Esperando O Fim escrita por Chiisana Hana


Capítulo 21
Capítulo XXI




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Os personagens de Saint Seiya pertencem ao tio Kurumada e é ele quem enche os bolsinhos. Todos os outros personagens são meus, eu não ganho nenhum centavo com eles, mas morro de ciúmes.

 

ESPERANDO O FIM

 

Chiisana Hana

 

 

 

Capítulo XXI

 

— Eles adoraram você – Hyoga disse a Pandora quando voltavam de limusine da cerimônia e da festa pós-Oscar. O filme dele não ganhou nenhuma estatueta, mas a equipe fez contatos, já planejavam novas produções, e ele estava especialmente feliz pela recepção da noiva. – E você estava totalmente à vontade, uma deusa entre os deuses, desfilando no tapete vermelho como se pertencesse a ele desde sempre.

— Não exagera, querido. Isso é efeito do álcool. Mas vem cá, você estava falando sério mesmo no negócio de noivado?

— Lógico. Eu caso agora, se quiser. Quer voar pra Las Vegas e casar numa capela de lá? Posso fretar um jatinho agora mesmo.

— Claro que não, seu tonto. Quando eu me casar, quero fazer direito, com uma festa grande, com o meu filho presente… mas eu amei você ter feito aquilo, ter me assumido para o mundo.

— Faria de novo mil vezes. E já que fizemos isso, acho que seria uma boa ideia você ir morar no Olympus comigo. Tem espaço para vocês lá em casa e, você sabe, passo bastante tempo fora, não vai dar para você se encher de mim. Com você e o Stephen lá eu posso viajar para filmar despreocupado e então nós seremos uma família com a Nat e com o Ikki, né? Ele faz parte do pacote.

— Você quer ver o circo pegando fogo. Sabe que ele é possessivo, vaidoso e não vai gostar muito de eu ter seguido adiante sem ele e ainda por cima morando do lado com o meio-irmão dele.

— Já disse, ele que faça terapia.

Pandora riu ao imaginar Ikki sentado diante de um psiquiatra, totalmente travado, sem conseguir falar sobre seus traumas, que não eram poucos, depois saindo da sala batendo a porta, irritado consigo mesmo.

— Então está feito, eu vou morar no Olympus com você quando voltarmos. Vamos incendiar aquele lugar morno.

Hyoga concordou com um beijo que atiçou o fogo entre os dois. Começaram a se amar ainda na limusine e terminaram fazendo amor loucamente na sala do apartamento.

Apesar de o plano inicial ser passar a semana nos EUA, resolveram voltar à Grécia no dia seguinte. Ansiosa para rever o filho, Pandora nem quis passar em casa. Assim que desembarcaram em Atenas, foram direto para o condomínio Olympus e, preparados para enfrentar a fera, bateram à porta da casa de Ikki. Esmeralda os recebeu com Stephen no colo. Pandora cumprimentou-a e imediatamente pegou o menino e o encheu de beijos, matando a saudade do seu príncipe Stephen.

— Ele deu muito trabalho? – a mãe quis saber de Esmeralda.

— Só o normal. Ele é bem reclamão, mas acho que era saudade da mamãe.

— Ah, não, ele é assim mesmo o tempo todo.

— Eu sabia que era você – Esmeralda disse a Hyoga. – Quando ela falou que estava com alguém, eu soube. Desejo muita felicidade aos dois.

— Obrigado, Esmeralda. Foi bem inesperado, mas estamos felizes. E ela vai se mudar para a minha casa com o Stephen.

— Ah, que bom! Ele vai crescer ainda mais perto do pai e de mim. Eu amo esse menino, só quero o bem dele.

— Acho bom você não estar brincando com ela, seu pato safado! – Ikki esbrabejou descendo as escadas.

Instintivamente, Hyoga colocou-se em uma postura defensiva.

— Ou o quê? Eu não tenho medo de você! Pelo amor de Deus, Ikki, já passamos por isso, já lutamos. Quer tentar de novo?

— Lutamos e eu quase arranquei seu coração.

— Foi em outra vida – Hyoga suspirou e procurou manter o controle, falando calmamente. – Eu não estou brincando com ela. Pandora é minha mulher agora, eu vou cuidar dela, você cuida da Esmeralda e as coisas ficam assim.

Ikki bufou e riu.

— Parece que você não é muito bom nisso, já que a Eiri está com outro.

— Sério que você vai querer ir por esse caminho?

— Então, se vão morar aqui, meu filho vai ficar comigo.

— De jeito nenhum! – Pandora gritou e Hyoga a apoiou.

— Não mesmo, Ikki. Ele vai ficar com a mãe na minha casa.

— Vocês dois, parem com essa besteirada toda! – Esmeralda completou.

Os dois homens mantiveram-se em silêncio, encarando um ao outro e analisando as expressões como se estivessem prestes a partirem para o combate. Pandora segurava Stephen de modo protetor e Esmeralda estava a ponto de chamar Shun para conter os dois quando de repente Ikki levou as mãos à cintura e deu uma gargalhada.

— Eu estava testando você, pato.

Hyoga deu um suspiro de incredulidade. Como ele podia ser tão imbecil?

— Eu fiquei meio chateado mesmo quando vocês apareceram na tevê – Ikki prosseguiu –, mas Esmeralda e eu conversamos bastante, ela me fez entender... Espero que vocês sejam felizes como nós. Mas se você magoar a Pandora, eu te mato mesmo. É a mãe do meu filho, porra.

— Idiota – Hyoga murmurou.

Pandora e Esmeralda entreolharam-se e suspiraram aliviadas.

— Ikki, você não devia fazer essas coisas – Esmeralda falou para o marido. – Me assustou.

— Eu não resisti – ele confessou com um sorriso.

— Vocês dois vão ficar para o jantar, né?

— Bom, acho que sim, Esmeralda – Pandora disse olhando para Hyoga. Com uma piscadela, ele concordou. – Acabamos de chegar. Nem fui em casa ainda.

— Ótimo, porque eu quero saber tudo do Oscar!! Eu amo cinema e fiquei tão encantada mostrando você na tela para o Stephen, toda poderosa, ao lado das estrelas. Nossa! Um sonho!

