Neve e Chama: A Segunda Era dos Heróis. escrita por Babi Prongs Stark Lokiwife


Capítulo 52
Capítulo 50: Shiera & Renly




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Shiera Tully

Ela observou impressionada à medida que a silhueta do castelo se tornava mais definida, havia demorado semanas, mas finalmente chegaram. É claro que ela ouvira falar de King’s Landding e ouvira sua historia da boda de um Meistre, mas nunca tivera o privilegio de colocar os olhos na Fortaleza Vermelha. Em algum lugar ali havia um fosso onde viviam os dragões da rainha. Pensar neles não assustava mais à Shiera, ao longo dessa viagem ela tivera um contato constante com Valyria e conhecera monstros piores.

Eles aportaram rapidamente. Shiera acariciou Moony enquanto observava a Capitã Greyjoy dá instruções ao seu Imediato, havia olheiras profundas debaixo de seus olhos e ela emagrecera bastante, muitos pensavam ser consequência do ferimento que ganhara na batalha contra o Ultimo Filho da Harpia, mas Shiera sentia que era mais que isso. Após receber a noticia da traição de Aemon, ela se tornara mais silenciosa e fria, desprovida de seu habitual sarcasmo e alegria, a donzela supunha que o relacionamento do dornes com a mulher de ferro fora mais profundo do que eles pensavam.

Sor Astor acompanhou-a até terra firme. Pouco à frente estavam Sor Gyles e Lady Melony. Eles estavam se tornando cada vez mais próximos naquela viagem, apesar de ambos serem excessivamente tímidos. O Tyrell sempre parecia atrapalhado perto da própria Shiera, não por que estivesse atraído por ela, apenas por não se sentir a vontade perto de garotas. Enquanto Melony... A garotinha selvagem aprendera muito sobre ao sul da Muralha, e logo depois de entender a sexualidade ou parte dela, também compreendera a beleza, e sentia-se envergonhada pelo próprio corpo tão infantil, que com a sua idade deveria ter formas mais femininas. Shiera esperava sinceramente que eles se entendessem.

À frente deles ia Narcysa Lannister de braços dados com o irmão, como se procurasse forças nele. Ela usava um capuz que cobria seu rosto dos mais curiosos, e era seguida de perto por seu filhote de leão. A loira subira ao navio ostentando sua posição com orgulho, deixando os plebeus terem um vislumbre de seu rosto, antes considerado um dos mais belos dos sete reinos, agora retornava escondida sob disfarces e esgueirando-se sorrateiramente.

Shiera havia visto à ruína que se tornara seu rosto, os cortes provocados pelo inimigo começavam a cicatrizar, a loira agora estava mais dócil e tímida, porem também mais melancólica. O Ultimo Filho da Harpia lhe impusera o pior que poderia lhe acontecer, deixara-a viva, mas desprovida do que lhe era mais precioso, a própria beleza. Entretanto algo parecido havia acontecido com o pai dela anos atrás, o Regicida, que quebrara seus juramentos fora punido pelos deuses perdendo a mão da espada, a mão que matara o rei e que o definira como o guerreiro que fora, ainda assim conseguiu se recuperar e ter um papel importante na guerra, o papel certo. Talvez a loira pudesse fazer o mesmo.

Entretanto a situação de Eddard Baratheon e Drogo Stark não era tão fácil, os dois haviam se tornados tão frios e silenciosos quanto Mary Lane, mas neles também havia sede de vingança. Eram os mais próximos à Lailla, e sofriam visivelmente pela morte dela. Lailla. Pensar na companheira fazia o coração de Shiera se apertar de dor, tivera pouco contato com a Baratheon, mas ela fora o mais próximo de amiga que já tivera. Shiera nunca tivera aias, e com a exceção da própria mãe crescera cercada de presenças masculinas, os irmãos, o pai, Sor Astor e Tommen.

Tommen. Pensar em Tommen ainda fazia seu coração acelerar, ele fora seu melhor e único amigo por tanto tempo... Fora ele quem lhe presenteara com Moony. E eles costumavam fantasiar que se casariam quando tivessem a idade certa, ainda que não tivessem muito entendimento do que de fato consistia um casamento. Seu olhar se dirigiu para Renly Lannister, ele era muito belo, bem próximo ao seu ideal de beleza masculina, era como ela supunha que Tommen havia se tornado.

