Like A Bird escrita por va


Capítulo 7
Capítulo 7




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/261567/chapter/7

-Amanhã você tem aula não é filha?

-Tenho mãe.

Minhas férias de julho estavam acabando e aquele era o último domingo antes de começarem as aulas. Eu até estava animada para voltar: primeiro por que eu tinha aproveitado bastante as férias: tocado todos os dias e saído com os meus amigos sempre que possível; e segundo por que eu ia poder ver a Alice de novo. Naquele momento eu estava acabando de me arrumar para sair com a Sara e o Matheus. Agente ia para um show que ia ter na praça (aquela na qual eu tinha ido com a Alice e o Leo para beber). Eu estava acabando de colocar minha camiseta nova: ela era de botão, xadrez em tons de amarelo e azul e muito bonita. O Matheus que tinha me ajudado a escolher. Quero dizer, o Matheus e o namorado dele, o Fernando, mais conhecido como Fê. Eu ainda me assustava um pouco quando via eles se beijando mas aos poucos ia me acostumando. Avisei minha mãe de que estava pronta e agente saiu. Ela me deixou na praça e rápido eu já via eles. O primeiro que eu vi foi o Fê, que era todo estiloso: tinha um alargador na orelha direita, o cabelo escuro raspada nos lados e uma barba por fazer. Naquele dia ele usava uma regada bem solta amarela, uma calça jeans e um tênis da vans branco. Do lado dele estava o Matheus que usava uma blusa simples preta de gola v, uma jeans mais clarinha e um tênis da vans também só que vermelho. Os dois estavam com óculos escuros que eu achei que caíram muito bem neles. Logo que me viu o Matheus veio saltitando para perto de mim para me cumprimentar.

-Ei Camilinha, achei que você não ia parecer nunca!- falou enquanto me abraçava. Eu ri do drama dele.

-Oi Camila- o Fê era bem mais discreto que o namorado. Sua voz era um tanto grave e ele sempre estava falando baixinho.

-Ei Matheus, ei Fê. Como é que tão as coisas ai?

Eu pude notar que tinham algumas pessoas olhando para eles. Alguns pareciam só curiosos mesmo mas outros lançavam olhares de reprovação. Eu quis ir lá chutar a cara desses.

-Os caras ainda não começaram a tocar mas tem um monte de gente já.-eu olhei em volta e realmente a praça estava bem cheia- Não anima de dar uma volta não?

Eu fiz um aceno com a cabeça e agente saiu para dar um geral no lugar.

-A Sara ainda não veio não?-perguntei

-Pois é, ela falou que ia aparecer mais cedo mas eu ainda não vi um sinal dela- Matheus.

-Unnh.

Eu achava a Sara legal. Tipo assim, diferente dos meus outros amigos ela gostava muito de implicar e provocar os outros, mas aquilo nunca me incomodou e as vezes até criava umas situações engraçadas. Só que ela vinha me provocando cada vez mais...e de um maneira estranha. Sei lá, as vezes eu podia jurar que ela estava dando em cima de mim.

-Falando nela...- o Fê apontou na multidão.

Eu demorei um pouco para conseguir enxergar ela. Ela usava uma regada meio larga na qual estava escrito em preto ( “Be nice bitch”), um shortinho jeans super curto e uns sneakers meio roxos. Ela finalmente viu agente e veio na nossa direção.

-Olá garotos- cumprimentou os meninos- e mocinha- me deu um beijinho na bochecha.

-Poxa Sara você falou que ia aparecer cedo mas só te encontramos agora!-Matheus

-Ei sei loirinho só que o meu irmão precisou que eu resolvesse umas coisas para ele de última hora e eu acabei atrasando. Não fica bravo não- ela começou a fazer cosquinha nele. Ele fugiu dela e foi esconder atrás do Fê que só estava rindo da situação.

Então agente chegou mais perto do palco, aproveitando enquanto ainda não estava realmente cheio. Eu tinha impressão de que daqui apouco não teria condição nem de respirar ali. Agente ficou lá jogando conversa fora enquanto esperava o trem começar. Eu estava tão concentrada na conversa que até assustei quando os caras começaram a tocar. Eles faziam uns covers de rock, tipo de Foo fighters, Nirvana, Red Hot, Nickelback...eu não tenho nenhuma preferencia por rock não, mas como já disse eu gosto de todo o tipo de música por isso estava curtindo muito. Nunca pulei tanto da vida quanto quando eles tocaram “The pretender” e “Smells like teen spirit” que são músicas que eu adoro de paixão. Até o Matheus ficou surpreso com a minha animação.

