Deus Deve Odiar-me! - 1 Temporada escrita por BouvierDesrosiers


Capítulo 8
Ameaça Enfeitada


Notas iniciais do capítulo

Mais uma capítulo... Boa Leitura :)



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Hoje é o dia. O dia do maldito teste. Dormi mal e estou rabugenta. Ontem estive a estudar mais um pouco e, estranhamente, já estou farta de matemática! Já não posso ver números à frente. Entro na cozinha para pegar uma peça de fruta e dou de caras com o Pierre e o Seb. Quando entrei, calaram-se e pareceram-me incomodados com a minha presença.

- Não se incomodem. – Disse eu. Não pretendo perguntar nada. Aproximei-me da fruteira e peguei numa pêra.  – Vim só buscar uma fruta.

- Estávamos só a conversar umas coisas da banda, que temos para hoje. – Desculpou-se o meu irmão.

- Tudo bem. Não têm de me dar satisfações. – Respondi, dando um leve sorriso. Não quero que se sintam obrigados a dar-me justificações, até porque, se for algo de importante, o meu irmão não me esconde. – Eu vou indo. Não quero deixar o David à espera.

- Vão juntos? – Perguntou Seb, olhando-me e olhando depois para o Pierre.

- Sim. Já que somos vizinhos e somos da mesma turma… – Disse eu, despedindo-me deles, com um beijo na bochecha de cada um.

- Então prepara-te para chegares atrasada! – Disse Pierre, rindo-se.

- Atrasada? Porquê? – Perguntei.

- Porque o David é sempre o atrasado para tudo! Se fosse a ti, ia já arrancá-lo de casa! – Aconselhou-me o meu irmão.

Acho que ele tem razão. Pelo que já vi do David, ele não é lá muito certo a cumprir horários, mas eu não pretendo chegar atrasada por causa dele. Ele que tire o cavalinho da chuva que ainda apanha uma pneumonia!

Como não o vejo em lado nenhum, dou meia dúzia de passos e chego à casa do David e bato à porta.

- Olha quem é ela! – Gritou Charlotte, fazendo grande alarido. Oh não, já me tinha esquecido dela! – Estás à espera do David, não é? Entra!

Acenei com a cabeça e entrei. A Charlotte pôs-me a mão pelo ombro e conduziu-me até à sala, onde estava um senhor bem-parecido, igualmente de aspecto fino e ao mesmo tempo simples, que se levantou do sofá quando me viu.

- Estás crescida! Quem te viu e quem te vê. – Disse ele, calmamente e sorrindo. – Não te deves lembrar de mim. Sou o André. O pai do David.

- Gosto em conhecê-lo. – Disse eu. Pelo menos o pai não me parece histérico como a mãe e inspira-me mais confiança do que ela. São daquelas coisas que não se explicam.

- O David ainda está lá em cima. Podes subir e ir lá chamá-lo.

Eu? Eu, subir e ir ao quarto chamá-lo? Assinto e subo as escadas. O André disse-me que é a segunda porta à direita. Observo a porta, como se ela fosse morder-me se lhe tocasse. Sorriu sozinha, com a minha estupidez. Respiro fundo e bato à porta. Só espero que já esteja pronto. Ouço a voz dele, gritar para entrar. Rodo a maçaneta e espreito.

- Já estás pronto, donzela? – Riu-me perante o ar chateado dele com o meu comentário.

- Sim, a donzela já está pronta. – Disse ele, resmungando mas ainda em frente ao espelho, mexendo no cabelo.

- Certeza?

- Sim! Vamos lá, rapariga stressada!

Descemos as escadas. Pensei que fosse mais difícil arrancá-lo de casa, mas ainda bem que assim foi. Na entrada de casa, no espaçoso hall bem decorado, estavam Charlotte e André.

- Vocês ficam mesmo bem juntos. – Comentou André, deixando-me acanhada. – Estavam destinados a ficar juntos!

- Pai! – Refilou David, também notavelmente envergonhado. Parece que perante os pais ele é calmo.