Eles seguiram para a Fortaleza Vermelha. A rainha os aguardava na sala do trono, Shiera recuou quando pôs seus olhos no Trono de Ferro, era gigantesco e coberto por espadas torcidas e quebradas, as espadas dos derrotados. Ali sozinha, sentava-se Daenerys, ela parecia bela e poderosa como uma deusa, a coroa assentava-se confortavelmente em sua cabeça, ela não usava um vestido, como esperado, e sim uma armadura, seu cabelo prateado estava trançado como o dos dothraki, e coberto de sinetas. Aos pés do Trono de Ferro estavam Aegon e Jon Targaryen, ambos vestidos como príncipes, porém sem nenhum coroa. E à frente deles a guarda real, composta por apenas mulheres.

O pai sempre achara soberbo e estúpido da rainha compor uma guarda de apenas mulheres, porem após a morte de Sor Barristan Selmy, e antes dele de Sor Jorah, a rainha não encontrara nenhum homem digno de ocupar tão posição, apenas mulheres. Shiera sempre fora fascinada por esse assunto, por isso, mesmo contra a vontade dos pais fizera questão de aprender o máximo que pode de cada uma.

No centro delas estava Arya Stark, a Comandante, a Loba Selvagem, A Mulher Sem Rosto, a Vingadora do Inverno, dentre muitos outros títulos. Shiera sabia pouco de sua historia, ela fugira de King’s Landding quando o pai fora decapitado e passou anos desaparecida, retornou muito depois, disfarçada e servindo á Aegon Targaryen, ela tivera um papel muito importante na guerra de reconquista, porem ninguém sabia qual. Era a mãe de Ned. Tivera um relacionamento com Gendry Baratheon, e muitos diziam que também com Jon Targaryen. A presença dela deixava a rainha desconfortável, mas a mulher era competente em cumprir seu dever.

À esquerda da Stark, Lyanna Mormont, uma nortenha, tal qual sua comandante. Irmã mais nova da Lady de Bear Island, conquistara seu posto através do falecido Sor Jorah, era sobrinha deste e muito habilidosa em lutas.

Atrás desta, Bethany Blackwood. Ela fora levada como refém para King’s Landding na época de Cersei. Quando Lord Tyrion chegara às portas da cidade capturara Tommen, matara alguns guardas e entregara o garotinho ao tio. Permaneceu na corte, mesmo após a paz, e conseguiu seu posto após completar a maioridade.

À esquerda dela, Bárbara Bracken, tal como Bethany chegara à cidade como refém, e assim como a outra ajudou a causa Targaryen, matou membros do Pequeno Conselho de Tommen e abrira os portões para Lord Tyrion. Apesar de ter muito em comum com a Blackwood, a rivalidade das famílias falava mais alto, e as duas viviam em constante competição, uma tentando sempre superar a outra.

Rose Tyrell, ao lado direito de Bethany e próxima à Jon Targaryen. Era a prima de Sor Gyles. Essa tinha o brilho da desconfiança nos olhos castanhos claros, como se esperasse que a qualquer momento eles fossem tentar ferir um daqueles protegia. No passado se vestira como um garoto e tentara lutar ao lado dos irmãos na guerra contra os Tyrell, porém fora ferida e salva por Jon Targaryen. Quando a guerra enfim acabou ela seguiu para King’s Landding como protegida, para assegurar a submissão de sua família. Era profundamente grata à Jon, por ter salvo sua vida, por isso se tornara membro da guarda real. Tinha um amor quase obsessivo pelo consorte da rainha, na verdade era como se o visse como um deus.

À direita da comandante, Brienne d’Tarth, uma das maiores guerreiras dos Sete Reinos, fizera por merecer o seu posto. Lutara ao lado de Daenerys na guerra da reconquista, e apesar de seu romance com o Regicida jamais falhara com sua rainha. Seus feitos eram cantados em canções

– A donzela azul, azul, que fazia da luta uma arte. A mais talentosa das guerreiras, Brienne d’Tarth – cantarolou Shiera para si mesma

Seu olhar se dirigiu então para a ultima da guarda real, Dorea Sand, que residia à esquerda de Bárbara. Era uma das bastardas da Vibora Vermelha, uma dornesa bela e uma guerreira habilidosa, principalmente com a lança, Shiera corou ao acrescentar para si mesma em pensamentos, habilidosa com todos os tipos de lança.