-Ta curtindo?- a Sara perguntou chegando perto do meu ouvido para que pudesse escutar já que o lugar estava realmente barulhento.

-Demais-eu realmente estava gostando- Eu nunca tinha visto um show na vida! Caraca, é muito bom!- eu falei gritando para ela.

Ela riu de mim- Não acredito que você nunca tinha ido em um! Pode deixar que eu te levo em uns covers muito bacanas depois- ela falou enquanto mordia o lábio e me dava mais um daqueles olhares sugestivos.

Eu sorri sem graça e voltei a pular.

-Vocês não querem beber nada não?-ela perguntou para agente.

-Unh, querer até que eu quero só que ninguém aqui é maior de idade e eu não acho que eles vão vender .-Matheus

Como assim? Eu sempre achei que a Sara fosse mais velha do que o Matheus.

-Esquenta não que eu consigo fácil fácil.-ela falou confiante. Realmente, com o visual dela ela passava por mais velha sem problema.- Vão querer o que?

-Eu quero uma cerveja...Se tiver Heineken. Se não tiver não quero nada.-Matheus

-Pode trazer qualquer cerveja pra mim.-o Fê falou rindo.

-Eu não quero nada- eu realmente não pretendia beber álcool nunca mais na minha vida.-Se bem que um refrigerante seria muito bom...-

-Então tá. Vem comigo que eu não quero ir sozinha- ela falou me puxando pela mão e logo estávamos a caminho da barraca de bebidas.

Ela meio que se debruçou no balcão, jogando charme para o atendente que ficou vidrado nela. Não perguntou nada quando ela pediu três cervejas e uma coca.

-Você tá muito bonita hoje sabia?-ela falou me encarando enquanto esperava o moço trazer as bebidas.

Eu sorri sem graça.

-Acho que aquele garoto ali tá querendo chegar em você-ela olhou para algum ponto atrás de mim e por isso eu não pude ver o tal garoto.

-N-não, acho difícil. Ele não iria querer ficar comigo. Provavelmente está olhando pra você.-realmente, do lado da Sara eu não era nada.

-Unh, não sei não- ela falou enquanto finalmente pegava as bebidas-Eu ficaria com você- em seguida tomou um gole da cerveja.

Eu fiquei extremamente envergonhada e continuei olhando para a frente abrindo minha latinha. Tudo bem, agora ela estava sim dando em cima de mim. Agente voltou para perto dos garotos e o resto do show rolou sem outras novidades.

-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Finalmente a segunda chegou. Eu entrei no colégio cumprimentando os colegas que eu não via a um tempo. Parei um pouquinho para conversar com os meus amigos.

-Ei Leo- falei quando o vi chegando perto. Eu tinha visto ele bastante nas férias então não estava realmente com saudade- Tudo bem?

-Tudo ótimo Camilinha- ele falou enquanto guardava o cartão na mochila.- Tudo ótimo mesmo. Aqui, hoje eu vou tentar trocar uma idéia com a Alice por que essa história da gente ter que ficar distante já virou babaquice. Será que dava para você aparecer um pouquinho mais tarde? Só pra gente pode conversa de boa.

-Ok- falei meio contrariada. Eu queria passar o maior tempo possível com ela mas se ficar longe alguns minutinhos significaria que eles voltariam a conversar eu estava disposta a fazer aquele esforço.

Sai dali e fui procurar a Alice. Já estava começando a ficar preocupada com ela quando finalmente a avistei conversando em um grupinho no meio do pátio.

-Alice- eu falei abraçando ela, praticamente levantando ela do chão por causa da diferença de altura- Quanto tempo sô! Como vai?

-Ei Camilinha. Eu estava com saudades também- agente permaneceu mais tempo naquele abraço.

Então ela se afastou de mim.

-Camilinha deixa eu te apresentar- ela disse enquanto ia para o lado de um garoto- Esse aqui é o Gustavo. Ele tá entrando no colégio nesse semestre. Ele é da minha antiga cidade, agente era amigo então eu estou mostrando as coisas para ele.

Foi ai que eu me dei conta de um menino que nunca tinha visto. Ele era loiro igual ao Matheus só que tinha um porte físico muito mais masculino e seus olhos eram verdes. Devia ser da altura do Leo. Quando me cumprimentou eu percebi que sua voz era muito grave e bonita.

