Thalia:

Nico é um idiota.

Poderia ter ficado lá no chalé 13, dormindo como o bom garoto que ele não é, até que eu resolvesse meus problemas sozinha. Mas, como todos os deuses estão contra mim no momento, é claro que isso não aconteceu. Ele tinha que bancar o namorado preocupado, não é?!

(Tudo bem. Ele não é meu namorado. Tecnicamente.)

Ali estava eu, em pleno salão de tronos do Olimpo, de mãos dadas com o garoto que eu odiava agora mais do que tudo no mundo. E como Afrodite sabiamente disse uma vez, "O amor e o ódio costumam caminhar sempre de mãos dadas".

Sentia meu rosto vermelho e levemente inchado por conta do frio e das malditas lágrimas que eu não consegui segurar a momentos atrás, e eu odeio isso também.

Odeio lembrar que fiz uma promessa idiota por vontade própria. Odeio que não tenha conseguido evitar me apaixonar. Odeio ser fraca. Odeio tentar interpretar uma profecia aparentemente sem sentido. Odeio a mim. E odeio o garoto ao meu lado porque ele não entende esse meu ódio. Odeio que ele seja tão teimoso e cabeça dura quanto eu...

E é muito ridículo de minha parte pensar assim, certo?

Desculpe. Estou mudando de assunto de novo. Vamos voltar ao Olimpo e a minha morte iminente...

[...]

–Isso é ultraje! - Afrodite se pronunciou novamente, dando outro de seus ataques histéricos e totalmente desnecessários. - O amor não é um crime para ser punido com a morte! Não vou permitir que você...!

–BASTA! - Atena gritou por sobre o rebuliço que começava a se formar. - Certamente não vai permitir coisa alguma, Afrodite. Já que esse assunto não lhe diz respeito.

–Ora, sua...

–O fato é que, - ela interrompeu a deusa mais uma vez. - Colocado em questão que um juramento solene foi quebrado... Deve haver consequências igualmente severas.

Hades se levantou num pulo.

–Mas se está em debate a punição da garota que quebrou o juramento... O que meu filho faz aqui?!

Ares sorriu com escárnio, de forma horripilante.

–Porquê não pergunta a ele, irmão? Garanto que vai adorar a resposta...

Hades encarou Nico com ódio, aguardando a resposta. Apertei a mão dele na minha transmitindo uma confiança que eu mesma não tinha. Nem eu conseguiria responder aquilo.

Ele respirou fundo.

–Estou aqui porque escolhi proteger quem eu amo, e quanto ao porque desse debate...- ele respondeu, e se virou para Zeus antes de terminar. -Se vão tratar do assunto como juízes, sugiro um recesso.

–Garoto estúpido. - cuspiu Ártemis, sem alteram o tom de voz ou mesmo a postura. - Acha que morrer por amor é heróico? Mais bonito que qualquer outra morte? Acha que ganhará algum prestígio com isso? - ela riu de um jeito assustador e irônico. - EU já vi milhares de homens morrendo por amor, e vou te contar um segredo: Morrer por amor nada mais é do que burrice e estupidez. Insensato.

–Mas eu escolhi assim. Não por heroísmo, prestígio, ou por achar bonito, mas porque eu sinto que é a coisa certa a fazer. - ele respondeu, também sem alterar a voz. - E, sinceramente... Não me importo nem um pouco com você e com seu voto de castidade. Até porque ele já foi quebrado antes, como todos aqui sabem.

Apertei tanto a mão dele que os nós de meus dedos ficaram brancos.

"Cale a boca, Nico! Pelos deuses, cale a boca!"

Ártemis o encarava furiosa, e Atena deu um suspiro pesado

–Realmente acredito que um "recesso" seja a melhor opção por agora. - disse ela. - Sugiro deixarmos os garotos irem até que nossa decisão esteja tomada. Não é sensato discutir um assunto desses mantendo-os aqui.

Respirei fundo. Zeus, obviamente contrariado, fez um sinal de desdém com a mão, permanecendo calado.

–Irmão... - Posseidon pressionou.

–Que seja! Que seja! - Zeus gritou. - Todos a favor?

Afrodite levantou os braços desesperadamente, e alguns deuses seguiram seu exemplo. Atena, Apolo, Hades, Hefesto, Hermes e Posseidon lentamente se uniram a ela, erguendo timidamente suas mãos.

–Todos contra? - Zeus pediu, e Ares, Ártemis e Hera ergueram as mãos. Afrodite cruzou os braços para Ares, batendo o salto no piso de mármore com fúria avassaladora.

Dionísio estava ocupado demais avaliando seu copo de vinho para se manifestar.

–Eu sou a favor de deixá-los em paz! - Explodiu a deusa do amor.

–Afrodite, cale-se! Ou a única a ser punida aqui será você! - Zeus ameaçou, e ela se sentou emburrada.

–Temos um recesso aqui. - decretou ele. -Voltem ao acampamento e fiquem lá. Serão chamados quando nossa decisão for tomada e, até lá... Sugiro que não demonstrem nenhum tipo de intimidades. Estaremos de olho em vocês.

[...]

Entramos no táxi calados. Eu não conseguia nem ao menos olhar nos olhos dele...

Fiquei encarando a paisagem passando em borrões pela janela, tentando esconder as malditas lágrimas que teimavam em escapar dos meus olhos.

Em vão.

Senti dedos frios caçarem uma a uma pelo meu rosto quente, e meio que contra a minha vontade, me afastei deles.

– Eu me sinto uma completa idiota quando você me consola, Nico. É meio irritante. - disse, forçando um sorriso. Ele sorri de volta.

–Eu me sinto um inútil quando você chora. - respondeu, e refletiu sobre a frase com uma careta. - Desuse, essa frase soou tão... - suspirou, rindo de sua incapacidade de completar a frase.

–Emo? - sugeri, encaixando a cabeça em seu ombro.

–É... Alguma coisa por aí... - admitiu.

–Posso sugerir uma coisa pra você não se sentir assim quando me ver chorar? - perguntei, fechando os olhos.

–Pode. - permitiu, e eu enterrei o rosto na curva de seu pescoço, sentindo seu cheiro de orvalho e perfume italiano.

–Me beija. - sussurrei. Senti ele sorrir.

–Sabia que você ia dizer isso... - respondeu, capturando meus lábios nos seus antes que eu desandasse a falar de novo. Nos separamos pela falta do maldito ar, mas continuamos com as testas coladas.

–Toma. - disse num sussurro, tirando seu anel de caveira do dedo e estendendo-o a mim. - Quero que fique com ele. - Nico me encarou.

Peguei-o de sua mão, dando um selinho demorado naquela boca perfeita.

– Obrigada. - disse, colocando-o de pingente na minha corrente de prata. Ele uniu as sombrancelhas, confuso, e começou a rir.

-Thals... Você sabe que um anel se coloca no dedo, certo?

Estendi minhas duas mãos em resposta., e ele arfou de surpresa. De cada mão minha pendiam, exatamente, 3 anéis de caveira, cada um diferente do outro.

–Sempre tive uma certa paixão por caveiras que eu não entendia... - expliquei. - Acho que fica mais claro a medida que as coisas te desenrolam, então mantive cada uma delas perto de mim. Acho que finalmente descobri o motivo...

Ele se aproximou perigosamente de mim.

– E qual é?

Respirei fundo.

–Preciso mesmo responder?

Ele mordeu o lóbulo da minha orelha e sorriu, sussurrando.

–Eu quero ouvir... - exigiu.

–Eu te amo. - e choquei nossas bocas novamente.