The Perfect Ball escrita por Rocky


Capítulo 4
Where do you live?


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!
PS: St Lucy não existe. Eu procurei muito um lugar que se identificasse com a história mas não achei, então inventei aushuah



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Desci da aeronave e senti o ar quente da Carolina do Sul. Ainda teria que pegar um ônibus para chegar a St Lucy, um lugar que ninguém conhece e ninguém tem vontade de ir.

Isso demorou mais ou menos umas 3 horas, até que finalmente cheguei à rodoviária de lá. Estava completamente vazia. As pessoas desciam do ônibus totalmente desinteressadas, como se fosse um fardo estar ali, e eu concordava. Até que enxerguei meu pai parado do lado de uma caminhonete grande, fumando um charuto. Pensei nas chances que tinha de fugir e passar a vida sozinha, mas por fim caminhei até ele. Não suportava olhar em seus olhos.

– Ei, garota. – chamou ele, quando me aproximei. Imaginei que ele fosse brigar, mas estava sorrindo. Isso fazia doer mais ainda.

– Oi, pai.

– Me dê um abraço! Faz quase um ano que não vejo minha garotinha e agora não quer mais chegar nem perto de mim?! – ele me puxou para um abraço sufocante. Os braços de meu pai eram do jeito que eu me lembrava, fortes e aconchegantes. Como se o mundo não pudesse me atingir enquanto eu estivesse ali. Sem querer, comecei a chorar de novo. Eu o amava tanto.

– Oh, pare com isso! Não precisa chorar, Pips. Vamos dar um jeito. – ele disse, e isso me deixou mais triste.

– Achei que fosse brigar comigo...

– Vamos fazer assim. Enquanto estiver aqui, vamos fingir que nada aconteceu. Quando chegar em casa você pode conversar sobre isso se quiser, mas agora sorria para seu velho pai.

Me esforcei para sorrir, mas o máximo que consegui foi mover os cantos da boca.

– Já é um começo. Agora suba nessa velharia até eu te apresentar o magnífico lar dos McLean.

Meu pai perguntava sobre a escola e as pessoas, mas em nenhum momento do vôlei. Não sei se isso era bom ou ruim, pois eu queria contar para ele tudo o que tinha ganhado e as coisas boas que tinham acontecido lá. Bem, mas haveria uma hora certa para conversar sobre o que eu queria.

Papai dirigia pelas ruas estreitas da pequena cidade litorânea e eu observava o pacato comércio. St Lucy não era um centro turístico, era só uma vila costeira que crescera mais que a maioria. Não tinha muitas lojas conhecidas, quase todas eram dos próprios habitantes locais. Não tinha shopping. Meu Deus, não tinha shopping. As ruas eram de blocos de pedra ao invés de asfalto e as pessoas caminhavam tranquilamente pelas calçadas. Tristan seguiu até o final da cidadazinha, seguindo uma rua mais antiga que contornava a praia. Vez ou outra surgia uma casa, algumas grandes, outras pequenas, que logo sumiam.

Quando papai parou o carro onde o asfalto se encerrava, achei que a gasolina tinha acabado. Então olhei direito e encontrei uma casa enorme que se escondia atrás das árvores, branca como a areia da praia. Olhei para o lado e meu pai estava rindo para mim. Minha cara não devia estar das melhores.

– Chegamos – disse ele, abrindo a porta e pegando minhas malas. Ainda não conseguia acreditar que aquela era a casa do meu pai.

– Como construiu isso?

– Pips, querida. Seu pai não é um velho tolo que não sabe guardar dinheiro. – ele deu uma gargalhada e me puxou para as escadas que levavam à casa.

As escadas de madeira acabavam em uma varanda que era maior que todo o apartamento de tia Claire. Havia enormes janelas de vidro, que permitiam enxergar a decoração retro dos cômodos. Ao lado, tinha outra escada e uma estradinha que acabava na areia.

Papai entrou antes que desse tempo de eu assimilar tudo, e eu o segui. A sala tinha sofás de veludo vermelho e uma TV grande, com móveis de madeira cor de mel. Ele subiu a escada para o outro andar e me indicou a porta do meu quarto, que ficava depois de um longo corredor, deixando as malas do lado de fora.

– Espero que aproveite. Não sabia do que você gostava, então se quiser comprar alguma coisa depois é só falar comigo. Uma empregada vem limpar a casa todas as manhãs, a senhora Judith, não se assuste. Qualquer coisa que quiser vou estar lá embaixo. – ele me deu um beijo na testa e desceu.

Abri a porta do quarto e mais uma vez fiquei surpresa. Tinha uma cama de casal extremamente fofa no centro do quarto, com uma colcha estampada com azul, e madeira clara. Um guarda roupa enorme ficava na parede oposta à janela, que trazia consigo a maresia. Por incrível que parecesse, sorri. Meu pai sabia como melhorar as coisas, nem que seja um pouco. Deixei as malas perto da cama e tirei o casaco que usava mais para esconder os cortes do que por frio. Vesti um short jeans e saí pela sala, descendo as escadas que levavam até a areia.

Tirei os sapatos e senti os flocos finíssimos entre os dedos. O vento soprava meu cabelo e o deixava alvoroçado, e parecia levar consigo todas as coisas ruins. Fazia muito tempo que eu estivera em uma praia, e na última tinha sido com papai, vários anos atrás, e me fazia lembrar da mamãe.

Lembrar dela me deixava com um buraco no peito. Era algo que eu ainda não tinha conseguido superar muito bem. Lembrava dos cabelos loiros e ondulados, dos olhos azuis como o céu, das mãos que pareciam plumas. Papai sempre dizia que nunca haveria uma mulher tão bela quanto ela. Não passava de uma simples verdade. Apesar disso, o universo decidira não a poupar. Meu pai nunca tinha contado detalhes da história do acidente de carro.

Andei para tentar esquecer. Não devia ter lembrado de mamãe, isso sempre acabava comigo. Ainda mais agora que já estava terrivelmente desolada. Esforcei-me para não pensar em nada desse tipo, mas parecia incrivelmente difícil. Entrei na água até a panturrilha, e ali fiquei por um bom tempo, até voltar a caminhar.

Não sabia quanto tempo se passara, mas o sol estava acabando de se por. Deitei na areia e fiquei observando os últimos raios de luz. Tinha andado muito e não sentia vontade de voltar. Sabia que se voltasse, os pensamentos ruins me atingiriam de novo, então fechei os olhos e relaxei. Não consegui descobrir em que momento tinha adormecido.


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