-Oi Camila prazer. A Alice me falou bastante de você- ele tinha uma expressão que dava a entender que realmente gostava de me conhecer. Por isso eu gostei dele: parecia franco e educado.-Espero conseguir me dar bem nesse colégio.

Eu não tinha dúvida disso. Com um visual daqueles rapinho todas as garotas estariam querendo inclui-lo no grupo e ele parecia muito amigável por isso podia imaginar que logo faria amizade com os outros meninos.

-O prazer é meu Gustavo- falei educadamente para ele.- E ai Alice, como foi lá na sua cidade?

-Foi bom- ela falou meio ríspida e desviou o olhar meio sem graça.- E aqui, como você ficou?

-Ah, eu sai muito com o Leo e os meus amigos da música. Sabe , eu devia apresentar você para eles, eles são super bacanas.

-Unh- e agente continuou conversando banalidades. Bateu o sinal e cada um foi para a sua sala. A aula começou e graças a deus eu não vi nenhum um sinal da Melissa (que devia estar matando os primeiros dias de aula, como sempre).A aula transcorreu bem e enfim o receio chegou. Ai eu lembrei que tinha que dar um tempo antes de ir atrás do Leo e a Alice. Esperei uns minutinhos e quando fui para o lugar em que agente geralmente se encontrava eu pude ver os dois se abraçando amigavelmente. Significava então que eles finalmente tinham feito as pazes e eu estava super feliz com aquilo.

-Ai, que bom ! Vou ter meu dois melhores amigos de volta-eu falei

Eles riram de mim. O Gustavo surgiu de algum canto para se juntar a nossa conversa. Ele estava na mesma sala que o Leo e a Alice então provavelmente ele tinha ficado esperando os dois se resolverem. Ele começou a puxar conversa com o Leo e eu pude perceber que os dois pareciam ter se dado realmente bem.

-Então...vocês querem descer para comprar lanche ou oque?- Leo

-Unh...eu bem que poderia comer alguma coisa. Não tomei café da manha direito...-Gustavo

-Ah meninos, acho que eu preferiria ficar aqui mesmo...-Alice

-Ah vamos...- Gustavo

Só que ai aconteceu uma coisa horrível. Ele abaixou e deu um selinho nela. Eu finalmente entendi tudo. Ela tinha passado duas semanas inteiras na cidade dela, junto com ele, e agora ele mudava para cá. Na mesma hora um monte de coisa passou pela minha cabeça : arrependimento de não ter me confessado por ela, raiva por ela estar fazendo aquilo comigo, ódio daquele menino, tristeza e desespero por que eu percebi que a minha Alice estava sendo roubada de mim. Eu devia ter ficado muito branca e pálida por que eles estavam olhando para mim com cara de preocupados. O Leo começou a falar com o Gustavo e convenceu-o a a descer para o patio sem a Alice afim de deixar eu e ela sozinhas. Eu o adorei por isso. Quando eles tinham se afastado eu falei

-Então...vocês estão juntos?-eu perguntei tentando esconder a magoa e a raiva na minha voz.

-Mais ou menos...agente só tá ficando-ela disse com uma expressão indecifrável.

-E por que você não me contou?-minha voz saiu bem chateada

-Não é como se eu tivesse obrigação de te dar notícia de tudo o que eu faço da minha vida-realmente, não tinha nada entre nós então ela não devia nada para mim.

-Eu achei que fossemos amigas-eu estava ficando cada vez mais triste com aquela conversa.

- E somos! É que eu não queria fazer alarme de uma coisinha atoa dessas-coisinha atoa?-então eu queria esperar para ver se realmente ia dar em algo antes de sair contanto para todo mundo- ela continuava com aquela expressão de gelo

-Mas eu achei que você não gostasse que as pessoas saíssem confessando seus sentimentos e chegando em você-

-E não gosto ! Só que eu e o Gustavo...agente tinha meio que um rolo quando eu estudávamos juntos que terminou quando eu me mudei. Só que perto do aniversário do Leo eu fiquei sabendo que ele também ia mudar para ká e agente voltou a se falar e foi como se tudo tivesse voltado a ser como antes. E ai eu passei as férias lá, com ele, e foi simplesmente natural que agente acabasse assim.