— Até agora ainda parece que estou sonhando!

Enquanto as duas trocavam figurinhas sobre a cerimônia, Ikki foi à cozinha, voltou com duas cervejas e deu uma a Hyoga, que ainda estava meio tenso com toda a situação.

— Vem cá, me dá um abraço, patinho – debochou o Fênix. – Não fica bravo, não.

— Tá, mas antes me diz, é sério que você está tranquilo comigo e a Pandora? Estávamos mesmo preparados para uma tempestade.

— É, sim. Tá tudo certo. Vai ser perfeito ter meu filho bem ali ao lado.

— Esmeralda e seus milagres... Você tá até virando gente.

Ikki fez uma careta.

— Vamos lá chamar os caras, fazer uma reuniãozinha?

— Tô falando, é milagre, você não é mais o cara que “não gosta de andar em bando”...

— E você continua um chato.

Os dois saíram com suas cervejas. Pouco depois, os cinco cavaleiros de bronze estavam sentados na sala do “novo” Ikki, todos rindo da mudança dele.

— Todo mundo ficou tenso achando que você ia dar chilique – Shun comentou.

— Eu não sou criança, maninho.

— Mas ensaiou uma birra quando viu os dois na tevê – Shiryu acrescentou.

— Foi o susto, cegueta. Mas passou, tá tudo bem. Aliás, vocês falam que eu mudei, mas olha você aqui, sentado com uma cerveja na mão em pleno dia de semana! Você, que é o cara todo certinho e careta.

Foi Seiya quem explicou:

— Shunrei mandou ele vir porque tá estressadinho.

— Eu não estou estressadinho, estou preocupado.

— O Mestre ainda não deu sinal de vida? – Ikki quis saber. O sumiço de Dohko era assunto no condomínio havia semanas.

— Não. Ele sumiu há quase um mês e não disse a ninguém aonde ia. Está acontecendo alguma coisa e eu não sei o que é, só espero que não seja nada grave. Não agora...

Os irmãos compartilhavam do mesmo sentimento.

— Tomara – Seiya declarou dando mais um gole em sua cerveja. – Não quero que a Saori se veja de novo metida em uma guerra. Eu não me importo de levar porrada, mas ela mal acabou de se recuperar de tudo...

— É, mas estejam prontos – Shiryu falou em um tom muito grave. – A última vez que ele sumiu desse jeito foi dias antes de irmos para o Santuário lutar nas Doze Casas…

— Mau sinal… – Ikki comentou. Também não estava gostando nem um pouco dessa história.

— É o que eu acho – Shiryu concordou.

— Ele não falou nada nem para a Shina?

— Não, Seiya…

— Ela deve estar muito preocupada.

— Estava no começo... Agora acho que a palavra adequada é furiosa.

Shiryu resolveu sondar se a deusa também dava sinais de preocupação.

— E a Saori? Como ela está? Será que sabe de alguma coisa?

— Está normal, nenhum sinal de nada estranho. Na verdade, ela vai muito bem! Está de ótimo humor nos últimos dias.

Shiryu apenas assentiu com a cabeça e tomou mais um gole da cerveja. Não gostava muito da bebida mas nesse momento sentia que estava precisando.

Os cinco ficaram calados por alguns momentos, pensativos, preocupados com o que viria a seguir, temendo que os últimos dois anos tivessem sido apenas uma doce ilusão de vida normal, até que Ikki quebrou o silêncio.

— Bom, aproveitando que está todo mundo aqui, já escolhi o iate e estou prestes a fechar o negócio, só falta seu cheque, pato. Até o do Shiryu eu já consegui arrancar e olha que foi difícil.

Shiryu suspirou e coçou a cabeça.

— Nem me fale… tenho pesadelos com isso. É muito dinheiro e…

— E eu tenho dois filhos pra criar – os outros quatro repetiram em coro rindo. – Já sabemos.

— Mais tarde trago seu cheque – Hyoga garantiu ainda rindo.

— Beleza! Quando fechar o negócio e trouxer o bichão para a marina, chamo todo mundo para um passeio.

Com o clima mais leve, eles continuaram conversando e se divertindo, planejando alguns passeios com o caríssimo brinquedo novo de Ikki. Pouco depois, Shunrei veio com Keiko para ajudar Esmeralda com o jantar. Logo June também chegou e a pequena reunião virou uma grande e animada refeição em família, a qual se prolongou por várias horas.

 

 

Dias depois, Ikki buzinava na frente da casa de Seiya. Combinaram um passeio para conhecer o iate recém comprado pelo grupo, mas como sempre o cavaleiro de Pégaso estava atrasado.

— Para com essa buzina! – reclamou o irmão mais novo, no banco de trás com June. – Eles já devem estar vindo.

— Cunhadinho, você precisa ter mais calma.

Ikki os ignorou, gritou e apertou de novo a buzina.

— Vamos logo, pangaré!! Quero levar logo todo mundo para conhecer o bichão. É um belo dia de sol, temos que aproveitar!

Atrás do carro dele estavam os veículos de Shiryu e o de Hyoga, ambos com suas famílias, prontos para irem até a marina.

Ikki buzinou e gritou mais uma vez, mas ninguém atendeu. Ao invés disso, ele avistou o carro de Saori vindo da portaria. Quando parou, quem desceu do veículo foi Tatsumi, com cara de poucos amigos e um maço de envelopes na mão.

— Eles não estão – avisou o mordomo. – Acabei de deixá-los no Santuário, que aliás é para onde vocês devem ir também. – O mordomo entregou um envelope com o timbre do Santuário a cada um deles e a June. – Convocação do Mestre. Daqui a uma hora devem estar lá, todos de armadura.

A essa altura, todo mundo já estava fora do carro, tentando entender o que se passava.

— O que está acontecendo? – Shiryu perguntou. – O Mestre voltou?

— Sim. E mandou chamar a senhorita e o Seiya. Eu levei os dois lá e ele me entregou isso para entregar a todos os cavaleiros. Já falei, ele quer todos lá em uma hora.