A mão, Tyrion Lannister se reuniu a eles e Drogo deu um passo à frente se ajoelhando perante à rainha. Shiera podia ver o quão nervoso ele estava, ela não o culpava. Teria que falar para os pais que sempre o renegaram que falhara. Cada um deles, todos os doze compartilhavam desse fracasso, mas sem duvida devia ser muito pior para ele.

– O inimigo se chama Bael Baskoll Drawviryen – começou Drogo

Ele narrou com perfeição tudo o que se passaram desde que haviam deixado Westeros, exceto a localização de Kokuren Josei, que haviam jurado jamais revelar, ele não fraquejou nem gaguejou. Shiera o admirou por isso, mas podia ver que suas mãos tremiam. A rainha ouviu tudo impassível, apenas assentindo ocasionalmente. Aegon Targaryen parecia irritado e seu irmão, Jon Targaryen tinha um sorriso levemente orgulhoso.

– Recebi aviso dos meus filhos, dos meus representantes e amigos. – pronunciou-se a rainha – Eles me suplicam por ajuda. Pensei que o certo fosse encarregar vocês... Os doze profetizados. Foi uma tolice.

Drogo se encolheu sob as palavras dela como se tivesse levado um tapa, Shiera também não gostou de ouvir aquilo. Sabia que o preço por essa falha, o povo das Cidades Libertas pagaria e pagaria caro.

– Vossa Graça, de acordo com o Príncipe Rhaego o inimigo sobrevoa as Disputed Lands em nossa direção... Com essa velocidade, temo que será uma questão de dias. – disse Tyrion Lannister

– Rhaego? – questionou Mary Lane – Pensei que tivesse morrido junto com a Arryn. Onde está?

– Mandou uma mensagem de Pentos – respondeu a rainha friamente – Estará aqui pela manhã. Já se arriscaram muito, são apenas crianças e não pretendo desperdiçar vidas. A todos que desejarem partam daqui.

Algumas gentilezas foram trocadas e eles foram dispensados. Drogo permaneceu para falar com os pais, tal qual Eddard, Narcysa e Renly.

– Eu vou mandar uma ave para minha tia – informou Mary Lane Greyjoy assim que deixaram a sala do trono – Ainda tenho assuntos inacabados com um certo dornes.

Ela tentava demonstrar impassividade e frieza, mas Shiera reconheceu a tristeza, a raiva e o nervosismo unidos em sua voz. A Tully lamentava pelas atitudes de Aemon Martell, mas de todos os viajantes, Mary Lane fora a que mais se aproximara dele. Imaginava que a pirata estava confusa, deveria ser muito pior para ela.

Gyles fitou Melony, como se esperasse sua opinião a garotinha corou levemente porém respondeu.

– Brynden disse que esse é o meu destino, eu ficarei e vou enfrenta-lo, seja ele qual for – disse ela com voz doce como um sino.

– Eu também ficarei, escreverei ao meu pai informando a situação – falou ele assentindo – ele não deixara de ajudar a coroa agora, ainda quer se redimir pela guerra de anos atrás.

– Mas nos iremos embora – disse Sor Astor em um tom determinado para Shiera – Lord Edmure permitiu que embarcássemos nessa loucura, mas duvido que aprovaria que ficasse em meio à uma batalha como essa, retornaremos à Riverrun.

Shiera se irritou. Não gostava de receber ordens, e depois de tudo que passara nessa viagem não retornaria para casa como uma lady assustada, ela não era mais uma donzela indefesa, ainda que não soubesse manejar armas como os rapazes ou que não fosse forte como Raven, ela era uma das escolhidas e não deixaria seus companheiros para trás, não os trairia como Aemon o fizera.

– Penso que não, meu caro – disse com uma voz fria e autoritária – Esqueceu-se de seu lugar. Eu levo seus conselhos em consideração mas não sigo suas ordens, eu sou uma Tully e na ausência do meu pai sou sua Lady suserana. Não retornarei à Riverrun. Não abandonarei meus companheiros.

– Milady, seu pai...

– Escreverei uma carta para o senhor meu pai o informando de minha decisão. – interrompeu-o com firmeza. – Sinta-se livre, porém, para partir se desejar. Tal como a rainha não desperdiço vidas, está livre de seu juramento para comigo.

