Apparent Killer. escrita por SevenSeasTreasure


Capítulo 1
Capítulo 1




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Toronto, 15 de janeiro de 1994.


Sob o céu sem nenhuma estrela, um rapaz caminhava. As roupas completamente negras o faziam parecer um vulto na noite pouco iluminada. Seus passos sutis não faziam nenhum barulho enquanto pisava na calçada. As mãos eram mantidas nos bolsos do moletom, e a cabeça coberta com um capuz estava abaixada, porém, os olhos verdes escuros olhavam para frente, atentos a cada mísero movimento. Além do capuz, uma touca era encontrada na cabeça do homem, ocultando assim parte dos cabelos ruivos, mesmo se o capuz fosse abaixado. Ele fitava uma pequena casa que havia no fim da rua. Era simples, com paredes brancas, um quintal razoavelmente grande, e sem andares extras. O ruivo parou na frente do portão dessa casa, e seus lábios se curvaram num pequeno sorriso. Aquilo ia ser interessante.


Toronto, fevereiro de 2010.

Joshua Lewis cochilava com a cabeça e os braços apoiados na mesa. Era inevitável dormir nas aulas de matemática. A matéria era chata. A professora era ruim. A turma inteira também estava meio dormindo. O clima era frio. Os alunos que não tinham caído no sono, estavam agoniados, contando os segundos para o fim da aula. Este era o último dia de aula antes do Winter Camp, um acampamento de inverno promovido pela escola para levar os estudantes do ensino médio para o meio do mato, onde os estudantes passariam quinze dias na companhia de colegas de escola, professores, material escolar e árvores.


Do lado direito de Joshua, estava sentada uma garota da mesma idade dele, e um pouco mais baixa. Seu nome era Amy Hughes. Era uma garota completamente normal, porém, também era completamente diferente de Joshua. Enquanto o garoto tinha um visual relaxado, cabelos bagunçados e escuros, olhos sonolentos e roupas simples, Amy tinha cabelos castanho-claros encaracolados e bem cuidados, roupas arrumadas e olhos cheios de vida. Era claramente uma garota que gostava de se cuidar. Uma garota assim, com certeza combinaria com um cara igualmente cuidadoso e animado.

Mas, acontece que ela era a namorada de Joshua.


Ao lado esquerdo do garoto, estava a menina mais cobiçada por uns, e mais desprezada por outros. Seu nome era Lily Collins, e sua aparência era composta por elementos tão delicados que até um serial killer a acharia fofa. Sua estatura de 150 cm e seus traços leves davam um ar tranqüilo à garota. Seu cabelo completamente negro ia até a cintura, e uma franja tão reta que parecia ser cortada a navalha batia nas suas sobrancelhas. Sua pele pálida contrastava com a negritude dos fios de cabelo.


Atrás de Lily, estava o típico garoto que todas as meninas gostariam de ter. As feições de sua face eram tão detalhadas que nenhum artista, por mais talentoso que fosse, seria capaz de reproduzir com perfeição. Seus cabelos razoavelmente compridos eram castanho-avermelhados, e era praticamente impossível não reparar nos seus olhos azuis claros. Seu nome era Lucas Parker.


Ao lado de Lucas e atrás de Joshua, estava o último garoto desse grupo de amigos. Seu nome era Nicholas Saunders. Tinha cabelos cor de chocolate, e olhos cor amêndoa. Era, na opinião dos alunos da escola, o menos atraente desse grupo. Mas nem por isso deixava de ser bonito.


O sinal finalmente soou. Os alunos imediatamente se levantaram, jogaram suas coisas dentro das bolsas e saíram da sala. Já no corredor, Nicholas se aproximou dos amigos com um pedaço de papel na mão. Quando todos estavam suficientemente próximos para conversarem, o de cabelos castanho-avermelhados ergueu a folha, para todos verem o que estava impresso. Era uma manchete de jornal.


— Aprendeu a ler, Nick? — perguntou Amy, olhando para o amigo.

— Sim, as aulas particulares com a sua mãe foram ótimas. — rebateu Nicholas, apontando para a foto da manchete, rapidamente esquecendo a provocação da amiga. — Vejam.


