Folhas De Outono escrita por Sheeranator Mafia


Capítulo 79
Arco verde




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“Pai?” –Perguntei assustada.

Ele deu um sorriso de canto da boca e entrou na casa. Ele estava com roupa social. Ótima aparência.

“Pensei que estivesse preso.” –Eu disse.

“Semi aberto.” –Ele respondeu.

Ele foi para a sala e viu Camilla no sofá. Se voltou para mim novamente.

“Soube que Luiz fracassou.” –Ele disse.

“Espera, você sabia que eu estava aqui o tempo todo?” –Perguntei.

“Claro. Eu que mandei Luiz fazer isso.” –Ele disse rindo.

Ele gritou por Cristina, que rapidamente apareceu na sala. Eles foram para um lugar mais reservado e começaram a conversar.

“Quem era aquele homem?” –Camilla perguntou, se sentando.

“Meu pai.” –Sussurrei.

Comecei a suar, mas era um suor frio. Pedro deveria estar por perto e Antônio agora estava na casa. O medo de prenderem o Pedro, era maior do que minha vontade para sair. Ele deveria ter dezoito anos, talvez não quisessem ele por lá. Antônio, eu não queria mais chamá-lo de pai, ainda não tinha voltado com Cristina. Eu estava começando a ficar preocupada com Pedro.

“Rafael, você não pode ir lá fora pra procurar Pedro não?” –Perguntei.

“Não. Vou chamar meu filho.” –Ele disse.

Rafael foi até a janela e assoviou. Na terceira vez, seu filho apareceu. Rafael me chamou para conversar com seu filho. Dei todas as características de Pedro, as quais eu lembrava, e o menino correu para a rua. Me sentei no sofá e aguardei.

“Luiz está morto.” –Disse Antônio entrando na sala.

“E Mary?” –Perguntei.

Antônio nada respondeu. Ele olhou para seu relógio, resmungou alguma coisa e foi embora. Já estava ficando noite, talvez devesse retornar para a prisão. Nada de Pedro aparecer. O que me surpreendeu, foi não nos obrigarem a retornar para o porão. Ficamos na sala e novamente, Camilla parecia tranquila e se importava mais com um programa na TV.

Ouvi um assovio, era parecido com o usado por Rafael. Me levantei e fui até a janela. Era o menino sozinho. Sem Pedro. O garoto correu até a janela e chamou Rafael. Eles conversaram baixo e nada ouvi. Minutos depois, Rafael me levou até a cozinha, para comermos alguma coisa.

“Cadê Pedro?’ –Perguntei.

Rafael não respondeu e colocou um pacote de bicoito recheado perto da pia e Camilla o pegou. Ela estava diferente comigo, mas depois que pegou três biscoitos, deu o pacote para mim.

“Você ainda tem aquele celular escondido?” –Rafael me perguntou.

“Sim.” –Respondi com a boca cheia.

“Vamos lá pegá-lo.” –Ele disse.

Fui com Rafael até o porão e peguei o celular. Nunca mais tinha mexido nele e ele estava cheio de poeira. Subi a escada, enquanto o limpava. Ao chegar no topo da escada, dei de cara com Pedro. Minha vontade era de gritar, mas Cristina estava por perto. O abracei apertado. O abraço foi longo, equivalente aos dois anos sem se ver.

“Nunca desisti de te procurar.” –Ele disse enquanto me abraçava.

Camilla nos abraçou. Pedro ficou entre a gente. A camisa de Pedro estava molhada com minhas lágrimas.

“Você não mudou nada!” –Ele disse passando suas mãos pelo meu rosto.

Ele quase não reconheceu Camilla. Eu não a reconheceria.

“Vamos embora daqui!” –Ele disse.

Já estávamos indo em direção a porta, quando olhei para trás e vi Rafael trancando a porta do porão. Corri até ele e o abracei. Ele foi tão importante para mim durante esses dois anos. Ele sorriu. Finalmente, Rafael sorriu. Ele retribuiu meu abraço. Camilla o ignorou e saiu com Pedro. Fui atrás deles e o carro de Pedro estava estacionado em frente ao portão da casa. Meu filho tinha que se chamar Rafael, porque graças a ele, conseguimos fugir de lá.

“Não podemos voltar para a pousada.” –Ele disse.

“Vão achar a gente lá.” –Completei.

“Luiz também sabe o endereço da minha casa em Botafogo.” –Ele disse enquanto dirigia.

“Vamos morar na rua?” –Perguntou Camilla.

“Eu posso pegar um dinheiro no banco e alugar um lugar. Mas nem minha mãe pode saber onde estamos.” –Ele disse.

“Quero saber se...” –Eu dizia.

“Mary está morta!” –Afirmou Pedro. –“Ana está com câncer.”

“Ela... o que?” –Camilla perguntou.

Agora sim, ela parecia preocupada com tudo que estava acontecendo. Quando chegamos na cidade do Rio de Janeiro, fomos para uma delegacia e contamos toda a história. Eu ainda tinha a cicatriz do vidro em meu antebraço. Os policiais não estavam acreditando muito na nossa história, mas anotava tudo o que dizíamos. O delegado disse que não poderia resolver nosso problema naquele momento, mas resolveria depois e ligaria para a gente. Pedro deu o número do seu celular.

