Like A Bird escrita por va


Capítulo 9
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

é, muito obrigada para as meninas BeehMonsen e Ray que acompanharam essa história desde o inicio, comentando em todos os capítulos. Sério, brigada msm, essa é a minha primeira fic e eu realmente não sabia no que ia dar e vocês me ajudaram mto >.<.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/261567/chapter/9

–Ai meu deus filha, mas por que você quer fazer um piercing?

Era sábado e eu finalmente tinha introduzido o assunto do piercing em uma conversa com a minha mãe. Como eu havia previsto ela não recebeu muito bem.

–Por que? Por que eu acho bonito uai!

–Ah, mas não é bonito mesmo! E ainda por cima é uma coisa permanente no seu corpo.

–E quem é você para dizer se é bonito ou não. Eu acho bonito e você não tem nada haver com isso. Eu sei que é uma coisa permanente mas é só um furinho na minha orelha...

–Mesmo assim filha. Você não pode esperar até ficar mais velha não? Até ficar mais madura para decidir o que você quer...

–Não mãe, não dá, por que eu quero agora. É você que está sempre dizendo que eu tenho que parar de me preocupar com o que os outros pensam e ser mais eu. Pois é, tô tentando.

Ela suspirou

–Mais tarde agente conversa ok?Agora eu realmente preciso acabas de fazer essas contas...

Sai com raiva da sala. Qual era o problema de eu fazer um piercing na orelha? Caramba, não é como se eu tivesse fazendo uma tatuagem no corpo todo! O chato era que eu precisava da autorização dela para fazer uma coisa dessas. Ser menor de idade é uma merda!

Peguei meu violão e fui encontrar com os meninos. Agente vinha encontro muito mais frequentemente já que havíamos decidido tocar no festival da minha escola e era muito importante que agente tocasse bem. Era muito importante para eu poder quebrar a cara daquela patricinha da Melissa e daquele amiguinho dela, o Diogo. E eu tinha decidido que ia falar com a Alice depois do show então...

Quando cheguei lá eles já estavam se aquecendo. Cumprimentei eles com um aceno de cabeço e fui afinar meu violão. Eu tinha ficado receosa de que a Sara pudesse passar a agir friamente comigo por eu ter decidido romper com ela só que graças a deus ela continuava a mesma de sempre.

–Então, vamos passar mais uma vez?-

Já tinha uma semana que agente só tocava as mesmas músicas. Era a lista que agente ia apresentar. Como eramos uma banda formada por uma bateira, um violão e um vocal decidimos que seria melhor se agente tocasse mais mpb, tipo Legião Urbana, Paralamas do sucesso, Skank e por ai vai.

Enquanto eu tocava eu sentia aquela conhecida sensação de fogo, de uma chama que vinha me aquecendo desde os dedos do pé até as pontas do cabelo. Me fazia sentir que era capaz de qualquer coisa e eu amava aquilo. As vezes eu me pergunto se as pessoas que escutam conseguem sentir o mesmo.

–Uhuuuuuuu!-gritou o Matheus quando agente acabou- Véi, agente tá tocando bem demais! Agente vai derrubar o seu colégio Camila- deu uns saltinhos típicos dele.

–Menos loirinho, menos- a Sara disse enquanto eu e ela riamos dele.

–Mas eu também acho que agente vai arrasar!-eu falei.

Do jeito que tava indo nós íamos ganhar o negócio com certeza!

–Ai gente, minha mãe não quer me deixar fazer meu piercing!-eu disse

–As mães são para isso mesmo. Não deixarem agente fazer as coisas- disse a Sara. Eu não sabia muito bem com seguir com esse tipo de conversa com ela já que ela era órfã e tudo o mais...

–Tipo isso.- falou o Matheus- Mas tenta convencer ela. Se é uma coisa que você realmente quer vale a pena tentar.-

Na hora eu pensei na Alice. Tipo assim, se eu me confessasse para ela e ela acabasse correspondendo(meu coração batia acelerado só de pensar nisso) uma hora eu teria que falar sobre a coisa com a minha mãe. Eu tinha medo de que ela fosse me expulsar de casa. Mas eu não tinha uma avó para me resgatar como o Matheus.

