10 de Julho de 2006

Querida Landy,

  Pensei muito se eu ainda deveria te chamar assim, mas pensei “por que não?”. Você disse para eu não me chatear, caso não me atendesse mais, mas não deu. Me esforcei, mas hoje me sinto quebrado, sem esperança alguma em nós dois. Pensei também se era correto de deixar esta carta, talvez você nunca leia, mas só confio em Kelly-Anne para guardá-la para você. Eu poderia gastar todas as folhas do meu caderno para dizer o quanto estou com raiva de tudo que me aconteceu desde que você se foi, mas prefiro contar o que aconteceu com todos aqui, até onde eu sei.

  Seu time de hóquei foi campeão e Lori foi eleita a melhor jogadora do time. Sim, isso é uma surpresa. Mas a surpresa não foi essa, ela dedicou o título a você, como se soubesse que você estava passando por problemas. Ela disse.:

“Este troféu vai para uma grande jogadora que hoje não pode comparecer, pois está passando por problemas pessoais em seu país de origem, talvez tenha reencontrado com o seu passado, o qual julguei tanto aqui e peço desculpas. Todas nós concordamos em chamar esse título de “prêmio Yolanda”, porque me sinto melhor hoje. Eu não sei, talvez ela tenha cuspido umas verdades na minha cara. Confesso que pensei em um discurso caso ganhássemos, passei meses pensando nele e hoje, o deixei de lado. Quero falar sobre Yolanda.”

Eu não lembro mais o que ela disse depois disso, porque eu chorei. Parece estranho, mas chorei, sem me importar que todo o time de hóquei, futebol, todos, estavam ao meu redor. E sabe o que mais? Eu não era o único chorando. April foi a primeira a se retirar das arquibancadas, quando Lori começou a falar. Susan estava com os braços cruzados e revirava os olhos e as vezes, imitava Lori falando. Nesse dia, voltei a ser amigo de Lori, fui abraçá-la. Ainda chorando. Ela tem sido muito legal. Não, ela não tentou reacender a chama do nosso namoro. Sei que você diria isso. Reacender. Mas não. Ela estava gostando de Brad, o novo capitão do time masculino de hóquei. Sabe com quem ele estava namorando? Samy, sua amiga. Assustador, não? Ele até que era um cara legal, mas ainda assim, um capitão do time de hóquei.

Você deve estar querendo saber sobre Ethan. Voltamos a nos falar. Não como antes de conhecermos você, mas nossa convivência tem sido ótima. Não gosto de quando você se culpa por não sermos mais melhores amigos. Acho que nunca fomos melhores amigos. April ganhou o posto de Susan e Lori. Sim, ela é a mais popular agora. Isso porque Lori começou a andar comigo. Não sei se você me agradeceria por isso, mas de nada.

Nas férias, fiz alguns shows por ai. Você não vai acreditar, mas as pessoas gostam de mim! Está bem, talvez você acredite. As pessoas estão me reconhecendo na rua. Fiz apresentações em pequenas casas de shows pela Inglaterra. Eu andei o país, Landy. Isso é inacreditável, pra mim. As pessoas pagando para me ver. Pagando para que eu as entretenha por uma hora e meia. Isso é incrível! Talvez você se torne uma grande artista no violino e sinta o orgulho que estou sentido de mim. Não desista do violino, você é ótima. Ah! Apesar de pagaram para eu cantar, eu estava sem dinheiro e dormia no sofá da casa de umas “fãs”, se é que eu posso dizer assim. Fãs. Eu as conhecia no final do show e pagava uma bebida para elas e elas discutiam por mim. A que morava mais perto do local do show, era onde eu passava a noite e pela manhã, eu viajava novamente, para o próximo show.

Falando em violino. Sua casa foi aberta. Não foi invadida. Policiais entravam lá. Chegaram em quatro carros. Kelly-Anne me ligou e ficamos observando tudo da casa dela. Isso foi mês passado. Segundo boatos, alguém do Brasil, ligou e autorizou que vendessem a casa. Eu não sei se é verdade. Continuando, eu peguei seu violino. Perguntei para onde levariam aquilo e disse que era muito especial para mim. Dei todos os detalhes suficientes para dizer que te conhecia e sabe o que disseram?

“Fui informada de que talvez um menino ruivo chamado Edward, aparecesse.”

