Deus Deve Odiar-me! - 1 Temporada escrita por BouvierDesrosiers


Capítulo 2
Bem-vindos a minha nova vida


Notas iniciais do capítulo

Novo capítulo... Boa leitura :)



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A viagem de avião até foi agradável e passou rápido. Só o pensar que íamos recomeçar a nossa vida na cidade de onde nunca devíamos ter saído é algo muito motivante. Os nossos olhos pareciam irradiar felicidade ao ver Montreal. Nunca tinha visto o meu irmão assim, sem ser no dia em que se formou. Apesar do tempo de viagem, não estávamos cansados. A alegria não nos deixava ficar sem energia, pelo contrário, à medida que nos aproximávamos de casa, ficávamos mais eléctricos. A casa continuava igual, segundo o meu irmão e as fotos que eu via. Os nossos pais tinham-na alugado inúmeras vezes, para que não ficasse ao abandono, mas nenhum dos habitantes tinha mudado o que quer que fosse. Os meus pais não o permitiam. Era uma das condições do arrendamento. Os últimos moradores tinham deixado a casa há pouco mais de um mês, pois também decidiram sair do Canadá.

Andei pela casa, a fazer um género de reconhecimento. Pequenos flashes de momentos ali passados surgiam na minha cabeça, mas nada que eu pudesse situar ou relembrar bem. Dei a volta ao rés-do-chão, enquanto o meu irmão arrumava as malas no andar de cima. A casa é enorme. E tal como a nossa casa na Califórnia, está mobilada e equipada com as melhores coisas. Era confortável e acolhedora, nunca nos pudemos queixar disso. A cozinha é tão bonita. Todos os armários e mobílias são em madeira envernizada em tons de mel. No centro da cozinha tem um grande balcão, sustentando uma mármore negra que condiz com os outros balcões. A entrada também é bem concebida. É espaçosa. Tem a escadaria, coberta com uma carpete vermelha, que dá acesso ao piso de cima. E ao lado da escada tem um corredor, que tem duas portas. Uma dá acesso a outra escadaria que vai dar à cave e a outra é para a garagem. Suspirei e subi as escadas, dirigindo-me para a porta que estava aberta. Era o quarto do meu irmão. E lá estava ele, a arrumar as suas coisas. Bem, o melhor era eu também começar a arrumar as minhas. Parece que trouxemos a casa às costas e, ainda assim, acho que não trouxe o necessário.

- Já arrumaste as tuas coisas? – Perguntou-me ele.

Ele conhece-me tão bem que aposto que sabe que não. Eu adoro fazer as malas mas detesto desfazê-las. Não será assim com toda a gente? Eu sei que também é com ele. Ele odeia ter de arrumar as malas. Quando íamos de férias, era sempre eu que lhe arrumava as malas em troca de qualquer coisa que eu quisesse. Vê-se que está a tentar mudar isso. Agora que vamos viver os dois sozinhos, temos de nos ajudar. Vivermos sozinhos… Isto vai ser bonito. Por muito que o meu irmãozinho mais velho queira ter juízo, isso é algo que não lhe assiste. Pressinto que vou adorar a minha nova vida. Aliás, não entendo o porquê de não nos termos lembrado disto mais cedo! Ok, também não era muito aconselhável, não teríamos idade para tal. Mas agora sim, apesar de sermos novinhos. Eu só tenho dezanove anos e o meu irmão só é três anos mais velho do que eu.

- Não. Estive a ver a casa. Eu não me lembro de nada… – Respondi, observando o quarto dele.

- É normal, maninha, eras muito pequena quando saímos daqui. – Disse ele, passando-me a mão pelos meus cabelos encaracolados. – Mas agora, anda, vai arrumar as coisas, temos muito para fazer!

É verdade. Temos de ir ao supermercado. Tenho fome e aquela comida do avião era horrível! E depois de arrumar a cozinha e pôr tudo no seu lugar, o meu irmão quer ir procurar um emprego. Apesar do que o que os nossos pais nos dão ser mais do que suficiente para vivermos comodamente, ele quer trabalhar. Diz que não quer ficar dependente dos pais para sempre e que quanto mais cedo isso acontecer, melhor. Eu concordo com ele. Também quero arranjar um trabalho. Em part-time, claro. Senão, com as aulas, torna-se mais complicado. Quando eu lhe disse que iria também arranjar um emprego, ele passou-se. Não me deixa trabalhar. Quer que eu me dedique aos estudos. Teimoso!

