TAMI

Ela estava cansada de dar voltas, e perdera noção do tempo enquanto se arrastava pelas ruas. Tami desistira do parque assim que entrou pelo portão e viu várias cenas felizes – casais fazendo piqueniques, crianças brincando com os pais, e vendedores de algodão doce e balões coloridos – ninguém parecia se importar com a falta de sol, estavam todos bem acomodados entre as árvores e sentados no gramado. Ela não passou nem um minuto lá dentro e já voltara para rua com uma sensação ruim dentro de si mesma.

Tami se lembrou de quantas vezes já fora uma daquelas crianças que brincavam no parque com os pais, que comia algodão doce e fazia birra por um balão estourado. Ah, se ela soubesse que crescer seria tão complicado... Entretanto, agora não havia como voltar atrás. Não havia como voltar no tempo.

E agora ela estava infeliz, e estava se sentindo mal em ver a felicidade alheia. Céus, que tipo de pessoa ela havia se tornado? Nunca se sentiu tão egoísta como naquele momento. E simplesmente não havia como fingir que tudo estava bem. Suas aulas de teatro no colegial não eram úteis naquele momento. Tami estava tão desanimada que estava até ficando entediante.

A garota precisava de um colo pra chorar e desabafar. Sua melhor amiga estava fora de cogitação. Tami sabia que uma hora dessas Isabella estaria com Harry, numa quase despedida porque ele passaria alguns dias viajando com a banda. E alguma delas tinha que ser feliz, e Tami deixava que esse alguém fosse Isabella.

E passando pela mesma calçada, mesmas casas, muros e árvores; Tami estava voltando pra casa em passos apressados. Ela chegou à conclusão que seu único remédio era tomar um dos calmantes de sua mãe e deitar na cama, e esperar pelo sono. Talvez isso resolvesse sua situação temporariamente.

Tami já não aguentava a si mesma.

Ela entrou em casa silenciosamente, tentando abafar os passos. Caminhou até a cozinha, tomou um copo d’água. E depois mais outro. Tami teve vontade de chorar olhando para o copo em sua mão. Era lamentável não haver cerveja nem nada forte na casa dela, talvez álcool ajudasse um pouco. Tami só havia ficado bêbada uma vez, ela achava que estava na hora de outro porre.

Deixou o copo em qualquer lugar e foi pro quarto.

Encontrou sua porta entreaberta, e estranhou. Espreitou cuidadosamente pela fresta e não podia acreditar que sua mãe havia mexido em seu quarto mais uma vez. Tami respirou fundo pra conter a raiva súbita e entrou de vez. E ficou paralisada completamente. Até a respiração dela parou.

Tami continuava sem reação quando Zayn se virou lentamente para olhá-la.

Ele estava de frente para janela que dava para rua, bem ao lado de sua cama. Zayn provavelmente tinha reparado na bagunça e no pôster gigante da One Direction perto do seu armário. E em um mural gigante com várias fotos de família, amigos e deles. Tami estava se sentindo a pessoa mais idiota da face da terra, até do universo.

– Hey, Thalia. – a voz aveludada de Zayn soou baixa.

– O que você está fazendo aqui? – ela perguntou num sussurro fraco.

– Não sei exatamente.

– Acho que você deveria estar arrumando as malas. – ela disse com desdém contido.

Zayn a encarou como se perguntasse o que havia feito para ela estar daquele jeito.

Tami sentiu aquilo como um soco na boca do estômago. Ela só conseguia pensar em como ele conseguia ser tão bonito daquele jeito, só por ser do jeito que é. Em sua imaginação Tami o abraçava forte e dizia todas as coisas que tinha vontade de dizer – ela teve que se conter pra não correr para os braços dele.

– O que aconteceu com você?

– Nada.

– Por que você não me atendeu?

– Como você conseguiu chegar aqui? Como você veio parar no meu quarto?!

– Você não me respondeu.

– Porque não era certo. – Ela disse engolindo em seco.

