Hurts Like Heaven escrita por imagine


Capítulo 1
PARTE 1


Notas iniciais do capítulo

Olá, meninas ^^
Então, isso era pra ser uma One-Shot, mas o documento ficou com 12.000 palavras então resolvi dividir a história em três partes. Terminei ela em Julho do ano passado, mas nunca tive coragem para postar. Espero que vocês gostem.



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Hurts Like Heaven

Parecia irônico que ambos tinham completado vinte um, e estavam debaixo dos cobertores de um hotel chique; Annabeth tentava abafar seus risos, mas falhava. Enfeitando os seus cabelos, havia uma tiara prateada de princesa no topo de sua cabeça, que ela recusava retirar; aliás, a tiara era a única coisa que ela estava usando.

Era esperado que ela soubesse que terminaria junto dele, mesmo tendo se casado tão nova. Ignorando os protestos da família e os constantes frios na barriga, os dois foram em frente, mantendo em seus corações o mesmo sentimento que quando finalmente perceberam o que sentiam: apesar de só terem ficado juntos aos dezesseis anos, eles já se amavam desde muito antes.

- Você tem certeza que não bebeu nem um pouco? – Percy riu, afastando um monte de cachos loiros que caíam sobre os olhos de Annabeth.

- Não! – ela respondeu, indignada, dando-lhe um tapa no ombro. – Estou ofendida! Claro que não bebi!

- Tá bom, tá bom – ele concordou, beijando os lábios rosados de Annabeth uma vez.

Depois de respirar o cheiro agradável de Percy por alguns segundos, Annabeth bateu em seu ombro gentilmente mais uma vez.

- Ei! Pode parar senhorrrrrrrrrrrrrrr – ela arrastou a última palavra, mas segurou uma risada. – Eu sou uma criança inocente e o senhorrrrrrrrrrrrrrr fica fazendo esse tipo de coisa inapropriada comigo.

- Ah, sim, muito inocente. – Percy disse sarcástico, levantando uma sobrancelha, mas ela não pareceu perceber. – tão inocente que está andando pelada desde que chegamos aqui, não é mesmo?

Percy olhou sugestivamente para o vestido de noiva perfeitamente arrumado numa poltrona no canto do quarto.

- Sim! Certamente! – Annabeth exclamou. – Eu sou uma princesinha inocente, e viu o que você fez comigo? Você me fez ficar pelada e ainda enfiou seu sobrenome em mim. É mesmo um idiota. O que eu estou fazendo aqui, aliás?

Percy não respondeu; ele não fazia ideia do que nenhum dos dois estavam fazendo ali, numa suíte presidencial de um hotel em Londres. Ele só se lembrava do casamento, e de como ela estava bonita, e de como ele estava nervoso (sem contar os olhares de morte que Atena lançava para ele a cada cinco segundos).

Eles permaneceram quietos por minutos, talvez até mesmo horas, até que Annabeth lentamente escalou o corpo de Percy e deitou-se em cima dele, mais uma vez bufando e afastando os cachos dourados do seu rosto cansado.

- Carambolas – ela comentou. – nossa vida realmente mudou agora, né?

- Até que não – ele respondeu honesto. – Que eu saiba, a única coisa que vai mudar é que eu vou te amar ainda mais e que, talvez, sua mãe vá me odiar um pouco mais.

Annabeth sentiu sua pele ficar quente e ela riu, olhando dentro dos olhos verdes de Percy e se perdendo em sua imensidão. Ela limpou a garganta.

- Você já pensou em... Você sabe... – ela corou. – Filhos?

Pelo jeito que ela mordia seu lábio inferior, Percy tinha certeza que ela, pelo menos, já havia pensado em ter filhos com ele.

- Claro que sim, Sabidinha. – ele beijou a ponta de seu nariz. – Quero ter no mínimo umas dez mini-Annabeths.

- Dez?! – ela engasgou com a sua própria saliva. – E você pensa que eu vou tirar dez melancias de dentro do meu corpo? Vai sonhando!

- Foi você quem mencionou – ele rebateu, trazendo seu rosto para mais perto e beijando-a pelo que deveria ser a vigésima vez em dez minutos.

- Cale a boca – ela anunciou. – estou com sono.

- Meus deuses, você está tão bêbada... – ele riu, tirando a tiara de prata dos cabelos de Annabeth.

- Você não tem o direito de falar! Você está pelado! – Annabeth quase gritou, e ele queria contradizê-la falando que ela também estava pelada, mas eles tinham acabado de se casar e ela parecia feliz.