A foto mostrava um homem ruivo de trinta e poucos anos. Ele segurava uma placa com o seu nome. Era claramente uma foto reproduzida na prisão.


— Esse é Gabe Hillen? — perguntou Lucas, fitando a foto. — Aquele assassino bizarro?

— Ele mesmo. Foi preso anteontem. — respondeu Nicholas.

— E quem é esse, mesmo? — a voz delicada de Lily indagou. A garota estava na ponta dos pés para poder enxergar o papel. Ao perceber, Nick abaixou um pouco a folha. — Nunca ouvi falar.

— Você deve estar sabendo dos homicídios que andam acontecendo na cidade. Você sabe. Corpos encontrados mutilados, com órgãos espalhados envolta, o cérebro escorrendo pra fora. Essas coisas. Nada demais. — disse Joshua, com um tom irônico.

— Isso é nojento. — Lucas fez uma cara de nojo. — Por que estamos falando disso, mesmo?

— Porque, como vocês são um bando de desinformados, achei que eu deveria trazer a notícia. — Nicholas começou a falar novamente. — Esse cara, que a polícia levou um tempo enorme só pra descobrir o nome, fugiu da prisão ontem a noite. E, se querem preservar a virgindade ou a carteira cheia, é melhor tomarem cuidado.

— Certo, faz sentido. Mas acho que não precisamos nos preocupar muito com isso. Depois do fim de semana, vamos passar duas semanas num acampamento que fica onde Judas perdeu os pés. Até voltarmos, já vão ter pegado ele de novo. — disse Amy, um pouco tensa. — Né?

— Acho que sim. — Joshua suspirou, e abraçou a namorada.


***


Uma mulher extremamente vulgar entrou no quarto onde se encontrava Gabe Hillen. Vestia uma blusa tomara-que-caia e uma saia que cobria até três dedos abaixo dos glúteos. Tinha deixado os saltos altos na porta, e a maquiagem estava um pouco borrada. Os cabelos tingidos de vermelho estavam razoavelmente bagunçados. Apesar disso tudo, a mulher sorriu. Em uma das mãos, carregava uma garrafa de vinho ainda fechada. Gabe a viu entrar com um sorriso torto no rosto. Estava deitado sobre a cama, com travesseiros nas costas, ficando meio sentado. Estava vestindo apenas uma calça jeans escura, e, em uma das mãos, havia uma taça vazia.


— Foi rápido. — disse o ruivo, olhando para a mulher com um sorriso malicioso enquanto ela se sentava ao lado dele, na cama. — Suas pernas estão bem rápidas.

— Ah, meu amor. — ela soltou uma risada enquanto enchia novamente a taça de Gabe. — Para ser sua mulher, é preciso ter pernas fortes.

— É bom que saiba. — Gabe logo esvaziou a taça, e a pousou no criado mudo.


A mulher se chamava Jennifer Adams. A primeira vista, parecia uma prostituta qualquer. Porém, o único homem com quem tinha alguma relação íntima, era o ruivo com quem compartilhava a cama nesse momento. Ela tinha consciência de cada crime que Gabe cometera – sabia que os dois nunca seriam capazes de se casar e ter uma vida normal. Mas ela não se importava. Ela até gostava disso.


Jenny apoiou parte do corpo em Gabe. O ruivo pôs uma das mãos nas costas dela, logo depois de encher a taça de vinho novamente.


— Fiquei sabendo que você anda recebendo mais algumas cartas. — disse a mulher.

— Ciúmes? — Gabe a olhou de relance.

— Você sabe que não. — Jenny respondeu, um pouco séria. — Só preocupação.

— Bem, é. Por mais que eu mude de esconderijo, as cartas sempre chegam. É incrível. — ele movia a taça devagar, fazendo o vinho escorrer em movimento circular. — Mas não acho que seja um perigo muito grande.

— Como não? Pelo que você me contou, há duas pessoas que sabem o seu paradeiro, seja lá qual ele for. A polícia chegou num ponto que pagariam fortunas por uma única informação sobre você.

— Então por que não me entregaram ainda? — o ruivo falava num tom tranqüilo. Jenny não respondeu. — Quando eu me mudo, as cartas do primeiro remetente sempre chegam primeiro. O que me leva a crer que a segunda pessoa depende da primeira para me encontrar, e que essas duas pessoas são próximas. Então, quando eu encontrar um deles, encontro o outro. É simples. — Gabe bebeu um gole do vinho.

