POV.: Angelina

Encontramos nossos armários e guardamos nossos livros. Meu armário não é um dos mais bonitos, já que eu não me importo muito com beleza no local aonde vou apenas guardar meus livros, mas nem de perto é o mais feio, nele eu coloco algumas coisas que eu acho importante o suficiente para serem guardadas, como fotos minhas e de minhas amigas, adesivos raros que ganhei de uns meninos retardados da escola através de apostas, e coisas importantes que devo lembrar. O armário de Daniel estava vazio, então ele colocou a mochila dentro e fechou a porta. Terminei de colocar todos os livros no armário enquanto Daniel esperava do meu lado.

- Bonita – Ele apontou para uma foto minha e de Júlia. E eu não pude evitar um sorriso pelo canto da boca.

Eu me lembro daquela foto com muita clareza, foi nas férias, eu e Júlia estávamos em um parque de diversões, era de manhã, e tenhamos acabado de sair da roda-gigante, e estávamos conversando sobre quem tinha gritado mais alto, ambas temos problemas com grandes alturas e tínhamos apostado quem conseguiria andar na roda-gigante sem ter um ataque cardíaco. Depois de concordarmos que eu fui a mais escandalosa, rimos tanto que deve ter levado uns cinco minutos para esquecer o assunto. Ela puxou o celular do bolço e tirou uma foto de nós duas.

-Obrigada – Respondi.

- Você e essa menina são muito amigas, não é?– Ele perguntou.

-É, tem muito tempo mesmo que eu conheci a Júlia.

Terminei de guardar meu material no armário, ficando apenas com o estojo na mão.

-Vamos.

-Claro – Ele respondeu.

Quando chegamos, a sala ainda estava vazia, mas é assim que eu gosto. Coloquei meu estojo em uma cadeira da última fileira, com o de Daniel ao meu lado e sentei na minha mesa, como sempre fazia. Daniel apenas ficou em pé encostado na mesa dele.

Ele ficou me analisando durante um tempo, até que seu olhar parou na minha mão direita.

- Anel bonito – Ele disse apontando para o meu dedo do meio onde se encontrava um arco de ouro com um desenho gravado.

Encarei meu anel, lembrei-me do dia que minha bisavó me deu alguns dias antes de morrer, ela parecia um pouco apreensiva, sem saber oque dizer.

Flashback on:

-Minha querida, sente-se – Ela apontou para a poltrona ao lado de sua cama. Eu fiz oque ela mandou.

- Sim, oque a senhora precisa?

Ela pegou uma caixinha de madeira toda trabalhada com dourado.

-Quero que você fique com isso – Ela entregou pra mim a caixa – Eu deveria esperar um pouco mais, mas estou ficando sem tempo. Eu deveria explicar-lhe mais, também estou sem tempo pra isso.

Eu abri a caixinha e logo dei de cara com um circulo dourado no fundo da almofada de veludo, logo percebi que era um anel de ouro.

-É uma herança de família, cuide bem dele.

O anel tinha algo gravado na parte superior, era um símbolo ou uma palavra, eu não consegui decifrar muito bem.

- O que é isso aqui? – Apontei para o símbolo (ou palavra).

-Muitas coisas nessa vida, minha cara, você vai precisar aprender sozinha. Sinto muito, mas nisso eu não posso ajudar.

Flashback off.

- Obrigada – Falei com um sorriso no rosto – É uma herança de família.

Ele continuou encarando o anel em minha mão com as sobrancelhas unidas. Mesmo assim ele continuava lindo.

A campa tocou e muitos alunos adentraram a sala de aula de uma só vez. Sentei-me na cadeira e esperei o professor. Daniel seguiu meu exemplo.

XXXX

Aquela aula foi, de longe, um tédio, fiquei o tempo todo desenhando em meu caderno (um passatempo que eu amo). Daniel prestava atenção na aula, mas de vez em quando olhava na minha direção, obviamente estava perdido em pensamentos. Eu já havia lido todo o capítulo e tirado minhas dúvidas na aula anterior, então não vi motivo em dar atenção ao professor.

POV.: Daniel

Encontramos os nossos armários, onde eu coloquei minha mochila, ficando apenas com um caderno e uma caneta. Enquanto esperava ela guardar seu material, reparei na decoração do armário dela. Era uma decoração simples, tinha fotos, desenhos e alguns desses cartes que você ganha em apostas. Uma foto chamou minha atenção. Ela estava com a amiga, no parque de diversões, seu sorriso era lindo, verdadeiro.

- Bonita – Apontei para a foto. Ela deu um sorriso pelo canto da boca.

-Obrigada.

- Você e essa menina são muito amigas, não é?– Perguntei.

-É, tem muito tempo mesmo que eu conheci a Júlia. Vamos.

- Claro.

Ela já tinha terminado de guardar o material, então fomos à sala de aula, a mesma estava vazia. Não me incomodei, e parece que ela também não. Escolhemos nossos lugares (eu me sentei em seu lado).

Ela sentou-se na sua mesa e encostei-me à minha.

Fiquei analisando-a durante um tempo, até o meu olhar passar por sua mão direita, onde repousava um lindo anel de ouro bem delicado em seu dedo médio. Olhando-o com mais atenção, notei que havia algo gravado na parte superior do anel. O símbolo me era estranhamente familiar, me lembrava de algo do meu passado, uma lembrança que era boa, mas eu preferiria esquece-la e viver o presente. Fiquei intrigado. Aonde ela conseguiu aquilo?

- Anel bonito.

Ela olhou para o aro de ouro, soltou um sorrisinho.

- Obrigada. É uma herança de família.

Herança de família? HERANÇA DE FAMÍLIA? Mas que coisa. Como foi que esse anel chegou, literalmente, nas mãos dela?

A campa tocou e nós sentamos.

Passei a aula toda refletindo sobre isso. Às vezes eu olhava pra ela, às vezes para o anel. Ela não poderia ter conseguido aquilo só. Obviamente era uma herança de família mesmo.

Na sua família deve ter tido alguém como eu, ou melhor, alguém como um dia eu fui. Eu tenho recordações daquela época, uma delas é um anel de ouro, um pouco mais largo do que o dela, porém com o mesmo símbolo.

Recordações antes de eu decidir cair.

Recordações da época em que eu era um dos mais respeitados e tinha uma posição bastante elevada.

Quando eu era um dos anjos mais famosos no céu.