A Matemática De Vítor Cost. escrita por LittleLucas


Capítulo 6
6




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Seria muito clichê se eu falasse que cresci sem meu pai?. Clichê ou não, é a verdade. Não lamento de não ter tido ele por perto, nem de até os meus 17 anos ter tido somente um sobrenome. Mas lamento, pelo fato de minha mãe ter tido sempre esperança de que ele voltaria, de que um dia ele apareceria com um buquê de rosas para ela, de que um dia ele me chamasse de filho, de que um dia ele falaria que ainda a ama e a quer de volta. Ela estava sempre lá, na cozinha, escutando Roberto Carlos e olhando pela janela. Aos 6 anos de idade, eu já sabia a letra inteira de "O Portão".


"Você vai sair com 'os caras', hoje?", perguntou uma Elisa de 15 anos pelo telefone, com deboche no seu tom de voz. Meu retrato ainda na parede, meio amarelado pelo tempo, como a perguntar por onde andei, e eu falei... minha mãe cantava calmamente no fundo, quase em um sussurro.

"Vou sim.", respondi, quando eramos adolescentes Elisa, não sabia de nada, sobre meu pai.

"Ah...", mais uma vez com seu tom de deboche.

Ela nunca me falou, mas eu sabia, ela não suportava meus amigos. Elisa sempre foi do tipo "não se meta na minha vida, que eu não me meto na sua", apesar de eu me meter na vida dela muitas vezes, e já ter causado problemas sérios á nossa amizade, ela sempre se manteve fiel a essa unica regra pessoal dela. Ela odiava eles, mas nunca falou com todas as palavras.

"Se cuida, por favor, Vítor...", falou Elisa apreensiva.

"Tudo bem." Respondi antes de desligar o telefone e ir na cozinha, beber água e em seguida começar a me arrumar.

Cheguei na cozinha, e minha mãe não estava lavando louça, ou fazendo um bolo pra ela comer a noite, muito menos sentada na cozinha assistindo os programas de talk show que todos as mães gostavam. Ela estavam com o olhar vidrado na janela, ainda sussurrando uma música do Roberto Carlos. Achei estranho, mas não comentei nada, só peguei meu copo de água, e fiquei em silêncio.

"Você se parece muito com seu pai, sabia?", minha mãe disparou, melancólica.

Eu apenas emiti um ruído com a garganta surpreso.

"É, Vi... O mesmo rosto, a mesma voz, o mesmo jeito. De mim, você não tem nada. Nem os olhos, seus olhos são castanhos como os de seu pai, seus cabelos são escuros, lisos e costantemente bagunçados como os dele eram. A diferença é que você é meu..."

Paralisado, era como eu estava. Olhava estático para minha mãe, eu já estava com 16 anos, nunca tinha visto esse ser chamado "pai", e minha mãe falava dele pelo menos uma vez no mês, já não me afetava, eu já tinha atingido um estado de apatia. Depois de 16 anos, - provavelmente mais - minha mãe mantinha o mesmo amor, da mesma intensidade. Eu cresci com medo de acabar daquele jeito. A juventude te dá a impressão de que você pode tudo, que nada de ruim pode te acontecer. Você quer amar e ser amado de volta. Você ama demais, até não ter mais amor para dar, ou até a pessoa não te amar mais. O último foi o caso de minha mãe.


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