Deus Deve Odiar-me! - 1 Temporada escrita por BouvierDesrosiers


Capítulo 10
O inevitável


Notas iniciais do capítulo

talvez fiquem surpreendidos, talvez fiquem tristes, talvez fiquem felizes... não sei... Mas se não gostarem, não me batam, porque ainda há muitaaaa história x) boa leitura!



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Enrosco-me no sofá e aconchego a manta sob as minhas pernas. Pego no comando e procuro alguma série de jeito nos 125 canais que temos. O céu está enevoado e está um dia triste. Os rapazes estão lá em baixo no estúdio a ensaiar. Desde o que aconteceu ontem, não dirigi a palavra a nenhum deles, nem mesmo ao meu irmão, que já tentou falar comigo várias vezes, mas que ignorei simplesmente.

Finalmente encontro uma série que me chama a atenção. Debruço-me para chegar ao pacote de bolachas que está na mesinha de centro. Estou entretida a comer e a ver TV quando olho para a porta e vejo o Seb a sair da cozinha e entrar na sala, vindo na minha direcção. Continuei a roer as bolachas e foquei a minha atenção na série.

- Não queres vir ver o ensaio? – Perguntou, agachando-se ao lado do sofá.

- Não. Estou bem aqui. – Respondi, continuando a olhar para a televisão.

- Anda lá… Eu queria que fosses…

- Porquê? – Perguntei, olhando-o finalmente.

Quando ele ia a responder, assustamo-nos com o toque estridente do meu telemóvel. Ele pegou nele, que estava na mesinha e chegou-mo. Atendi. Era a Vanessa. Está em Montreal e quer que eu vá ter com ela, diz ter novidades. Tento saber o que é, mas ela fecha-se em copas. Não faz mal, também já estou com saudades. Aponto a morada que me disse e desligo a chamada e afasto a manta, levantando-me.

- Posso perguntar quem era? – Perguntou o Seb, levantando-se também.

- Sim. Era a Vanessa. Quer que eu vá ter com ela a esta morada. – Informei, olhando a morada. Não faço a mais pequena ideia onde isto fica. Ainda conheço mal a cidade.

- Queres que te leve lá? – Perguntou. Ele sabe que não sei onde fica, óbvio.

- Não é preciso, eu apanho um táxi.

- Mas não precisas. Eu posso ir contigo… – Sugeriu, com voz e olhar meigos.

- Está bem. – Respondi. Como resistir àqueles olhos azuis e àquele jeito querido? Não consigo.

Ele foi avisar os rapazes, enquanto eu fui ao quarto calçar as sapatilhas. Saímos de casa e entramos no carro dele. Dei-lhe o papel onde tinha apontado a morada para ele ver.

- Isto é um hotel. Eu conheço-o.

- É capaz, ela chegou há pouco da Califórnia.

Era perto, por isso, chegámos rapidamente. É um dos melhores hotéis da cidade, classificado com 5 estrelas. A entrada é enorme, toda em tons de bege e com sofás vermelhos. Na recepção estão três senhoras, com uniforme e à porta, um segurança, que nos cumprimenta com ar simpático. Dirigimo-nos para o elevador e subimos até ao 6º andar. Procuramos a suite 623 e batemos à porta. Logo depois a porta se abriu e surgiu Vanessa, que nos fez sinal para entrarmos, com um sorriso. É uma rapariga com um tom de pele moreno, tem o cabelo preto e liso, não muito comprido e tem uma boa disposição contagiante. Pessoalmente acho que ela é completamente doida. Mas no bom sentido. É divertida, desinibida e não se importa com o que os outros pensam dela. Somos parecidas.

Não tive tempo para dizer nada, pois ela abraçou-me como se já não me visse há anos, quando eu ainda nem há um mês deixei a Califórnia.

- Vais sufocar-me! – Disse eu, em tom abafado.

- Desculpa! São as saudades! – Respondeu, largando-me e sorrindo.

- Sempre exagerada! – Brinquei. – Bem, este é o Seb, um dos guitarristas da futura mais famosa banda!

- Sempre tiveste bom gosto para escolher os amigos. – Disse ela, rindo e piscando o olho, deixando o Seb atrapalhado. – Sou a Vanessa.