— Que porra é essa? – Ikki perguntou. Rasgou o envelope sem cerimônia e leu o conteúdo do papel interno: um texto vago apenas convocando-os a se apresentarem exatamente como Tatsumi dissera. – Bem no dia da estreia do barco… Que inferno. A pessoa não pode nem curtir em paz que ficam convocando.

Shun abriu seu envelope e também leu.

— Por que lá se ele podia vir aqui onde todo mundo mora? – perguntou.

— Coisa boa não deve ser – intuiu Hyoga que também se aproximou do grupo. – Mandou chamar a Saori e o Seiya antes… Preparem-se.

Os outros assentiram e voltaram para casa com suas famílias a fim de se prepararem para atender à convocação. Todos tentavam aparentar calma e controle, mas havia um peso pairando no ar, um medo de que as notícias no Santuário não fossem boas e que o passado de guerra e sangue derramado voltasse para destruir o presente que construíram.

— Eu amo vocês… – Shiryu sussurrou para Shunrei e Keiko depois de pegar a urna da armadura de Dragão. Beijou as duas e também a barriga de cinco meses de gravidez.

— A gente também te ama muito. Não deve ser nada, amor. Fica tranquilo. E se for, estaremos aqui quando você voltar. Vou guardar os lanchinhos do passeio para mais tarde. Vai com Deus, meu querido.

Ele sorriu, colocou a urna da armadura nas costas, fez mais um carinho na filha e saiu de casa com passos pesados, caminhando para um destino que podia ser qualquer coisa, inclusive a morte.

 

 

Pouco depois, todos os cavaleiros residentes nos arredores de Atenas estavam reunidos na antessala do décimo terceiro templo, usando suas armaduras, conforme a convocação. Ninguém sabia do que se tratava, mas deduziram ser algo muito sério. A maioria estava em silêncio, apenas esperando que a porta da sala se abrisse e Dohko finalmente esclarecesse os motivos da inesperada convocação.

Impaciente, Ikki foi diretamente até Seiya, que guardava a porta. Shun, Shiryu e Hyoga acompanharam-no.

— Vai, Seiya, fala logo o que tá rolando aqui.

— Sei o mesmo tanto que vocês, ou seja, nada.

Ikki não engoliu a conversa dele.

— Ah, vai abrindo esse bico! A Saori tá lá dentro com ele há horas, você deve saber alguma coisa!

— Juro que não sei. O Mestre ligou, mandou a Saori vir, ela entrou lá e nenhum dos dois me disse nada. Mas se querem minha opinião não sinto nada estranho. Ele parecia bem tranquilo… Eu diria que até estava feliz, não deve ser nenhuma guerra a caminho.

— Guerra é o que ele vai enfrentar com a Shina quando sair – Shun comentou. – Olha a cara dela. Tá pronta para arrancar o fígado dele com as unhas.

— Eu também estaria – June comentou. – Ele sumiu sem dar explicações.

— Está preocupada? – Shun perguntou a ela gentilmente tocando-lhe um ombro.

— Não. Estamos aqui para tudo, não é? É o que somos, cavaleiros de Athena. Seja o que for, estaremos prontos.

Shun assentiu, orgulhoso dela e de si mesmo. Fazia tempo que não vestia sua armadura e ainda mais tempo que não via June na armadura extremamente sensual que ela usava… Achou que se sentiria estranho, mas ela estava certa, não importava quais rumos suas vidas tomassem, eram o que eram e, no final das contas, vestir de novo a armadura foi como voltar às origens.

Calado, Hyoga observava a todos com apreensão. A segunda vida dele estava perfeita com a filha, Pandora, uma carreira promissora… Não queria abrir mão de nada, não queria perder mais nada.

Igualmente em silêncio, Shiryu forçava-se a acreditar que Dohko sairia da sala com boas notícias. Porém, sua tendência ao pessimismo fazia a mente reviver os momentos de guerra mais brutais que enfrentou ao longo da vida e um arrepio percorreu-lhe a espinha. Estava ficando tão tenso que começou a respirar pesadamente.

— Não é nada – Seiya falou, dando-lhe um tapinha nas costas. – Fique tranquilo. Olha, a minha filha está lá embaixo com a babá. Ela não estaria nem perto daqui se eu sentisse algo estranho. Além disso, não está sentindo o cosmo deles? Está leve.

— Tem razão… – ele constatou depois de respirar fundo e focar em Dohko e Saori. – Mas ainda não entendo…

— Logo saberemos.

Ainda demorou alguns minutos para as portas do Salão se abrirem. Quando finalmente aconteceu, Dohko veio até eles usando o traje de Grande Mestre que vestiu raras vezes ao longo dos últimos dois anos. Ao lado dele, Saori não usava mais o vestido azul de quando veio com Seiya mas a túnica branca e as joias da deusa, incluindo a tiara. Empunhava o báculo sagrado e tinha uma expressão bastante serena no rosto.

Ao lado do trono, as urnas das armaduras de Libra e Sagitário reluziam com o sol que entrava pelas cortinas abertas.

— Senhores e senhoras – Dohko começou a falar. – Como sabem, estive ausente por algumas semanas. Devem estar curiosos, então já lhes digo que estava recolhido em Star Hill.

Os cavaleiros começaram a se questionar se ele tinha visto algo grave nas estrelas e um burburinho se formou rapidamente. Dohko tratou de acalmá-los.

— Não se aflijam. Não terão que se embrenhar numa batalha, não é nada isso. – Houve um suspiro de alívio coletivo e então Dohko prosseguiu. – Não há nada iminente, mas como já repeti várias vezes, tal como na minha geração, temos que preparar o caminho para os que virão depois de nós. Isso quer dizer que, depois de semanas recolhido em meditação, eu tomei algumas decisões. Começando pela casa zodiacal vaga. É hora de Sagitário ganhar um novo dono…

— Que será...? – Máscara da Morte cutucou Afrodite com ironia. – Não consigo nem imaginar. Nooossa, que difícil.

— Para… – o sueco murmurou entre os dentes. – Não é hora de palhaçada.

— Até que demorou para termos de aturar o pangaré tapado.