–Ultimamente você tem estado ocupada o tempo todo-o Leo falou enquanto mordia um pedaço do sanduíche dele. Como a Alice o Leo tinha me procurado para pedir desculpas sobre o trem do Gustavo. Como eu tinha feito com a Alice eu perdoei ele também e agora agente tinha voltado a ser o “trio parada dura”.

Eu não tinha contado para eles do meu plano. Não é que eu não confiasse neles, é só que eu queria surpreender eles. Afinal de contas eles eram uma das principais razões de eu ter conseguido superar meus medos e tudo e eu imagino que eles vão ficar extremamente orgulhosos quando me virem lá na frente.

–Pois é, eu tenho feito um monte de coisas...-eu disse.- Mas então, vocês vão vir no festival de música que vai ter aqui no colégio?

–Óbvio! Vai ser muito louco! Um amigo meu do segundo ano vai tocar e eu to loco para ver- Leo.

–Eu também acho que vou vir...parece que vai ser bacana- Alice.

Eu não pude evitar de abrir um sorriso. Os dois iam aparecer e ia ser tudo lindo!

–Camila, você ficou de apresentar uns amigos teus para agente-Leo

–Pois é, vocês tem que conhecer os dois que tocam comigo! São muito gente boa! Mas tenho certeza de que vai sobrar oportunidade de apresenta-los a vocês- e ia acontecer mais rápido do que vocês podem imaginar.

–Unnnh...-foi a resposta dele enquanto engolia o último pedaço do sanduíche.

O recreio acabou e veio a aula. A aula acabou e chegou a hora de ir embora. Quando eu sai de sala pude ver o Gustavo andando com um grupinho popular da escola. Desde que tinha terminado com a Alice eu não tinha visto ele direito. Eu tinha um pouco de dó do menino. Sei lá, ele era um cara legal, só que estava no lugar errado na hora errada. Quando eu encontrei com a Alice eu falei isso e ela me respondeu:

–O problema nem é tanto ele ter te deixado lá. O problema é agente ter brigado com você por causa dele e ele não ter falado nada.-eu até entendia. E não é como se eu estivesse louca para que ele e a Alice voltassem, ou algo do tipo. Alias, se isso acontece eu concretizaria os meus desejos de cortar a garganta dele.

Enquanto agente esperava o ônibus no ponto eu comecei:

–Alice...depois do festival eu queria muito poder falar com você.-

–Por que depois do festival? Não pode falar para mima agora?-ela perguntou levantando uma sobrancelha.

Eu mordi o lábio- Não, não posso. Só promete que você não vai me dar bolo ok?- eu ia concentrar toda a minha coragem naquele momento. Se ela não aparecesse eu não sei se conseguiria fazer o mesmo de novo.

–-----------------------------------------------------------------------------------------------

Os dias foram passando assim até que finalmente chegou o sábado do festival. Nossa banda seria a segunda a tocar. Agente já tinha arrumado tudo :o Fê tinha arranjado um amigo que dirigia uma caminhonete para nos ajudar a levar a bateria da Sara. Naquele momento estávamos conferindo os equipamentos e acabando de afinar tudo. O festival ainda não tinha iniciado e as pessoas estavam começando a chegar no lugar.

–Aimeudeusdoceu-eu falei soltando um suspiro enquanto me aproximava dos meninos. Eles estavam encostados em um canto da quadra na qual o palco estava montado. O Fê estava lá para ajudar com qualquer coisinha e dar um apoio moral também. Agente tinha combinado de usar mais ou menos a mesma roupa: blusa de banda, calça jeans e tênis. Mas cada uma era diferente: do Matheus era branca com a imagem preto e branca; a da Sara também era branca mas tinha a imagem colorida; já a minha era preta e tinha a imagem colorida. Só que eu tinha improvisado meu visual: tinha finalmente convencido minha mãe de me deixar colocar o piercing e agora eu o usava orgulhosamente na orelha direita. Mas além disso eu havia feito uma surpresa: no dia anterior eu tinha isso ao cabeleireiro e pedido para ele cortar o meu cabelo curto. Eu estava morrendo de medo por que eu nunca tinha tido o cabelo menor do que ele já estava (pouco abaixo dos ombros) mas o cara era foda e o corte ficou lindo. Meu cabelo agora estava quase no queixo, e ficou mais ondulado e mais cheio o que valorizou muito mais os traços bonitos do meu rosto. Quando eu encontrei com os meninos mais cedo eles praticamente caíram duros no chão. O Matheus estava me olhando com uma cara estranha até agora, como se perguntasse quem eu era e o que tinha feito com a amiga dele.