- Sim, sim… Claro! – Ri-me. – Diz lá o que querias contar! Só sabes fazer suspense…

- Tem de ser. – Disse ela, indicando-nos os sofás. – Mas sentem-se.

O quarto era realmente deslumbrante. Em tons de azul e bem decorado. Uma cama moderna e enorme. E ainda, numa parte do quarto, três sofás dispostos à volta de uma pequena mesinha, como se fosse uma sala. Sentámo-nos confortavelmente.

- Então é assim, tenho duas notícias para vos dar. – Informou ela. – Qual querem saber primeiro: a excelente ou a excelente?

- A excelente. – Dissemos eu e o Seb em coro, rindo.

- Boa escolha! – Respondeu, apontando-nos o dedo indicador e rindo. – Os Simple Plan passaram à fase seguinte!

- Oh my God! – Soou Seb, incrédulo. – A sério?!

- Sim! Os resultados só serão divulgados amanhã… Mas ser amiga da organizadora tem as suas vantagens, não é meninos? – Perguntou a Vanessa.

- E eu gosto da ideia. – Disse o Seb, sorrindo.

- E qual é a outra notícia? – Perguntei.

- O vencedor do concurso vai ter a oportunidade de gravar um CD com a maior Editora do Canadá…

- A Lava Records?! – Interrompeu Seb, escandalizado.

- Exactamente!

- Isso era um sonho… – Confessou Seb, com um brilho no olhar.

- Um sonho que se vai realizar! – Disse eu. – Vocês vão ganhar. Mas há dúvidas?

- Claro que não! – Concordou a Vanessa.

- Eu não me quero iludir e depois apanhar uma desilusão!

Está tudo em aberto. Passaram à fase seguinte, mas ainda nada está ganho. A primeira fase consistia em os produtores escolherem as bandas que achavam melhores, através das músicas e vídeos enviados. Na próxima fase, apenas serão escolhidas duas bandas, que irão à final. Serão escolhidas por votação do público. No festival, onde se realizará a final, será o júri lá presente a dar pontuação às duas bandas restantes. Não tenho qualquer dúvida que eles passarão.

Continuamos a conversar. Fiz questão que o Seb conhecesse melhor a Vanessa. Ela não tem problemas em se dar com os meus amigos pois, como ela diz “os teus amigos, meus amigos são”. E, além disso, era ela quem me ouvia sempre a falar dele e dos amigos do meu irmão. Sim, eu costumava falar muito deles. Se bem, que eu falava mais do Seb e do David.

- Já tinha saudades disto! – Disse Vanessa.

- Eu também! – Respondi, sorrindo. Já sentia falta da boa disposição dela. Ela tem o dom de conseguir fazer-me rir nos meus piores dias. – Mas nós temos de ir andando. Temos duas notícias para dar!

Despedimo-nos e a Vanessa disse que ia ficar uns tempos em Montreal, o que é bom. Quero apresentá-la aos rapazes. Tenho um pressentimento que se vão dar lindamente.

Após as despedidas, eu e o Seb caminhamos pelo corredor, em direcção ao elevador. Entrámos e ele começou a descer. Encostei-me à parede e notei que o Seb estava a olhar. Está com aquele ar de quem quer perguntar algo mas que tem receio. Aquele olhar tímido. Não digo nada. Ele se tem algo para dizer, que diga. Não sou o “bicho-papão” nem lhe vou tirar nenhum bocado. Suspirei.

- Olha… – Soou ele.

Mas quando ele se estava a aproximar-se de mim, sentimos o chão a tremer e as luzes a piscar. Tentámos agarrar-nos onde podíamos. Depois do tremor, o silêncio. O elevador parou de repente, com um solavanco. As luzes desligaram-se, mas havia um fiozinho de luz que nos permitia ver. Senti o coração quase a saltar-me do peito. A minha respiração estava acelerada. O pânico devia estar estampado no meu rosto, pois o Seb abraçou-me como se me estivesse a proteger. Sou claustrofóbica, não posso ficar presa num elevador! Ele sabe disso. Todos sabem.

- Calma. Alguém nos há-de tirar daqui. – Disse o Seb, tentando acalmar-me. Levantou-se e carregou nos botões de emergência, mas nada parecia funcionar.