— E já sabemos quem a armadura escolheu – Dohko continuou depois de um olhar que fez Máscara da Morte calar a boca –, porque várias vezes ela e o espírito de Aiolos demonstraram a mesma vontade: Seiya.

Um tanto chocado, o atual cavaleiro de Pégaso olhou para Saori, que sorria orgulhosa e mandou que se aproximasse. Ele o fez e ajoelhou-se diante dela.

— Eu o consagro cavaleiro de ouro de Sagitário e entrego a armadura correspondente.

— Prometo honrá-la – ele respondeu ainda de joelhos, apreciando o olhar orgulhoso dela. – Em memória de Aiolos e de tudo que ele representa.

O cavaleiro olhou para trás buscando Aiolia. Quando seus olhares se encontraram, o cavaleiro de Leão sorriu e balançou a cabeça em aprovação. Não havia nada a contestar, ele sabia que essa seria a vontade de Aiolos.

— Você não precisa provar mais nada, Seiya – Saori prosseguiu. – Você já é um cavaleiro lendário, já entrou para a história. Nada mais justo que faça parte da elite dos cavaleiros.

— É uma honra – ele declarou com orgulho e levantou-se.

— Isso tem nome – Máscara da Morte murmurou de novo enquanto Seiya trocava a armadura de Pégaso pela de Sagitário. – Nepotismo.

Afrodite sufocou uma risadinha e mandou novamente ele se calar enquanto Dohko desejava boas-vindas a Seiya. Depois, o Mestre retomou sua fala direcionada a todos.

— Outra coisa que precisei decidir foi sobre vigiar os novos selos. Eu deveria escolher um de vocês…

Dessa vez, um silêncio pesado tomou o lugar do burburinho. Vários cavaleiros entreolharam-se pois sabiam o que isso significava. O escolhido passaria pelo Misopethamenos, teria de recolher-se, isolar-se do mundo, restringir a vida a poucos eventos. E nenhum deles gostaria de fazer isso nesse momento.

Depois de uma longa pausa, Dohko continuou seu discurso.

— Acontece que não vou fazer isso. Vocês vão continuar vivendo suas vidas normalmente, criando seus filhos, fazendo outros filhos, tendo netos, bisnetos… Vocês não vão porque, enquanto eu viver, cumprirei essa missão. Eu vou voltar para Rozan e farei isso. Estou acostumado, posso encarar por mais alguns anos.

— O que ele está falando? – Shina murmurou encarando Dohko completamente perplexa. – Voltar para Rozan?

— Adorei esses dois anos que vivi aqui – Dohko prosseguiu –, com esse corpo jovem de novo, as viagens, a diversão. Foi incrível. Por isso mesmo que eu não posso tirar isso de um de vocês. Então eu vou me retirar da vida no Santuário e me recolher.

Shiryu comoveu-se com a decisão de Dohko. Compreendia o sacrifício que ele estava prestes a fazer, porém acreditava que não era justo, seu velho mestre merecia essa nova vida.

Mais preocupado com coisas práticas, Saga foi o primeiro a perceber algo:

— Então, se o senhor vai se recolher em Rozan, quer dizer que deixará o posto de Grande Mestre?

— Sim, também foi por isso que os chamei. Estamos aqui porque eu passarei o cargo para o novo Mestre do Santuário. – Novamente um burburinho se formou e Dohko esperou a agitação acalmar-se para prosseguir. – Sempre deixei claro que estaria no cargo temporariamente… Estou pensando nisso desde os primeiros dias do pós-guerra, dois anos atrás. Desde então venho observando e analisando todos vocês, mantendo conversas com a deusa, até que me recolhi em Star Hill... Depois de muito meditar, eu cheguei a uma conclusão a qual comuniquei a Athena hoje. Com a aprovação dela, o escolhido assumirá o meu lugar enquanto eu retornarei para vigiar os selos. Vou envelhecer normalmente lá. Como eu pretendo viver mais uns oitenta anos, o novo Mestre terá um bom tempo até alguém ter de assumir meu lugar.

O pequeno gracejo arrancou risadas dos cavaleiros e suavizou o clima, então Dohko prosseguiu:

— Eu disse à deusa que além de todas as qualidades que eu achava imprescindíveis, era importante que a pessoa escolhida fosse respeitada e admirada por todos, incluindo aqueles que já lutaram com ele. Sempre tive essa intuição, mas a certeza só veio quando as estrelas me mostraram quem deve ser o próximo homem a se sentar nesse trono. As estrelas… sempre elas… E o meu sucessor já esteve tão perto delas… O homem que subiu aos céus...

Os olhares dividiram-se entre os dois que fizeram isso juntos: Shura e Shiryu.

— O homem que estava disposto a se sacrificar por seu senso de Justiça. – A voz de Dohko assumiu um tom orgulhoso. – Meu discípulo, Shiryu de Dragão.

Todos os olhares voltaram-se para o cavaleiro que, perplexo, encarava seu Mestre.

— Eu? Senhor, eu… eu não sou digno. Eu… não me sinto apto.

— Não há ninguém mais apto que você. Esse lugar estava destinado a ser seu. Agora eu tenho certeza disso.

— Mas ele nem é um de nós! – Máscara da Morte protestou baixinho.

— Com certeza agora será – Afrodite comentou com ele.

Em seguida, como Afrodite suspeitava, Dohko anunciou que Shiryu assumiria a casa de Libra.

— Aproxime-se, Shiryu – Saori chamou.

Shiryu obedeceu automaticamente e se ajoelhou diante da deusa. Parecia-lhe estar em um sonho onde observava a si próprio com a mente enevoada e algum distanciamento.

— Eu o nomeio cavaleiro de ouro da constelação de Libra – a deusa declarou – e entrego-lhe a armadura correspondente.

— É uma honra, senhora.

— É uma honra para mim também. Saiba que eu concordo integralmente com a indicação. O posto de Grande Mestre lhe pertence e é você quem vai nos levar à próxima era.

— Farei o melhor que eu puder, senhora.

— Venha – Dohko o chamou docemente e Shiryu se levantou. – Deve colocar seu novo traje.

Shiryu o seguiu para os aposentos internos onde, sobre a cama, uma nova sotaina esperava por ele. A veste era de seda preta, com viés vermelho e dourado e um discreto dragão bordado na mesma cor do tecido, criando um efeito de volume na altura do peito.