Disse a policial. Aurora. Era o que dizia seu crachá no bolso esquerdo da blusa. Ela disse que eu poderia levar o violino. Quando ela abriu uma caixa escrita “Yolanda – Quarto”, e pegou o violino, pude ver seu caderno. O peguei também. Salvei essas duas coisas. O violino eu devolvi para Ethan e não sei o que ele fez com o mesmo, mas seu caderno esta na gaveta do meu guarda-roupa. Todos os dias eu tenho vontade de ler, mas nunca o abri. Apenas encarei em silêncio sua capa. Aliás, elas precisa de uns reajustes. Estou determinado a ler seu caderno após escrever esta carta, não fique chateada comigo. Pense pelo lado positivo, qualquer pessoas desconhecida poderia estar lendo-o agora, mas está a salvo, comigo.

Eu mudei de celular e chip. Caso tente ligar para mim, meu número é outro +44 1728 723492, caso se importe comigo ainda.  Eu guardei o número que você tem, caso me ligasse um dia mas, nunca mais vi chamada sua aqui. Apesar de tudo, me importo muito contigo, Landy. Já escrevi cinco músicas sobre nós, mas não tenho coragem de passá-las para o papel, as guardo em minha mente.

Acho que temos uma boa relação ainda, de alguma forma. Devo te contar que não precisava voltar correndo para Framlingham. Calma, nem sei se voltou ou quando voltou, mas, caso tenha pensado um dia. Pelo menos um único dia, em voltar para cá, só para me ver, cometeu um erro. Largou tudo no Brasil para isso? Você deve rever suas prioridades. Posso estar parecendo um idiota agora mas, conheci uma garota. Posso dizer que ela é incrível? Ah, claro que posso. Porque ela é. Desculpa, se está chorando agora, eu sinto muito. Você não a conhece, mas o seu nome é Alice.

Landy, você não sabe o quanto eu sofri por esperar você. Talvez a Alice tenha feito uma covardia e tenha me conquistado no meu momento de fraqueza, mas estamos nos dando muito bem agora. Já consigo dormir sem pensar em você. Isso pode ser um insulto, mas independentemente do que aconteceu. Fui abandonado por você. Tente me entender, você não me deu explicações. Minha cabeça está cansada de pensar em inúmeras possibilidades sobre sua partida sem volta. Não quero que a partir deste parágrafo, tenha ódio de mim, porque de alguma maneira, eu ainda amo muito você.

Eu vou morar em Londres, minha carreira está caminhando muito rápido. Quero que vá a outro show um dia e se orgulhe de mim. Espero que um dia, sentemos em um restaurante para tomar uma xícara de chá, começar a rir do que um dia nos fez chorar. Contemos os nossos novos planos para o futuro, você me mostre seu namorado novo, que eu sei que deve ter ou terá até lá. Espero mesmo poder voltar a olhar nos olhos que me hipnotizaram um dia. As suas sobrancelhas um pouco grossas, o que dava um valor diferente em seu rosto. As acho lindas. Espero também que voltemos a manter contato. Sabe, a internet tem sido um ótimo lugar para isso, espero um dia te encontrar por lá.

Posso me arrepender depois por terminar a carta aqui. Certeza de que quando eu deitar minha cabeça no travesseiro e lembrar de tudo o que eu fiz durante o dia, me lembrarei desse momento e logo vou lembrar de outros fatos importantes que aconteceram por aqui, mas o importante agora é imaginar você lendo esta carta. Algo me diz que não será amanhã ou mês que vem. Não sei, talvez eu já esteja em Londres quando isso acontecer. Quero te perdoar um dia, sabe? Não estou mais zangado, mas quero um dia ouvir você pedir perdão, como nos filmes e poder olhas seus olhos cheios d’água e ver uma gota cair quando você abrir um sorriso após eu dizer que te perdoo e nos abraçarmos, como nos velhos tempos, que até lá, serão velhos, pra mim agora, parecem ontem. Sabe onde estou agora? Na praça. É, aqui eu posso ver as pessoas, os pombos e poder escrever sem ser interrompido por minha mãe ou qualquer outra coisa. Meu celular está desligado e as vezes encaro uma roseira próxima a mim, para ver se lembro das coisas.

Escrevi mais do que achei que seria capaz. Espero que esteja bem. Espero que nos encontremos um dia. Se cuida, my little blue. Te amo. Talvez eu escreva de novo, outro dia.

Com amor,

Teddy.