Eles permaneceram em silêncio até que ela espantou outro cacho de seu rosto com um suspiro.

- Ei, Percy? – ela perguntou, traçando desenhos imaginários com as unhas em seu peito nu.

- Sim, amor? – Percy responde, encarando sua esposa com adoração, observando fosse lá o que ela estivesse fazendo.

- Você promete me salvar quando os caras malvados descerem do morro? – sua voz era basicamente um sussurro e ele não entendeu nada, mas, bom, ela era muito inteligente, então provavelmente aquilo era uma metáfora que ela esperasse que ele entendesse. - Claro que sim – ele respondeu, beijando sua testa, e ela bocejou, satisfeita, fechando seus olhos cinzentos, ainda que brilhantes.

O tempo caiu sobre os dois; a respiração de Annabeth era pesada e sua expressão facial, suave. Sobre os roncos delicados de sua esposa, Percy sentiu os próprios olhos ficando pesados; antes que ele pudesse engolir a noite, ele ouviu uma resposta tardia de Annabeth.

- Meu herói.

XXXXXXX

Os dois ficam presos em uma livraria por horas.

Não literalmente presos, é claro, porque quem insiste que eles prolonguem sua estadia é a própria Annabeth, que a cada minuto que passa, adiciona um livro à enorme pilha que fazia em seus braços, ignorando as reclamações de Percy.

Ela garante que todas as obras que pretende comprar serão úteis na vida cotidiana deles como casados e que eles precisam de cada um dos livros; no entanto, quando Percy observa sua esposa correndo pelas prateleiras e pegando mais um livro, ele lê o seu título – Alice no País das Maravilhas – e ele não entende como isso ia ajudar na vida cotidiana de casados, mas ela sempre foi mais esperta do que ele, então, porque não perguntar?

- Ei, Annie, querida, eles já vão fechar – Percy sussurra no ouvido da esposa. – Já pegou tudo que a gente precisa?

- Ah, mas que coisa! – ela exclama, examinando a pilha de ao menos onze livros nas mãos. – acho que isso dá por hoje.

Percy ri, passando um braço em volta dos ombros dela enquanto o dois vão até o caixa, lembrando das dezenas e dezenas de livros, quem sabe até centenas, que ela tinha em casa, e foram obrigados a construir uma biblioteca para acomodá-los todos.

- Pra quê vamos precisar de Alice no País das Maravilhas em nossa vida cotidiana, que mal lhe pergunte? – ele levanta uma sobrancelha para ela e seu rosto delicado fica vermelho.

- E-eu – ela gagueja – Alice no País das Maravilhas é meu livro favorito e eu perdi a minha edição na mudança. Então, tecnicamente, seria muito útil.

Enquanto a atendente passava o preço nos livros, Percy tirou o conto infantil da pilha e observou a sua capa dourada.

- Outro dia a gente leva, está bem? – ele prometeu, dando um beijo na testa de Annabeth e descartando o livro.

- Mas poxa – Annabeth cruzou os braços e fez beicinho. – eu ainda tinha mais um monte de livros para comprar! Como podemos esperar uma vida próspera de casados quando eu nem tive a oportunidade de comprar O Guia dos Cães para escolhermos nossos bichos de estimação e –

Percy deu um riso relaxado enquanto Annabeth tentava explicar sua frustração. Ela sempre fora adorável, era verdade, mas não foi até aquele breve momento que ele havia percebido o quão inocente ela era – pelo menos quando queria.

Ele a cortou com um beijo.

- Querida, ainda vamos ser casados amanhã – ele disse, colocando um cacho loiro atrás da orelha de Annabeth, que ainda corava. – temos bastante tempo pra comprar esses livros, ok?

- Carambolas – ela murmurou, mordendo seu lábio inferior. – nós vamos mesmo continuar casados amanhã. Isso é tão... Estranho. Mas eu gosto.

- É – ele concordou, esperando a mulher bigoduda do caixa terminar de passar os livros. – Eu também gosto.

E, no fundo, apesar de achar meio assustador, ele amava a sensação de saber que acordaria ao seu lado até o dia que seus corações parassem de bater.

XXXXXX

Fazer as compras do mês no supermercado local não era bem o que ele pensava da rotina de homem casado, mas Annabeth insistia que era algo que ela gostasse de fazer com ele; ele, por sua vez, nunca admitia em voz alta, mas, diabos, como ele adorava ir ao supermercado com ela.

