Minha cabeça latejava forte o suficiente para que eu despertasse. Por um breve momento eu não me lembrei de nada do que havia acontecido, parecia que tinha uma enorme lacuna na minha mente. Forcei minhas vistas a se abrirem, eu estava em algum quarto fuleiro. A cama era de palha, assim como as paredes, havia uma tina de agua ao meu lado – que eu rapidamente entornei -, de resto não havia mais nada. Aos poucos minha memoria foi voltando, assim como meu desespero. Sai correndo em direção a porta, porém fui repelido para trás.

- Já tentamos sair, não há como. É um feitiço repelidor, só se entra, nada sai. – a voz de Hermione vinha do canto do quarto. Foi ai que eu notei, eu nem havia dado dois passos da minha cama.

Ron estava apagado em outro canto do quarto.

- O que aconteceu? – perguntei.

- Fomos capturados.

- Cadê Anabelle?

- Não sei, quando acordei ela não estava aqui. Será que Midnight conseguiu salvá-la?

- Espero que sim – olhei ao redor – Se ela conseguiu a ajudará virá logo.

A porta se abriu com brutalidade e um Comensal adentrou ao quarto. Ele sorria, logo atrás dele Anabelle veio nos braços de outro Comensal, completamente desmaiada. A salvação estava longe de vir.

- O que fizeram com ela?! – a raiva tingiu qualquer sentido que eu possuía, a única coisa que eu pensava era em como destruí-los .

- Ainda nada. – falou com uma voz grossa e rouca. O homem que a carregava colocou-a no chão e a levitou com a varinha, colocando-a na minha cama. Então saíram do quarto. Eu não entendi, pensei que iam me levar para Voldemort, estava tudo muito estranho.

Ajoelhei-me ao lado da cama e tentei acordar Anabelle, que aos poucos foi recobrando a consciência.

- Onde estou? – sussurrou com a voz falha. Seus olhos mal se abriam.

- Fomos capturados, não se lembra? Na caverna.

Aos poucos seus olhos foram mostrando a confirmação de minhas palavras, aos poucos foram trazendo desespero, aos poucos ficando lúcidos.

- Não... – sussurrou e sentou-se.

- Onde está Midnight? Ela não pode nos tirar daqui?

- Eu... – ela estava desnorteada. – Perdi... Não posso...

- Anabelle se acalme! – Hermione disse do outro lado do quarto. Isso despertou algo em Anabelle. Ela de repente estava surtando.

- Preciso sair daqui! Me tirem daqui! – ela se jogava contra o muro de proteção, tentei segurá-la, mas foi em vão. – Preciamos sair daqui! Midnight! Midnight!

- Onde ela está, Belle?! – tentei sobrepor seus gritos.

- Eu não sei! – seus olhos se encheram de lagrimas – Não sei! Não tenho contato com ela! – notei o porquê de seu desespero. Era incomum que elas estivessem desconectadas.

- Será que ela não está aprisionada também? – Hermione perguntou.

- Não, ela é um lâncatropo! – descartei a ideia.

- Mas ela não tem magia dentro de si, Harry! Ela não pode quebrar encantos ou fazê-los. – Mione disse em um sussurro. – Vai ver eles também criaram esse muro nela.

- Não posso ficar aqui! – Anabelle continuava surtando.

- Porque não, Belle? Eles não faram nada com voce! Querem a mim. – tentei tranquiliza-la.

- Não desta vez, Harry. – ela agora chorava em desespero.

- O que quer dizer?

- Eles querem ativar... Dumbledore me avisou... Não posso deixar que eles façam isso. Preciso sair daqui!

- Ativar o que?!

- O próximo nível. – ela disse tensa. – Eles querem adiantar o próximo nível, mas se o fizerem...

- Qual é o próximo nível? – Mione perguntou agitada.

- A troca de personalidades – falei em um sussurro. Eu estava aterrorizado, não sabia o que fazer, simplesmente fiquei lá, olhando para o nada, meus olhos arregalados de medo e desespero. Eu não poderia deixar que fizessem isso com ela... Não podia!

- Se eles adiantarem o próximo nível eu posso ficar nele por sabe-se lá quanto tempo! – Belle explicava para Mione. – Eu não quero isso! Não estou preparada!

- Fique calma – eu dizia ainda olhando para o nada. Minha voz era vazia e sem emoções, eu buscava uma saída, mas não a encontrava. Acordei do meu choque quando a porta voltou a se abrir.

- Ah, voce acordou. – o Comensal disse sorrindo perversamente.

Coloquei Anabelle atrás de mim, eles não a tocariam.

- Saia da frente, garoto! Não temos tanto tempo.

- Vamos logo! – um outro Comensal, um pouco mais baixo, disse. Parecia agitado e amedrontado... Eu conhecia aqueles movimentos amedrontados... Era Rabicho. – Não vão conseguir segurar a Lancatropo por muito tempo.