 

Enquanto ele se vestia, o salão estava em polvorosa.

— Nepotismo descarado – resmungou Máscara da Morte. – Armaduras douradas para o marido da deusa e para o filhote do general. Pra esse ainda tem o brinde de ser o novo GM. E o chinês ainda vem com conversa de que “pensou muito nos últimos anos”. Uma porra que pensou! Já estava arquitetado desde o início colocar o guri no trono.

— Ele é totalmente adequado para o cargo – Shura declarou com um sorriso. Não teve dúvidas quando decidiu salvar Shiryu de queimar na atmosfera, nem quando o tornou herdeiro da Excalibur, o garoto merecia, e agora, com orgulho quase paternal, ele o via chegar ao topo da hierarquia.

— Ah, claro, presidente do fã-clube. Vai lá puxar o saco dele, vai. Só me diz uma coisa, ele é casado, tem filha pequena, outro prestes a nascer, como vai dar conta disso aqui?

— Ele vai conseguir equilibrar tudo de um modo sábio. Tenho certeza.

— Meu Deus… Você é tão cachorrinho do cara que está a ponto de ir lá pedir para humildemente chupar o pau dele.

— Seu nojento. Você gostando ou não, Shiryu será o novo Mestre. Athena já o nomeou.

— Puxa-saco sem-vergonha.

— Qual é o problema, Mask? Queria o posto?

— Nem fodendo. Gosto demais da vida para me meter nessa cilada. Só acho que devia ser um de nós. Até mesmo você, baba-ovo, que sempre se gabou de ser o mais fiel à deusa. Tá certo que fez um monte de cagada por isso, mas…

— Você não tem que questionar, tem que aceitar – Saga falou.

— Ah, é? O que tá achando disso, ex-GM?

— Eu acho que você está certo em várias coisas. Dohko diz que não, mas é claro que preparou o garoto para isso. E você está certo também sobre a dificuldade de gerenciar o Santuário... Eu já estive nesse trono, sei que não é fácil, ainda mais quando se tem família… Também não sei se o garoto vai dar conta.

Milo não resistiu e provocou:

— Aham, falou o cara que fazia altas surubas no piscinão do Sagão, regadas a vinho do bom, né, meu querido? Pensa que a gente não sabe? Metade do tempo você tava bebendo, na outra metade tava de ressaca. E ainda assim conseguiu de algum modo “gerenciar”. Se você com mais álcool no corpo que sangue e uns bons parafusos a menos conseguiu, um cara certinho, organizado e sóbrio como o Shiryu vai tirar de letra. E agora o piscinão do Sagão será diversão para as crianças dele. Espero trazer a Grace pra brincar com os filhos do novo GM.

Saga o ignorou enquanto Máscara resolveu provocar um pouco mais.

— Vai lá, Milo, pede ao Shura uma ficha pra entrar no fã-clube.

— Achei que você já tinha preenchido a sua – rebateu o escorpiano. – Andava todo amiguinho dele.

Máscara deu de ombros e virou-se para Afrodite.

— Você não vai falar nada, Afrô? Gostou da novidade?

— Eu sou da turma do Saga… Não sei, não... Mas vamos ver o que acontece.

— Vocês vão se surpreender com ele – Shura declarou. – Só digo isso. Teremos realmente uma nova era..

 

No pequeno grupo dos cavaleiros de bronze, a animação reinava.

— Ele vai ser o Mestre! – Seiya comentou empolgado. – Um de nós no topo. Tem noção do que é isso?

— Ele agora não é mais um de nós – Hyoga corrigiu sorrindo. – Nem você, cavaleiro de ouro de Sagitário.

— Ah, bobagem, sempre seremos um grupo. O grupo dos lendários.

— É, mas a Saori devia ter te dado esse presentinho antes – Ikki provocou. – Afinal, ela é sua mulher.

— Eu nem fazia questão e, na verdade, o que importa aqui é o Shiryu.

— Ele vai surtar, escreve aí. Do jeito que é certinho, vai querer organizar tudo e vai acabar surtando.

— Vai surtar coisa nenhuma, Ikki – Shun rebateu. – Ele vai fazer o que tiver de ser feito.

Os quatro concordaram e tocaram seus punhos cerrados em um pacto silencioso, ao qual se juntou a delicada mão da deusa.

— Você já sabia dessas novidades? – Seiya perguntou a Saori.

— Não, eu só soube hoje. Mas há muito tempo que eu queria lhe dar essa armadura. – Ela tocou as asas de Sagitário, admirando-as, pensando nas vezes em que a armadura os socorreu em momentos críticos, em quantas vezes esteve nos braços de Seiya enquanto ele usava esse traje sagrado. – Só queria que partisse do Mestre e não de mim. Você sabe a razão…

— Vão falar de qualquer jeito, mas eu não tô nem aí. Tô feliz por isso e por meu irmão.

— Eu sei. E sobre Shiryu, eu sabia que Dohko buscava um sucessor e, secretamente, desejei que fosse ele, mas não interferi em nada.

 

 

 

Só uma pessoa não estava se importando com as novidades: Shina. A amazona estava em um canto afastado, ainda tentando digerir o que Dohko acabava de fazer e dizer.

— Você está bem? – Marin se aproximou dela e perguntou.

— Eu ainda não entendi o que está acontecendo aqui. Ele some e agora volta com isso… Eu estou… eu não sei o que estou sentindo… Rozan? Não me falou nada, não perguntou se eu quero ir. Não estou entendendo coisa alguma e ele vai ter muito o que explicar.

— Não agora, né? É um momento solene. Deixe para mais tarde, bem longe daqui.

— Eu não sou estúpida, sei que não é a hora.

 

Na câmara interna, Shiryu tirou sua armadura de Dragão, vestiu a nova sotaina e olhou-se no espelho. O traje de tecido delicado parecia pesar mais que uma armadura de ouro e fazia seu coração bater acelerado em meio às dúvidas sobre sua capacidade de desempenhar bem o papel. Normalmente sentia-se mais velho e mais maduro do que seus quase vinte anos, mas a nova roupa fazia ele se sentir de novo aquele menino de oito anos que chegou em Rozan para se tornar forte.

