A esse ponto da história, onde vemos tudo pelo que Finch passava, já está mais do que na hora de entendermos um pouco a mente de Clove. Duas pessoas, obviamente diferentes modos de se entender. Principalmente agora, nesse momento crítico onde aparentemente a situação está prestes a se inverter. Nada mais justo do que acompanhar a até então "vilã" da história, pelo menos por agora.

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Clove não conseguia entender. Primeiro, havia uma clara afirmação de chantagem na voz de Finch. Ela sabia que a garota não era tão má. Algo a dizia que uma convivência com Clove Fuhrman não fazia nada bem, ela influenciava "maldade interior e capacidade de suprimir o sentimento de remorso". Em seu próprio ponto de vista, ela não passava de uma sociopata.

Aliás, o que Clove estava pensando ao beijar Cato? Os outros tinham acabado de sair, Glimmer em seu jeito "Sou sexy demais para ficarem a minha presença" e Marvel caminhando quieto. Ele andava muito quieto ultimamente, o que não parecia nada bom. Ela disse que ficaria mais um pouco na casa de Cato, mas não esperava que algo do gênero acontecesse. Se um dos outros carreiristas voltasse teria sido bem pior. Pelo menos nas mãos de Finch um segredo seria bem usado.

O beijo havia sido estranho. Na verdade, quando viu Cato se aproximando, achou mais provável ele a matar do que a beijar. Mas não fizera nada para impedi-lo. Porque? Bem... Era bom, de certa forma. Pelo menos nele Clove sabia confiar. Mas ainda tinha suas dúvidas.

Clove estava presa entre um milhão de pensamentos. Ela via sua vida em risco, embora exagerasse um pouco. Não era bom demonstrar seus sentimentos a ninguém, mas duvidava que conseguisse esconder a angústia em seu rosto.

A verdade? Ela sentia vergonha. Embora não soubesse exatamente do que. Lógico que sentia algo por Cato(e esperava que ele correspondesse), mas para Clove era algo óbvio demais. Várias pessoas queriam vê-los juntos, uma relação entre os dois iria parecer forçada. E por mais que tentasse não ligar, ela se importava com os sentimentos dos outros.

—Tudo bem, Clove?- ela ouve Cato perguntar.

—Sim. Mas eu achei que ninguém mais ia vir hoje.

Ele sorri e passa um braço pelos ombros da garota.

—A vida é uma caixinha de surpresas.

Ela ri.

—Ok, esse tom filósofo não combina com Cato Ludwig.

—Tem razão. Mas a Foxface nunca vem. Foi realmente muito azar...

O carreirista faz uma cara de confusão, seguida de um olhar de dúvida.

—Você tem vergonha de mim, Clove?

— O que? Claro que não!

—Então porque você ficou tão preocupada com o que a Foxfaxe viu?

—Eu não sei, Cato. É difícil explicar.- "especialmente pra você", ela quis adicionar, nas se conteve.

—Tente pelo menos.

Cato estava completamente sério. Ele nunca, repito NUNCA, ficava sério por muito tempo. Por isso, Clove decidi tentar:

— Eu não quero que pareça forçado, sabe? Nós dois juntos. Eu não quero pessoas comentando que seria uma falsa relação, tudo por popularidade. Talvez... Não sei. Mas o pessoal lá da escola já não gosta tanto de mim. O que eles falariam ao meu respeito?

—Tente não ligar.- Cato diz, ainda sério. Mas ela balança a cabeça em negação.

—Eu não consigo. Não sou forte nesse ponto, minha vida depende da opínião das pessoas. Sinceramente, é frustrante!

Havia sido mais fácil do que parecia, Clove tinha achado as palavras certas ao final.

E de todas as reações possíveis, Cato escolhe a mais improvável. Ele a abraça. Ela segura as lágrimas indesejáveis, odiava chorar. Mas era um alívio, Clove não esperava que Cato fosse tão compreensível.

—Não se preocupe, ok? Se alguém falar mal de você eu o impesso de falar para sempre.

—Hm, obrigada. Esse sim é o tom que combina com você.

—E nem ligue para o que Foxface saiba. Ela não tem provas de nada. Mas ainda não gosto da ideia de namoro escondido.

—Namoro?

—Se estiver tudo bem pra você...

—Ah, Cato!— A principal vontade de Clove era chorar de emoção. O que estava acontecendo consigo?!. Ela se contêm, tinha medo de perder a reputação de "forte" que vinha formando desde que entrou em Panem Special School. E então sorri de forma maliciosa.—Eu vou pensar.

Eles se abraçam por mais um bom tempo, absortos demais no próprio momento. Mas porque se preocupar, a única pessoa que por perto era Finch, mas já estava longe o suficiente para não vê-los, e além disso... Dela não havia o que esconder. Mas, para o azar repentino de Clove, há alguém que os olha. Alguém chamado Marvel.

—Tsc, tsc. Cato perdeu o jeito. Sem provas? Haha.

O carreirista segurava uma pequena câmera nas mãos.

—Bom, pombinhos, acho que uma certa Finch vai gostar do que eu tenho aqui. Prova de confiança.

Eles são seus amigos, algo(talvez sua consciência) dizia. Não, ele responde. Amigos não. Cato, Clove, hora de se curvarem perante o poder dos bolsistas tributos.

Ele abre um sorriso cínico. Embora estranhe, já que cinismo nunca foi algo que participava de sua personalidade. Mas já era hora do reinado de Panem S.S. passar para Marvel. Era extremamente infantil, ele analisava tudo de forma figurativa. Queria ser rei, e já tinha uma rainha em mente. Só precisava ganhar sua confiança.

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Acredito que todos tenham seu lado escondido. Havia uma pessoa insegura dentro de Clove. Havia uma pessoa carinhosa dentro de Cato. Havia um cínico dentro de Marvel. Havia um pouco de maldade dentro de Finch. E também vimos a algum tempo que havia uma aproveitadora dentro de Katniss.

Mas será que ninguém nunca se perguntou o que havia dentro de Glimmer?

Era o que a garota se perguntava, enquanto tentava entender o que acontecia. Assim como Marvel, a loira não tinha saído da casa de Cato. O que era estranho, mas ela tinha o pressentimento de que algo iria acontecer. Não pense que "existe uma vidente dentro de Glimmer", era algo realmente fácil de se notar. Glimmer havia sido a primeira a ver Cato e Clove juntos, antes de Finch e de Marvel. E mesmo sem nenhuma promessa nem algo do gênero, ela iria guardar segredo, pelo bem de sua prima Clove. Estranho não? Talvez dentro de Glimmer exista alguém em quem se pode confiar.

E ela seria a única a se manter realmente como era. Glimmer Rambin manteria a ordem dentro do grupo, pelo menos até a chegada do campeonato. Depois a garota superficial estaria de volta.

Por enquanto... Glimmer apenas se mostraria alheia a situação. Se fingir de burra era o que mais sabia fazer.

Agora que todos tinham seus esquemas, ninguém poderá prever o que irá acontecer.