Primeiro, porque era adorável vê-la brigando consigo mesma sobre a marca de detergente que levaria – mesmo sabendo ele que ela sempre levava a mesma – e, segundo, porque quando ela não estava vendo, ele sempre conseguia enfiar umas caixas de comida congelada e cereal extra açucarado no carrinho de supermercado.

E lá estavam os dois, dia 14 de Setembro de 2020, dois anos de casados, fazendo suas compras mensais; Annabeth em sua frente, empurrando o carrinho, seus cachos dourados perfeitos presos em um coque, e ele atrás, segurando a lista que trazia os itens que precisavam escritos com a bela caligrafia da loira.

No momento, eles passavam no corredor da Higiene e Limpeza, um que Annabeth fazia questão de demorar-se, já que sempre fora obcecada com ter uma casa organizada.

- Papel higiênico? – ela perguntou, enquanto ele procurava o item na lista.

- Não precisamos.

- Amaciante?

- Não.

- Creme de barbear?

- Você precisa de uma lata ou duas – ele brincou, dando um beijo rápido no pescoço de Annabeth, que apenas corou e agarrou rapidamente uma lata de creme de barbear para o marido.

- Absorvente? – ela retomou sua lista mental, e ele, a sua manual.

- Ahm, não. – ele responde, não encontrando o item na lista, mas, num súbito, ele tromba em Annabeth, que congelara.

Ela virou-se para ele, suas íris verdes acinzentada num tamanho enorme, e ela parecia tentar encontrar a raiz de 5943049303943 mentalmente. Após alguns segundos, porém, ele viu que não era o caso.

- Annie, querida, eu disse que você não precisa de absorvente. – ele a lembrou, acariciando seu ombro gentilmente.

- Eu sei – ela respondeu imediatamente. – Faz quanto tempo que não compramos absorvente?

Percy encolheu os ombros como quem pisa em solo desconhecido.

- Desculpe, querida, mas não sou um grande consumidor de absorventes – ele respondeu, mas ela não riu.

Ignorando-o, ela fez contas com os dedos, parando apenas para respirar. Ele ficou ao seu lado num silêncio constrangedor.

- Droga! – ela gemeu, sua voz fina. – Estou três semanas atrasada!

- Três semanas atrasadas para o quê? – ele franziu o cenho, tentando acompanhar seu raciocínio, mas caramba, ele sempre fora muito lerdo.

- Percy, seu idiota! – ela retrucou, lhe dando um soco no peito, seu rosto vermelho. – é tudo culpa sua!

- Er, Annie, se você está se referindo a aquela multa de estacionamento do shopping, eu juro que não pretendia deixá-la vencer depois de três semanas e –

- MAS DE QUE DIABOS VOCÊ ESTÁ FALANDO? – ela rugiu.

Percy achou melhor ficar quieto antes que arrumasse mais problema. Annabeth deu um longo suspiro, soltando seus cabelos e retomando as contas nos dedos. Ele esperou pacientemente, apenas sofrendo pelos nuggets congelados que ele havia comprado escondido que provavelmente estariam estragando enquanto eles faziam hora no meio do corredor de Higiene Pessoal do supermercado.

Então, finalmente, ela parou, virando-se para ele com os olhos cheios de desespero.

- Percy. – ela diz pausadamente. – Quando uma mulher muito sexualmente ativa tem sua menstruação atrasada, isso só pode significar uma coisa.

Ela obviamente esperava que ele entendesse, mas em resposta, apenas mordeu seu lábio inferior; não era culpa dele se ele nunca havia gostado de Biologia.

- Esqueça a sessão de Horti Fruti. Voltaremos amanhã. – ela retruca, puxando sua camisa até o fim do corredor de Higiene Pessoal.

Numa última tentativa de ajudá-la, ele tenta acompanhar seu raciocínio, mas não entende porque ela joga desesperadamente dúzias de caixinhas brancas para dentro do carrinho, e porque parece tão apavorada ou com tanta pressa; da última vez que ele a viu tão pálida fora anos atrás, deitada num sofá do hotel Plaza, Nova York sendo destruída atrás deles, um ferimento verde e aberto em seu tórax, um ferimento que ela tinha adquirido para salvá-lo de uma morte certeira. Só lembrar-se daqueles dias de guerra faziam seu corpo gelar; a pior lembrança não fora seu próprio sangue derramado, mas a dor nos olhos de seus amigos, e, principalmente, nos dela.

