Cartas Para Eduarda escrita por Rachel Sales


Capítulo 1
Desabafo


Notas iniciais do capítulo

É a minha primeira fic. Aceito elogios, críticas e sugestões construtivas. Espero que gostem :)



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"4 de janeiro de 1602"

A jovem mulher estava chorando. Segurava uma criança que aparentava ter dois anos de idade e tentava acalmar o marido.

– O que está acontecendo? – ele gritava. A mulher acariciava o rosto da criança sonolenta em seu colo.

– Vai ficar tudo bem. – ela respondia. Suas lágrimas escorriam com facilidade pela face mas ela tentava fazer com que a criança não percebesse.

– Eduarda! O que está havendo? Por que toda essa fumaça? – o marido já estava ficando vermelho de tanto gritar.

A mulher apenas se virou com uma expressão distante e respondeu:

– Não olhe pela janela, querido. Tudo está pegando fogo.

"Dias atuais"

Acordei com o irritante barulho do despertador. Eram 5:40 da manhã e estava escuro do lado de fora. Bocejei e tateei a mesinha de cabeceira em busca de um copo de água que sempre deixo ali antes de dormir. Bebi a água rapidamente. Sempre acordava sedento.

Levantei e fui para o banheiro. Escovei os dentes e tomei um banho frio e demorado. Voltei para o quarto e vesti a primeira coisa que encontrei pela frente: uma camisa cinza claro e calças jeans.

Meu pai e minha mãe já estavam na cozinha quando desci. Todos os dias eram assim. Meu pai ia trabalhar no mesmo horário em que eu ia para a escola e minha mãe geralmente tinha que ir à academia ou algum lugar parecido. Eu nunca entendi porque ela malhava tão cedo.

– Bom dia! – minha mãe cantarolou de modo escandaloso e alegre demais. Ela me deu um abraço muito forte e não pude deixar de pensar que ela estava exagerando um pouco.

– É só o primeiro dia do segundo ano, mãe. Eu não estou indo embora de casa nem nada parecido. – eu arqueei uma das sobrancelhas.

– Você conhece sua mãe. – papai gargalhou.

Eu revirei os olhos.

Lisa, a governanta, passou por mim nesse exato momento.

– Ah Ethan! Você está crescendo tão rápido! Ainda me lembro de como você era pequeno quando eu vim trabalhar aqui. – ela sorriu.

Lisa era como minha segunda mãe. Ela trabalhava conosco desde que eu tinha oito anos e grande parte de meus machucados de infância foram curados por ela.

– Vocês não precisam fazer esse escândalo todo. Eu vou para a escola como eu faço todos os anos desde que me lembro. Não há nada diferente nisso. – eu respondi. Por que todos naquela casa pareciam estar mais ansiosos do que eu?

– Tome seu café e não faça essa cara. Quem sabe você não conhece alguém especial? – Lisa piscou. Ela e meus pais viviam insistindo que eu deveria arrumar uma namorada. E não é que eu não quisesse. O problema era que as garotas não me queriam.

Eu não era feio ou algo do tipo. Para ser honesto eu podia ser considerado até um cara bem bonito: tinha olhos e cabelos pretos e um certo bronzeado por ficar exposto ao sol. Era razoavelmente forte por treinar basquete todos os dias no quintal de casa e era bem inteligente se comparado aos outros garotos.

O motivo para que eu não conseguisse uma namorada era simples: eu não tinha entrado para o time de basquete no ano passado. Não que eu não jogasse bem mas eu já comentei que eles não aceitam pessoas com doenças respiratórias? O treinador me conhecia desde criança e sabia que eu tinha asma. Pelo visto pessoas com asma não podem fazer muito esforço físico embora eu continuasse treinando. Irônico não?

Comi o cereal que Lisa tinha colocado na mesa e saí apressado. Dylan era meu vizinho e eu iria encontrá-lo no meio do caminho. Ele é meu melhor amigo embora tenha sido escolhido como capitão do time de basquete. Não que eu estivesse com raiva ou algo parecido mas agora ele era obrigado a passar a maior parte de seu tempo com o time. Os únicos minutos em que posso falar com ele é o tempo que levavamos para chegar à escola. Evito cumprimentá-lo no intervalo porque ele não ficaria muito bem se fosse visto andando por aí com um dos "nerds".

Caminhei rapidamente pela rua enquanto estava com meus fones de ouvido no volume máximo. Não percebi que alguém me seguia até que fui surpreendido com um leve soco nas costas.

– Mas o que.,. – tirei os fones e comecei a falar mas parei ao perceber quem era.

– E aí? – Dylan sorriu. – Você sempre cai nessa.

Dei de ombros. Dylan era bem mais alto que eu mas podia ser incrivelmente silencioso.

– Estava indo pra escola sem mim? Por que não passou na minha casa para avisar que eu estava atrasado? – ele perguntou. Ele deu socos no ar como se estivesse me ameaçando.

– Eu não tenho a função de ser seu despertador. – eu respondi. Ele riu.

– Mas melhores amigos servem para essas coisas. – ele chutou o ar. Pelo visto ele andava assistindo muitos programas de luta.

– Então você escolheu o amigo errado. – eu sorri. Dei um leve tapa no topo de sua cabeça e andamos até a escola.

O portão da escola estava quase vazio. Algumas pessoas praguejavam por ter que acordar cedo e outras tinham um sorriso no rosto por rever os amigos. Acho que eu me encaixava perfeitamente no primeiro grupo.

– Só o ensino médio. – eu murmurei. – Só um pouco mais de paciência e tudo isso vai acabar logo.