- Só cá faltava esta… – Resmunguei, escorregando pela parede do elevador e sentando-me no chão num dos cantos, apoiando os cotovelos nos joelhos. Ele sentou-se ao meu lado, colocou o seu braço pelos meus ombros e encostei a minha cabeça no seu peito. Pelo menos, não estou sozinha. Estou com ele… O Seb. Sinto-me protegida, nos seus braços. Respiro fundo e lembro-me de que ele não chegou a falar.

- O que ias a dizer? – Perguntei, levantando a cabeça e olhando-o, tentando também distrair-me.

- Ia perguntar se… – Pausou ele, olhando para a parede em frente, olhando depois para mim. – Se ainda estás chateada comigo, por causa de ontem.

- Devia. – Refilei. Mas na verdade, não estou. Não com ele. – Mas não estou.

- A sério? – Perguntou, sorrindo. – A sério que não estás?

- Sim. – Respondi, sorrindo e tocando com o dedo indicador no seu nariz. Os únicos com quem estou realmente chateada são o Pierre e o David.

- Ainda bem. Nem sabes o quão feliz fico! – Disse animado, abraçando-me.

Afastamo-nos lentamente. Os seus olhos brilhavam, fixando-se nos meus. Agora, não foi só o elevador que parou, o tempo também. Fico hipnotizada a fitá-lo nos seus meigos olhos azuis, como se o mundo tivesse morrido. Não há ninguém para interromper, desta vez. Nada para nos impedir. Ele aproximou o seu rosto do meu lentamente, como se pedisse permissão. À medida que o fazia, fechei os olhos, sentindo-o cada vez mais perto. A sua respiração quente, a sua mão macia no meu rosto, os seus lábios suaves nos meus. Inevitável. Era o que queria, há muito tempo, embora o negasse.

Apenas nos separámos quando sentimos o elevador a mexer. Olhámos o tecto. As luzes piscaram umas vezes, até que fixaram, acesas novamente. Entreolhamo-nos e sorrimos, acabando por nos levantarmos. Finalmente, alguém tinha posto a geringonça a funcionar.

Saímos do hotel e quando já nos encontrávamos à beira do carro, respirei fundo. É tão bom sentir o ar fresco! O Seb riu-se. Não sei onde está a piada. Ele não sabe o que é sentir-se enclausurada, sem ar, sem espaço. É como se me deitassem as mãos ao pescoço e não me deixassem respirar. Mas, na verdade, eu esqueci-me que estava presa num elevador.

Durante a viagem até casa perdurou o silêncio. Eu não me atrevi a pronunciar uma única palavra depois do que aconteceu e o Seb parece que também não. Ainda não acredito que aconteceu. É como se ainda sentisse os seus braços a envolver-me e o seu beijo doce.

- Magda!! – Gritou o Pierre, ao meu ouvido, fazendo-me estremecer.

- Estás louco?! – Perguntei, afastando-me e tapando o ouvido. Tenho o grito dele a entoar na minha cabeça.

- Estamos a falar contigo e tu estás na lua! – Refilou o Pierre. – Não me ouves?

- Se continuas a gritar-me assim aos ouvidos, vou deixar de ouvir! – Resmunguei.

- É óbvio que ainda está chateada connosco e nos estava a ignorar. – Disse o David, que estava sentado no sofá da frente, com ar sério, encarando-me.

- Estás? – Perguntou o Chuck, com ar triste. – Não fizemos por mal…

- Não fizeram por mal, claro que não. – Ironizei. – Apontaram-vos uma arma e obrigaram-vos a estragar-me o encontro!

- Quase… – Disse o Jeff, em tom mais baixo e olhando para o David. Eu ouvi, mas penso que não era suposto.

- Eu vou repetir. – Informou o Pierre, bufando. – Queríamos pedir-te desculpa por aquilo de ontem… Não devíamos ter-te seguido e estragado o teu encontro. Desculpa.

- Desculpa. – Soaram Chuck e Jeff, em coro.

- O que vocês fizeram não se faz! – Ralhei. Já os desculpei, mas não lhes mostro isso. Quero que aprendam a lição.

- Nós sabemos. Não vamos repetir. – Prometeu o Chuck.