XXXXXXXX

- Toma – ela entrega o palito de plástico para ele. – Veja você. Eu... Não consigo.

Percy acha que parece ridículo que seja uma situação seja tão séria, afinal, os dois estavam sentados no chão do banheiro, suas cabeças encostadas na parede revestida de azulejos azuis. Annabeth ainda não chorava, mas ela parecia tão em choque e frágil que ele tinha medo de tocá-la.

Você é o homem nessa casa, ele pensa orgulhoso. Veja logo a porcaria do resultado.

Numa onda de adrenalina, Percy espia o resultado, soltando um suspiro frustrado alguns segundos depois.

- Pelo amor de Hades, o que isso significa? – ele apontou para o visor do palito, que mostrava uma carinha sorridente.

O rosto de Annabeth ficou muito pálido novamente, e ela roubou o palito de sua mão, jogando-o no lixinho rapidamente.

- Vá buscar mais chá gelado pra mim – ela ordena, apontando em direção contrária. – vamos fazer de novo.

Como um brinquedo de corda, ele desce os degraus de mármore até a cozinha, enche o copo de vidro de chá gelado de Pêssego e sobre a escada novamente, entrando no quarto, depois no banheiro, entregando o copo para ela.

Quando ela o agarra, suas mãos tremem. Ele a observa bebendo o conteúdo muito rápido, como se sua vida dependesse disso; devolvendo o copo vazio para ele, os dois ficam sentados ali, como se esperassem a bexiga dela encher.

E era mais ou menos o que eles estavam fazendo. Ela só estava muito apavorada para pensar em uma distração.

XXXXXXXXX

Uma hora depois e os dois descem de volta à cozinha. Ele esta apoiado no balcão de azulejos beges e ela anda de um lado para o outro, sem realmente fazer nada; ele só observa, porque, bom, ele está apavorado também e realmente não sabe o que dizer.

Finalmente, ela enterra seu rosto nas mãos, esfregando seus olhos algumas vezes.

- Percy – ela diz, praticamente sussurrando. – o que é que a gente vai fazer agora?

Os olhos cinzentos de Annabeth estavam lustrados de lágrimas que ameaçavam cair a qualquer momento. Seus ombros tremiam.

Ele não sabia muito o que responder. Boa parte dele ainda estava em choque, mas se ela estava prestes a desabar, um dos dois tinha que ser forte, certo?

Porque, na verdade, ele não tinha parado pra pensar o quê aquela carinha feliz significasse. Quer dizer, depois que ela jogou a caixa de instruções na cara dele, ele sabia, mas ainda não tinha absorvido completamente o que estava acontecendo porque – pelos dentes sujos de Hefesto – eles iam ter um filho.

Não havia muito que ele pudesse dizer, de qualquer forma. Usando o choque que havia enrijecido seus músculos, ele levantou Annabeth pelos ombros, sentando-a no balcão que ele tinha se apoiado minutos atrás. Ela continuou cabisbaixa quando ele colocou-se de frente pra ela.

- Percy – ela repetiu. – O que é que a gente vai fazer agora?

Como se estivesse caindo de um abismo, Annabeth deixou as lágrimas voarem por suas bochechas abaixo. Em onze anos de convivência – afinal, eles se conheciam desde os 12 – ele nunca tinha a visto tão frágil.

Usando a parte de trás de seus dedos, ele limpou o maior número de lágrimas possíveis. Quando ela finalmente se acalmou e tornou a olhar para ele pedindo uma resposta à sua pergunta, ele resolveu dizê-la o óbvio mais uma vez.

- Nós vamos ter um bebê, é isso que a gente vai fazer – ele disse, dando um sorriso suave.

- M-mas – Annabeth gaguejou – Nós somos tão novos, Percy! E isso nem foi planejado, e –

- Ei – ele a interrompeu, limpando o resto das lágrimas que caíram enquanto ela falava. – só porque não foi planejado, não significa que não seja uma coisa boa.

- Você sabe do que estou falando – ela fungou. – eu gosto de ter tudo muito bem planejado.

É, ele sabia muito bem do que ela estava falando. Desde que ele conhecera Annabeth no acampamento, havia aprendido que a filha de Atena, sendo muito orgulhosa, traçava seu plano bem antes de executá-lo.

Bom, nenhum dos dois poderia afirmar que estavam sendo cuidadosos no quesito ‘não queremos um bebê agora’, mas pelo amor de Zeus, esse tipo de coisa não se planeja.