Então esse era o motivo dela estar estranha daquele jeito, de ela estar com a cabeça ocupada o tempo todo, de ela estar meio distante de mim. Com certeza esse era o motivo de ela ter se afastado de mim naquele dia na casa dela.

-Entendi.- eu queria bater nela. E depois que eu batesse nela eu ia matar ele.-e não tem nada que te faça mudar de idéia?- eu falei com alguma esperança na voz.

-Tipo o que?-ela falou bem baixinho.

Então ela ficou toda rígida e me lançou um olhar esperando para ver o que eu ia fazer. Por um momento eu imaginei que ela podia já saber de tudo: que eu gostava dela desde o dia em que ela voltou para ká, que eu tinha tentado arranjar coragem para contar para ela no dia da festa do Leo, que eu queria muito ter beijado ela quando agente estava vendo filme. Já sabia de tudo e tinha ficado quieta para saber qual seria a minha ação. Aquele pensamento me deixou meio desesperada

-Sei lá. Tipo se alguém se confessasse para você. Alguém que talvez te amasse muito, mas que não tivesse tido coragem de faze-lo antes.-

Ela continuou me encarando e ficou pensativa por um momento.

-Sei lá- ela deu de ombros- Depende de muita coisa...mas acho que não ia fazer diferença mesmo assim.

------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Desde então eu não tenho mais conversado com a Alice direito. Eu sei que ela não tem culpa de nada, eu que era uma idiota e estava sendo ciumenta, mas mesmo assim. Eu não podia me segurar quando via os dois juntos ( e eles passavam muito tempo juntos) que eu tinha o impulso de cortar a garganta do Gustavo. Então eu simplesmente comecei a passar mais tempo com os meus outros amigos. Naquele final semana ela até tinha chamado eu e o Leo para ver um filme, mas como eu suspeitei que ela iria levar o Gustavo junto eu recusei. O Matheus e a Sara decidiram que iam fazer algum programa comigo para levantar o meu astral, por isso agente ia ver uma banda que era cover de Green Day naquele sábado.

Quando chegou e hora eu pus minha blusa de banda (que eu também tinha adquirido recentemente), uma calça jeans, um tênis, e passei a maquiagem do jeito que Alice havia me ensinado. Eu estava simples mas estava até bonita. Minha mãe me deixou na frente do lugar e eu fiquei esperando pelos outros. Depois de uns 10 minutos a Sara chegou. Ela usava uma regata preta, um short jeans de cós alto curto, uma meia calça rendada, sneakers e o inseparável piercing na boca. Com os cabelos soltos e um maquiagem escura ela estava muito bonita.

-Ei novinha!-me abraçou- tudo bem?

-Tudo...-respondi sem muita convicção.

-Ai meu deus, você ainda tá pra baixo com aquela coisa toda?

-Ah Sara, não é como se fosse fácil aceitar que a menina que eu gosto está de rolo com outro cara. Um cara que é perfeito aliás. Eu nunca vou conseguir competir com ele- eu falei desanimada.

Ela ficou me olhando

-Não fica assim não, linda- me deu um beijo carinhoso na testa.- Vai dar tudo certo!-falou rindo, meio que ironizando o meu drama.

Eu ri um pouco dela e agente foi para a fila.

-Tem certeza que é de boa para eu entrar?-eu tinha quase certeza que para esse tipo de evento era necessário ser maior de idade. Mas como sempre a Sara tinha arrumado uns esquemas e parecia que ia poder me por dentro.

-Tenho sim! Nem eu sou maior de idade, se não tivesse certeza agente não tava aqui.-eu sempre esquecia que ela não tinha dezoito anos.

-Quantos anos você tem?-eu perguntei.

-Quantos anos você acha que eu tenho?

-19-falei com franqueza

Ela deu uma risada alta.

-Então a partir de agora eu tenho 19 anos-deu uma piscadela para mim.

Senti alguma coisa vibrar na minha bolsa e fui olhar o meu celular. Pude perceber que a Sara fez o mesmo. Era uma mensagem do Matheus dizendo que o Fê estava passando mal e por isso eles não viriam mais. Nos mandou festejar por eles. Nessa hora eu senti como se tivesse borboletas no meu estomago. Borboleta muito grandes, gordas e agitadas. Eu ia ficar o dia inteiro sozinha com a Sara. Estava com medo do que poderia acontecer.