— Devia tomar mais cuidado.

— Como? Eu não faço ideia de como esse stalker me acha. — Gabe suspirou. — Aliás, pelas cartas, é uma garota.

— Uma garota?! — Jenny exclamou. — Por que não me contou isso?

— Você não perguntou. — o ruivo deu de ombros, bebendo o resto do vinho.

— O meu namorado anda recebendo cartas de uma garota e eu não sabia? — a mulher parecia realmente brava. Sentou-se na cama, olhando para Gabe, com uma expressão séria. — Eu achava que era de algum detetive, ou algo assim, não de uma garota!

— Você sabe muito bem que não precisa ficar com esse ciúme todo. — o ruivo deixou a taça vazia no criado mudo.

— Mas é uma garota! — Gabe achava graça na ênfase que ela dava na palavra “garota”. — Não ria! Não tem graça.

— Tem, sim. — o ruivo riu novamente, e logo segurou os ombros dela, jogando-a na cama. Rapidamente ficou por cima dela. — Você sabe que eu nunca olharia para uma menina que se esconde atrás de pedaços de papel.

— Prove. — Jenny fitava os olhos verdes de Gabe, ainda um pouco séria. — Mate essa garota assim que você descobrir quem ela é.

— Seu desejo é uma ordem. — o ruivo soltou um sorriso torto antes de beijá-la.


***


Amy Hughes estava entediada. Já tinha feito todas as suas tarefas no dia anterior. Encontrava-se sentada na frente da escrivaninha, com o notebook apoiado nela. Tinha acabado de tomar banho. Vestia uma blusa branca e um short igualmente claro, que ia até a metade da coxa. Rolava a tela do notebook para baixo, vendo as postagens de uma rede social qualquer.


— Não tem nada de legal na internet sábado de manhã. — resmungou. Atualizou a página algumas vezes. Depois da décima vez, uma notificação apareceu.


“Trisha Aundrey postou:

Gente, vejam isso.”

Trisha era uma garota considerada estranha pela maior parte da escola. Tirava notas boas, mas se recusava a passar cola para alguém, por mais que insistissem. Sempre fazia os trabalhos sozinha, mesmo aqueles que os professores aconselhavam formar duplas ou trios. Não ajudava ninguém a entender a matéria. Resumindo, não compartilhava o que sabia com ninguém, e não deixava os outros se aproveitarem dela. Apesar disso tudo, seus cabelos castanhos e seu corpo belo faziam sucesso entre os garotos, algo que claramente não a agradava. Usava roupas discretas, como se quisesse disfarçar a sua beleza.


Trisha havia enviado aquela mensagem a todos do ensino médio da escola que também tinham conta naquela rede social. No fim da postagem, havia um endereço para um blog. Amy levou o cursor do mouse até o link e clicou nele. Uma nova aba do navegador se abriu, e rapidamente a página foi carregada.


No topo da dela, o título do blog era escrito em letras vermelhas com bordas brancas, onde se lia “Sociedade Cega”. A aparência do blog não era nada muito chamativa. Abaixo do título, links eram escritos em letras menores. As postagens estavam em uma coluna maior ao lado esquerdo, e o arquivo do blog estava em uma coluna menor, do lado direito. Todas as palavras eram escritas em letras brancas, contrastando com o fundo do site, que era completamente negro.


Amy soltou um suspiro ao perceber que o blog fazia críticas duras contra os atos da sociedade. Odiava textos assim. Odiava, mesmo sabendo que eles tinham certa razão. Mas não via motivos para escrever tanto, batendo sempre na mesma tecla...


“Gabe Hillen: doente ou incompreendido?”

Amy levantou uma sobrancelha ao ler o título da postagem mais recente do Sociedade Cega. Clicou em “ler mais”, e logo começou a ler o post.