Sor Astor corou, ela não sabia se de fúria ou vergonha. Por um momento sentiu uma pontada no coração por ter falado desse modo com seu velho amigo de infância, mas mesmo que ele fosse se protetor era também seu vassalo, devia-lhe obediência. A risada zombeteira da Greyjoy ecoou pelo corredor.

– Pelo visto a sereiazinha tem mais coragem do que você, Sor – disse ela com a voz recheada de sarcasmo – Mas também o que poderia se esperar de um Mallister, vocês gostam de fugir e se esconder em um poleiro, enquanto homens mais corajosos lutariam.

Shiera não acreditava ser possível, mas a cor das maçãs de Sor Astor se intensificou ainda mais. A Tully pensou em uma serie de respostas que poderia dá, a Greyjoy tinha inúmeros pontos fracos que ela poderia pisar com precisão, porem não teria nenhum prazer humilhando a mulher de ferro. Não valia a pena brigar com ela, no fundo ela apenas agia assim por está triste, e não queria ficar sozinha em sua melancolia.

– Como milady desejar – respondeu Sor Astor em uma fria cortesia

Ela assentiu. Eles se encaminharam para a torre do Grand-Meistre. Lá cada um mandou uma ave para sua respectiva família. Após, Shiera encaminhou-se para um quarto, entretanto foi interrompida por Lord Tyrion. O anão era uma visão terrível, com o rosto deformado, o nariz ausente e as feições grotescas mas Shiera sabia que tinha uma astúcia ímpar, e portanto devia ser tratado com respeito. As memorias de infância com ele era nebulosas e quase se desvaneciam de sua mente, mas Shiera lembrava-se bem de seus ensinamentos, foram eles que se tornaram sua bússola.

– Milady, creio que há alguém que deseja lhe falar. Se fizer a gentileza de me acompanhar...

– Com prazer, milord – disse ela respeitosamente

Eles seguiram por um corredor até reconstruída Torre da Mão. Quando começaram a subir os degraus ela perguntou por educação.

– Como vão Renly e Narcysa?

– Ambos estão conversando com Brienne – respondeu ele – Ela ficou muito emocionada ao ouvir falar de meu irmão. Renly está relativamente bem, mas não creio que Narcysa vá se recuperar tão cedo, àqueles cortes deixaram marcas mais profundas do que as que podemos ver.

Ela assentiu sem saber o que responder. Porém Lord Tyrion continuou.

– Se tornou uma donzela muito bela, milady, tal como eu previa que aconteceria.

– Obrigada meu lord – sorriu ela

A pergunta estava em seus lábios mas ela hesitava em faze-la. Com certeza ele se lembrava que Shiera e Tommen foram muito próximos quando crianças, mas anos haviam se passado desde então, talvez tomasse essa pergunta de maneira errada, talvez...

– Está pensando em Tommen, não está? – perguntou ele, tal como quando era criança o anão parecia ler seus pensamentos

Ela assentiu, sentindo as bochechas corarem, Tyrion sufocou uma risada. Eles chegaram ao topo da escada.

– Então creio que gostará muito dessa surpresa.

A porta se abriu, e ali sentado em uma poltrona cercada de gatos estava o rapaz mais gordo que Shiera já vira. Ela demorou alguns segundos pare reconhece-lo como Tommen. Ela se lembrava obviamente que ele possuía uma gordura infantil, porem jamais imaginara que fosse conservar essa característica até a idade adulta.

– Shiera! – exclamou ele com uma voz excessivamente pueril.

Se levantou meio cambaleante e tropeçou em sua direção. Shiera obrigou-se a sorrir observando-o. Os olhos verdes e gentis tinham certa melancolia e pouco brilho, os cabelos eram de um dourado ralo e um pouco de baba escorria de seu lábio inferior.

– Eu senti saudades! Tio Tyrion me disse que eles rasgavam todas as nossas cartas em Riverrun, é verdade?

Ela assentiu ainda chocada

– É uma pena. E Moony, como ela está? Senti falta dela também.

– Ela d-deve está dormindo – sussurrou sentindo a garganta presa – Como você está?