- Fique quieto, seu rato! – bradou o Comensal de voz grossa.

Anabelle apertou minha blusa, encolhendo-se atrás de mim.

- Não posso ir, Harry. Não estou pronta. – sussurrou para mim.

Quando eles viram que eu não tornaria as coisas mais fáceis, apelaram para a magia. Eu fui jogado em um canto do quarto, caindo em cima da cama.

- NÃO! – Anabelle gritou e se segurou em mim.

- Olhe para mim! – eu disse sério – Não importa o que eles querem ativar em voce, Belle, voce é capaz de controlar sua vida , está me entendendo?! Você consegue! Vou estar aqui para te ajudar, farei de tudo pra te proteger, mesmo que seja de voce mesma.

De repente Anabelle assumiu uma feição dura e controlada, ali eu soube que ela faria o possível para ser forte.

- Pegue os dois, vamos deixa-los assistirem de camarote. – o Comensal disse á Rabicho.

Fomos levitados até para fora do quarto. Estávamos em algum canto da floresta, havia uma fogueira no centro das cabanas que havia em volta. Minha mente começou a bolar algumas coisas.

Anabelle caminhava confiante até onde a colocaram, em um circulo feito de algumas folhas, pelo cheiro era eucalipto.

Midnight rosnava em outro circulo, um Comensal a proibindo de sair dali, usando magia.

Anabelle foi derrubada no chão e presa por raízes da terra. Não conseguia se mexer. Tudo, de repente, pareceu mais sombrio, como se a lua escurecesse por alguns minutos. O sons da floresta pararam. E Anabelle continuou imóvel, esperando pelo ritual.

- Das chamas o forte nasceu, do vento a sabedoria o acolheu, da água lhe deu poderes e da terra os fortaleceu. – em volta dos círculos foram postos tinas com cada um dos elementos. O Comensal que recitava o ritual colocou fogo no circulo e uma chama negra se fez. – Unidos pelo espirito da vitória vocês foram feito um pelo outro. E unidos pelos homens se toraram apenas um. Que o sangue escorra pela adaga do tempo e faça de teu destino tua crença. – então enterrou a faca na barriga de Anabelle, ao mesmo tempo que faziam isso com Midnight. As duas gritaram.

Foi apenas um grito. A chama negra se apagou e a fumaça tomou vida própria, as duas fumaças se unido e girando uma em volta da outra.

- Que suas vidas sejam apenas uma só! Com o circulo da união eu as torno apenas um! – gritou.

Eles estavam preocupados demais com o ritual. Dei um passo para trás.

- Accio varinha. – sussurrei. Assim que minha varinha veio até mim e lancei duas chamas vermelhas na noite escura. – Expelliarmos! – atingi o Comensal que fazia o ritual. Hermione logo me ajudou. Corri até Anabelle, que estava imóvel dentro do circulo, uma queimadura atingiu minha mão assim que tentei entrar no circulo.

- É feito de fogo, Harry! – Hermione gritou, atacou o ultimo Comensal e entrou no quarto para buscar Ron.

- Não me importo, não posso deixar que o feitiço se concretize! – falei olhando para a fumaça que estava cada vez mais densa, demonstrando o status do feitiço.

Respirando fundo eu entrei rapidamente no circulo e arrastei Anabelle de lá. Algumas queimaduras apareceram em minhas mãos e costas, mas eu não me importei. Assim que Anabelle saiu do circulo a fumaça se desfez e Midnight recobrou a consciência.

- Coloque fogo na cabana, Hermione. Precisamos deixar rastros para que nos encontre. – falei. Hermione, que vinha praticamente carregando Ron, colocou fogo nas cabanas. – O que eu faço agora?!

- Espere os outros chegarem, eles saberão o que fazer!

A ajuda não demorou a chegar, logo tomaram Anabelle em seus braços e nos levaram de volta para o acampamento. Não me deixaram vê-la, a colocaram dentro do centro hospitalar e lá ela ficou quase dois dias.

~*~

- Estavam tentando fazer um ritual para converter o feitiço. – Dumbledore disse. Estávamos sentados na frente da minha cabana. – Mas um feitiço assim não é muito fácil de se retirar. Na verdade, é quase impossível. Por sorte, Harry, voce a tirou de lá antes que o ritual se completasse.

- Como ela está? Não me deixa vê-la. – perguntei preocupado.

- Ela está... irritada. Nunca gostou de hospitais. – suspirou – A personalidade não foi completamente trocada, mas um dano com certeza foi feito. Não há como voltar atrás. Só precisamos rezar, Harry, rezar para que Anabelle consiga passar por isso.

- Ela vai passar. – falei firme. – Eu prometi que protegeria ela, mesmo que contra si mesma.

O dia estava nublado, as nuvens densas alertavam uma forte tempestade. O pior de tudo... É que eu sentia a tempestade vindo, eu sentia que não tardaria muito para que a guerra viesse. Eu estava pronto para ela.