- Que foi? – Perguntou ele. – Vocês não se lembram, mas eu lembro-me!

- Do quê, Sr. Desrosiers? – Perguntei. Sou curiosa e aquele comentário fez despoletar o meu interesse.

- De vocês os dois, quando ainda era pequeninos. Não se largavam um minuto e era um castigo para separar-vos! Faziam um vasqueiro como se o mundo fosse acabar. – Revelou, rindo. Deu para entender que sente saudades desse tempo. Não me lembro de nada e duvido que o David se lembre. – Mas ainda bem que estão juntos. Fico muito feliz. Sempre achei que iam ficar juntos.

- Não, entendeu mal, Sr. Desrosiers. Eu e o David somos só amigos!

- Ai são? – Perguntou, visivelmente decepcionado. Tenho pena dele, mas é a verdade. Eu e o David nunca passaremos disso. Amigos.

- Sim, pai. Apenas bons amigos…

O tom de voz do David pareceu-me também algo desiludido. Mas deve ser impressão minha. Estou mesmo a ficar mal da cabeça! Caminhei para a porta, seguida do David. Íamos a sair a porta quando o pai do David me chamou.

- E podes tratar-me por André. Esquece lá o senhor! – Pediu, sorrindo e eu acenei, um pouco corada.

Já nos encontrávamos no carro e pairava o silêncio. Não me saiam da cabeça, as palavras do André. Porquê que toda a gente achava que eu e o David íamos ficar juntos? Éramos crianças, dávamo-nos bem, éramos inocentes! E agora continuamos amigos. Só isso.

- Desculpa aquilo do meu pai. – Pediu David, desligando o carro. Tínhamos chegado à faculdade.

- Fiquei com pena de o desiludir. – Disse eu, mas arrependi-me logo a seguir, perante o olhar espantado do David. Abri a porta e sai do carro, rezando para que o David não questionasse a minha infeliz saída.

- Ficaste? – Perguntou ele, saindo do carro e vindo para o meu lado. Como sempre, não tenho sorte nenhuma.

- Sim… – Respondi. Não devia ter dito aquilo! Porquê que não controlo o que digo e faço? Só arranjo problemas. – Ele pareceu ficar triste.

- Ah… – Soou desapontado. – Não te preocupes, isso passa-lhe.

Encaminhamo-nos para a faculdade. Ainda faltavam 10 minutos para entrarmos. Num dos corredores, encontramos um grupo de rapazes, que conversava animadamente. Têm ar de serem simpáticos, até. Ainda não conheço muita gente aqui. Na verdade, só o David e o Dean. O David sorriu ao vê-los, parece que são amigos. E afinal, são 3 rapazes e uma rapariga. Não tinha reparado nela.

- Então, malta? – Cumprimentou-os David.

- Dave! – Disseram em coro, cumprimentando-o.

- Deixem-me apresentar-vos… – Disse David, puxando-me para o dado dele. – Esta é a Magda. Este é o Nicolas, mais conhecido por Nick, Kalet, Brandon e a Michelle.

Eles sorriram. O Nick era alto e encorpado. Tem o cabelo relativamente curto, preto e olhos azuis. Tipicamente dos populares. O Kalet é magro e parece frágil. Tem cabelo castanho e olhos igualmente castanhos e usa óculos. Não lhe ficam mal, mas dão-lhe um ar de nerd. O Brandon tem mais ar de terrorista. Tem o cabelo rapado e olhos verdes. Não é muito alto, mas também é encorpado. Apesar de me parecer terrorista, tem um ar bastante simpático e amigável. E a Michelle. É uma rapariga bonita. Tem longos cabelos castanhos e olhos também castanhos. É mais ou menos da minha altura e tem aspecto de ser uma rapariga certinha. Parece que o David consegue ter um amigo de cada grupo.

- Então esta é que é a famosa Magda! – Disse o Nick, sorrindo. – Prazer em conhecer-te!

- Parece que sim… – Comentei, olhando o David, que me pareceu ficar sem ar de repente.

- Ahm… Está tudo a correr bem? – Disse o David, mudando de assunto.