— Mestre, eu não sei se… Não acho que sou a pessoa certa…

— Já disse, é o seu destino. Não tem com o que se preocupar. Lembre-se, você é quem vai mandar. Então faça com que dê certo, refaça as regras, delegue, divida as tarefas, faça do jeito que for melhor. Não tenha medo de inovar.

— Sim, senhor… – ele respondeu ainda bastante inseguro. – O senhor não está mesmo fazendo isso porque eu sou seu…?

— Filho?

— É…

— Você é meu filho amado que sempre me encheu de orgulho, mas não é por isso. Eu apenas estou colocando você no lugar que lhe pertence. Eu ainda não sabia, mas estava preparando-o para esse destino.

— Obrigado por tudo, Mestre, por ter me ensinado tudo, por ter sido um pai para mim e pra Shunrei, por amar a minha filha...

— Você sabe que se eu fosse escolher um filho, ele seria como você. Talvez pedisse que fosse um pouco menos sério e encarasse a vida de um modo mais leve, mas o resto seria exatamente igual.

— Como posso ser mais leve agora que tenho essa responsabilidade imensa sobre os ombros?

— Bom, acho que você vai ter que aprender a separar as coisas. Na verdade, é simples. Não leve nada do trabalho para casa e, da porta do condomínio para dentro, seja apenas o marido da Shunrei e pai das crianças.

— Não me parece tão simples separar… O senhor vai mesmo embora? Eu sei que disse que não ficaria no cargo, mas por que tão rápido?

— É a hora perfeita. Pensei muito nisso… Em indicar alguém, fazê-lo passar pelo ritual que eu passei, pensei até mesmo em você…

— Sabe que eu faria se fosse o caso, mas…

— Não… É uma carga pesada demais, Shiryu. Viver tanto tempo é um fardo que eu não desejo a mais ninguém. Acredito que podemos administrar as coisas de outra forma, passando o encargo de geração em geração…

Shiryu intuiu que havia algo mais nessa decisão repentina, algo que Dohko não queria revelar, mas resolveu não insistir.

— Sim, eu concordo. Mas acho que o senhor devia mesmo ter designado alguém. Qualquer um de nós iria, mesmo sendo um fardo. Agora o senhor está jovem de novo, tem uma vida com a Shina… Não é justo.

— Estou jovem, mas a mente está cansada… E eu sou de outra geração, sou um homem de um passado já muito distante… Não faça drama, vou apenas me retirar, mas estarei lá em Rozan quando quiser levar as crianças para uma visita.

— Prometo que levarei.

Com um sorriso, Dohko tirou a gola dourada que complementava seu traje e a colocou-a em Shiryu.

— Deixa eu ver você direito. – Ele ajeitou gola e as mangas sobre os ombros largos do discípulo. – Mandei fazer de olho e deu certo, caimento perfeito. Você nasceu pra isso. Agora vamos voltar para o salão. Está pronto?

— Não. Nem um pouco. Queria que a Shunrei estivesse aqui, seria menos apavorante…

— A essa altura ela já está lá fora com a Keiko. Mandei Tatsumi trazer as duas.

Dohko deu um sorriso de criança travessa e então os dois voltaram para o salão sob aplausos dos companheiros.

— O novo Mestre do Santuário – Dohko anunciou. – Shiryu de Libra.

Como prometido, Shunrei já estava lá, com Keiko no colo. Ela usava um delicado vestido de seda com decote de estilo princesa, com os ombros à mostra, em um tom de verde muito parecido com o da armadura de Dragão que Shiryu acabara de deixar para trás. Brincos da mesma cor completavam o visual. De repente, uma ideia maluca passou pela cabeça de Shiryu… pensaria nisso mais tarde, quando a mente se acalmasse um pouco.

Ver as duas o encorajou e quando os aplausos cessaram, ele respirou fundo e, a despeito do nervosismo que sentia, falou aos companheiros com uma voz segura e bastante firme:

— Não posso dizer que esperava por isso ou que estou pronto, pois não seria verdade, mas diante de vocês, meus companheiros, do meu mestre, da deusa, dos meus irmãos e da minha família eu prometo fazer o melhor que eu puder para guiar o Santuário à próxima era e formar uma nova geração de cavaleiros de Athena. Conto com o auxílio de vocês nessa missão.

O novo Mestre do Santuário foi aplaudido mais uma vez.

— Como meu último ato no comando – um orgulhoso Dohko anunciou – organizei um pequeno almoço para comemorarmos. Está tudo pronto lá fora, aos pés da estátua. Podem ir. Nós iremos em seguida, depois de uma breve conversa em família.

Enquanto os cavaleiros iam para o local, Dohko foi trocar sua sotaina por um traje civil.

Shunrei se aproximou do marido e cumprimentou-o com um discreto beijo no rosto. Alheia a tudo que envolvia o novo cargo do pai, Keiko abriu os bracinhos, pediu colo para o “papá” e prontamente foi atendida. Achou muito interessante a pesada gola dourada e começou a mexer nela.

— Grande Mestre? – Shunrei perguntou a ele surpresa. – Quando recebi o recado para vir com a Keiko, pensei que era só uma festinha aqui.

— Eu não sei se consigo fazer isso, amor…

— Como assim? Você vai ser o melhor Mestre que esse Santuário já viu.

— É muita responsabilidade… e eu ainda tenho você e as crianças. Tenho medo de não dar conta, de não fazer um bom papel em nenhum dos lados.

— Vai dar conta, sim. E estarei aqui para ajudar você no que for preciso.

— Obrigado, meu amor. Você sempre foi minha fortaleza.

Ele a envolveu com o braço livre e, aproveitando que estavam sozinhos, beijou-a. Dohko voltou ao salão bem nessa hora.

— Quase dois anos de casamento e você ainda fica envergonhado…– Dohko falou. Usava uma camisa social vermelha que escolheu para combinar com o vestidinho de Keiko e, por coincidência, com o rosto corado de Shiryu. – Desculpem a interrupção. – Os dois deram uma risadinha tímida. – E desculpe por não falar nada, Shunrei. Eu tinha que falar com a deusa antes de contar a alguém.