- Você planejou em se apaixonar por mim, Sabidinha? – ele sorriu, esfregando seu nariz com o dela. – porque se você o fez, seria uma história muito interessante de ouvir.

Finalmente – graças ao bom e velho Olimpo – ela riu. Obviamente, seus olhos ainda estavam cheios de lágrimas e sua pele, muito pálida, mas já era um começo.

- Não, não planejei. – ela respondeu, sorrindo. – Era por isso que eu vivia brava com você o tempo inteiro.

- Ah, então era por isso – ele fingiu refletir.

Excluindo todo o progresso feito em segundos, seu rosto entristeceu-se de repente.

- O que é que a gente vai fazer agora? – Annabeth o questionou pela terceira vez.

- Nós vamos ter um bebê, querida – ele repetiu, porque, caramba, o que mais ele podia fazer?

Ela pareceu absorta em pensamentos, mas ele se lembrou mentalmente que ela sempre parecia absorta em pensamentos.

- Não pense dessa maneira, se não quiser – ele sugeriu. – não pense num bebê. Pense em um... Pedacinho de nós dois, digamos assim.

Naquele momento, Percy estava literalmente pisando em ovos: era sua última tentativa. Com o passar dos anos, ele havia aprendido que, uma vez que Annabeth se magoava, ela se magoava pra sempre, e, diabos, não havia motivo pra ficar magoada com aquele tipo de notícia. Ia acontecer, mais cedo ou mais tarde.

Pensando na personalidade preocupada da esposa, ele preparou um mini discurso mental e, envolvendo seu corpo trêmulo com os braços, seu rosto a milímetros do dela, ele o disse o mais lentamente possível.

- Annabeth, querida. Nós temos um emprego. Uma casa grande. E nós nos amamos. Preciso te dar mais um motivo pra você ter certeza que isso vai dar certo?

Ela engoliu em seco e seus olhos cinza procuraram por uma resposta para dar novamente

- Um pedacinho de nós dois – ela sussurrou, conversando consigo mesma.

Quando ela envolveu o pescoço dele com os braços, e sua cintura com as pernas, e basicamente enfiou sua língua dentro da boca dele, seu coração parou por uns instantes, porque ele deveria finalmente ter começado a ficar bom com palavras.

XXXXXXXX

Apenas dois dias depois, ela marca uma consulta para confirmar, e, bom, ela está mesmo grávida.

Então, o espírito animado que havia deixado ela por alguns instantes finalmente havia retornado ao seu corpo, tanto é que, depois da consulta, Annabeth havia o obrigado a voltar na Barnes & Noble – sua livraria favorita – e ela comprou no mínimo uns dez livros diferentes sobre gravidez, mesmo eles sendo todos muito parecidos, mas Percy não reclamaria, não daquela vez, porque ela parecia tão feliz.

Mais tarde naquele mesmo dia, eles passaram a noite deitados no tapete da sala de televisão, e ela lia em voz alta as frases dos livros pra ele enquanto ele procurava algum que tivesse figuras porque sua Dislexia não havia melhorado com o tempo e era mais interessante ver as fotos, mesmo.

- E no quinto mês os pulmões começam a se desenvolver e –

Annabeth parou de falar quando viu que ele fazia uma careta para uma foto de um parto natural.

- Pare de ver essas coisas – ela retrucou – veja algo mais interessante.

- Como o quê?

Agilmente, ela tira uma foto em preto e branco do meio de um dos livros.

- Como isso aqui – ela disse, entregando a fotografia para ele.

Quando ele viu do que se tratava, seu coração pode até ter falhado um pouquinho, porque bom, aquele pontinho branco não era realmente nada ainda, mas caramba, ele tinha mesmo chorado no ultrassom.

E ele nem se importa, porque aquele pontinho branco era deles e de ninguém mais.

XXXXXXXXXX


Annabeth não tinha nem completado dois meses de gestação quando ele a encontrou lavando pratos na pia da cozinha com um ar despreocupado; era começo de Outono em Nova York que o quintal deles estava coberto de folhas laranja e vermelhas, que ela observava pela enorme janela na frente da pia.

Aparentemente, não havia nada de diferente naquele dia. Até o canto das árvores, movimentadas pelo vento lá fora, tinha o mesmo som de sempre.

- Oi, Cabeça de Alga – ela cumprimentou-o em voz alta assim que o ouviu trancando a porta da frente.

- Olá, Sabidinha – ele respondeu, entrando na cozinha e dando um beijo em sua bochecha, andando em direção à geladeira para beber um pouco daqueles chás que ela dizia que eram tão bons para a saúde. – pensei que você tivesse uma reunião hoje.