Fomos para a casa de um amigo de Pedro, em Copacabana. O garoto morava sozinho em um enorme apartamento próximo a estação de metrô, Arco Verde. Ele nos aceitou em sua casa e deixou que eu tomasse banho. A água passeou por todo o meu corpo e foi a melhor coisa que me aconteceu nos últimos dois anos. Não tínhamos bastante tempo para tomar banho no cativeiro e a água era pouca. Sai enrolada na toalha e Pedro ficou me olhando.

“Toma.” –Disse o amigo de Pedro. –“São da minha ex, ela nem se lembra disso. Deve caber em você.”

Ele me entregou uma roupa e voltei para o banheiro e me vesti. As roupas couberam em mim. Como se fossem minha. Um shorts jeans claro e uma blusa de ombro caído, rosa clara. Me sentei no sofá e penteei meu cabelo, enquanto Camilla tomava banho. Pedro não parava de me olhar. Quando finalmente olhei para ele, Pedro não desviou seu olhar e continuou encarando meus olhos.

“Tenho que ligar pro Teddy.” –Eu disse, para quebrar o silêncio.

Pedro se levantou e me deu seu celular e foi para outro cômodo, talvez a cozinha. Ele parecia chateado. Disquei o telefone de Teddy e deu como inexistente. Tentei cinco vezes e nem chamava. Teddy devia ter mudado seu celular. Perdi contato com ele. Fui até o cômodo o qual Pedro havia entrado, era mesmo a cozinha.

“Toma seu celular. O número não existe mais.” –Eu disse.

Pedro estava com as mãos ocupadas e coloquei o celular no bolso traseiro de sua calça. Ele me serviu um copo d’água gelada e pude sentir a água andar até meu estômago. Parei para reparar como era Pedro. Ele estava malhando. Ele era um homem muito bonito. Seus olhos brilhavam em seu rosto moreno de sol. Mas ainda assim, depois de dois anos, eu continuava pensando em Teddy.

“Teddy era seu namorado?” –Ele perguntou.

“Acho que já tivemos essa conversa um dia.” –Eu disse.

“Faz tanto tempo.” –Ele disse após tomar um gole d’água.

“O que vão fazer agora?” –Perguntou o amigo de Pedro.

“Nem sei seu nome.” –Eu disse.

“Pablo.” –Ele respondeu. -“Você é a famosa Yolanda.”

“Famosa?” –Perguntei me virando para Pedro.

“Ele sempre falou de você.” –Disse Pablo.

Me voltei para Pablo e sorri. Camilla entrou pela cozinha e a roupa da ex de Pablo, também coube perfeitamente nela. Camilla agora, era do mesmo tamanho que eu. Pablo esquentou uma pizza no forno e a comemos. Na mesa que tinha na sala. Pablo forrou uns lençóis no chão, para que pudéssemos dormir lá. Camilla se deitou entre mim e Pedro. Era domingo e estava passando Fantástico na TV. Camilla pegou no sono e estava de costas pra mim.

“Você tá namorando?” –Perguntei.

Camilla ameaçou se mexer, mas apenas esticou as pernas.

“Não.” –Respondeu Pedro.

Ficamos em silêncio novamente. Camilla colocou sua perna esquerda sobre as pernas de Pedro. Que me olhou sem graça. Não tínhamos dinheiro para cuidar da gente, quem dirá, voltar para Framlingham. Eu não conseguia fechar os olhos e dormir. Queria saber onde estava o corpo de Mary. Onde Ana estava com seu câncer. Minha vida ainda estava muito conturbada, mas agora, me sentia mais livre do que nunca.

“Vamos atrás de Mary amanhã?” –Perguntei a Pedro.

“Claro. Vamos em todos os lugares possíveis.” –Ele disse.

Pedro sorriu e acabei sorrindo também.

“Fico feliz que agora está bem.” –Ele disse.

“Não sei como te agradecer.” –Eu disse.

“Com um beijo.” –Camilla disse.

“Camilla!” –Falei.

Ela começou a rir. Pedro se levantou e pareceu ir ao banheiro. Eu estava muito envergonhada. Me virei e fiquei de costas para Camilla. Percebi que Pedro tinha voltado. Ele desligou a TV. Só consegui dormir as três da manhã.

Acordei, mas permaneci com meus olhos fechados. Notei que já estava claro e abri meus olhos. Camilla e Pedro lanchavam em silêncio. Estavam sentados a mesa, comendo um pão, que por sinal, cheirava muito bem.

“Bom dia!” –Camilla disse com a boca cheia.

Me sentei e arrumei meu cabelo. Pablo estava deitado no sofá, assistindo a TV, no mudo. Me levantei e me sentei ao lado de Pedro. Ele passou requeijão no pão e me deu. Agradeci e o pão estava crocante e macio ao mesmo tempo. Estava delicioso e quente. O celular de Pedro começou a tocar. Era da delegacia.


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Notas finais do capítulo

Vocês vão ao encontro mês que vem? Bora nos conhecer, gente. *_* enfim, obrigada por lerem.
Obrigada pelos reviews, replies, obrigada pela força sempre. Jenny eddictedhoran



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