- Está. – Respondeu o Brandon. – E para os teus lados parece que também!

A campainha soou e aproximamo-nos das portas das salas. O David estava a falar com os rapazes e parecia irritado, pois esbracejava bastante. Fiquei a beira da Michelle, que segurava os livros à frente do peito.

- Não te assustes. Eles são bons rapazes. – Disse ela, olhando na direcção deles. Eu reparei num olhar estranho que ela deitou ao David. Será que eles…? – Habituas-te depressa aos seus devaneios!

- Sim. Não te preocupes. Estou vacinada contra isso! – Disse eu, forçando um sorriso. Sou irmã do Pierre Bouvier, há maneira de não estar?

- Imagino que sim. – Respondeu, sorrindo também. Tive vontade de lhe perguntar há quanto tempo conhece o David, mas acho que não ficaria bem…

- Há quanto tempo conheces o David? – Perguntei. Odeio-me e odeio esta minha falta de controlo.

- Não há muito… Há um ano.

Um ano dá para fazer muita coisa. Pela minha cabeça, passaram mil e uma coisas. Tenho este dom. Faço o filme todo. Deus abençoou-me com uma mente muito fértil. Ainda assim, será que os meus devaneios estão assim tão longe da verdade? Ela parece olhá-lo com ternura e amor. Fui tirada dos meus pensamentos pelo David, que me tocou no braço, a chamar-me para irmos para a sala.

Sentámo-nos e entrou o professor. Pousou a sua pasta e de lá tirou um maço de folhas. Testes. Sinto-me nervosa e as minhas mãos já estão a suar. Começou a distribuir os testes e quando se aproximou da mesa do David ficou a olhá-lo e fez um sorriso que me pareceu um tanto irónico.

- Chegaste a horas. Parabéns, Desrosiers. – Comentou ele, entregando-lhe o teste.

- Algum dia tinha de ser. – Respondeu o David, no mesmo tom.

O professor, após entregar todos os testes voltou para o lado da sua secretária e olhou o relógio no seu pulso esquerdo olhando para a turma depois.

- Podem começar.

Sentou se na sua secretária, apoiou os cotovelos na mesa e o queixo nas costas das mãos. Será que vai ficar ali especado a olhar? Odeio quando fazem isso. Enerva-me, desconcentra-me. Olho para o teste. É enorme, tem 5 páginas e, tirando a primeira página, que são escolhas múltiplas, são tudo exercícios de muitos cálculos. Eu e o David fizemos uns parecidos com estes, mas alguns destes nunca os vi na vida! O que é isto?

Viro o rosto para o lado e observo o David. Tenho vontade de rir, com as caras que ele está a fazer para o teste. Parece que não sou a única que está em choque. Ele olhou para mim, de olhos arregalados e passou a mão horizontalmente à frente do pescoço, como se fosse suicidar-se.

Faltavam 15 minutos para terminar o teste e eu ia gastá-los na resolução do último exercício que me restava fazer. Mal ou bem, consegui responder a tudo. Estava praticamente a acabar quando olhei para a frente e me apercebi que o Dean me estava a sussurrar qualquer coisa. Olhei para o professor, que estava a ler qualquer coisa e inclinei-me para a frente para conseguir ouvir.

- Ajuda-me. – Sussurrou ele. – Podes dizer-me as respostas das escolhas múltiplas?

Cuidadosamente, para que o professor não notasse, fui dizendo-lhe as respostas, mesmo a tempo de tocar para o final do teste. O professor recolheu os testes e saímos da sala. Ao nosso encontro vieram o Nick e a Michelle.

- Então, correu-vos bem? – Perguntou a Michelle.

- Mais ou menos. – Respondi. Foi talvez o pior teste em toda a minha vida.

- Pessimamente! – Resmungou o David.

- Deixa lá, meu! – Disse o Nick, dando-lhe uma palmadinha nas costas.