Ela deu de ombros.

- Não fui.

- Ora essa – ele diz, dando uma bebericada no chá que ela tanto adora e tentando esconder sua cara de desgosto dela. – nunca vi você pulando reuniões assim.

- Pulei a reunião porque precisava falar com você assim que possível – ela respondeu, não escondendo um enorme sorriso, enxugando as mãos e sentando-se ao seu lado na mesa da cozinha.

- Sou todo ouvidos – Percy diz, empurrando o copo de chá para ela, porque nem que mamutes voassem ele ia beber aquilo.

- Bom – ela juntou as mãos na frente dos seios. – Lembra do Guttemberg, aquele velho arquiteto dono daquela firma aqui perto?

- Sim, sei – ele respondeu. Annabeth falava naquele senhor como se ele fosse o verdadeiro deus da arquitetura. Sua firma era uma das mais famosas de Nova York, e a própria casa dos dois, próxima ao Central Park, tinha sido construída pelo velho Guttemberg.

- Ele ouviu falar do meu trabalho – ela disse, e ele sabia que ela se continha para não gritar. – E um dos seus engenheiros associados me chamou para o escritório dele na firma hoje. Eu fui, obviamente não esperando nada, e... Bom, ele me ofereceu basicamente tudo. Um escritório dentro da firma, tudo, um salário ótimo...

De repente, ela parecia explodir de alegria, seu sentimento era contagiante: desde que haviam se casado Annabeth reclamava que nunca poderia construir nada e que ele, trabalhando como advogado desde então, teria que sustentá-la para sempre, e agora, veja, sua Sabidinha teria sua própria sala numa firma renomadíssima de Arquitetura.

- Não pude deixar de aceitar – ela corou. – desculpe se não falei com você antes, é que ele estava com pressa e...

- Ei, deixe disso! – Percy exclamou e levantou-se para dar sua esposa um abraço apertado. – Parabéns, amor. Não posso dizer que estou surpreso.

- Pare com isso – ela corou, dando-lhe um beijo no peito. – Mas... Tem um pequeno detalhe.

Ele ergueu as sobrancelhas, esperando pelo tal detalhe.

- Antes de trabalhar na firma, vou com outra arquiteta júnior para uma viagem na Europa. É Professional, claro. O problema é que ficaremos fora por um tempo... Quatro ou cinco meses.

- E o quê você disse?

- Eu disse que falaria com você primeiro – ela respondeu, mordendo seu lábio inferior, e ele sabia muito bem que ela implorava para que ele concordasse em deixá-la ir.

- Bom, eu acho que você deveria ir. – Percy respondeu, vendo a surpresa espalhar-se em seu rosto novamente. – Você tem esperado por isso faz muito tempo, eu sei disso mais do que ninguém.

- Droga, eu te amo! – Annabeth exclamou, beijando-o no mínimo umas quinze vezes seguidas.

- Eu te amo também – ele respondeu. – Viu? Não disse que ia dar tudo certo? Você vai ter seu emprego dos sonhos, nós vamos ter o bebê e...

Toda a alegria e animação drenaram-se do rosto dela de repente, e ela o empurrou gentilmente, querendo sair de seu abraço. Ela instantaneamente roeu uma unha, dando respirações curtas e aflitas, e Percy se bateu mentalmente várias vezes. Teria ele dito alguma coisa errada?

- Percy – ela disse depois do que pareciam séculos. – Se eu vou fazer essa viagem, eu não posso ter o bebê.

- Como assim? – ele gaguejou. Podia até considerar-se burro, mas o que diabos ela estava sugerindo?

- Não é uma viagem de férias – ela afirmou, e ele sabia. – vamos fazer coisas como escalar montanhas e morros, e eu... Não posso ir grávida. De jeito nenhum.

Ela continuou explicando centenas de coisas sobre como escalar montanhas fariam diferença no projeto de construção de casas em lugares íngremes, e como ela se preocupava com o bebê, e não seria uma opção...

- Espere – ele a interrompeu – o que você está tentando dizer?

- Estou dizendo que – ela engoliu em seco. – Eu não posso ter esse bebê.


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Notas finais do capítulo

EITA!
Ok, todas muito confusas e boquiabertas e sambando. Calma que tudo isso será explicado.
As próximas partes estão prontas. 15 reviews pra eu postar, que tal?
Beijos,
Ju.