Ela era tão jovem para morrer, tão jovem para deixar tudo que tinha para trás, tão jovem para deixar ele sozinho. Ela não iria morrer, não. Não iria se render a alguém que se tornou sua melhor amiga durante esses dezesseis anos de sua vida, não iria se render a alguém que tanto desejou ver por inúmeras vezes, ela não iria se render à morte.

Ela iria usar suas últimas forças para fazer o que fosse necessário para tirar a vida daquela mulher desprezível que caía a sua frente, e ela iria continuar viva.

Seus olhos estavam cada vez mais azuis, ela sentiu como se seu corpo voltasse a responder seus comandos, como se toda a dor tivesse sido simplesmente retirada dele. Ela levantou-se, e andou até Everdeen, que estava caída, muito machucada.

– Você...você não morreu... – Ela protestou, tossindo um pouco de sangue. – D-Devo admitir, você é uma bruxa muito forte...Espero que arda no fogo do inferno e pague por tudo que fez a essa terra.

– Eu espero que vocês paguem por tudo o que fizeram a mim e a outras jovens inocentes que foram condenadas por serem bruxas, quando VOCÊ é a verdadeira bruxa negra neste local.

– E-Eu...Eu não sou uma de vocês. – A mulher estava com as mãos estendidas no chão, segurando a varinha. Ela ainda tinha forças para um último golpe, mas Aurora pisou no pedaço de acácia, que se partiu em pedaços.

– Não existe bruxaria do bem ou bruxaria do mal. Existem pessoas más que praticam a bruxaria, e fazem dela algo terrível. Garanto que essas pessoas não são as bruxas negras, Everdeen, já que elas nunca mataram outras jovens por serem mais poderosas.

Aurora simplesmente caiu em cima da mulher, com a adaga em mãos. Ela deferiu alguns golpes, pescoço, tórax, braços. Ela gostava de ver o sangue mágico escorrendo pelo piso destruído do castelo, gostava de ver a bondade de Everdeen se espalhando aos poucos em forma de líquido vermelho e pedaços retalhados de pele.

Aurora sentiu seu corpo falhar, como se em um giro ela não fosse capaz de controla-lo. A garota caiu para o lado e fitou o teto, enquanto seus olhos se fechavam lentamente olhando para o enorme candelabro pendurado.

Hiei estava deitado da mesma forma que a garota, e conseguiu se levantar depois de algumas tentativas falhas. Era como se raízes o prendessem no chão cada vez que ele tentava dar um passo adiante, mas ele tinha que chegar até a garota, ele não podia adormecer. Ele sabia que Aurora havia jogado um feitiço que talvez fosse seu último, que faria todos dormirem por tem por indefinido. Ele simplesmente não podia cair naquele feitiço, não podia ser tentado a fechar os olhos sequer um segundo, ele tinha que chegar até ela.

­Ela abriu os olhos, e confrontou-os com raras pedras preciosas verdes, que na verdade eram os olhos de Hiei, que ela reconheceu imediatamente. Sua visão estava um pouco embaçada, mas ela conseguia enxergar o garoto que foi ficando claro aos poucos.

– Está na hora de acordar, Bela Adormecida. – Ele lhe sorria, suas roupas ainda estavam um pouco sujas de sangue e seu belo rosto estava cortado por marcas que pareciam ser de lanças.

– Eu pareço dormindo por um acaso ? – Retrucou enquanto sorria, e logo fazia um carteta de dor.

– Você só pode ser louca... – Ele falou, aproximando o rosto da garota do seu. – Achei que fosse te perder.

– E te deixar aqui sozinho ? Eu nunca faria isso. – Ela se levantou alguns centímetros, que forma o suficiente para que ela pudesse selar seus lábios aos do garoto, enquanto envolvia as mãos em sua nuca.

– Sei que parece estranho – ele começou – Mas eu também te amo.

– Você ouviu. – Ela estava surpresa e ao mesmo tempo corada, aquele recado não era algo que ela realmente queria que ele ouvisse, era algo que ela apenas tinha confessado para si mesma, ou algo que ela apenas achou ter confessado para si mesma.

– É claro que ouvi. Não é todo dia que eu escuto essas palavras vindas de uma garota tão linda.

– Bichinho, ela está bem ? – A garotinha de olhos lilases perguntou enquanto arrastava seu dragão e andava para perto dos dois.

– Quem é essa garotinha ? – Aurora indagou com um sorriso no rosto, ela não tinha motivos para estar infeliz.

– Meu nome é Corine, eu sou uma das quatro bruxas negras escondidas no reino – Falou sentando-se no chão – Meus pais morreram quando eu nasci, acho que Shaoran os comeu – Ela falou divertida enquanto apontava para o dragão. – Você é muito bonita, assim como o bichinho disse que era. Você tem sorte de namorar uma garota tão bonita, quero ser como ela quando eu crescer!

– Bichinho, han. – Ela riu de Hiei que revirou os olhos enquanto Aurora olhava para a garotinha com ternura, praticamente desejando voltar àquela idade para concertar as cosias. Ela queria muito dizer para a pequena garota não querer ser como ela, mas ela mesma não sabia se sua história era boa ou ruim, afinal ela tinha toda uma história a escrever pela frente.