– Eu não gosto daqui – sussurrou ele recuando assustado – Joffrey não me quer aqui. Ele me viu brincando com a coroa, ele disse que vai mandar Sor Merryn abrir minha barriga que nem ele fez com aquele gato se me vir com ela de novo. Joffrey vai...

Ela continuou a tagarelar sob o irmão há muito morto girando no aposento, até se cansar e sentar-se no chão, ainda falando coisas sem sentido.

– Sinto muito, milady – sussurrou Tyrion a guiando lentamente para fora – Temo que o período que teve como rei foi demais para meu sobrinho, depois de sua partida ele só vem piorado... Mas melhorou quando dissemos que viria para King’s Landding, e insistiu tanto para vê-la... Pensei que talvez...

– Eu compreendo, meu lord – sussurrou ela ainda chocada

E de fato compreendia. Compreendia os sentimentos de Mary Lane ao finalmente encontrar seu pai, porém insano. Não era muito diferente do que acontecera com Tommen. Ela sonhara por anos em reencontrar o amor de sua infância, e quando finalmente o fazia... Tommen estava louco, completamente insano, o rapaz que ela se lembrava talvez nem tivesse existido de fato.

Tyrion continuou à murmurar palavras de desculpas, e a guiou até um quarto. Shiera deitou-se na cama, deixando as lágrimas escorrerem pelo rosto enquanto acariciava o pelo de Moony. As portas se abriram revelando Sor Astor, ela limpou rapidamente as lágrimas.

– Milady, eu... Estava chorando?

– Não, Sor – respondeu com a voz um pouco embargada – Deseja me falar algo?

– Desejo lhe pedir desculpas, não foi certo o que fiz, e não cabia a minha posição social. Sinto muito, só tinha o intento de protegê-la.

– Eu compreendo, Sor – respondeu com gentileza – Todavia é tempo de que eu faça minhas próprias decisões.

Os olhos de Sor Astor adquiriram um certo brilhou ao ouvirem isso, e ele avançou à frente.

– Está certa, milady. Eu... Eu tenho algo para lhe falar.

Ela assentiu o incentivando a prosseguir.

– Eu percebi hoje que é melhor que saiba, do contrario jamais me perdoaria, e eu sempre me perguntaria o que poderia ter sido... Eu... Eu a amo, Lady Shiera. Eu a amo como amaria à uma esposa... Eu...

Shiera recuou de olhos arregalados. Depois da visão de Tommen não acreditava que nada mais pudesse impressiona-la, porem se enganara. Aturdida cambaleou em direção a porta. Os gestos de Sor Astor, as atitudes, a preocupação... Tudo evidenciava esse fato, como ela fora tão cega a ponto de não ver? Ainda assim, era demais para a cabeça de Tully. Em um só dia perdia o amor de infância para a loucura e ouvia uma declaração de um homem que amava como à um irmão.

Família, Shiera – ecoou a voz de seu pai em seus pensamentos – Não significa que nos sejamos elitistas, que não nos misturemos, significa que a família vem em primeiro lugar, a segurança da família, e os interesses da família. Uma truta não sobreviver muito tempo longe do cardume. – ela quase podia sentir as mãos quentes do pai enxugando suas lágrimas, com palavras de consolo – Dever – prosseguiu ele – Todos nos temos um dever, minha sereia. E temos que cumpri-lo. Se não o mundo se transforma em um caos. – a voz do pai continuava em sua mente como se ele estivesse sussurrando ao seu lado, como se estivesse repetindo as palavras que há muito lhe dissera – Honra – finalizou Lord Edmure – Significa que devemos honrar nossos valores, honrar nosso nascimento, honrar nossa família e nossos deveres. Entende minha querida? Está tudo interligado. Eu cuido da minha família por que é meu dever, cumpro meu dever por que isso mantém minha família em segurança e eleva minha honra. Família. Dever. Honra.

Lágrimas vieram aos seus olhos enquanto ela corria para fora do quarto. Família. Dever. Honra. Família. Dever. Honra. Família. Dever. Honra. Família. Dever. Honra. Família. Dever. Honra. Isso significava também não ter escolha. Estava presa à esses três pilares, eles a mantinham em segurança, mas também a transformavam em uma prisioneira.

Limpou as lágrimas, sua felicidade não importava. Era uma Tully, acima de tudo. Família. Dever. Honra.