– Não era certo atender uma ligação? – Zayn perguntou enfaticamente.

– Não pra mim. – Ela respondeu desviando o olhar pra janela.

E um silêncio tenso se instalou entre eles.

Tami ainda estava no mesmo lugar. Parecia que seus pés haviam sido soldados no chão, ela não conseguia olhar diretamente para Zayn.

– Thalia. – Zayn chamou. – Olha pra mim.

– O que você quer?

– Saber por que você está fugindo de mim.

– Não estou fugindo de você!

– Não? O que você está fazendo então? É, porque eu liguei, mandei mensagem, e você fingiu que eu não existia.

– É impossível fingir algo assim.

– Eu estou esperando uma explicação pra isso.

– Por que você se importa agora? Por que você invade a minha casa pedindo explicações pra algo que não faz sentido? Eu não fui clara o suficiente? – Tami explodiu em irritação.

– Porque eu sou lento. Agora que eu vi, que eu percebi que tem algo errado! Porque não é normal isso, nós nos vimos três vezes, eu pensei que você não gostava mais de mim e dos garotos, mas eu soube que você até almoçou com o Niall ontem, eu falei com Harry sobre nós sairmos junto com você e a Isabella, mas ele inventou uma desculpa e falou algo sobre você não estar bem. Até que eu estava conversando com o Liam e ele me abriu os olhos. O problema é comigo! Eu quero saber o que é!

Tami suspirou derrotada. E se sentiu num beco sem saída.

– Você é lento mesmo. – Ela disse secamente. – Eu só estava tentando me proteger.

– Proteger do quê?

– De mim mesma. De você. De algo que só me prejudicaria.

– Do que você tá falando?

– Caramba, Zayn!

– Mas eu preciso saber por que você me trata assim.

– Olha, vai embora. Vai arrumar suas malas, vai fazer alguma coisa bem longe daqui. – Tami falou odiando cada palavra.

– Eu não vou. Vou ficar até você falar. – Ele respondeu decididamente.

E a mãe de Tami bateu na porta do quarto, e a abriu olhando duramente para os dois. Eles estavam falando alto demais.

– Algum problema? – Sra. Andrews perguntou.

– Não, mãe, está tudo bem. – Tami respondeu impacientemente.

– Desculpa incomodar, Sra. Andrews. Obrigada por me receber, de novo. – Zayn falou baixo.

– Cuidado, garoto. – E a mulher de cabelos curtos saiu depois de lançá-los um olhar restritivo.

Tami e Zayn se entreolharam por alguns segundos em silêncio.

– Podemos conversar em outro lugar? – ele perguntou

– Tudo bem, é melhor.

A garota indicou que ele saísse do quarto primeiro, para que ela pudesse se certificar que porta fosse fechada. Ela avisou a mãe que voltaria logo.

– Quer ir a algum lugar específico? – Zayn perguntou quando eles estavam na calçada em frente à casa dela.

– Não, eu acho...

Então eles começaram a andar sem rumo.

– Você pode sair assim? – Tami perguntou.

– Assim como?

– Só.

– Eu não estou só, tem você aqui.

– Estou me referindo aos seguranças e tal...

– Posso. Você se incomoda com boatos, rumores, e fotos na internet no outro dia?

– Sim.

– Por quê? – Zayn perguntou interessado.

– Porque eu não sou famosa, não tenho ninguém pra me defender e tenho uma reputação a zelar se quiser viver com dignidade e ter um emprego.

– Você está insinuando que eu não tenho reputação?

– Estou dizendo que você tem quem cuide dela pra você.

– Não exatamente...

– Zayn, seja honesto. Qualquer comentário ruim que surge envolvendo você não causa nenhum problema porque é só basta aparecer algum vídeo de você cantando, sorrindo e sendo fofo que tudo está resolvido. Surgem coisas novas e todo mundo esquece que você aprontou. – Tami falou e Zayn deu um meio sorriso. – Não é verdade?

– É desse jeito. Mas não pense que eu gosto disso. É uma coisa um pouco complicada.