-Parece que somos só nos duas hoje- mais um olhadela insinuante. Aimeudeus.

-P-pois é- eu falei sem graça

Logo agente chegou na porta do trem. A Sara falou alguma coisa com o cara que só deu um sorriso e deixou agente passar. Sério a rede de influência dela me assusta.

O lugar era fechado, com um palco encostado na parede centralizado. Do lado direito do palco tinha um bar, do lado esquerdo estavam um monte de mesas e sofás para as pessoas poderem se sentar. O meio estaria livre se não fosse pelo tanto gente que tava em pé conversando. Em suma era um lugar bacana.

-Que tal pegar alguma bebida?- pegou minha mão e agente foi para o bar.-O que você vai querer?-ela perguntou para mim.

-Nada não...- eu falava sério quando dizia que nunca mais ia beber na vida.

-Nada mesmo? Nem um ice?-

-Não.

-Ok então...mais tarde você toma alguma coisa-dei de ombros enquanto ela pedia uma dose de tequila para ela mesma. A dose vinha com uma fatia de limão e um saquinho com sal, o que eu achei bem estranho. Acho que ela percebeu por que disse.

-Nunca bebeu uma dose de tequila?-riu quando eu fiz que não com a cabeça- Você tem que tomar, em seguida lamber o sal e depois chupar o limão-ela falou enquanto virava o pacotinho não mão dela.-Assim ó...

Ela virou o copinho de uma vez, lambeu o sal e depois chupou a fatia de limão. Quando terminou ela sacudiu a cabeça, o que a fez parecer uma doida.

-Unh...sabe do que você precisa? De uma dose de curaçau.

-O que?

-Curaçau. É tipo um licor azul.

-Ah não Sara, eu realmente não queria beber nada alcoólico- e passar mal de novo?Nem pensar.

-Ah Camilinha, mas é super fraquinho e tem um gostinho doce. Você vai gostar, prometo.

-Não sei não...

Mas ela já estava se virando de novo para o bar e pedindo uma dose do negócio. Só que junto com os dois copinhos azuis ela pegou emprestado também um isqueiro e eu realmente não entendi o motivo daquilo.

-Primeiro você faz comigo e depois eu faço com você ok?É assim: você pega uma dose, bochecha, depois põe a língua lá atrás da boca e ai alguem acende o isqueiro perto de sua boca. Você engole a bebida ainda em chamas.

Eu fiquei horrorizada com aquilo. Imagina você engoli um trem pegando fogo? Deve queimar tudo lá dentro! A Sara era masoquista?

-Pronta? Não esquece, quando eu abri a boca você acende o isqueiro.

Eu não estava pronta nada mas mesmo assim ela tomou a dose, bochechou e abriu a boca novamente. Fez tudo tão rápido que eu não tive tempo nem de pensar e só acendi o isqueiro na boca dela. Pegou fogo e a impressão era de que ela estava cuspindo chamas, que nem um dragão. Ela ficou assim durante uns minutos agonizantes até que em fim engoliu o trem. Quando abriu a boca de novo eu esperava ver fumaça saindo mas não aconteceu.

-Agora você.- ela me entregou o copinho.

Eu fiquei segurando o copinho refletindo se eu realmente ia fazer aquilo. Olhei para ela que me encarava com um olhar desafiador. Parecia que não achava mesmo que eu teria coragem. Aquilo me irritou. Quer saber? Eu dei para trás muitas vezes na vida e estava de saco cheio. Foda-se também. Virei o trem e fiz exatamente como ela tinha mandado. Quando pegou fogo eu tomei um susto e engoli rápido. A sensação era de que eu realmente estava engolindo fogo por que a coisa desceu quente e deixou um formigamento por todo lugar pelo qual passou. Era um sensação muita boa.

-Isso é ótimo- eu falei surpresa para ela.

-É não é? Eu achei que você não ia se atrever mas pelo visto estava errada.-sorri para ela.

Então agente voltou para a multidão por que a banda finalmente estava começando a tocar. Como da outra vez, eu curti muito, dancei muito, pulei muito, principalmente quando eles tocavam as músicas mais conhecidas tipo “American Idiot” e “Basket case”. A Sara fez tudo isso comigo e eu já nem estava ligando de estar sozinha lá com ela. Eu deixei a música me levar e esqueci todos os meus problemas por alguns minutos. Ai os caras deram uma pausa e agente aproveitou para comprar alguma coisa para beber. A Sara insistiu para que agente tomasse outra dose de curaçau mas eu fiquei com uma água mesmo. Aquela agitação toda tinha me deixado com muita sede. Depois disso agente ficou encostado na parede esperando a banda resolver começar a tocar novamente.

