A Canção De Hohen escrita por MrMartins


Capítulo 22
A garota que perseguia estrelas - Parte V


Notas iniciais do capítulo

Adoro quando as coisas dão errado.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/273082/chapter/22

Era de manhã. O olhar de Ellienne se perdia no horizonte. Karl a fitava pensativo. Logo abaixo pessoas passavam pelo mercado, alheias ao que acontecia na sacada daquele quarto.

— O Vale das Névoas — Ellienne murmurou. — Sempre pensei que ele não fosse mais que uma lenda. Acha que ele pode estar realmente relacionado a Cavaleiro Negro?

— Talvez. Eu não sou um especialista, mas se aquele painel realmente estava representando uma Sombra e o Cavaleiro então é uma possibilidade grande. E o fato do Regenwurse estar atrás daquela garota dá ainda mais peso a essa linha de pensamento.

— Eis algo que me incomoda nisso. Toda essa situação me parece uma coincidência grande demais. Ela estar nessa cidade justamente quando nós estávamos aqui, então encontrar o senhor Wagner e nos trazer o que podem ser informações inestimáveis. Há algo escondido por trás disso.

— Talvez seja uma armadilha. A garota pode ter sido mandada por alguém.

— Mas por quem? Vê o problema? Há uma peça faltando nesse enigma. Algo simplesmente parece não se encaixar de modo algum.

— Mas o que você pretende fazer quanto à garota?

— Não podemos arriscar que ela esteja falando a verdade e acabe sendo capturada por um inimigo. Acredito que nossa melhor escolha seja mantê-la ao nosso lado. Ao menos até termos alguma certeza quanto ao que ela diz.

— É um bom plano. De todo modo, vamos partir hoje à noite. Provavelmente chegaremos à capital amanhã à tarde.

— Excelente. E, senhor Hirtz, gostaria que providenciasse algumas precauções. Estamos muito atrasados e isso me preocupa.

— Vou cuidar disso.

— E há outra coisa. O Senhor Wagner comentou que você parecia conhecer os membros do Regenwurse que vieram atrás da senhorita Uyen. Tem algo a me dizer sobre isso?

— Não, Vossa Majestade.

Ellienne se recostou na cadeira e cruzou os braços, seu olhar caindo pesado sobre Karl.

— Irei confiar no senhor. Espero que isso não se prove uma má escolha.

— Eu também.

Hart estava em seu quarto se preparando para partir. Não havia trazido muito, mas tivera de comprar roupas e agora se punha às voltas para colocá-las numa mala improvisada. Enquanto pegava o uniforme, ouviu alguém bater à porta. Era Ydel, e junto a ela vinha Fjola.

— Ei, Hart — Ydel disse.

— Ei.

— Me pediram para cuidar da passarinha

— Eu não sou um pássaro — Fjola reclamou.

— Sim, você é. Você até fala feito um. Enfim. Eu queria te agradecer por tudo, Hart. É realmente importante para mim.

— Você realmente pretende ir atrás desse tal Vale? Mesmo com as pessoas que estão atrás de você?

— É o meu plano. E vai ficar mais fácil se for uma pesquisa endossada pela rainha.

— A Ellienne ainda não é a rainha.

— Mas ela vai ser, não vai?

— Talvez. Vamos saber logo.

— Vai dar tudo certo! E aí eu vou encontrar o Vale! Até já tenho uma teoria sobre o que pode significar a profecia!

— Que seria?

— Acho que as estrelas não querem dizer estrelas de fato, mas um tipo de combinação, um código. Talvez feito por objetos que estejam nas próprias ruínas. Então meu próximo passo e encontrar essas estrelas. Sei que não vai ser fácil, mas eu vou conseguir!

— Por que você quer tanto fazer isso?

— Meu pai dedicou a vida dele toda para isso. E ele sofreu muito. Não quero que ele seja lembrado como a pessoa que morreu sem nunca alcançar nada. É por isso que eu vou completar o trabalho dele.

Hart jogou as roupas de lado e encarou Ydel, tentou entender aquela expressão e aquelas palavras, contudo somente conseguiu abrir um sorriso forçado.

A noite enfim caiu. Tudo estava pronto para que o grupo partisse. Karl já havia saído para confirmar a saída e assegurar que nada estivesse fora do lugar. Hart e Ellienne esperavam apenas pela hora marcada para sair. Tendo terminado de se preparar, Hilde agora procurava por Fjola. Ela não estava em seu quarto, nem mesmo no de Ellienne ou Karl. Após algum tempo de busca, ela encontrou a garota sentada no parapeito de uma janela em meio a um corredor.

— Como se sente? — Hilde perguntou-a.

— Eu estou bem.

— Não está, não. Nenhuma criança que está bem fica olhando para o nada com essa cara.

— Como você sabe?

— Experiência.

— Isso não é resposta!

— Acho que não.

Hilde se sentou no chão perto da janela, encostou sua cabeça na parede e fechou os olhos.

— Eu tinha uma filha da sua idade — ela disse. — Sempre que ela ficava triste, ia para algum lugar em que ninguém conseguia achar ela e ficava olhando para lugar nenhum.

— E por que você não está com ela?

— Ela morreu.

Hilde via em frente a seus olhos aqueles dias para sempre idos, imagens de tempos simples e tranquilos. E ela estava lá, tão pequena e tão sensível, correndo alegre pela casa, falando e cantarolando. Podia vê-la com tanta clareza como se estivesse ali. Abriu os olhos, mas tudo que viu foi o corredor vazio.

— Para onde eu vou? — a menina a seu lado perguntou.

Num gesto simples, Hilde envolveu Fjola em seus braços. Podia sentir o coração dela batendo temeroso, ouvia sua respiração pesada e o choro embargado, sentia a dor das lágrimas. Nenhuma delas falou nada.

No fim da noite, o grupo enfim partiu de Johanne. Pela manhã chegaram a Hilfen, pegaram um trem que seguia para a capital. Em meio ao pôr-do-sol daquele dia, Ellienne Väulderfäng Straussheins, herdeira de Hohen, deu seu primeiro passo após anos na ancestral Ellin, útero, coração e cérebro do reino, para clamar um trono ocupado. Alguns disseram que foi destino, outros que era apenas natural, e houve mesmo aqueles que jamais entenderam o que houve ali naquele dia, mas todos, sem absoluta exceção, lembrariam daquele dia mesmo séculos depois, pois fora o dia em que o mundo antigo morreu.

O dia em que a Guerra Civil de Hohen começou.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Basicamente, capítulo de fechamento. Para ser sincero, o andamento desse arco não me agradou. Ficou tudo corrido demais. Não queria que ele fosse muito longo, mas acabei errando a mão.
No fim das contas, ao menos serviu o propósito de introduzir informações novas. Ainda assim, se tivesse a chance, reescreveria tudo novamente.
Mas não há muito que possa fazer agora.
De todo modo, como viram no final, as coisas começaram agora. Agora tudo vai ficar um pouco mais lento, já que entraremos em um período extremamente político.
Ou ao menos esses são meus planos...



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Canção De Hohen" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.