Estava a ficar sem espaço para arrumar as minhas coisas. O quarto é grande, mas torna-se pequeno para mim. Sim, sou uma rapariga com muita coisa! E isto vai ter de levar uma reviravolta! Paredes cor-de-rosa?! Por favor! Onde é que os meus pais tinham a cabeça para pintar as paredes do meu quarto desta cor horrorosa? Que clichê! Um azul ou um preto estava óptimo. Se calhar vou optar pelo preto, já que o quarto do meu irmão é azul. Viva à criatividade, paizinhos! Depois de arrumar tudo, saímos de casa e fomos pela rua de nossa casa fora, pois o supermercado é ao fundo da mesma. Estamos animados e vamos a brincar. O meu irmão vai explicando-me as ruas e apontando para as casas, dizendo onde mora quem. Não sei como ele se lembra de tudo isto, ele só tinha sete anos.

- Oh meus deus! Quem são eles!

Assustei-me com o grito histérico da mulher e agarrei-me ao meu irmão. A mulherzinha caminhou na nossa direcção toda sorridente, o que ainda me assustou mais. Quem é ela? E o que quer? Tem ar de ser gente fina. Aliás, aquela é uma zona rica. Não é para me gabar, mas com a fortuna que os meus pais têm, era estranho vivermos num sítio senão ali. É considerada a zona mais rica de Montreal. As casas são um luxo e apenas vive ali pessoas de grandes posses. Por isso, só posso supor que esta senhora seja desse nível, o que é estranho com o grito que ela deu.

- Sra. Charlotte! – Disse o meu irmão, como se já a conhecesse há anos. Bem, se calhar conhece.

- Ai, Pierre, estás tão grande!

Pronto, a típica conversa que me deixa de cabelos em pé. Mas será que toda a gente diz o mesmo? O que é feito da inovação? Meu Deus! Bem, pelo menos já sei. Conhecem-se mesmo e pelos vistos há muito tempo. Claro, já devia ser nossa vizinha aqui. Tirando o seu comentário óbvio, até parece ser simpática mas o Pierre não lhe sorri lá muito, o que é estranho. Ele é sempre muito sorridente e amável para as pessoas. Está sempre na brincadeira e a fazer piadas de tudo. O meu irmão nunca erra, no que toca a gostar das pessoas ou não. Eu acho que ele é um ser do outro mundo, mas ainda bem! Graças a ele nunca tive más companhias nem nunca ninguém me fez mal.

A senhora continua a lisonjear o Pierre que começou a ficar com as suas bochechas fofas ligeiramente rosadas. Observando-a, parece ser da idade dos nossos pais. Eles não são muito velhos, pelo contrário. Quando a minha mãe engravidou do Pierre, eles ainda estavam a estudar. Deve ter sido complicado. Mas eu não sei, eles nunca nos falaram da vida deles. Não tinham tempo para nos dar carinho quanto mais para contar a história das suas vidas.

A reacção do Pierre assusta-me. Será que ela é boa pessoa? Começo a ter as minhas dúvidas. Seja ou não, também não faço tensões de perder muito tempo a pensar nisso e desde que ela não me aperte as bochechas, até nos podemos entender.

- E esta rapariga linda, se não é a tua namorada, só pode ser a tua irmã. Magdazinha! – Disse ela, apertando-me as bochechas. – Também cresceste imenso! Eras tão pequena quando os vossos pais se mudaram…

E porquê que eu tenho este dom de adivinhar? Odeio que me apertem as bochechas! Mas como se isso já não bastasse, ainda me pôs o nome no diminutivo! Por favor, é pindérico, é patético! Odeio! Tenho de me controlar. Não vou começar já a barafustar. A senhora e toda a gente terão muito tempo para conhecer o meu mau feitio e para aprender a lidar com ele. Pela cara que o meu irmão fez, percebeu que não gostei da mulher. Ele sabe que eu odeio que me apertem as bochechas e que me chamem Magdazinha. É o que ele faz para me irritar. E claro, depois foge. Não sei porquê. Ele consegue pegar em mim com a maior das facilidades.

- Sim, sou a Magda. – Respondo, enfatizando o meu nome.

- Então, vieram de férias?

- Não. Voltamos para Montreal. – Respondi rispidamente. Não sei explicar, mas começo a sentir que não devo confiar nela. E porque haveríamos de estar de férias? Nem sequer é período de férias.

- Ai sim? E os vossos pais também vieram?

- Não. Nós voltamos sozinhos. Saímos de casa e decidimos voltar para aqui.

No meu entender, o meu irmão já está a falar demais. Não quero ser antipática, mas eu não conheço ninguém aqui e não sei em quem devo confiar. Deitei um olhar característico a Pierre e ele entendeu. Desde muito cedo que tivemos uma comunicação estranha entre nós. Basta um olhar e o outro sabe o que estamos a pensar. Falamos telepaticamente. Até parece que somos gémeos! Como entendeu o que eu queria, educadamente, disse que estávamos com pressa. Não houve despedida, apenas um “até já”, visto que somos vizinhos. Não sei porquê, mas fiquei com a sensação de que a Sra. Charlotte ficou mais aliviada quando soube que viemos sozinhos. A expressão facial dela mudou. Foi como se lhe estivessem a tirar um peso de cima. Não entendo porquê. Será que não se dava bem com os nossos pais? O Pierre deve saber.