Renly Lannister

De joelhos, na sala do trono Renly mal sabia como reagir. Finalmente retornara à Westeros, porém como um fracassado. Fora duro ouvir as palavras de reprovação veladas da rainha, apesar de saber que as merecera. Renly ainda não pudera encarar a mãe, sabia que Brienne não demonstraria decepção ou raiva, ainda que verdadeiramente as sentisse. Entretanto a condescendência da guerreira o faria se sentir pior.

Ao seu lado, Narcysa ainda sob o capuz tremia. Ela quase não falara desde que se reencontraram, Renly a conhecia bem o suficiente para saber que estava envergonhada da própria aparência. A irmã, que sempre humilhara todos que considerasse inferiores, que tinha o perverso hábito de se aproveitar das fraquezas dos seus inimigos, agora estava amedrontada, temendo agora ser a vitima em seu próprio jogo.

Tal como o pai, Renly desprezava o Jogo dos Tronos. Mas fora ensinado por Tyrion, e bem ou mal era um Lannister, não participava do jogo, mas isso não significava que não o conhecesse. Narcysa poderia ter agido como uma heroína, sacrificando o que mais prezava pelo reino, mas aos olhos da corte ela seria vista como uma aberração, ou pior, como uma prostituta. Muitos rivais apontaria o dedo, acusando-a de ter seduzido o inimigo, de ter permitido que ele a tomasse. Para ela o jogo havia acabado, jamais seria rainha. Perdera sua posição de prestigio ao ser humilhada, tal como Cersei fora um dia.

Seus olhos se fixaram brevemente em Shiera, escoltada como sempre por Sor Astor. Sentiu seu coração se acelerar, como sempre fazia quando vislumbrava aqueles olhos azuis. Mary Lane e Raven podiam desdenhar da Tully, por ela ser frágil e uma ‘típica donzela indefesa’, mas Renly sabia que a Sereia dos Rios era muito mais que isso. Havia muito ardil naqueles olhos ingênuos, bem como força e coragem, mas não a força e coragem que era esperada dos homens em um campo de batalha e sim umas que apenas as mais femininas das mulheres saberiam demonstrar. Algo que jamais vira em sua própria mãe, mas sim em Tysha, e sabia reconhecer o seu valor.

O Lannister não podia negar que estava apaixonado pela Tully. Dera-se conta de seus sentimentos durante a batalha, quando cada centímetro do seu corpo se empenhara em proteger apenas a morena. O preço por essa fraqueza fora o ferimento, bem como seu fracasso em proteger a própria irmã. Olhar para o rosto deformado de Narcysa era um tormento, não por uma questão estética, mas por saber que a ruína dela era única e exclusivamente culpa dele. Não importa que a loira fosse forte, não importa que soubesse lutar ou o modo como se comportasse, ela era sua irmã, e era sua obrigação protege-la.

O ódio mais uma vez correu forte em seu sangue e espalhou-se pelo seu corpo. Fechou brevemente os olhos na tentativa se acalmar. Raiva não lhe serviria de nada. Faria Bael Baskoll Drawviryen se arrepender disso, assim como pelo assassinato de Lailla e todas as vidas perdidas nas Cidades Libertas. Um Lannister paga as suas dividas.

– Minha rainha – ecoou a voz de Lord Tyrion – Peço permissão para falar à sós com meus sobrinhos. E também para que Brienne nos acompanhe, creio que temos assuntos em comum.

– Concedida – respondeu Daenerys – Tal como a você, Arya Stark – acrescentou ela sem sequer dirigir um olhar para sua Comandante – pode ir ter com o seu filho. Minhas outras guerreiras me protegerão, enquanto eu falo com o meu próprio.

Renly notou o sorriso que tomou conta do rosto de Drogo. Era a primeira vez que a rainha o tratava como um filho publicamente, ou nem tanto uma vez que apenas os doze, além da guarda real, dos consortes e a Mão estavam presentes.

Arya Stark deu um passo a frente sinalizando para que seu filho a seguisse. Brienne também se aproximou tal qual Tyrion, enquanto a guarda se reorganizava para melhor proteger a rainha eles deixaram a sala do trono se encaminhando para um aposento privado.

– Deuses, eu sou grato por vocês dois terem voltado à salvo – disse o anão passando a mão pelos cabelos já grisalhos – Não sei quem escreverá a Lord Gendry para relatar o acontecido, mas eu não gostaria de está perto quando ele descobrir.