– Eu sei que você deve se sentir sufocado às vezes... mas acredite, existem vidas muito piores que a sua. – Tami tirou sarro daquilo.

– Eu não sou egocentrista como você pensa. – Zayn falou um pouco sentido.

– Você se magoou com o que eu disse? Olha, não era essa a intenção, mas é que é um pouco engraçado você tentando complicar sua vida.

– É uma complicação diferente da que você conhece.

– Como assim?

– Eu não posso falar muito sobre isso, mas basicamente é que você não tem que cumprir ordens desnecessárias e ficar dando satisfação da sua vida pra um grupo de pessoas.

– Você tá falando da Modest!?

– Não posso falar sobre isso. – Zayn disse assentindo com uma piscadela.

– Ah, sim. – Tami disse com seu coração aos pulos.

– Okay, ainda não esqueci o que vim fazer aqui. – Zayn sorriu com o canto dos lábios.

– Droga.

– O quê?

– Meu plano de te distrair não deu certo. – Tami lamentou e cutucou Zayn com um sorriso curto.

– Eu não quero brigar com você, eu só quero saber...

– É muito complicado, e bem no fundo, eu tenho certeza que você sabe por que eu estou agindo assim.

– Eu já disse que sou lento pra entender coisas subtendidas.

– Ah, falar é complicado demais.

Tami olhou para os pés. Ela com certeza estava melhor do que nunca... Zayn parecia tão à vontade e decidido ali que era muito difícil se concentrar em se manter sensata. Resistir àqueles olhos castanhos suplicantes era um sacrifício. Tami estava queimando de vontade de tocar no rosto dele, sentir a barba que estava por fazer... e aqueles lábios que formavam um biquinho natural... ah, era muito sacrifício ficar só olhando.

Eles dobraram uma esquina de um muro alto de um edifício e pararam ali. Aparentemente, não havia ninguém por perto.

– Eu vou passar uma semana longe, não vou aguentar se você não disser qual é o problema. – Zayn falou de uma forma que deu dó.

– Isso é golpe baixo, não pode. – Tami disse meio que rindo.

– O quê? – ele se fez de inocente.

– Ah, sim, tinha esquecido que isso é um talento natural. Bem que o Liam disse uma vez que é impossível alguém negar algo a você.

– Quando o Liam disse isso?

– Em alguma entrevista... – Tami falou. – Esqueceu o que eu sou?

– Ahm... Directioner?

– Aêê, isso! Você não sabia?

– Acho que não... Você age tão normalmente comigo, como se me conhecesse, até fica brincando com a minha cara, dizendo que a minha vida é fácil e me chamando de egocentrista. – Zayn disse como se não fizesse sentido.

– Exatamente. Eu não sou poser. E sim, eu te conheço... mas é que esqueço que você não me conhece. Entende?

– Isso é estranho.

– Verdade, mas é um pouco legal.

– Um pouco?

– É, é deprimente quando você se dá conta que o seu amor não sabe quem você é, não te conhece.

– Eu sou seu amor? – Zayn riu.

– One Direction é uma banda. Amo todos.

– Mas me ama mais, né?

Tami soltou uma gargalhada.

– Depois você diz que não é egocentrista! – Ela disse. Mas o que queria dizer era: Eu te amo, mas de um jeito diferente.

– Você sabe que você me ama. – Zayn disse provocativo.

– Xoxo, Gossip Girl. – Tami disse imitando a voz da garota que falava isso na série de TV depois do que ele dissera.

Zayn riu da brincadeira.

Começou um chuvisco imperceptível.

– Mas, sério, me fala... – Zayn pediu suplicante.

– Acho que você deveria estar ligando pra Perrie, ela não está viajando?

– Perrie? Ela deve estar ocupada agora. – Zayn falou rapidamente. E teve um insight. – Eu não acredito!

– No quê?

– Você foge de mim por causa da Perrie, e isso significa que você realmente me ama! – Zayn quase gritou.