“Nos últimos tempos, a cidade de Toronto tem enfrentado uma crise de assassinatos cruéis. Em 100% dos casos, os corpos apresentavam sinais de tortura. Apesar disso tudo, a identidade do assassino só foi descoberta pela polícia uma quinzena atrás, e o nosso psicopata foi capturado há alguns dias. Porém, segundo o jornal da manhã de sexta-feira nos trouxe a notícia de que esse criminoso já conseguiu fugir, e seu paradeiro é desconhecido. Esse psicopata é extremamente cuidadoso. A polícia só descobriu a sua identidade porque, há exatos dezesseis dias, uma mulher, vítima do assassino foi encontrada com sinais de estupro pelo corpo. Assim, nome e foto do serial killer foram divulgados.

Gabe Hillen, trinta e seis anos. 1,80 de altura. 64 kg. Ruivo, olhos verdes. A polícia divulgou a sua ficha completa. E nas informações constava que ele levava uma vida normal. Trabalhava em um restaurante como garçom. O nome do estabelecimento não foi divulgado, porém, os tiras conversaram com os colegas de trabalho de Gabe. Ficaram sabendo que ele não demonstrava nenhum tipo de comportamento agressivo. Era o típico cara que não se estressava com nada. Antigos professores, família e amigos também prestaram depoimento.

Agora eu pergunto a vocês: como uma pessoa assim, tão calma, pode ser perturbada? De todos os interrogados, nenhum, nenhum mesmo, disse que Gabe já tinha demonstrado algum sintoma de distúrbio mental. Nunca foi quieto, anti-social, fechado, agressivo ou ‘sinistro’. Em nenhum maldito momento. Como uma pessoa pode ser tão controlada? Bem, a conclusão que qualquer um tiraria é: Gabe tem problemas mentais tão fortes, que ele atuava praticamente 24 horas por dia, dando uma pausa apenas quando cometia seus assassinatos.

A pergunta que não quer calar é: por que um assassino tão cuidadoso e habilidoso como Gabe Hillen seria tão descuidado a ponto de estuprar uma das vítimas, sendo que com certeza ele tem conhecimento de que deixaria algum DNA para trás, e não se livrar do corpo? Pois bem, tenho uma teoria. E se Gabe Hillen não passasse de um homem querendo mudar um pouco o pensamento da sociedade? E direi aqui o porquê.

Gabe segue um padrão para matar, por mais que as pessoas teimem em dizer que ele não passa de um assassino sem escrúpulos. Todas as suas vítimas eram pessoas próximas de criminosos. Parentes ou amigos de ladrões, assaltantes, traficantes... e, depois de matar um membro da família, Gabe matava o próprio criminoso. Mas ele nunca matava assassinos. Além disso, todos os criminosos mortos realizaram os crimes mais de uma vez. E por que ele não matava apenas os criminosos? Pra chamar a atenção da mídia. Isso aqui não é o mundo de Death Note. Se apenas os problemáticos morressem, a polícia não faria alarde, e sim, apenas deixaria que Gabe se livrasse dos problemas para eles. Mas, envolvendo pessoas inocentes, o camarada Hillen já seria tachado de assassino. Agora, outra questão é aberta: se ele queria chamar a atenção da mídia, o estado dos corpos não bastaria? Não. Como eu já disse, esse não é o mundo de Death Note. Assassinatos normais acontecem todo dia. Gabe nunca conseguiria provocar todo esse alarde apenas dando um tiro na cabeça das vítimas. Além disso, se só criminosos morressem, a polícia nunca daria autorização para todos os assassinatos irem para a TV, por um simples motivo: uma grande parte da população diria que as vítimas mereceram morrer, justamente por ser quem são – criminosos que vivem incomodando a população.

Agora, a última coisa que quero comentar: por que Gabe Hillen revelou a sua identidade?

Isso é fácil de responder. Uma pessoa assim não faria nada pelo simples motivo de querer crédito. Sabendo que, antes de se revelar, Gabe era um personagem em seu dia-a-dia, deduzo que ele praticamente entregou o seu nome para a polícia por um simples motivo: provar, de uma vez por todas, que as pessoas nem sempre são o que aparentam. Ora, esse é um pensamento que, na teoria, todas as pessoas sabem. Porém, na prática, nem metade da população segue.”

Quando terminou de ler, Amy Hughes não sabia o que pensar.



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Notas finais do capítulo

Sem previsão para o segundo capítulo.



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