De repente, do fundo do corredor apareceu uma rapariga que veio na nossa direcção, toda sorridente. É loira, de olhos azuis, usa batom vermelho e bastante maquilhagem. As suas roupas são provocantes e anda cheia de acessórios. Parece uma árvore de natal ambulante. Levanto uma sobrancelha quando a vejo aproximar-se do David e a colocar os seus braços à volta do pescoço dele.

- Di, há dias que te procuro! Onde andaste metido? – Perguntou ela, com uma voz que quase me fez vomitar.

- Tenho andado ocupado a estudar. – Respondeu ele, tirando os braços dela do seu pescoço.

- Oh, mas já que te encontrei… – Provocou ela, brincando com o seu dedo indicador no casaco dele. – Logo à noite, podias ir até minha casa…

Franzi os olhos e não sei porquê, apetece-me cortá-la aos pedacinhos. Ela é a típica miúda popular que tem a mania que é boa. Irrita-me. O David agarrou-a pelo braço e afastou-se um pouco de nós.

- Odeio esta miúda! Não a suporto mesmo! – Disse Michelle. Ela agarra os livros com força e consigo notar a raiva nos seus olhos. Serão ciúmes? Devem ser. Quer o David para ela e fica assim.

- Este David…! Sempre o mesmo garanhão! – Comentou o Nick, rindo. – Andei muito tempo atrás da Nicole, mas ela nunca me deu bola. E olhem só… Com ele derrete-se toda!

- Isso é estranho. Ela enrola-se com tudo o que mexe. – Disse Michelle. – E não o larga! Anda sempre atrás dele. Tem a faculdade toda caidinha por ela, mas anda atrás do David.

- Típico. – Resmungo, tentando não mostrar muita preocupação.

- Eu vou-me embora, antes que me dê vómitos! – Disse Michelle. Ela pensa como eu, é engraçado. – Até logo.

- Até logo. – Respondemos em coro.

- Olha… Posso fazer-te uma pergunta? – Perguntei ao Nick e ele acenou afirmativamente com a cabeça. – O quê que quiseste dizer com “a famosa Magda”?

Ele ia a responder mas apareceu o Dean.

- Bem, se calhar vou andando. – Disse o Nick. – Até logo.

- Até logo. – Despedi-me. – O que se passa?

- Queria agradecer-te por me teres ajudado no teste. – Disse o Dean.

- De nada. Não custou nada. – Respondi.

- E queria convidar-te para sair comigo. Conheço uma gelataria com uns gelados de comer e chorar por mais!

Só cá me faltava esta. Eu não estou com disposição para sair. Só quero ir para casa e afundar a cabeça na almofada. Eu nem sei porquê, mas é o que me apetece neste momento. Se vá que o gelado também ajudaria.

- Não sei… – Respondo, hesitante.

- Não me digas que fazes daquelas dietas loucas! – Disse ele, rindo.

- Não! Nada disso…. – Neguei. Na verdade, não sou desse género. Como o que me apetecer, quando me apetecer. Olhei para o lado e vi o David vir na minha direcção. Já deve ter terminado a “conversinha” com a “amiguinha”. Quando chegou à nossa beira, ficou com ar sério a encarar-nos. Foi aí que me decidi. – Está bem! Eu aceito o gelado!

- Boa! Combinamos às 16h, aqui na faculdade? – Perguntou o Dean com um sorriso.

- Sim. – Respondi. Despediu-se e foi-se embora.

- Gelado? – Perguntou o David, de sobrancelha erguida. – Eu já não te avisei para teres cuidado com ele?

- E desde quando é que tenho que ir pelo que tu dizes? – Resmunguei. – Vou sair com ele e tu não podes fazer nada contra isso!

- Vamos ver se não posso! – Respondeu, irritado.

- Vai controlar a tua namoradinha e não me chateies!

Virei-lhe costas e deixei-o como costumam dizer, com cara de tacho. Mas o quê que ele pensa? Que pode mandar em mim? Que tenho de acatar o que ele diz? Está enganado. Ele que se preocupe mais com a árvore enfeitada, que está a morrer de saudades dele.

Saí disparada da faculdade, irritada.



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Notas finais do capítulo

e então? será que há ciumes no ar? :o



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