- Ela dava-se mal com os nossos pais?

- Não. Pelo contrário. Ela dava-se muito bem com a nossa mãe. É a mãe do David.

O David é um dos amigos do meu irmão, e meu também. É o tal, o da minha idade que também está a estudar Música. Lembro-me de ver algumas fotos dele e de falar com ele pela webcam. É querido. O Pierre falava todos os dias com os amigos. Nem parecia que estavam em cidades diferentes e bastante longe. Trocavam fotos, vídeos, desabafavam. Era como se estivessem juntos todo o dia. Além disso, o meu pai ainda teve de vir algumas vezes a Montreal e trouxe o meu irmão com ele. Por isso, ele ainda teve oportunidade de estar com eles, umas poucas vezes.

Não parece ser muito alto. Tem cabelo preto um pouco grande e um corte esquisito. Tem uma franja que lhe cai sobre um dos olhos. Lembro-me que tem dois piercings. Um no lábio inferior e outro no nariz. Tem também dois furos em cada orelha. Mais um bocado e o rapaz parece um coador! Nada contra, sempre o achei um rapaz 5 estrelas e sempre me dei lindamente com ele. Ele é doido e eu gosto disso. Qual é a piada em se ser normal?

Também já quis fazer um piercing no nariz. Fui à loja numa tarde ensolarada. Expliquei o que queria e o homem pediu-me para me sentar na cadeira. À minha volta havia fotografias de tatuagens e de pessoas a exibir as suas. Sentei-me na cadeira que era bastante confortável até e dei a mão ao meu irmão, que estava ao meu lado. Quando o homem voltou, quase tive um ataque cardíaco. A sua aparência não era das melhores. Era matulão e tinha o corpo coberto de tatuagens. Eu já só mexia os olhos e tentava controlar a minha respiração que estava acelerada. Ele aproximou-se e pousou os materiais em cima da mesinha ao meu lado. Ao olhar para aquilo, deu-me um arrepio e só me apeteceu sair dali. Escusado será dizer, que o Pierre esteve quase uma semana a gozar comigo por ter tido medo de fazer um piercing. Na verdade, ainda hoje ele goza comigo.

Os seus olhos são cor-de-mel, perfeitamente delineados com eyeliner preto. Observando bem, até temos os olhos parecidos. Eu acho-o giro. Sempre achei. Mas nunca ousei dizer isso ao Pierre. Era certo que começaria com os filmes dele e eu não estou para aí virada.

Continuamos a caminhar até vermos o grande supermercado. Quase me perdi ali dentro. Sinto-me fora do sítio. Vou ter de me habituar rapidamente a Montreal ou isto não vai correr bem! Compramos tudo o que nos fazia falta para o nosso novo lar. Fiquei surpreendida, não sabia que o meu irmão tinha tanta noção do que iriamos precisar. Desde quando é que ele cresceu?

Voltamos para casa e arrumamos tudo nos seus lugares. Decidimos onde ficaria cada coisa. Com todas as arrumações e limpezas, o dia passou a correr e quando olhei pela janela, já conseguia ver os lampiões da rua acesos e o céu escuro. Não era apenas o escuro da noite. Estava enevoado e começava a fazer frio. Era certo de que no dia seguinte ia chover. Deus deve odiar-me! Vai estar a chover no meu primeiro dia na nova faculdade? Formidável. Odeio chuva, odeio mesmo! Tudo inundado, ficar encharcada… Ai, só de pensar dá-me vontade de me meter na cama, debaixo dos cobertores e não sair de lá até que os raios quentes do sol entrem pela janela do meu quarto, dizendo que a chuva parou!

Fui tomar um banho rápido e voltei para a cozinha, onde o meu irmão já tinha o jantar preparado. Jantamos a sua especialidade: massa à bolonhesa com pedaços de ananás. Ele sabe que adoro. O Pierre cozinha tão bem. Graças a negligência dos nossos pais, ele desde cedo aprendeu a desenrascar-se, pois tinha de se alimentar e a mim também.  

Dei-lhe um beijo na face e um abraço. O seu sorriso e o seu abraço dão-me conforto. Adoro os seus beijinhos seguidos perdidos pelo meu rosto. Ele disse que ia correr tudo bem e para eu me tentar manter afastada de problemas. Não sei o quê que ele quer dizer com aquilo! Eu vou para a faculdade e depois volto. Não há problemas. E quando eu chegar, ele estará aqui, provavelmente já com os amigos, como já combinaram. Preciso de dormir. A minha cama chama-me. 




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Notas finais do capítulo

Ainda tenho leitoras? ♥ capítulo 3, no próximo Sábado! Espero que não me abandonem (:



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