casa! Miojo e chocolate, Doce só no fim de semana. Você tá engordando. E daqui a pouco está doente.

–Para, mãe! Que saco!

–E ainda por cima não lava a louça! Já combinamos: quem suja, lava. Você já é uma mocinha! Tem que ter responsabilidades! Homem algum quer uma mulher irreponsável e desorganizada, vai te abandonar na primeira semana de casamento. Você acha que a vida é só isso? A vida ainda vai te mostrar que você tem que crescer, você vai ver, as coisas não são como você pensa! Você acha que sabe tudo mas não sabe nada, garota!

–Ah, chega! Eu já sou bem crescidinha e a vida não vai me ferrar porque eu deixei de larvar a louça! E não me chama de “garota”. Você sabe que eu odeio, eu tenho nome porra!

–Olha o tom que você fala comigo! Acha eu eu sou quem?? Sua amiguinha?! Pois não sou! Vai agora lavar essa louça! E eu te chamo como eu quiser.- Me rendi, fui lavar a maldita louça. Não aguentava mais os mesmos sermões de sempre, eram sempre as mesmas coisa.

Meia hora depois, já tinha lavado a louça e meu pai chegou. Eu estava na sala assistindo TV:

–Oi filha.

–Oi.- Disse em tom pesado. No mesmo momento desliguei a TV e fui em direção para o quarto. Meu relacionamento com meu pai não era muito bom.

–Alice, volte aqui.- Continuei andando.

–Alice!- Ele deu um grito.

–Que foi. Vem falar direito comigo.

–Obrigada, não quero.

–Quem você acha que eu sou? Seu amiguinho?

–Uau. Quanta criatividade, minha mãe acabou de falar isso.

–Venha agora e me dê um abraço.- Ele se aproximou de mim.

–Não quero.- Nesse momento ele me deu um tapa na cara. Fiquei chocada, meus olhos se enxeram de lágrimas.

–Vai para o seu quarto, Alice.- Disse em tom de arrependimento.

–Era isso que eu estava tentando fazer assim que você chegou.- Era um fato: meu pai me perdeu. Me deixou sumir, que nem fumaça no ar. Eu já não era aquela garotinha sorridente e nem ele o pai amoroso.

Fui para meu quarto, me tranquei lá. Peguei minha lâmina e fiz mais alguns cortes em mim. Coloquei os fones de ouvido e comecei a chorar. Dormi ouvindo musica. O despertador tocou, eu o desliguei. Mai uma vez, eu estava atrasada para a escola. Acordei com minha mãe gritando e me dando mais um maldito sermão. Dessa vez não falei nada, coloquei os fones e a deixei falando sozinha. Ao ver que eu não estava ouvindo nada que ela falava, arrancou meu fone, os jogou no chão, pisou neles e deu um belo tapa na minha cara.

–Porra! Virou moda dar tapa na minha cara, agora?!- Minha mãe não sabia o que dizer, mas não se deixava abater, seu orgulho era grande demais.

–Cala a boca que eu sou sua mãe, você tem que me respeitar!

–Respeito é diferente de medo, respeito gera respeito.- Peguei minha mochila e sai. Ela ficou lá, calada, sem acreditar no que estava acontecendo.


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