–Esquenta não gatinha, vai dar tudo certo- a Sara disse enquanto colocava uma mão no meu ombro.

–Ai , será que vai hein?-eu estava realmente nervosa. Tanta coisa podia dar errado.

–h vai sim- o fê disse com aquela voz calma dele.

–Da próxima vez agente vem tocar bêbado-Matheus- Por que ai agente não vai preocupar com nada

–Ah tá, ok então Matheus- eu disse enquanto riamos do comentário dele.

Quando eu olhei em volta novamente notei que muito mais gente já tinha chegado. Agente tinha escolhido um cantinho escondido justamente para não correr o perigo de topar com o Leo ou com a Alice antes do show. O festival iria começar dali a alguns minutos e eu estava ficando cada vez mais nervosa.

Então um professor foi lá frente apresentar e abrir o evento. Ele falou um monte de coisas mas enfim a primeira banda entrou. Era formada por 4 meninos que pareciam ser mais velhos. Quando em fim eles começaram a tocar eu pude escutar uma voz alta gritando que eu reconheci como sendo a do Leo. Senti o meu celular vibrar e fui olhar o que era. Era a Alice dizendo que o trem tinha começado e me perguntando onde eu tinha me metido. Eu tinha falado que vinha no festival e no entanto não tinha dado as caras para eles até agora então era natural que ela ficasse preocupada. Eu respondi que ainda estava em casa mas que daqui a pouco estaria chegando lá. Quando os caras estavam começando a terminar o show deles agente levantou e foi para trás do palco dar uma última ajeitada nas coisas. Eu estava com uma sensação horrível no estômago e dei graças a deus por ter comigo pouco mais cedo por que se não àquela altura eu já teria colocado tudo para fora. Então os caras acabaram e os aplausos encheram a quadra. Que merda, agora eu não poderia dar para trás e eu estava cagando de medo. Daqui a alguns minutos agente ia entrar.

–Relaxa que vai dar tudo certo- o Fê disse tentando me acalmar mas sem dar muito certo.

Quando o professor voltou a falar o Matheus e a Sara vieram dar um abraço em mim. Agente ficou um tempo daquele jeito até que o professor finalmente anunciou a próxima banda e cada um teve que assumir seu lugar. Então agente entrou e eu fiquei paralisada. Sério que eu acho que a escola inteira tinha comparecido e que ela toda tinha se enfiado naquela quadra por que eu nunca vi tanto aluno junto em um lugar só. O Matheus falou alguma coisa para cumprimentar o povo, que gritou de volta. Mas eu estava escutando tudo de um jeito estranho, como se estivesse em outro lugar que não ali. Então eu escutei o som da bateria da Sara e me lembrei de que alguma hora eu teria que entrar com o violão. Não sabia se seria capaz de assumir o controle das minhas mãos novamente que haviam se tornado extremamente grandes e desajeitadas. Ai eu escutei a voz do Matheus e sabia que estava na hora de eu entrar. Os primeiros acordes que eu consegui tocar saíram baixo e fora do ritmo. Só que ele e a Sara continuaram tocando e eu fui lembrando de todas as vezes que agente tinha tocado junto. Eu conhecia aquela música melhor do que qualquer um ali. Então eu finalmente comecei a fazer os acordes certos no ritmo certo. Eu fui ficando mais confiante, mais concentrada na música e de repente as minhas mãos estavam mexendo sozinhas e na minha cabeça eu só conseguia pensar na música. Comecei a sentir aquela conhecida sensação de fogo dentro do meu corpo, mas dessa vez era muito melhor, era muito amis exitante e eu sentia como se tivesse uma carga elétrica de milhões de volts solta pelo o meu corpo. Eu não sabia o que era melhor:o fato de eu estar tocando junto com a Sara e o Matheus; de eu estar me apresentando na frente da minha escola inteira, ; ou o fato de eles todos estarem cantando junto parecendo que estavam curtindo muito o nosso show. Eu me deixei levar pelo momento, simplesmente saboreando aquelas sensações todas. Só voltei a mim quando finalmente tocamos a última música e o Matheus estava agradecendo e falando o nome dos integrantes da nossa banda. Quando ele disse o meu o estardalhaço foi tanto que eu fiquei com medo da quadra cair. Nunca tinha me sentido tão feliz na vida. Agente fez os últimos agradecimentos e saímos.