Em poucos minutos já tinham dois caras se aproximando na gente tentando chegar na Sara. Eles deviam ter uns 20 anos e foram muito insistentes mas a Sara os cortou logo. Acho que é por que ela estava sozinha ali comigo então se ela ficasse com alguém eu ia meio que ficar sobrando.

-Sara, você pode ficar com alguem se quiser. Eu não me importo.-eu não queria estragar a diversão dela.

Ela riu e disse- Ah, você me deixa ficar com alguém?

-Não é isso ! É que como estamos só nós duas aqui você podia achar que eu ia ficar de vela se você ficasse com alguém.

-Mas você vai ficar de vela se eu pegar alguem.

-Eu sei, só que estou tentando dizer que não me importo e quero que você aproveite.- que coisa, estava difícil de entender?

Ela riu mais um pouco. Ela estava sempre rindo de mim, não sei por que.

-Você quer que eu aproveite? Tudo bem então.-quando terminou de falar ela se virou, chegou mais perto de mim e me encostou na parede ao mesmo tempo que colocava as mãos na minha cintura.

Eu fiquei sem reação. Senti meu rosto todo ardendo e sabia que devia estar ganhando uma cor vermelha assustadora. As borboletas tinham voltado e haviam se tornado verdadeiras pedras no meu estomago.

-N-n-não foi isso que eu quis dizer- eu tentei falar. Ela não desviava os olhos dos meus e eu também não conseguia faze-lo.

-Eu sei que não foi isso que você quis dizer- ela falou numa voz baixa e rouca que me fez arrepiar toda. Então ela se aproximou para frente, colando os nossos corpos e encostou os lábios nos meus. Eu pude sentir a macies da boca dela e ao mesmo tempo uma sensação de prazer incrível. Ela se separou de mim e me lançou um olhar de dúvida. Eu entendi que ela estava querendo a minha autorização antes de fazer mais alguma coisa. E eu não sabia o que ia fazer. A sensação dela junto de mim daquele jeito era muito boa mas eu também pensava na Alice. Eu gostava dela e mesmo assim estava agarrada a outra garota. Eu me sentia culpada por aquilo. Ai eu me lembrei da cena dela e do Gustavo se beijando e a sensação de culpa foi substituída por um sentimento de raiva. Mas eu nunca tinha ficado com ninguém e tinha medo de ela perceber e não gostar por causa daquilo. Sem falar que eu tinha certeza que tinha um monte gente olhando, afinal, éramos duas garotas se pegando. Só que ai eu pensei que de eu desse para trás agora eu ia me chamar de covarde pelo resto da minha vida. E eu estava de saco de cheio de ser covarde, estava de saco de cheio de me importar com o que os outros pensavam, estava de saco cheio da Alice não dando bola para mim. Por isso eu passei os braços em torno do pescoço dela e a puxei para mais perto. Ela riu e colou os nossos lábios novamente. Logo eu senti sua língua pressionando o meu lábio inferior, meio que pedindo passagem. Abri a boca e deixei que ela fizesse o que bem entendesse comigo. No início a sensação foi muito estranha mas logo o que era ruim ficou bom e eu passei a sentir um prazer como nunca tinha sentido antes. Era como se um fogo preenchesse o meu corpo todo. Ela estava com uma mão na minha nuca, arranhado-a, e eu como não sabia nada me limitei a imitá-la. Logo ela estava descendo a mãos arranhando as minhas costas e eu pude sentir cada músculo das minhas costas corresponder. Sem que eu percebesse nossos corpos se moviam no mesmo ritmo procurando ainda mais contado. E ela não parava de me instigar com a língua, fazendo coisas que eu nem imaginava serem possíveis. Quando terminou ela mordeu longamente o meio lábio e separou o rosto do meu. Eu estava meio ofegante e olhei toda encabulada para ela. Ela riu do meu embaraço e colocou uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha. No fundo a música havia começado novamente mas eu não estava em condição de prestar atenção. Foi quanto ela se aproximou novamente, com mais vigor até do que tinha feito antes que eu me dei conta de que estava só começando.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

desculpa os errinhos...



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Like A Bird" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.