Pinga, pinga, cai.

Ou apenas simplesmente cai. Vai caindo aos poucos, e se desfazendo.

Era assim que ela se sentia.

Desfeita, sozinha, incompleta.

Juvia deixou um suspiro triste escapar por entre seus lábios delicados. Encostou a testa na parede e deixou com as gotas grossas de a água quente do chuveiro, massageassem suas costas.

De fato, a azulada preferia banhos frios. Gostava de sentir a água gelada escorrer pelo seu corpo também formado pelo mesmo elemento, gostava de sentir os poros e abrindo e o sangue circulando mais rápido. Mas não queria nesse momento.

A água fria lembraria ele, o modo de fazer a sua pele se arrepiar, lembrava ele. Ela não queria lembrar. Ela não podia.

As duras palavras do mago do gelo ainda ecoavam em sua mente. Não que ela criasse um mundo totalmente ilusionário, ou paralelo da verdade, afinal, o Maravilhoso mundo da Alice não existe. E Juvia sempre teve plena consciência desse fato.

Ela apenas tinha esperança... Uma grande parcela, é verdade, mas era apenas esperança. E ele acabou com tudo.

“Não Juvia, nós nunca vamos ficar juntos [...] Você é bonita e tudo mais, porém não faz o meu tipo, entende? Não podemos nos casar [...] Somos apenas nakamas de guilda.”

E mais um suspiro. Desta vez, acompanhado por uma lágrima teimosa.

Juvia fechou o registro, e puxou a toalha felpuda para enrolar o corpo. Calçou os pés nas sandálias fofas que havia ganhado da Lucy no natal passado e foi para frente do espelho.

Suspirou pesadamente e passou as mãos pelas bochechas, olhando o sua própria imagem destorcida no espelho embaçado pelo vapor.

Passou as mãos no vidro, deixando a imagem nítida outra vez, e olhou-se cautelosamente.

Juvia sempre foi uma garota de pele clara, devia-se ao fato de sempre estar acompanhada da chuva e poucas vezes conseguir ver o sol, quente e confortavelmente caloroso.

Sol... sorriu sem humor. Ele havia lhe mostrado o sol, e agora... restava apenas a chuva, como milhares de pedaços minúsculos caindo do céu.

Seus olhos estavam avermelhados pelas horas de choro, suas bochechas, antes com a coloração rosada, estavam pálidas. Seus lábios rosados, estavam esbranquiçados e cortados, pelas mordidas que ela dava para tentar segurar o choro na frente dele.

Era isso.

Apenas isso.

Vestiu seu pijama confortável e dirigiu-se a cozinha. Bebeu um copo com água e mais um vez lembrou-se dele.

Do jeito que ele sempre pedia água com gelo para Mira, depois de uma luta com Natsu.

Balançou a cabeça tentando esquecer esses pensamentos e dirigiu-se a pequena sala. Iria ler alguma coisa e depois dormir. Sua avó sempre dizia que quando estivesse com problemas, apenas um travesseiro e uma boa noite de sono poderiam acalmar um coração perturbado, porque no outro dia de manhã, tudo iria ficar melhor.

Sorriu com esse pensamento da sua avó e desligou todas as luzes, dirigindo-se a cama.

TOC TOC!

Batidas na porta ecoaram pelo pequeno alojamento e Juvia suspirou. Não queria ver ninguém por hoje.

TOC TOC.

Estavam mais fortes e ainda sim, Juvia fingiu que não estava.

– Er... Juvia? – A voz doce da pequena Levy se fez presente. – Você está aí, não está?

Juvia permaneceu calada. Era melhor dormir, e amanhã falar com todas elas. Seria o mais sensato a se fazer.

– Juvia, por favor, nós sabemos que você está aí. – Lisanna falou dando batidinhas leves.

Por mais que amasse as companheiras da Fairy Hills, ela realmente não queria que a vissem daquele jeito.

– Juvia, nós vimos você vindo pra, cá. – Lucy estava com um tom preocupado na voz – Além do mais, o Happy nós contou que viu você entrar.

Lucy... Ela era uma pessoa maravilhosa. Depois de tantas vezes a chamando de rival no amor , tantas vezes, brigando e tentando machucá-la, ela ainda se preocupada com a maga da água.

E de fato, elas haviam ficado grandes amigas, depois de uma discussão dela com o Natsu, onde ele gritou para toda a guilda que gostava dela. E depois de dois dias, eles voltaram de mãos dadas, como um casal, de uma missão.