–Meninas, foi demais-o Matheus disse vindo correndo para abraçar a gente- Caralho véi, quero tocar com vocês para sempre-ele continuava abraçado.

–Foi muito bom mesmo- a Sara.

Eu estava, rindo, chorando e gritando junto com eles, tudo ao mesmo tempo. As coisas tinham corrido melhor do que eu esperava. Logo o Fê estava aparecendo e começando a comemorar junto com agente também.

–Camila, acho que tem gente ali querendo te ver- o Fê apontou para algum ponto atrás de mim. Quando eu me virei vi o Leo e a Alice parados em um quanto atrás do palco.

–Dexa eu i lá gente-falei enquanto me afastava deles.

–Caralho Camila, por que você nunca contou para gente que tocava tão bem?Por que não contou que ia apresentar hoje? Eu quase tinha perdido seu show se não fosse a Alice correndo atrás de mim me avisando que você tava no palco!Eu quase não acreditei quando te vi! Putz grila, e esse visual?-ele falou tudo tão rápido que eu mal consegui entender. Depois ele me deu um abraço super apertado, me levantou e me girou no ar.

–Você foi incrível!Maravilhosa mesmo!- a Alice estava tão feliz quanto ele só que ela era mais discreta. Me abraçou forte também-E ficou simplesmente linda com esse corte-falou quando se soltava de mim e colocava uma mão no meu rosto.

–E você tinha que ter visto a cara da Melissa e do Diogo!-disse o Leo rindo- Acho que eles não conseguiram acreditar até agora no que viram! Sério mesmo, achei que a Melissa fosse ter um ataque!- ele terminou rindo mais alto ainda.

–Pois é.-Alice.

Então eu finalmente pude falar alguma coisa.

–Ai gente, eu queria fazer uma surpresa para vocês. Tipo assim, vocês são tão importantes para mim, e se não fosse por vocês dois eu nunca estaria aqui para começo de conversa. Obrigada por tudo!-eu disse meio que chorando no final.

–Ai meu deus- o Leo disse ironizando meu sentimentalismo ao mesmo tempo que me abraçava. A Alice simplesmente começou a chorar também e a se juntar a nós.

Quando acabou aquele momento família eu disse.

–Vem ká que eu vou apresentar vocês para os meus amigos da banda.-eu disse enquanto levava eles para onde o grupo estava.

–Esses aqui são o Leo e a Alice-E esses aqui são o Matheus, a Sara e o Fê-quando acabei de fala eles se deram acenos e palmadinhas amigáveis.

–É muito bom finalmente conhecer vocês! A Camila fala muito de vocês dois!- o Matheus disse.

O Leo riu alto-Eu que digo isso!-

Então agente entrou em alguma conversa sobre banda e música. Eu pude perceber que o Leo de cara ficou interessado pela Sara, e até achava que ela podia ter ficado nele também. Eles não pareciam ter ciado muito surpresos com o fato do Fê e o Matheus estarem de mãos dadas. Em algum ponto da conversa a Alice me puxou para um canto e disse:

–Você queria conversar alguma coisa comigo hoje...

–E ainda quero. Só que espera o festival acabar ok?