– Ouch. – Tami disse abaixando o rosto.

– Então eu acertei.

Ela não queria que ele a visse corando.

– Acho que já está na hora de eu voltar pra casa. – Tami mudou de assunto.

– Hey.

– O que foi?

– Você acha que precisou de tudo aquilo? Precisou não atender minhas ligações?

– Absolutamente. Você não faz ideia.

– Por quê?

– Porque eu não quero me expor por nada. Eu não quero que me conheçam como uma garota má, aproveitadora, destruidores de lares ou qualquer coisa do tipo.

– Você poderia ser conhecida por ser minha amiga. Não é ruim.

– Eu não aguentaria. Por isso é melhor cortar o mal pela raiz.

– É fácil assim?

– Eu dou um jeito. Pra tudo se dá um jeito.

– Então você não quer destruir o meu namoro com a Perrie, por isso resolveu se afastar... mas isso só faria sentido se eu estivesse a fim de você.

– Você não presta, Zayn, disso eu tenho certeza. Sem querer ofender. Se eu me aproximasse você ficaria a fim.

– Nossa. Eu realmente não sei se fico ofendido. – ele disse e ficou de frente para Tami.

Havia muito pouco espaço entre eles. E ninguém prestava atenção no chuvisco.

– Não fica ofendido, vai. – ela respondeu empurrando ele de leve.

– Mas, se eu te dissesse que eu não sei como comecei a namorar a Perrie?

– Eu não iria acreditar.

– Mas se eu te explicasse que foi uma coisa, tipo, do nada? Quer dizer, falando sério, eu estava cansado de me sentir só, aí quando eu a conheci, nós só conversamos, aí a gente se tornou amigo, aí sabe quando amigo se beija? Pois é, só que tipo, aí a gente foi ficando... não teve nem pedido de namoro, nem nada...

– Essa história está muito mal contada. – Tami disse.

– Existem muitas coisas em jogo. Eu não posso contar todos os detalhes.

– Pior ainda. Eu não quero colocar nada a perder pra você. – Ela falou se perdendo no olhar dele.

– Antes eu me importava muito com o que iriam pensar de mim, mas isso foi se tornando tão irrelevante. Você tem um pouco de razão sobre cuidarem da minha reputação, mas o que você precisa saber é que perto de você, eu esqueço o que eu sou... Perto de você eu sou só o Zayn com “i” de Bradford, o menino tímido que não gostava de festas e amava aula de artes... – Ele foi se aproximando.

Os pingos de chuva se tornaram suavemente constantes.

– Eu não acho que você seja esse menino agora.

– Você não o conheceu.

– Mesmo assim não é certo. Isso, aqui, com você.

– Eu não amo a Perrie. Não sei por que estou com ela.

– Então porque vocês estão juntos?

– Eu já disse pra você que é complicado.

– O que é complicado? É difícil ser você mesmo? É difícil assumir os sentimentos? É muito complicado assim ser honesto com a sua consciência, sem se preocupar se isso vai magoar outra pessoa? Hein, Zayn, eu quero saber, porque se for desse jeito – Tami foi interrompida abruptamente pelos lábios de Zayn colados nos dela.

Tami foi pega de surpresa, mas logo foi cedendo. Era impossível não ceder a ele.

E o beijo foi como o encontro do fogo com a pólvora: explosivo, quente e perigoso. Tami nunca havia sentido seu coração bater tão forte, nunca se sentiu tão bem. Ela queria mais, queria, ela esperava por aquilo – ela sonhava com aquele beijo desde sempre. E agora, foi tudo tão mais perfeito e proibido que ela estava com mais vontade de não largá-lo mais.

Somente o lado insano a controlava naquele momento. Não tinha como pensar em nada com o corpo de Zayn colado ao dela, com aquele beijo sedento e intenso. Entre respirações ofegantes, a chuva ficou forte.

Mas aquilo era só um detalhe.

Nem água apagava o que aqueles dois sentiam um pelo outro naquele momento.