Sério, o que eu estava pensando? Trocar saliva com alguém cujo nome eu desconhecia não era NADA a minha cara. Pelo menos não até o mês anterior. Aqueles 30 dias me mudaram muito. Meu cabelo castanho liso até a cintura passou a abrigar mechas azuis e no meu umbigo agora estava pendurado um pequeno piercing prateado. Havia aposentado minha maleta de maquiagens, juntamente com os inacabáveis pares de sapatos de salto alto que lotavam o meu closet. Meus melhores amigos agora eram meu par preferido de all star preto surrado e uma garrafa de Red Label. No fundo eu sabia que isso era só uma fase, e que cedo ou tarde a doce e gentil Victoria estaria de volta. Mas, por enquanto, eu estava me divertindo demais para cogitar mudar. Pensando depois, à luz do dia, percebi que a minha reação havia sido exagerada na noite anterior. Quer dizer, que mal faz se socializar um pouquinho? Eu estava mesmo precisando de novos amigos.

Levantei da cama ainda com dor de cabeça da ressaca, eu era uma bebedora muito fraca. Bebi de um só gole a água com analgésico que a minha mãe gentilmente deixara no criado-mudo. Me esforcei para levantar e entrei debaixo do chuveiro gelado. O que eu mais queria naquele momento era ficar debaixo do edredom, me escondendo da luz do sol. Porém aquele era meu primeiro dia de aula na Mystic Falls High School, a escola pública local, eu era obrigada a estar presente para pegar meus horários e cumprir com todas as tarefas burocráticas que sucedem uma matrícula. Enfiei minha mão na gaveta e tateei em busca de algo que parecesse jeans. Puxei a primeira peça que encontrei e a vesti com a minha blusa do Nirvana. Um coque alto no cabelo despenteado e já estava mais do que pronta para meu primeiro dia como uma estudante do terceiro ano.

Quando cheguei ao endereço da escola, logo de cara levei um susto: Era gigante. Centenas de jovens perambulavam pelo pátio externo, fofocando e rindo escandalosamente. Logo atrás deles se erguia um enorme prédio de três andares e o perímetro maior do que o de 10 campos de futebol. Minha antiga escola mal poderia ser caracterizada como um prédio, de tão pequena. De certa forma, eu gostava. Por ter capacidade para poucos alunos, todos se conheciam e eram amigos. Ali parecia tudo tão dividido, impessoal. Pequenos grupos ignoravam uns aos outros como não se vissem todos os dias de manhã.
– Hey! - Ouvi uma voz masculina do meu lado direito assim que passei pela porta de entrada. Me virei e imediatamente reconheci o bartender loiro que me atendera na noite anterior. - Você estuda aqui? Segurei a vontade de responder 'Não, não. É que eu acordei esta manhã com uma vontade enorme de visitar a escola. Aproveitei e trouxe meus livros de física quântica e latim, porque, você sabe, sempre pode ser útil'. Não seria nada prudente começar minhas aulas já sendo mal-educada com quem foi simpático o suficiente pra me cumprimentar. Ninguém tinha culpa do meu mau-humor.

– Sim, acabei de me transferir. Você é de que ano?

– Terceiro. E você? - Ele sorriu.

– Também. - Sorri de volta, em um silêncio constrangedor. Me perguntava se ele havia me reconhecido da cena no banheiro ou apenas lembrava de ter me servido ilegalmente. - Meu nome é Victoria, a propósito. Mas pode me chamar de Tori, Vicky, ou como preferir.

– Tori é legal. Meu nome é Matt. - Ele continuava sorrindo muito.

Agora à luz do dia eu podia ver o quanto ele era bonito. Os raios solares que se refletiam no seu cabelo deixavam os fios ainda mais claros, o que, em conjunto com os olhos azuis, lhe dava um ar meio angelical. Perguntei a ele onde ficava a diretoria e ele prontamente se ofereceu para me acompanhar até lá. Durante o percurso conversamos sobre as milhares de atividades extra-curriculares que ocorreriam durante o ano letivo. Aparentemente aquela escola não parava um segundo: Eram, ao todo, 4 bailes, 3 festivais e 5 feiras durante o ano. Sem contar com os campeonatos de futebol, que paralisavam todo o corpo estudantil por semanas. Era impossível ficar entediado ali.

– Muito obrigada por me guiar até aqui. Foi muito gentil de sua parte - Disse a Matt quando atingimos a porta da diretoria.

– Te vejo mais tarde? Ele pareceu pensar por um instante, como se hesitasse em me deixar ali. - Claro, claro. Nos vemos por aí.

***
– E aí? - Perguntou uma menina muitíssimo magra, de longos cabelos castanho-escuros. - Conseguiu arrancar alguma coisa dela?

O menino com cara de anjo deu de ombros:- Ela parece não saber de nada. Talvez eles realmente não se conhecessem, pode ser tudo mera coincidência .A garota revirou os olhos castanhos:

– Não pode ser coincidência, Matt! A profecia da Esther foi bem clara, tem que ser ela.

– Acho que você está ficando meio paranóica, Elena. É só uma novata que teve a infelicidade de esbarrar no Damon.

– Você quer dizer, esbarrar na língua dele. - Ela parecia irritada.

– Está com ciúmes? - Ele riu alto.

– Absolutamente não. - Elena bateu a porta do armário com força e se dirigiu à porta ao lado, onde se lia 'Mademoiselle Chapeu". - Eu escolhi o Stefan, lembra?

– Certo - Matt disse e se virou para o lado oposto, rindo.