Ela fez que sim com a cabeça e agente voltou a participar da conversa. Depois agente foi lá para quadra para poder escutar as outras bandas e eu tenho que admitir que por melhor que elas fossem agente tinha sido melhor ainda. Eu aproveitei muito, mas muito mesmo, por poder estar com todos os meus amigos juntos, por estar feliz de tudo der dado certo, por estar aliviada de finalmente resolver aquele trem todo da Alice. Houve apenas um momento em que eu me distanciei deles, com o intuito de ir no banheiro. Quando estava saindo eu sei de cara com a Melissa. Eu fiquei surpresa mas ela ficou mais ainda. Ela parecia não ter idéia do que dizer ao me ver ali; era como o Leo havia dito ela ainda não tinha assimilado tudo o que tinha visto mais cedo e ficou me olhando com cara de espanto tentando entender quem era aquela garota na sua frente. Por que obviamente eu não era a Camilão, aquela menina com espinhas, óculos enormes, aparelho nos dentes, alta e desengonçada e nunca confrontava ela e sempre abaixava a cabeça quando tinha de faze-lo. Eu era outra Camila, totalmente diferente, muito mais bonita, confiante, segura e corajosa. Quando olhei nos olhos dela eu tive certeza de que ela havia se dado conta disso e de que provavelmente eu nunca mais ia ter problemas com elas. Então eu levantei o queixo e sai dali sem dizer uma palavra com ela. A sensação de triunfo que eu sentia é indescritível. Sério, poder esquecer de todos os anos em que essa menina e o grupinho dela me atazanaram e fizeram da minha vida no colégio um verdadeiro sofrimento era bom demais para ser verdade. Eu estava me sentindo muito mais leve.

Voltei para onde os meus amigos estavam e nós passamos ótimos momentos até que tudo acabasse. Quando o último show terminou eu voltei a sentir aquelas borboletas na boca do estômago. Agora eu teria que falar com a Alice e não tinha outro jeito. Não que eu pensasse em fugir daquilo ( longe disso, eu me sentia mais preparada do que nunca) mas mesmo assim eu estava nervosa sobre como as coisas iam andar. O Leo sugeriu de agente ir para algum legar e nesse momento eu disse para eles irem na frente que eu precisava ficar e resolver umas coisas com a Alice. Acho que ele entendeu bem o que eu quis dizer por que foi embora com os outros sem reclamar. Então eu pedi para que a Alice me acompanhasse e agente foi para uma arquibancada que ficava fazia (aquela para a qual eu tinha corrido no dia que havia me dado conta de que gostava da Alice). Ela sentou de frente para mim enquanto eu fiquei em pé encarando ela.

–Nossa Camila, parece até que você vai me contar que alguem morreu- ela brincou referindo-se á atitude séria que eu tinha tomado.

–Só que o que agente vai conversar é uma coisa séria mesmo-eu falei, tentando tomar coragem.

Enquanto eu pensava em como falar o que eu queria falar eu fiquei prestando atenção. Vi a maneira como o cabelo comprido e liso dela caia em ondas sobre os seus ombros. Vi o formato dos seus dedos e a maneira como eles se mexiam impacientemente. Vi pela primeira vez umas minusculas sardinhas que cobriam as bochechas dela e a faziam parecer mais fofa do que já era. Prestei atenção em todos os deles e fiz questão de guarda-los bem seguros dentro do meu coração. Quando eu falei minha voz tinha um tom grave profundo:

–Na realidade o que eu tenho para dizer não é nenhuma novidade. É uma coisa que começou a bastante tempo, no início desse ano ainda. Eu até acho que tem várias pessoas que conseguiram de dar conta disso, mesmo com eu tentando esconder. É uma coisa complicada, mas muito complicada mesmo, mas é uma coisa maravilhosa e se não fosse por isso eu tenho certeza de que eu não teria conseguido passar por todas as mudanças pelas quais eu passei nos últimos tempos. Por isso eu não me arrependo de sentir isso, de aceitar isso e de lutar por isso. É algo que me torna e me tornou uma pessoa melhor apesar da maioria achar que tem o efeito contrário.-eu parei, olhando para ela, e parecia que ela estava entendendo o que eu queria dizer mas não ia acreditar até que eu fosse mais direta.-O que eu tô tentando dizer Alice...o que eu tô tentando dizer é que eu te amo. Eu sou apaixonada por você desde aquele dia em que você esteve lá em casa no início desse ano. Eu não sei que que é, se pelo fato de você ser toda independente, segura, confiante, linda, gentil, inteligente, ou se é simplesmente pela maneira que você diz meu nome ou o som da sua risada. Pra mim você é a pessoa mais maravilhosa do mundo e eu atravessaria o céu e o inferno para ficar junto de você. Eu não consegui te dizer antes por que estava com medo da sua reação, com medo de você sentir nojo de mim e nunca mais querer ser minha amiga. Mas eu precisava colocar isso para fora, por pior que venha ser. Então...-

