O tempo passou desde aquele dia, Aurora agora estava com seus oito anos. Era uma garotinha adorável, simplesmente linda.
Seus cabelos longos e loiros caiam sobre os vestidos rosados que sempre usava, olhos  azuis tão belos que poderiam ser confundidos com o céu, lábios avermelhados e uma pele pálida que a fazia parecer uma boneca de porcelana. 

Aurora vivia trancada no castelo, não podia passar do portão principal. A Garota passava a maior parte do tempo apoiada na janela da torre central, que era a torre mais alta dentre as três torres do reino. De lá ela ficava olhando o movimento da cidade, olhando as crianças brincarem alegres, os comerciantes vendendo seus produtos, os animais brincando entre si, ela apenas olhava a felicidade alheia esperando o dia  em que pudesse ter sua própria felicidade.

A garota estava sentada em sua penteadeira se olhando no espelho.
Ela passava as mãos em volta do rosto e olhava espantada para o que via. No reflexo do grande espelho, ela via uma garota de cabelos loiros, olhos azuis, uma maquiagem negra, borrada, lábios da cor negra, as mãos ensanguentadas, com um sorriso psicótico no rosto.
Aurora começou a se afastar do espelho mas a imagem não sumia e ela não conseguia parar de olha-la, como se estivesse em uma espécie de transe. Ela pôs-se a andar de costas, desesperada enquanto olhava para a garota que se parecia muito com ela, e não deixava de sorrir um segundo apenas, como se quisesse mandar um recado.
Aurora caiu de joelhos e passou a fitar o chão, ela não queria encarar a garota no espelho.Ela não tinha noção de quantas horas ficou olhando aquele espelho, mais já estava escuro quando olhou pela janela.
Amedrontada, depois de passar horas em seu quarto tendo alguns vislumbres macabros, sangue, gritos, um beijo, ela decidiu descer para comer algo mesmo que isso não fosse de seu costume, ela precisava ficar na companhia de pessoas reais por um tempo.

Ela desceu as grandes escadas que eram cobertas por um tapete aveludado vermelho e chegou até a cozinha, que tinha uma enorme mesa onde estavam sentados todos os seus familiares.
Todos a encararam, avó, mãe, tia, tio, primos, todos com um olhar de desprezo como de costume.

– Porque veio até aqui Aurora ? – Perguntou um homem alto de cabelos ruivos que se punha sentado na mesa com uma grande coroa em sua cabeça, era o Rei.

– E-Eu...Eu...queria ficar aqui papai... – respondeu sem jeito, olhando para o chão tentando não deixar o medo transparecer. 

– Sabe que não pode sair do seu quarto fora de horário. - Ele tinha um olhar ríspido, rigoroso, como se abominasse estar no mesmo ambiente que a pequena menina, e isso a machucava muito. 

– Albert, deixe Aurora se sentar conosco.Tenho certeza que ela não se sente nada bem ao comer sozinha naquele quarto – Uma mulher de cabelos longos e loiros sorriu para a garota, fazendo sinal para ela se aproximar. O Rei apenas bufou, e acabou consentindo. 

O Jantar passou rapidamente, e Aurora  passou todo o tempo cpmendo quieta, apenas observando tudo que se passava na mesa e escutando todos os importantes assuntos discutidos pela família real.
Logo que acabou de se alimentar, desceu da cadeira que era um tanto alta e novamente foi ordenada a subir para seu quarto, que era o lugar que menos queria voltar naquele momento.
Apenas pela lembrança da garota em seu espelho fez com que ela estremecesse, ela não poderia chorar.

Ela subiu lentamente as escadas, aquilo era como um martírio.
Girou a maçaneta, e o primeiro ponto que olhou foi o espelho. Ela respirou fundo um tanto aliviada, mas o sentimento não durou muito. A porta do quarto se fechou em uma batida violenta, as janelas estouraram e em fração de segundos Aurora olhou e percebeu que o espelho não estava mais lá.

Encostou-se na porta fechada, seu corpo estava paralisado pelo medo que estava sentindo, ela não sabia explicar que tipo de sensação era aquela. Ouviu barulhos vindos de seu guarda-roupas, tomou certa coragem e olhou para lá. Não viu nada, apenas as portas negras fechadas como de costume. Assim que virou-se novamente para a janela, o espelho estava lá.
Aurora queria gritar, que tipo de brincadeira era aquela ?

– Assustada ? – Ecoou uma voz pelo quarto. – Me parece que está muito assustada...Bela.

A garota olhava aos arredores do quarto, com a respiração cada vez mais acelerada, a medida que rolava os olhos por cada canto tinha ainda mais medo de encontrar algo que não queria enxergar.

– Aqui... Olhe para o espelho. – Aurora reuniu o pouco de coragem que lhe restava e olhou para o grande espelho.
Uma mulher de cabelos negros, curtos e com olhar marcante  que ela reconhecia olhava fixamente para a garota, com um enorme sorriso no rosto. Aurora pegou todas as características da mulher, e lembrou-se de onde a conhecia. 

No castelo havia uma sala onde estavam os assassinos, ladrões e bruxos mais perigosos de todo o reino. Aquela mulher era o primeiro retrato na lista das sete bruxas negras mais temidas, aquela mulher era Malévola.