– Tudo bem Juvia, nós estamos querendo fazer isso certo. – a voz impaciente da Titânia estava do outro lado da porta. – Eu vou contar até cinco para você abrir essa droga de porta... Faço eu mesma.

Juvia sorriu e engoliu a seco. Eram nakamas muito boas, cada uma do seu jeito, mas eram muito boas.

– Cinco....

Juvia levantou-se da cama, e calçou os chinelos.

– Quatro...

Arrumou-se um pouco para não dar a perceber que estava completamente triste.

– Três...

Colocou a mão na maçaneta e abriu a porta, deparando-se com uma cena de certa forma... cômica.

Levy que estava atrás de Wendy, junto com a Lisanna, se escondiam atrás da parede para não ver a porta sendo derrubada, Lucy ainda estava incrédula por Erza ter dito que iria derrubar a porta e a Titânia estava em uma posição, onde suspendia o pé, pronto para dar um chute.

– Ah... você abriu. – Erza deu um sorrisinho de canto, enquanto desamassava as dobras invisíveis da sua roupa.

– Juvia-chan! – A pequena figura de um garotinha se jogou contra a maga da água. – Você está bem? Foi tudo culpa minha, se eu não tivesse feito aquele comentário estaria tudo bem... Baka! Baka! Eu sou muito idiota!

Juvia passou delicadamente as mãos sobre a cabeça da pequena Dragon Slayer que sacudia o corpo, dando pequenos soluços.

– Sh... Não foi sua culpa Wendy. – Levy tocou o ombro da pequena que soltou-se de Juvia e a abraçou.

Ficaram todas em silêncio. Olhando apenas para Juvia, como se pudessem ver através do seu corpo.

–Então Juvia... – começou Lisanna delicadamente. – Como você está?

– Bom... – ela suspirou. – Sabe, Juvia realmente gosta do Gray-sama. É difícil escutar isso quando se gosta de alguém.

– Não fique triste Juvia. – Erza sentou-se ao seu lado, e de um jeito carinhoso e meio desengonçado, afagou o topo da cabeça da maga da água. - O Gray é um idiota.

– Ele não sabe o quão magnífica que você é, nem o que está perdendo. – Lisanna olhou para os Grays de pelúcia e sorriu para Juvia.

– Você tem que partir para outra Ju-chan, - Levy estava fazendo trancinhas no cabelo da azulada e sorriu. – Eu li em um livro, que os melhores jeitos de esquecer um amor, e mergulhar em outro.

– O Lyon-san gosta muito de você. – Wendy comentou ainda insegura, com medo do que podia causar.

Juvia sorriu, ela não tinha culpa.

A pequena Dragon Slayer apenas comentou que eles seriam lindos quando se casassem.

E então Gray escutou e resolveu dar um basta em toda a ilusão.

– É! Você deveria parar de sofrer e dar uma chance para o Lyon! Ele é um cara legal. – Lucy sorriu e acenou aprovando a decisão.

– Juvia não acha que vai conseguir esquecer o Gray-sama....

Ela suspirou.

– Hey, anime-se! – Lucy sorriu. – acredite, se o tapado do meu namorado conseguiu fazer alguma coisa certa, você com certeza consegue.

– AYE! – Happy que entrou pela janela foi para o colo da Juvia e pressionou as patinhas fofas contra suas bochechas. – Não fique triste Juvia, o Gray é só um cubo de gelo.

A tensão, que antes estava presente, foi logo substituída por um clima mais leve.

– Happy! Você... – Lucy começou, olhando para a janela e tentando avistar a presença de algum garoto.

– Eu não sou um garoto, eu sou um gato! – Ele sorriu e a Wendy comprimiu os lábios, na tentativa de não agarrar o Happy e abraçá-lo.

******

Juvia passou as mãos pelos cabelos e sorriu, as suas companheiras de guilda eram as melhores.

Tomou um copo com água e foi para cama.

“É! Você deveria parar de sofrer e dar uma chance para o Lyon! Ele é um cara legal.”

A voz da Lucy ecoou nos seus pensamentos e ela olhou para o seu Gray-sama de pelúcia.

É, talvez ela devesse parar de sofrer e partir para outra. Lucy tinha razão, Lyon-san é um cara legal.

Ela largou o bonequinho de pelúcia debaixo da cama, e agarrou-se aos lençóis.

De certa forma sentia-se mais livre, por mais que doesse esquecê-lo.

Mas Juvia havia decidido, ela iria ser feliz.