Nas primeiras palavras eu havia sentido uma sensação de alívio tomando conta de mim. Eu estava colocando para fora aquelas coisas todas que vinham me incomodando a tanto tempo. Enquanto fui falando essa sensação só foi aumentando. Quando pronunciei as últimas palavras eu estava me sentindo realmente leve, realmente livro, como se eu fosse capaz se sair dali flutuando e voando como se fosse um pássaro. Eu tinha deixado para trás todas as minha inseguranças e finalmente havia conseguido coragem de enfrentar os meus problemas. Eu sabia que a partir daquele momento tudo seria diferente.

Olhei para ela e não consegui entender a expressão que tinha no rosto. Ela abria e fechava a boca tentando responder alguma coisa, mas parecia não ser capaz de pensar em nada. Então eu fiz a única coisa na qual eu consegui pensar no momento: eu me aproximei e colei os meus lábios nos delas. A sensação da boca dela junto a minha era incrível e eu tentei gravar cada pedacinho na minha memória. Quando pedi passagem com a língua ela permitiu e eu pude aprofundar o beijo. Senti um prazer como eu nunca tinha sido capaz de imaginar na vida, menor do que eu havia sentido com a Sara e menor do que eu havia sentindo enquanto tocava. Prazer e uma sensação de satisfação, de finalmente poder fazer aquilo que eu tanto queria. Explorei cada pedacinho da boca dela e aproveitei o momento como se fosse o último. O beijo acabou ficando meio estranho e foi ela quem nos separou. Quando me encarou ela tinha lágrimas nos olhos.

–Desculpa Camila, desculpa mesmo, mas...é que eu realmente não sinto o mesmo por você.-começaram a cair mais lágrimas do rosto dela e eu tinha consciência de que também deveria estar chorando.-Eu te amo muito, muito mesmo, e teve mesmo momentos em que eu achei que agente pudesse dar certo como um casal, mas agora...Agora eu tenho certeza que não dá.-mais choro de nós duas.-Me perdoa, mas por favor, por favor, não se afaste de mim, eu não quero te perder como amiga.-ela disse e me agarrou em um abraço apertado. Eu abracei ela de volta e agente ficou ali, soluçando uma no ombro da outra. Eu estava muito triste. Por um momento durante o beijo eu tinha acreditado que tudo poderia dar certo e que agente ia ficar junto. Agora eu tinha certeza de que isso nunca seria possível. Então eu não fiz nada que não fosse deixar as lágrimas saírem soltas e levarem as minhas angustias embora.

–------------------------------------------------------------------------------------------------------

Depois disso eu passei um bom tempo longe da Alice. Ela ficou muito chateada mas disse que me entendia: eu precisava de um tempo sem ela para que pudesse esquece-la e seguir em frente. Admito que houveram momentos em que eu achei que nunca mais conseguiria voltar a olhar na cara dela e que agente nunca mais seria amiga de novo. Mas no final deu tudo certo e agente voltou a andar junto. É lógico que as vezes eu me arrepiava um pouco com um toque ou uma palavra dela mas isso foi acabando. Eu, o Matheus e a Sara havíamos decidido formar uma banda, mesmo sem saber que nome daríamos a ela. O Leo e a Sara estavam cada vez mais próximos e eu já estava apostando com o Matheus a data em que eles começariam a namorar. Naquele dia agente ia comemorar o aniversário da Alice que finalmente fazia 16 anos. Eu estava realmente contente por que poderia passar mais tempos com os meus amigos. Amigos que tinham me aconselhado e ensinado coisa que eu nunca teria aprendido sozinha, amigos que tinham me apoiado e me dado uma mão amiga quando eu achei que ninguém mais faria, amigos que tinham me consolado e me ajudado a me levantar de novo quando eu sofria alguma decepção na vida. Sério mesmo, eu não sei onde estaria sem eles.





Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

por favor não me matem.Eu sei que elas não ficaram juntas mas no final das contas a fic não era exatamente sobre o casal principal, mas sim sobre a evolução da personagem principal que começou como uma personagem insegura e preconceituosa.
Assim, não tem nada demais na minha fic, mas eu gostei dela no final das contas. Espero que vocês também tenham gostando :)