— Estou um pouco chocada, mas muito, muito orgulhosa do Shi.

— Vamos lá. Antes de servirem o almoço, quero tirar algumas fotos para eternizar esse momento.

A família seguiu para a tenda montada aos pés da estátua de Athena, onde uma grande mesa estava posta e arranjos de flores brancas e galhos de louro estavam espalhados por toda parte.

Dohko entregou uma câmera a Kiki e pediu que ele fotografasse tudo. Primeiro posaram para fotos os quatro, depois ele chamou o grupo inteiro.

— Seja bem-vindo à elite, senhor – Mu disse a Shiryu quando a sessão de fotos terminou.

— Não me chame assim, por favor. Você é meu amigo.

— Foi a escolha perfeita.

— Fico aliviado que pense assim. É uma enorme responsabilidade. Vou precisar de muita ajuda.

— Você saberá o que fazer. E se precisar de alguma modificação na armadura nova, sabe onde procurar.

— Obrigado. De verdade. Você é um grande amigo, Mu.

— Que doideira foi essa, né, Mestre Shiryu? – Kiki perguntou empolgado como se ainda fosse uma criança e não um rapazote de treze anos, já quase da mesma altura de Mu.

Ignorando qualquer protocolo, ele abraçou Shiryu com força.

— Pois é – Shiryu respondeu. – Nem pareço mais aquele cara em quem você tacou pedras, né? Olha a ironia do destino, serei eu a te dar uma armadura. Acho bom se dedicar, hein? Eu sou bem exigente. Não vai ter moleza, não.

— Ih, acho que me ferrei… Só vou conseguir uma armadura quando ficar velho e gagá.

— Não… É só se dedicar e ouvir o Mu.

— Eu vou tentar. Tô muito orgulhoso de você.

Shiryu agradeceu o carinho do garoto, a quem considerava um filho e quis tirar uma fotografia só com ele.

Depois do clique, Seiya também se aproximou do grupo e começou a mexer nas vestes de Shiryu, puxou as mangas, avaliou o tecido, mexeu na gola.

— Mestre!! Você tá bonito nesse vestido! – brincou.

— Obrigado, Seiya. E é uma sotaina, batina ou túnica, não é um vestido.

— Que seja. Parabéns! Você é o cara! Chegamos ao topo!! O salário aumenta quando a gente vira dourado?

— Acho que sim, mas para quê você quer saber? Já é rico e ainda casou com uma milionária.

— Só curiosidade.

Ikki, Shun e Hyoga também se aproximaram para cumprimentar o companheiro.

— Se tem alguém pronto para isso – Shun começou – esse alguém é você. Parabéns.

Shiryu agradeceu encabulado.

— Pena que não tem mais vaga pra dourado – Hyoga brincou.

— Eu tô ótimo assim – Ikki declarou. – Me deixa no bronze mesmo. Mas então, quando terminar isso aqui vamos na marina conhecer o bichão né?

— Hoje, Ikki? – Shiryu questionou.

— Ah, só olhar ele e dar uma voltinha rápida. Marcamos o passeio de verdade pra depois.

— Vamos almoçar e depois veremos isso.

Os cinco riram juntos e então sentaram-se à mesa, com Saori na cabeceira e o novo Mestre logo ao lado com sua família.

Criadas começaram a servir grandes porções de salada horiatica e vinho branco. Enquanto comia e recebia cumprimentos no pequeno almoço arrumado às pressas, a mente do jovem novo Mestre do Santuário estava a mil por hora, pensando nos próximos passos.

As palavras de Dohko reverberavam. Refazer as regras. Delegar. Dividir.

Amanhã mesmo iria se inteirar de tudo, do que podia ou não fazer, e tomaria as primeiras decisões. Hoje, porém, respirou fundo e forçou-se a apenas compartilhar uma bela refeição com a família e os amigos.

Quando terminaram de comer, o grupo foi se dispersando aos poucos até que ficassem apenas os cavaleiros do grupo seleto de familiares do novo Grande Mestre.

— Agora vamos à marina, não é? – Ikki perguntou como uma criança ansiosa pelo brinquedo novo.

— Barco agora, Ikki? – Shun perguntou. – Todo mundo de barriga cheia…

— Sim! Vamos lá dar só uma volta! Estou doido para pilotar ele um pouquinho.

Shiryu olhou para Shunrei esperando que ela dissesse não, pois Ikki teria de respeitar a vontade de uma grávida. Contudo, ela estava bastante empolgada com a ideia. Ele podia ser o novo Grande Mestre do Santuário, mas como na maioria dos casais, a palavra final ainda era da esposa. Vencido, ele quis saber se Dohko iria.

— Mestre, o senhor quer vir conosco?

— Ah, não, meus queridos. Eu tenho um assunto para resolver. Vão se divertir.

— Boa sorte com o “assunto” – Shunrei desejou pois sabia bem do que se tratava. Shina não participou do almoço e, antes de descer irritada, disse a Dohko que ele lhe devia explicações.

— Parece que eu vou precisar.

Dohko deu um beijinho em Keiko e desejou bom passeio a todos antes de se retirar.

Do Santuário, os irmãos passaram no condomínio, pegaram Esmeralda e Pandora e foram de carro em direção à marina onde o novo iate estava ancorado. Enquanto caminhavam até ele, Ikki deliciou-se contando que possuía cinco cabines e mais duas para tripulação, deck superior, bote auxiliar, e demorou-se em características técnicas que ninguém além dele mesmo compreendia. Falou dos mármores e dos detalhes cromados, e continuou falando até ser interrompido por Esmeralda quando chegaram perto o suficiente para ver o nome pintado na embarcação.

— Esmeralda, Ikki? – a própria questionou. – Você por acaso falou com seus irmãos sobre isso?

— Não! – ele respondeu como se fosse a coisa mais óbvia. – O trabalho todo foi meu, achei justo escolher o nome e quis homenagear você.

— Você tinha que ter perguntado a eles!

— Por quê?

— Ai, meu Deus, às vezes você me deixa doida! Porque eles pagaram!