- Sim, podes estar descansada! – Garantiu o Jeff.

- Mas não te quero ver com esse Dean… – Disse o Pierre, irritando-me.

- Porquê? – Perguntei, admirada. – Nem o conheces!

- Mas eles conhecem. – Disse ele, apontando para o David e para o Seb. – E se eles dizem que ele não é boa rés, eu acredito neles. E como teu irmão mais velho, é meu dever defender-te. Como sempre fiz.

- Mas eu já tenho idade para saber com quem me devo dar, ou não. – Respondi, olhando de lado para o David, que permanecia calado, sentado à chinês no sofá.

- Eu sei. Mas por favor, faz o que te peço. – Pediu o Pierre, com ar sério.

- Acho que não devias dar tanta atenção ao que esse menino aí diz. – Avisei, levantando-me e apontando para o David que ergueu as sobrancelhas e me olhou como se estivesse espantado com o que eu disse.

- Porquê? – Perguntou o Pierre, confuso e alternando o olhar entre mim e o David. – O quê que aconteceu?

- Acontece que a tua irmã prefere acreditar em pessoas que conhece há dias do que nas que conhece há anos. – Respondeu o David, levantando-se. Parece-me chateado mas não quero saber. Ainda se julga com razão? – Aliás, que conhece desde que nasceu.

- Eu acredito naquilo que vejo, David! – Contestei, apontando-lhe o dedo.

- Então andas a ver mal! Porque não viste nada daquilo de que me acusas! – Contradisse o David, aproximando-se de mim, encarando-me e afastando-me a mão que eu lhe tinha apontado.

- Será que já não vi o suficiente?! – Refutei, encarando-o.

- Tu não viste nada! – Refilou.

- Meninos parem com isso! – Resmungou o Chuck, afastando-nos.

- Parecem duas crianças. – Disse o Pierre, rindo-se. – Deus me livre!

- Não sei onde está a piada! – Resmunguei, sentando-me no sofá e cruzando os braços.

- Nisso concordo contigo. – Proferiu o David, ainda emburrado, sentando-se no sofá da frente.

- Isto vai dar em divórcio antes do casamento. – Disse o Pierre, rindo que nem um perdido, acompanhado de Jeff e Chuck. Olhei-os, franzindo os olhos. Desta vez não era só o meu irmão que esticava o pernil, mas também o Chuck e o Jeff.

- Bem, eu acho que era melhor contarmos as novidades, para ver se o ambiente melhora. – Sugeriu o Seb, pigarreando ao início. Acho que ficou incomodado com o comentário engraçadinho do meu irmão. E com isto tudo, já me tinha esquecido. Ao menos, tenho as boas notícias para me animar, já que o David parece ter o dom de me irritar. O Seb sorriu e encarou-me. – Não achas?

- Sim, tens razão! – Concordei, sorrindo. Ainda me consigo espantar com as minhas próprias mudanças de humor extremas.

- Que novidades? – Perguntou o Jeff.

- Fomos ter com a Vanessa e ela deu-nos duas boas notícias. – Começou o Seb, levantando dois dedos. – Passamos à fase seguinte do concurso!

- A sério? – Perguntou o Chuck, entusiasmado.

- Isso é excelente! – Comentou o Jeff, animado.

- Calma, mas há mais! – Declarou o Seb, olhando-me como se me estivesse a passar a palavra.

- A banda vencedora do concurso irá gravar um CD com a editora Lava Records! – Completei, deixando-os de boca aberta.

- Oh meu Deus! – Exclamou o meu irmão, tapando a boca, com o espanto. – A Lava Records é a maior editora do país!

- Pois é! – Concordou o Seb, quase dando pulinhos de alegria.

- Dave, não estás contente? – Perguntou o Jeff.

- Estou! – Respondeu, sorrindo finalmente e levantando-se. – É para vencer, malta!

- Claro que sim! – Concordaram o Chuck e o Pierre.

- E se amanhã à noite fôssemos festejar? – Sugeriu o Jeff. – Eu conheço o gerente de um bar aqui perto. O ambiente é muito bom!

- Acho uma óptima ideia! – Concordou o meu irmão e todos assentimos.



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Notas finais do capítulo

E então? :b



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