– Foi uma grande perda – disse o próprio Renly com uma voz cansada porém sincera – Lailla era uma grande mulher, que os deuses zelem pela sua alma.

O olhar do rapaz se dirigiu pela primeira vez para a mãe, entretanto os grandes olhos azuis de Brienne fitavam Narcysa, ainda encoberta pelo capuz. Ela parecia preocupada e ao mesmo tempo receosa. Outrora a loira tratara a mulher com nada além de desprezo e desdém, Renly não culpava a mãe por hesitar em se aproximar. Mas agora as circunstâncias haviam mudado, a arrogância da irmã lhe fora arrancada a força.

O loiro sabia que ela temia por esse momento, por isso segurou a mão dela lhe fornecendo apoio. Os finos dedos dela tremiam quando ela apertou sua mão.

– Drogo foi educado – sussurrou Renly – Ele omitiu algumas partes da historia para não envergonhar a minha irmã.

Brienne parecia aflita, com os olhos arregalados e cheios de temor. Tyrion porem tinha o rosto serio, e os olhos semicerrados, como se tentassem deduzir o que de fato acontecera.

– O inimigo feriu Cys enquanto ela estava sob seu poder – prosseguiu o Lannister

– Ele não... – começou Brienne, porem ela não parecia ter coragem para terminar a pergunta – Deuses, me digam que ele não...

Narcysa continuou imóvel, sem parecer capaz de se mexer. Tyrion bamboleou em direção a sobrinha, tomando a mão dela entre as suas.

– Conhece a historia da nossa família, Narcysa. Meu pai passou o inicio de sua vida aguentando zombarias, e viveu para fazer com que todos os seus inimigos pagassem. Eu posso dizer que fiz o mesmo. Tal como Brienne. Eu sou um anão. Ela é feia. Jaime um aleijado. Cersei foi uma prostituta. Tommen é um retardado. Mas cada um de nos aprendeu a superar as dificuldades.

– Nos somos sua família, Narcysa – disse Brienne com a voz triste, porém cheia de honestidade e carinho – Não precisa se proteger de nos. Estaremos ao seu lado em qualquer situação.

A garota porem continuou sem se mover. Renly deu um passo de modo que ficasse frente à frente à irmã. Mesmo sem poder ver sua face, levou ambas as mãos ao seu rosto, sentindo os cortes bem como as lágrimas que os banhavam. Limpou o mais delicadamente que pôde as lágrimas.

– Permite? – perguntou

Ela lhe concedeu o menor dos acenos positivos, e ele lhe retirou o capuz. Para o credito de Tyrion e Brienne, nenhum deles reagiu mal. Ambos mantiveram o rosto totalmente inexpressivo. Ninguém disse nada por um tempo. Brienne porem foi a primeira a tomar uma atitude, dando duas grandes passadas cerrando a distancia entre elas. Renly recuou deixando que a mãe ficasse frente à frente à irmã.

Brienne então envolveu Narcysa em um abraço, e para a sua total surpresa a loira correspondeu. Permitindo-se soluçar nos ombros daquela que sempre renegara como mãe, mas que bem ou mal, a criara como uma verdadeira filha.

Tyrion indicou a porta com a cabeça, lhe convidando à sair e deixar as duas à sós, sabendo que poderia ter um momento com sua mãe mais tarde o loiro concordou, seguindo-o discretamente.

– Encontraram Jaime? – perguntou o anão

– Sim – respondeu

Narrou-lhe então os acontecimentos em Gogossos e a conversa que tivera com o pai. Tyrion fizera varias perguntas sobre Jaime, e o bem está do irmão, mas também pareceu particularmente interessado nas mulheres de Kokuren Josei, com quem sua esposa passara anos. Renly revelou-lhe tudo, sabendo que poderia confiar no tio.

– Há mais um assunto que quero tratar, sei que no Torneio da Rainha intentava arranjar um casamento para mim, com uma das trigêmeas Hardyng. – iniciou o assunto cautelosamente

Tyrion assentiu, o incentivando a prosseguir.

– Todavia creio que não seja o melhor caminho... Raven Arryn retornou, e há grandes chances que ao fim da guerra retome sua herança.