— Está tudo bem, Esmeralda – apaziguou Shun com um sorriso. – Você merece a homenagem depois de tudo que passou para chegar até aqui e é um nome perfeito para o barco. Todos concordam, sim?

— Homenagem mais que justa – Shiryu acrescentou e todos assentiram.

— Achei bem romântico – Saori comentou. – Gosto de ver você assim, Ikki.

— Ótimo. Então espero que não se importem também com as decorações em verde, incluindo o mármore. O cara que vendeu perguntou se eu queria assim e eu quis.

— Tá, mas ele é bem maior e mais luxuoso do que pensei – Shiryu falou preocupado.

— A Saori entrou na cota. Com seis pagando deu pra comprar um negócio topo de linha.

— E você sabe mesmo pilotar isso? – duvidou Hyoga.

— Eu tirei habilitação, seu pato gelado.

Shiryu não duvidava da habilidade de Ikki, mas ao ver o tamanho do barco teve outras preocupações.

— Um barco desse tamanho vai precisar de tripulação permanente… – comentou. – Pessoas para cuidar dos motores, da âncora, da limpeza interna e externa dele...

— Eu sei, sabichão. Já contratei algumas pessoas, marinheiro, mecânico, moço de convés. Agora entrem e se acomodem.

— Tá, vamos lá conhecer o Esmeralda e seus mármores verdes – Shiryu riu.

Eles obedeceram e se acomodaram no deck espaçoso com poltronas estofadas em couro verde-esmeralda enquanto Ikki soltava as cordas. O tal mármore verde ornava o balcão do bar e também estava nas mesas. Eles ainda não viram, mas o mesmo mármore decorava os banheiros.

June não perdeu tempo e deitou-se em uma das espreguiçadeiras para aproveitar o resto de sol da tarde.

— Meu Deus, eu fui feita para isso – ela falou acariciando o couro macio. – Tão suave.

Shun sentou-se no banco ao lado dela.

— Custou uma boa parte da minha herança – Shun declarou enquanto observava Ikki subir para a cabine –, mas ele está todo feliz, pilotando o “bichão”, como ele chama. Amo ver meu irmão assim. Valeu cada centavo.

— Eu sei. Ele mudou muito depois da Esmeralda.

— Na verdade, ele só voltou a ser o que era.

— E o novo Mestre ali?

— Deve estar apavorado, mas não vai demonstrar. O Dohko pegou todo mundo de surpresa, inclusive o próprio Shiryu, mas eu concordo, ele é a escolha certa.

— O que acha de eu pedir a ele para ajudar nos treinos? Quero ser mais útil…

— Acho excelente! Vai ser bom pra você.

— É… Deixa a poeira baixar que eu vou falar com o novo GM.

— Gente, não tem problema mesmo meu nome no barco? – Esmeralda quis certificar-se. – Ele faz as coisas sem pensar.

— Claro que não tem problema! – Seiya respondeu e os outros concordaram. – Nós sabemos bem como ele é.

Feliz, Esmeralda acenou para a cabine de onde Ikki pilotava o iate que já se afastava da marina.

Recostado em uma das poltronas, Shiryu estava com Shunrei a seu lado, tocando de leve a barriga dela, enquanto Keiko estava brincando no chão. Ele deu uma boa olhada para o grupo ao redor e para a cabine de pilotagem.

Seiya, sempre devotado a Saori, dedicando a ela e à filha um amor imenso e incondicional. Shun e sua June, ela que foi o suporte imprescindível durante o treinamento e agora o ajudava a trilhar um novo caminho a fim de realizar o sonho dele de ser médico. Hyoga, o cavaleiro do gelo, agora um ator frequentador dos tapetes vermelhos, pai de uma garotinha, e vivendo um inesperado romance com Pandora. E Ikki, o antigo lobo solitário que se tornou um homem de família, um pai, vivendo um doce sonho com sua Esmeralda renascida dos mortos como a Fênix. Como as duas mulheres da vida do próprio Shiryu renasceram de verdade naquele hospital em Tinos pouco mais de um ano atrás, no que começou como o dia mais triste de toda a existência dele e terminou com um milagre.

No horizonte, o Sol se punha no mar Egeu tingindo tudo de um laranja muito vivo. Logo ele se apagará, virá a noite e a Lua tomará seu lugar no firmamento. Porém, inevitavelmente o dia tornará a nascer. Eles, os cavaleiros de Athena, lutaram para vencer o Grande Eclipse de Hades a fim de que continuasse sendo assim.

Os cinco lendários, como eram chamados, estavam juntos desde o começo, desde o orfanato e em todas as batalhas. Shiryu acreditava que lutariam por Athena e pelo mundo até o fim, até a inevitável morte precoce. Porém o fim não chegou como ele esperava. As guerras acabaram e eles ainda estavam vivos, felizes, recomeçando suas vidas, construindo famílias. Tornariam a lutar juntos, mas de outras maneiras, para criar um futuro para suas esposas e suas crianças. Um futuro que, por muito tempo, Shiryu acreditou ser apenas um sonho impossível.

O fim, ele pensou com um sorriso luminoso na face, não passava de um recomeço.

 

 


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Notas finais do capítulo


 



Peopleeeeeeeeeeeee!

Eu tô tão felizinha de ter terminado mais essa parteeeeeeee! :3 Acabou! Só que não! XD É que vai ter uma passagem de tempo grande então eu optei por encerrar aqui essa parte e começar a próxima como uma nova fic. Mas ainda tem um epílogo que já tá pronto, vou dar uns dias e já posto pra encerrar de vez! :3

Que jornada!!! Começou lá em 2004, com “O Casamento”, passou por “Escute Seu Coração” e agora termino “Esperando o Fim”! :3 Aliás, tô com muita vontade de reescrevr as duas primeiras partes. Já comecei a mexer em “O Casamento”, mas é aquilo, né? Só Deus sabe quando vou terminar porque a prioridade é das fics em andamento, então tô pegando nela muito de vez em quando.

É isso, pessoal!

Obrigada a todos que acompanham, especialmente aos que estão comigo desde o começo!

Até já!


Chii



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