– A escola não é tão ruim assim. – Dylan olhou pra mim. Sua expressão dizia que ele não gostava do meu pessimismo.

– Não é tão ruim? – eu ergui as sobrancelhas. – Você esqueceu aquela vez em que nos prenderam dentro do armário?

– É mesmo. – ele respondeu, se lembrando. – Você está certo. Essa escola é uma droga.

O sinal tocou. Entramos e esperamos em um auditório como fazemos todos os anos. O diretor falou as mesmas coisas sem graças que já ficaram até gravadas em minha mente de tanto serem repetidas. Em algum momento o time de basquete apareceu e levou Dylan. Quando estavam indo embora olharam para mim com uma expressão de superioridade. Nunca tive tanta vontade de quebrar os dentes de alguém na minha vida.

É claro que Dylan tentou me levar junto. Ele acha que pode dar um jeito de fazer com que eu seja amigo dos jogadores mas a verdade é que eu não quero isso. Os jogadores do time de basquete são uns babacas.

Minha primeira aula era de História. Sentei no fundo da sala e coloquei os fones de ouvido. O professor falava algo e eu não prestava a mínima atenção. Geralmente aulas de História fazem minha cabeça doer.

O dia passou rápido. Quando percebi já era hora de ir embora. "Até que enfim. Eu não aguento nem mais uma hora disso", pensei.

Dylan estava do lado de fora, no portão, com todo o time de basquete. Acho que ele teria treino dali a alguns minutos então eu voltaria para casa sozinho.

– Ethan! – ele chamou. – Vem cá!

Droga, pensei. Dylan sabia que eu não gostava dos garotos do time. Eles eram valentões e idiotas que necessitavam urgentemente de um cérebro.

– Eu preciso ir embora. – me aproximei de Dylan. – Lisa vai ficar com raiva se eu me atrasar para o almoço.

Os outros garotos riram. Demorei um tempo até perceber que o motivo da risada era eu.

– Você ainda precisa de babá, Lewis? – provocou Joshua, o cara mais alto do time. Talvez eu tivesse ignorado o comentário se ele não tivesse feito duas coisas que eu odeio: ouvir alguém falando mal de Lisa e ser chamado pelo sobrenome.

– Ele precisa que alguém esteja por perto quando ele tiver aquelas crises estranhas. – Andrew, um cara esquisito e com dentes tortos, gargalhou.

A risada aumentou. Um deles começou a representar meu suposto ataque de asma enquanto os outros gargalhavam até chorar.

Eu já disse que não controlo meus membros quando estou com raiva?

Em um minuto eu estava sendo ridicularizado e humilhado no portão da escola e no outro minuto minha mão já tinha atingido em cheio a cara de Andrew.

Todos pararam de rir. As pessoas que estavam no portão começaram a se aproximar de nós.

Andrew estava com o queixo quebrado e pelo visto com o ego bem ferido. Seus colegas tentavam levantá-lo do chão.

– Ethan... como você fez isso? – Dylan estava um pouco assustado.

Comecei a tossir. Isso acontece quando fico muito nervoso. Meu problema respiratório sempre piora as coisas.

Dylan tentou se aproximar e me ajudar.

– Tira a mão de mim! Não quero sua ajuda. – eu gritei. Minha cabeça girava um pouco mas eu não queria que ele chegasse perto de mim. Estava com raiva por ele ter deixado todos me humilharem e não ter feito nada.

– É melhor você ir para a enfermaria. – Dylan estava tomando o máximo de cuidado possível comigo. Ele me conhecia muito bem: eu não era de me estressar fácil mas quando isso acontecia eu não conseguia controlar os estragos.

– Eu só quero ir pra casa. – eu sussurrei. Estava me sentindo estranho e como uma bomba relógio: a qualquer momento eu poderia explodir.

Cheguei em casa ofegante. Minha cabeça doía insuportavelmente. Lisa levou um susto ao me ver.

– Ethan! O que aconteceu? – Lisa estava me segurando pelos ombros. Eu não queria contar pra ela o que havia acontecido. Com certeza eu levaria uma suspensão pelo que fiz.

– Eu quero ficar sozinho. Por favor. – eu murmurei. Dei um beijo do rosto de Lisa, subi as escadas e fui para o meu quarto.

Que diabos estava acontecendo comigo? Por que eu não estava conseguindo pensar claramente? Minha visão estava meio nublada de vermelho e eu sentia um efeito entorpecente depois da raiva.

Eu precisava desabafar. O único problema era que eu não queria falar com Lisa sobre o ocorrido. Eu queria desabafar com alguém que não me desse sermões e que me ouvisse sem dar palpites.

Acho que em um ato de desespero acabei fazendo algo meio doido. Peguei um pedaço de papel que estava guardado em meu bolso e me imaginei mandando uma carta para alguém em quem eu pudesse confiar. Vários nomes aleatórios apareceram em minha mente mas um deles me agradou imensamente.

Comecei a escrever.

"Querida Eduarda,

Você não sabe o quanto tem sido difícil. Parece que de uma hora pra outra minha vida saiu dos eixos. Ainda bem que eu tenho você...”

Eu ainda sentia minha cabeça doer então resolvi deitar um pouco.

Guardei a carta em uma gaveta na mesinha de cabeceira ao lado da cama e sem querer acabei adormecendo. A única coisa que eu não esperava ao acordar era ver que minha carta teria uma resposta...


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Notas finais do capítulo

Vamos fazer assim: se tiver pelo menos 5 reviews (com sua sincera opinião) eu posto o segundo capítulo :D Até breve!



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