– Deseja se casar com a garota mercenária? – perguntou o anão diretamente

– Não! – apressou-se em negar, não tinha nenhum interesse na garota, reconhecia suas qualidades e sua beleza, mas ela era apenas uma amiga. – Estou apenas apontando que pode não ser tão vantajoso me casar com a filha de um lord que provavelmente perderá seus títulos e terras muito em breve.

– E com quem seria vantajoso casar-se? – questionou o anão com um sorriso astuto

O loiro desviou o olhar em nervosismo. Sua proposta não era exatamente vantajosa para o nome Lannister, mas era o que mais desejava na vida. E sabia que se havia alguém no mundo capaz de arranjar tal matrimônio, esse alguém era Tyrion Lannister.

– Shiera Tully – sussurrou

O anão riu

– Lord Edmure jamais concordaria. Os Tully são demasiado orgulhosos, mesmo que eu tenha sido um anfitrião cordial ele jamais vai engolir por completo a humilhação que Riverrun sofreu dos Lannister.

– Concordará se fizer o movimento certo – insistiu Renly – Bem ou mal os Tully foram poupados. Poderia ter cortado a cabeça de todos e escolhido o próximo Lord de Riverrun e das Riverlands, a rainha não faria nenhuma objeção. Todavia os poupou e devolveu-lhe suas terras.

– Tinha uma dividida para com os Tully. Lady Stoneheart poupou a vida do seu pai. – respondeu o anão dando de ombros

– E agora os Tully tem uma divida para com a casa Lannister. Uma divida que deve ser paga. Seria uma proposta que Lord Edmure não poderia recusar. Primeiramente por botar em cheque sua honra, além do que és a Mão. Sua posição de prestigio lhe dá certas vantagens, tais como influenciar a rainha. Com uma guerra vindoura, nunca se sabe quando uma casa pode cair e outra ascender.

– Fala de aniquilar uma casa apenas por uma garota? – riu o anão

Renly recuou, quando o tio colocava nesses termos parecia muito mais cruel do que em sua mente. Não desejava destruir a família e Shiera, nem de longe, isso apagaria por completo o sorriso da Tully, e Renly vivia por aqueles sorrisos.

– Falo de ameaças – respondeu cautelosamente, analisando a expressão do anão – Não espero que tenhamos que concretiza-las. Rains of Castamere ainda é uma canção popular.

– Muito bem, vejo que planejou cuidadosamente. Mas que vantagens isso traria para sua casa?

– Além da aliança e influencia política? Lord Edmure tem apenas dois filhos, se um deles vier à falecer, meus filhos podem se tornar Lord of Twins. Se ambos, podem se tornar Lords of Riverlands.

Tyrion riu

– Me parece o suficiente. Só tenho uma questão, sobrinho... A foda foi tão boa assim?

Renly corou desviando o olhar. Trocara apenas alguns beijos com Shiera, e não passara disso, era um cavalheiro, jamais a desonraria de tal forma. Além do que ela era uma lady, uma verdadeira lady, diferente daquelas hipócritas que compunham a corte, com aparências virginais mas sendo verdadeiras devassas entre quatro paredes.

Sua mente vagou para sua própria irmã, que até pouco tempo era exatamente assim. Ele sabia que a irmã era vastamente experiente nesse assunto, e que tivera inclusive relações com outras mulheres. E as más línguas diziam que Narcysa perdera a virgindade com apenas 13 anos, alguns diziam que fora para um lorde casado, outros que para um cavalariço, e os piores afirmava ainda que fora para o próprio Renly. Tal pensamento lhe dava ânsia de vomito, reconhecia que a irmã era atraente, mas jamais poderia enxerga-la desse modo.

Notando que demorara muito para responder e que Tyrion ainda aguardava uma resposta falou.

– Não a toquei assim, tio – respondeu sinceramente – Ela é uma lady afinal.

Tyrion assentiu porem ainda com um sorriso malicioso no rosto.

– Há mais – sussurrou Renly mudando de assunto – Tio, eu vi esse Bael Baskoll Drawviryen, bem como seu exercito e seus aliados. Temo que sejam muito mais poderosos do que supõem. Ele sozinho derrotou os melhores guerreiros de Westeros, ainda que vençamos seu exercito não creio que há algum humano que possa derrota-lo.

Os olhos desiguais Tyrion brilharam.

– Então ainda bem que temos aliança com dragões – sorriu ele.


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