Prefácio

Outono, 1998

Alguns metros distantes do círculo de gente metida em paletós escuros e véus cobrindo os olhos, um automóvel que fazia coro àquele momento estacionou. Um homem frágil de aparência mirrada com seus mocassins acompanhados de meias contrastantes ao preto do sapato, saltou da limusine.
Pegou seu guarda-sol e abriu-o. Ajeitou seu paletó e óculos aviador, e com um simples menear da cabeça deu a entender ao seu motorista que o esperasse no carro.

O caminho percorrido era de pedras largas e beges com flores coloridas a acompanhar. Não havia rosas. O silêncio tomou o momento quando ele se aproximou. Fitaram-no. Havia ódio em cada olhar.

- Como ousa aparecer aqui? - Indagou a senhora que se desfez do véu escuro apenas para encará-lo. Suas lágrimas lhe desenhavam cada marca de vida estampada em sua cara. Ele então olhou para cada rosto que o fitava até encontrar novamente o de Joanna, e responder:

- Vim me despedir de Allie.

- Saia.

- Por favor. Eu preciso...

- Já disse para sair.

Ele moveu os lábios para insistir mais uma vez, mas percebeu o quão inútil seria. Abaixou o olhar e deixou sobre as mãos gélidas de Allie a sua última rosa e seu último olhar. Sentiu mais uma vez a falta que lhe fazia aquele par de olhos cintilantes e castanhos. Virou-se a caminho de volta. Alguns metros à frente, pôde ouvir:

- Quero que tirem isso de perto de minha filha!

Era mais uma dor que o acompanharia pelo resto da vida. Seus passos eram lentos
em direção à limusine quando percebeu mãozinhas lhe agarrarem a calça. Voltou o olhar para baixo e deixou escapar um singelo sorriso.

- Edward!

A criança abriu os braços e ele o agarrou, erguendo-o.


- Eu sei que você amava minha mãe. – Sussurrou Edward em seu ouvido, abraçando-o.

Pequenas lágrimas surgiam dos pequeninos olhos.

- Eu sei.

Ele apertou mais a criança, também sentindo o choro próximo.

- Obrigado. Eu a amo muito.

Nunca te esquecerei, minha querida Allie.