Só Mais Uma Vez escrita por Anna Liberatori


Capítulo 1
Capítulo 1- Cicatrizes expostas.




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Era um dia muito quente, eu estava encostada na parede com os fones de ouvidos. Todos já haviam saído, só faltava a turma da minha melhor amiga. Eu estava a esperando. Passado alguns minutos, vi duas garotas olhando pra mim, achei estranho, mas ignorei. De repente ela chamou um amigo e apontou para mim, eu já estava com vergonha. Sai dali e me sentei no meio fio, tentando disfarçar e fingindo que não tinha visto os olhares curiosos. Eu realmente não sabia o que estava acontecendo. Quando olhei novamente para eles, tinha um pequeno grupo de pessoas cochichando e aparentemente surpresas. Virei novamente e fingi que estava mexendo no celular, obviamente eu já poderia ter ido em bora, mas precisava saber o que estava causando tanto reboliço. Quando de repente olhei para meus braços, puta que pariu! Aquele dia estava muito quente e não consegui usar o casaco, a maquiagem de minha amiga era muito ruim, porque eu tinha que ter dormido na casa dela, e ainda por cima esquecer minhas maquiagens?! Tentei não expressar nenhuma emoção, mas a essa altura, eu estava desesperada. Logo em seguida veio uma garota e me falou:

–Você é louca?

–Como?- Perguntei surpresa, me fiz de desentendida.

–É isso que você ouviu: você é louca? Ou então é doente?- Falou em tom irônico.

–Do que você esta falando?!- Estava pasma com tamanha ignorância da garota.

–Não se faça de boba, estou falando desses seus cortes.

–Ah, é uma alergia.

–Alergia não é corte, alergia não é auto-mutilação, alergia não é drama.

Fiquei quieta. As palavras não saiam de minha boca, meus olhos estavam cheios de lágrimas. -Por favor, me deixa em paz e vai cuidar da sua vida. Eu tenho meus problemas e você tem os seus.

–É, eu acho que sim. Mas eu não vou resolve-los me cortando. Você tem um monstro ai dentro, garota. Você é louca, completamente louca, por isso ninguém gosta de você.

–Já chega, Bárbara. Você está passando dos limites.- Disse um garoto alto e de cabelo curto. Sua aparência era mediana, e por incrível que pareça, não aparentava ser uma pessoa mal coração.

–Não te perguntei nada, fica quieto.- O menino voltou voltou pro meio da pequena multidão que havia se formado.

Para minha felicidade minha amiga sai. Me vê naquele estado deplorável, olha pros meus braços e vê Bárbara na minha frente. Ela já havia entendido tudo.

–Vamos Alice, hoje não posso me atrasar.

–Ah claro, chegou a amiguinha. Lindo casal que vocês fazem, essa deve ser a única que gosta de você.

Eu vi como Alessandra ficou, acho que nunca teve tanta raiva na vida. Segundos depois ela deixou se guiar pela emoção: deu um soco na cara de Bárbara. Todos foram correndo ajuda-la.

–Vamos.

–Com certeza.- Apressamos o passo. Eu me virei, aquela garota estava caída no chão, olhando pra nós, seu nariz estava sangrando. Aquele menino era o único que não estava a ajudando, ele olhava fixamente para nós.

Andamos mais um pouco. Estávamos em silêncio, eu chorando e ela com os olhos vermelhos de raiva, quando eu falei:

–Porque fez aquilo?!

–Horas, queria que ela continuasse falando de você? Queria virar o motivo de piada para a escola inteira? Queria virar a doente, a louca problemática?!

–Isso eu já virei!

–Então que diferença faz?! Pelo menos eu fiz uma coisa que muitos já quiseram mas não tiveram coragem.

–Bom, isso é verdade, mas você vai se fuder. Ela vai te perseguir pro resto da vida, e ainda vai ser chamada atenção na escola.

–No momento em que eu cheguei lá e falei pra nós irmos, eu já seria perseguida, então que diferença faz? Ah, e foda-se a escola e minha advertência. Do que adiantaria eu ficar calada, uma hora ou outra isso ia acontecer, se eu ficasse quieta ela ia continuar te importunando.

–Ah, tudo bem. Tenho que admitir, foi um belo soco! Quase melhor que Hermione no Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban!

–Eu sei! O melhor que eu já dei na vida! Realmente, o dela foi melhor. Ah, e se você vier com blusa sem manga ou sem maquiagem eu te dou um soco igual a aquele.

–Ta bom então, fiquei com medo agora. Mas e se eu parar com os cortes?

–Ai você pode vir de biquíni pra escola, mas como eu sei que vai demorar pra você parar, nem comento mais isso.

–Não posso discordar.- Era impressionante a forma que ela me entendia e mesmo assim não me julgava. Era a única pessoa que eu conhecia que não se cortava e me entendia. Era a única com quem eu podia contar.

–Amanha aquela escola vai estar emocionante!- Começamos a rir, eu mal podia esperar por amanha, queria que alguma coisa acontecesse para eu poder faltar, me fingir de doente de nada ia adiantar, minha situação só iria piorar.


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